Kamilla Lopez
O despertador toca e junto com o som estridente ouço batidas na porta me despertando em atos de desespero, sobressalto da cama com os cabelos caídos em meu rosto, sinto o sol iluminar o meu rosto.
— Menina, você vai se atrasar de novo!
— Acordei! - gritei para dona Carolina clamando que ela parasse de bater na madeira.
Me levanto da cama e olho para o maldito relógio, desligo o despertador e ainda sonolenta arrasto meu corpo em direção ao banheiro. Depois de fazer minhas higiene e tomar um banho bem gelado eu voltei para o quarto e vesti o meu uniforme, ao olhar-me no espelho e certificar que estava pronta, sai do quarto, assim que abri a porta sinto o cheiro de café recém feito pela preciosidade da minha vida.
— Bom dia dona Carolina. - me aproximo dela e beijo a sua bochecha.
Se não fosse por ela eu estaria morando nas ruas, não teria uma cama e muito menos um trabalho onde consigo nos sufstentar sem nenhum problema.
— Bom dia olhos verdes, como dormiu?
— Muitíssimo bem. - Me movo na cozinha preparando meu café.
— Bianca passará por aqui hoje? - me perguntou.
— Lamentavelmente não, hoje pagarei um bus pro trabalho.
— Ahh que pena, mas bem.. Aviso que hoje não dormirei em casa.
— Não que seja da minha conta, mas para onde vai?
— Claro que é da sua conta Kamilla, te considero minha filha e por isso estou te contando.
— Eu também a considero muito, como uma mãe.
— Dormirei na casa de uma de minhas amigas, amanhã iremos para um cruzeiro.
— Cruzeiro?
— Sim.
— Oh! Está bem, divirta-se.
Ela me olha com os olhos cerrados e preocupados, ela se aproxima de mim e pega minhas mãos.
— Não queria te deixar sozinha em casa.
— Não estarei sozinha, terei a companhia dos meus livros.
— Pode ir comigo, se quiser.
— Sabe que não posso, tenho trabalho.
— Durma na casa de algum amigo então.
— Me conhece há muito tempo, sabe que não durmo na casa de amigos.
— Vejo que estou lidando com uma mulher do tempo antigo.
— Apenas gosto da minha boa e velha companhia, não tem nada melhor que isso.
Saio daquela conversa e encaro o relógio, meus olhos arregalam e rapidamente em passos apressados caminho para a porta,em minhas mãos está a bolsa que sempre levo para o trabalho.
— Deduzo assim que chegar em casa, não lhe encontrarei, certo? - pergunto antes de sair.
— Certíssima! Pode trazer um namorado se quiser.
— Meu namorado é meu trabalho.
Ela sorri e fala:
— Boa resposta, ele te banca.
— Exatamente.
Ando em passos apressados pela sua movimentava naquele horário da manhã, me aproximo do ponto de ônibus e novamente encaro o relógio em meu pulso, pela terceira vez nessa semana chegarei atrasada no trabalho, a culpa é do meu sono profundo. Alguns minutos decidindo de quem era a culpa o ônibus se aproxima e encaro a lotação que já estava, era enfrentar ou ir a pé, a segunda sugestão está fora de cogitação.
— Está atrasada, há quinze minutos!
Meu chefe exclama com um olhar assustador, passo por ele e ando pelo corredor até chegar na área dos funcionários.
— Me desculpe, meu despertador não tocou, sinto muito.
— Me poupe de suas desculpas, vai trabalhar!
Rapidamente saio da sua vista e sigo para o cabine guardando meus pertences, depois de colocar o avental e luvas sigo para o balcão, a lanchonete estava cheia logo as oito da manhã.
Trabalho em uma lanchonete em uma arena de futebol, todos os dias esse lugar está lotado, me surpreendo com as pessoas que sempre estão visitando e desfrutando de uma cultura, principalmente os homens, o que mais vemos por aqui. Aqui foi o único lugar onde encontrei trabalho, era isso ou ser empregada doméstica, o que eu não era muito boa.
Dona Carolina me ajudou a encontrar esse trabalho, tudo que eu tenho é graças a ela, foi ela quem me ajudou assim que saí do orfanato, sim, cresci em um orfanato no norte de agora onde moro, era um orfanato simples, vivíamos de caridade, principalmente de pessoas conhecidas e ricas. Quando completei dezoito anos as cuidadoras me avisaram que era o momento de partir, assim que passei pelos grandes portões me vi sozinha em um mundo que não conhecia, não tinha empregado, nem dinheiro para comprar comida, estava sozinha.
Nos primeiros dias fora difícil para mim, ninguém queria contratar uma garota suja e com os cabelos desgrenhados. No dia em que conheci dona Carolina lhe ajudei com as compras até sua casa, ela simpatizou comigo, sem pensar ela me ofereceu um quarto em sua casa, quando ouvi aquela oferta lhe vi com roupas de anjo. Dona Carolina é uma viúva de meia idade, não tem filhos e morava sozinha, ela foi enviada por Deus pata mim.
— Moça você está anotando meu pedido?
— Sinto muito, o que disse?
— Perguntei se está anotando meu pedido - encaro uma adolescente.
Após entregar seu pedido vejo Bianca aproximar-se de mim, rapidamente ela pergunta pela sua parceira de baralho:
— Como está dona Carolina?
— Está bem, ela perguntou por você hoje.
— Ela não vive sem mim, acho que passarei mais tarde para visitá-la.
— Vai perder tempo.
— Não vai encontrá-la em casa, ela saiu para um cruzeiro.
— Hum.. Interessante! Está sozinha em casa?
— Sim, mas não pretendo aproveitar.
— E por que não? Podemos chamar alguns meninos e fazer uma noite de jogos.
— Não estou afim, irei aproveitar a ausência dela com livros e contemplar o silêncio.
— Está bem, divirta-se com a solidão.
— Obrigada, é muito importante ouvir isso de você. - falo com a voz carregada de deboche.
Encerramos aquela conversa e voltamos para o trabalho, iniciei a notar os pedidos dos clientes, algumas eram gentis e simpáticos, outros eram grosseiros e sempre tinham olhares maliciosos, muitos me olhavam como um pedaço de carne, as cantadas eram frequentes no trabalho. Sempre os ignorava, embora alguns fossem insistentes na tentativa de conseguir meu número, sempre os tratava bem e não correspondia aos assédios.
Assim que o expediente acabou voltei para casa no carro de Bianca, assim que cheguei eu me despedi dela e subi as escadas, eram 18h da noite e minha única vontade era de tomar banho e cair na cama.
Kamilla LopezDeitada sobre o sofá eu lutava para deixar os olhos abertos, desde que cheguei do trabalho apenas tomei um banho e deite-me sobre o sofá, derrubo o livro no chão, me levanto e encaro o relógio pendurado na parede, era 20h da noite, suspirei agradecida, tenho tempo suficiente para dormir até amanhã.Resolvo ir para o quarto, mas antes que chegasse até lá ouço batidas na porta, me aproximo dela e escuto murmúrios no lado de fora, ao abrir me deparo com Bianca acompanhada de dois amigos que já conhecia.— Nossa, o que aconteceu com você? - perguntou ao ver o meu estado de sono.— Acabei de acordar, o que está fazendo aqui?— Vim te visitar, trouxe até companhia.— Bianca, está tarde. - falo sonolenta.— Ainda são oito da noite.Junto com os rapazes ela entra e se aproxima do sofá, vejo eles sacarem baralho e começar
Kamilla LopezPousei a mão em cima da outra tentando controlar o meu nervosismo, não entendo do porquê estou assim, o olhar desse homem me intimida, ainda mais agora pelas palavras da criança, como uma criança pode decidir algo assim? Enquanto a criança fala eu sentia os olhos do homem sobre mim, eu tentava prestar a devida atenção, mas saber que ele estava me olhando ficava tensa.— Você tem filhos? - o garoto chamado Erick perguntou.— Não.— Você é muito bonita, sabia?— Obrigada, você também é muito bonito.— Poderíamos brincar qualquer dia. - sugeriu.— Sinto muito, mas não podemos, sempre estou trabalhando.— Mas isso não seria um problema, pode larga-lo.Sorri sem humor, para ele é algo simples e fácil, não entende que trabalhamos por obrigação e não porque queremos.
Kamilla Lopez— Não ouviu o que disseram? Está lotado!Estávamos em frente a boate enfrentando uma fila imensa, éramos as última da fila e para piorar o segurança acaba de falar que não é possível entrarmos.— Eu sabia que deveria ter ficado em casa.— Calma Kami, eu vou dar um jeito.Observo Bianca ir para o beco da boate, vemos dois seguranças na saída de emergência, ela diz algo próximo aos ouvido deles, mostrou ser algo pelas expressões de seus rostos, logo, Bianca acenou para mim e me chamou. Comecei a andar até ela me sentindo um inseto por estar naquele lugar, e ainda por cima estou sem calcinha, a noite está fria e a coitada está congelando.— O que você fez?— Prometi uma suruba.Passamos pela porta dos fundo
Kamilla LopezMe espreguiço da cama sentindo meu corpo todo dolorido, o tecido fino e liso da cama macia arrepia minha pele, não se parece nada com meus lençóis, esses são tão macios que não se compara com os meus. O sol toca em meu rosto e faz-me escondê-lo entre os lençóis. Pulo da cama em um sobressalto, com a visão ainda embaçada por acabar de acordar, observo o quarto em que estou, com as pernas doloridas e a cabeça girando como carrossel, caminhei pelo cômodo enorme e luxuoso.Me aproximei de um enorme espelho, eu estava com o mesmo vestido da noite anterior, naquele instante as lembranças voltaram como avalanche, as bebidas, aquele homem asqueroso, o meu Salvador, tudo! Como fui tão ingênua? Por um triz não fui abusada, se não fosse por aquele homem de olhos azuis eu não sei em que estado estaria nesse momento. Meu salvador quando me tirou da boate e me colocou em seu veículo eu não lembro de mais nada do que pode ter acontecido.<
Kamilla LopezEnquanto o carro percorre o trânsito eu me perguntava o que havia acontecido minutos atrás. Nick Ross pelo que soube é dono de várias empresas, fora cassinos que ele tem e os hotéis com seu nome. Não conseguia acreditar que dormi em sua propriedade. Não me lembro muito bem da noite anterior, as lembranças ainda estão distorcidas, mas graças a Deus nada aconteceu. Estou frustrada e arrependida por ter ido aquela boate com Bianca, ela me prometeu ficar ao meu lado, deveria saber que não seria capaz de cumprir algo tão simples, fui tola em deixar ela me persuadir e me tirar da onde estava protegida.Boate não é para mim, é um ambiente que não me vejo nele, embora senhor Ross tenha dito aquelas palavras para não sair a noite como ordens, encaro como um conselho, ele quem me salvou e nas circunstâncias em que eu estava me levou para sua casa, ele fez um ato genuíno, espero que o tal Denver esteja nessa altura preso.
Kamilla LopezJá havia se passado alguns dias que eu não falei mais com Bianca, ela tentava me procurar e fazer com que eu a escutasse, mas eu não queria. Dona Carolina percebeu que algo estava errado, afinal Bianca havia deixado de ir a nossa casa, ela não me obrigou a falar, estava esperando a minha boa vontade para me abrir a ela. Deveria ter contado tudo para ela desde aquele dia, mas eu não queria preocupa-la com isso, já estava resolvido e era isso que importava.Depois de chegar de mais um dia de trabalho pude me jogar sobre o sofá, estava ficando mais difícil de ir e voltar do trabalho de ônibus, na maioria das vezes era Bianca quem me trazia. Escuto um pigarrear acima da minha cabeça, a o os olhos e encaro dona Carolina.— Boa noite menina.— Boa noite dona Carolina.— Como foi o seu dia?— Cansativo, e o seu?— Muito produtivo, comecei algumas plantas para enfeita
Kamilla LopezDepois que Bianca me trouxe de volta para casa, contei tudo para dona Carolina, ela me escutou atentamente. No fim ela me abraçou orgulhosa e me abraçou meu ato de bondade, não lhe contei sobre o ocorrido, achei desnecessário deixá-la preocupada por um assunto já resolvido. Depois de conversarmos segui para o quarto, me livrei das roupas e tomei um banho bastante demorado. Enquanto lavava meus cabelos abaixo da água lembrei-me da mensagem desconhecida, aquelas palavras ficaram martelando na minha cabeça, não.. Impossível que tenha sido aquele homem.Os dias foram se passando, depois da nossa reconciliação Bianca e eu ficamos mais grudadas do que nunca. Saíamos quase todas as noites para o cinema. Parecíamos adolescentes, nos divertindo e passando vergonha. Sempre que estávamos em lugares como o cinema, me sentia observada, procurava pelo par de olhos que estava me deixando desconfortável, mas não encontrava, ta
Kamilla LopezSou despertada com um ronrom próximo ao meu ouvido, abri os olhos e me deparei com Zeus olhando para mim, sorri por vê-lo tão fofinho com seu pelo arrepiado, ele miou e se aproximou do meu pescoço se encolhendo. O coloquei em minhas mãos e encarei aquela preciosidade pequena, o aproximei dos meus lábios e beijei sua cabeça.— Obrigada por acordar sua mamãe. - o deixei na cama e saí dela.Depois do banho vesti o meu uniforme e sai do quarto com Zeus nos meus braços, chegar na cozinha vi dona Carolina em frente ao fogão assando ovos e bacon.— Bom dia! - cumprimentei. — O cheiro está ótimo!Ela virou-se pronta para me cumprimentar, mas seus olhos descerá e focaram o que estava em minhas mãos.— Mas que pitchulinha.. - ela desligou o fogão e se aproximou.— Lindo não é? Se chama Zeus, ele entrou aqui na noite passada, posso ficar com el