Capitulo 7

Kamilla Lopez

Já havia se passado alguns dias que eu não falei mais com Bianca, ela tentava me procurar e fazer com que eu a escutasse, mas eu não queria. Dona Carolina percebeu que algo estava errado, afinal Bianca havia deixado de ir a nossa casa, ela não me obrigou a falar, estava esperando a minha boa vontade para me abrir a ela. Deveria ter contado tudo para ela desde aquele dia, mas eu não queria preocupa-la com isso, já estava resolvido e era isso que importava. 

Depois de chegar de mais um dia de trabalho pude me jogar sobre o sofá, estava ficando mais difícil de ir e voltar do trabalho de ônibus, na maioria das vezes era Bianca quem me trazia. Escuto um pigarrear acima da minha cabeça, a o os olhos e encaro dona Carolina. 

— Boa noite menina. 

— Boa noite dona Carolina. 

— Como foi o seu dia? 

— Cansativo, e o seu? 

— Muito produtivo, comecei algumas plantas para enfeitar a casa. 

Me levantei um pouco do sofá e olhei ao redor da sala, vejo uma boa quantidade de plantas em jarros, parecia uma floricultura. 

— Está querendo abrir uma loja de flores? 

— Não ficou tão mal assim, essa casa precisa de cor.

— Não seria mais fácil pintar as paredes? 

— As flores darão cor a mais. 

— Verde.. Uma cor verde. 

— Não é por nada, mas panelas voam, sabia? 

Percebi que aquelas palavras não era uma informação mas uma ameaça, tratei de me calar e levantei meus braços mostrando rendição. 

— E você com Bianca.. Se acertaram? - dona Carolina perguntou sentando ao meu lado no sofá. 

— Não falei mais com ela. 

— Vejo que não quer tocar no assunto, mas eu vou te aconselhar mesmo assim.. Já tentou escutar o que ela tanto quer te dizer? Percebo que ela errou feio e eu não julgo por estar zangada com ela, mas antes que tome uma decisão na qual não se arrependa, tente ouvir a versão dela, procure a escutar. 

Aquelas palavras realmente me tocou, posso estar errada ou certa, ela tem razão, preciso ouvir o que ela te a me dizer antes de decidir me afastar definitivamente. Encarei dona Carolina e beijei sua bochecha. 

— Obrigada pelo conselho, a senhora é ótima com isso. 

— Eu sei disso, Deus me deu o dom de ser uma conselheira, mas esqueceu de me dar a sorte no amor. 

— Por que está dizendo isso? 

—Se lembra do meu encontro? O velho era casado, mas para minha sorte eu descobri e junto com a esposa dele demos uma surra e o mandamos pro hospital. 

— Dona Carolina, a senhora ia cometendo um assassinato? 

— Não.. Mas me escute, se a polícia bater nesta porta eu não estou. 

Sorrimos pela história que ela acaba de me contar. Na manhã seguinte acordei e fiz o que sempre faço, vou para o banheiro, tomo um banho e me arrumo para o trabalho. Meu corpo desejava voltar para a cama, mas não sou nenhuma menininha de papai para ter tamanho privilégio. Embora eu não tenha uma família de sangue e tenha crescido em um orfanato, eu o considerei o meu lar. Fui criada na simplicidade onde eu aprendi a dividir e agradecer a Deus com o que tenho, jamais senti falta de um laço fraternal de mãe ou de pai, nunca me interessei em conhecê-los, se me deixaram em um orfanato era porque não me queriam, não me fazem falta, posso está sendo egoísta por pensar dessa maneira, mas uma mãe jamais abandona um filho, por quais quer circunstâncias. 

Depois de tomar o café da manhã e ir para o trabalho, lembrei-me das palavras de dona Carolina, hoje tentarei falar com Bianca e ouví-la. Já no local de trabalho eu percebi que ela não estava lá, dei de ombros, comecei meu expediente, porém sempre pensativa do porque ela não apareceu para trabalhar. Com tamanha curiosidade me aproximei do chefe, ele estava no final do corredor fazendo anotações em um bloquinho. 

— Algum problema, Lopez? 

— Me desculpe lhe incomodar, mas queria saber.. Por que Bianca não apareceu no trabalho hoje? 

— Ela não te falou? 

— Não.. 

— O pai dela faleceu, hoje foi o enterro. 

Senti o meu coração apertar quando escutei aquela informação, já sabia que o pai de Bianca vinha enfrentando o câncer. Meu chefe, percebendo minha expressão, perguntou:

— Você está bem? 

— Sim, estou bem. 

Voltei a fazer meu trabalho, mas não conseguia prestar bem a devida atenção, muitas vezes me senti observada, meu corpo queimava, ignorando aquela sensação terminei o expediente, sai e andei pelo estacionamento. Enquanto andava vi um carro parado e percebi que era o de Bianca, ela estava encostada nele, me aproximei dela e vi seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. 

— Você quer carona? - perguntou. 

— Sim. 

Ela assumiu o volante e entrei no veículo sentando ao seu lado, já era seis da noite, enquanto estávamos no trânsito eu olhei para ela. 

— Você está bem? 

— Não, mas vou ficar. 

Antes de seguir para casa, Bianca parou em um estacionamento perto da praia e fomos próximos da água, nos sentamos na areia  e ficamos em silêncio. Viro meu rosto para o lado, ela estava chorando, me aproximei dela e abracei, ela deitou sua cabeça em meu peito e chorou alto entre soluços. 

— Me desculpa por ter te deixando sozinha na boate. - ela falou entre lágrimas. — Eu recebi a ligação de que meu pai teve uma parada cardíaca, eu não consegui pensar em outra coisa a não ser sair correndo da boate. 

Me sentia um peixe fora d'água, meu peito apertou e abracei mais forte. 

— Não pense mais nisso Bianca, já te perdoei. 

— Eu não queria que aquilo tivesse acontecido, me desculpe. 

— Shh.. Esqueça isso. 

Deixei que ela chorasse toda amargura e a dor que a estava sufocando, não estive no enterro mas agora estou aqui, tentando de alguma maneira ouvi-la e ficar ao seu lado. Conversamos por um bom tempo, ela me falou tudo o que aconteceu nos últimos dias, depois dela desabafar ela me levou para casa. Assim que desci do carro eu me despedi e subi as escadas, antes de abrir a porta uma mensagem apitou meu celular, rapidamente o tirei do bolso e abri:

Mulher teimosa.. Achei que tivesse sido claro quando ordenei para não sair durante a noite. 

- desconhecido. 

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