O ar dentro da sala de reuniões era pesado, como se até as paredes estivessem cientes da tensão. Meus passos soavam altos sobre o chão de mármore enquanto eu caminhava, mantendo a postura impecável, como uma mulher que não se intimida facilmente.
Savannah Harper, consultora de grandes empresas. Uma mulher que sabia exatamente como fazer negócios e, mais importante, como lidar com homens como ele. Homens que acreditavam que o mundo se curvava diante do seu poder.
Thomas Montserrat, CEO da Montserrat Enterprises, herdeiro de um império bilionário. Ele não era apenas um homem de negócios. Ele era um ícone. E por mais que eu tivesse ouvido falar dele, nada me preparou para encontrá-lo frente a frente.
Ele estava parado ao lado da janela panorâmica, observando a cidade com a frieza de alguém que a possui.
Quando ele se virou e nossos olhares se encontraram, o impacto foi imediato. Aquele olhar penetrante, desnudava tudo sem dizer uma palavra. Ele me analisava como se fosse uma equação que precisasse ser resolvida.
— Então, você é a famosa consultora que vai salvar a empresa? — A voz dele era baixa, quase desdenhosa. Uma mistura de curiosidade e desafio.
Eu estive em muitas reuniões, enfrentei muitos homens arrogantes, mas algo em Thomas Montserrat mexia comigo de uma maneira única. Eu sabia que ele queria me testar, e o prazer que ele parecia ter ao fazer isso só me motivava a não ceder.
— Isso depende. Você é o CEO que vai aceitar minhas recomendações? — respondi, mantendo a calma e a confiança que me definiam.
Eu podia ouvir a respiração dele, controlada, mas tensa. Ele me estudava com o olhar calculista de um homem acostumado a estar no comando de tudo. Um homem que, aparentemente, nunca ouvia um “não”.
— Eu não sigo regras, senhorita Harper. Eu as crio.
Aquelas palavras me atingiram em cheio. Eu sabia o que isso significava. Ele estava avisando que jogava com as suas próprias regras. Mas, o problema era que eu também jogava.
Eu o encarei, não movi um músculo. Mantive a postura, desafiante. Sabia que não poderia permitir que ele se sentisse no controle total. Pelo menos, não tão rápido.
— Então, estamos quites, Sr. Montserrat. Porque eu não sou uma mulher que se curva a poderosos, por mais que eles gostem de pensar que todos à sua volta fazem isso.
Eu vi uma leve tensão nos lábios dele, como se um sorriso estivesse prestes a aparecer, mas ele o escondeu imediatamente. Não foi o que eu esperava, mas, de alguma forma, eu gostei. Ele estava mais interessado do que queria admitir.
Ele se afastou da janela e foi até a mesa, arrastando uma cadeira com a confiança de alguém que controla tudo ao seu redor. Quando se sentou, sua presença parecia dominar o ambiente, como se fosse o único ser ali.
— Vamos ver quanto tempo você consegue manter essa postura, senhorita Harper. — disse ele, seu olhar fixo no meu.
Fiquei ali, de pé, sem baixar a guarda, sentindo a pressão de sua presença como uma força invisível. Mas eu sabia que estava jogando o jogo dele agora, e, embora ele não soubesse disso, eu não era fácil de vencer. As regras eram dele. Mas o jogo... o jogo era meu.
Eu não me movi. O silêncio se estendeu pela sala como uma corda tensa prestes a arrebentar. Thomas Montserrat observava-me com uma intensidade que parecia arrancar cada pensamento da minha mente. Mas eu não iria ceder. Não agora.
Ele ajeitou a gravata com um movimento lento, quase teatral, enquanto o clima na sala se tornava cada vez mais carregado, como se os segundos estivessem contados para alguma explosão. Não sabia o que ele queria de mim – talvez apenas me intimidar, ou então me testar. Mas eu não estava ali para me submeter.
— Eu espero que tenha mais a oferecer do que esse sarcasmo. — Sua voz era baixa, controlada, mas havia algo ali, um fogo que mal conseguia esconder.
— Não é sarcasmo, Sr. Montserrat. — Eu me adiantei, deslizando uma cadeira para me sentar à sua frente, com calma, mas com a postura firme de quem não tem medo. — Eu só espero que você tenha mais a oferecer do que esse ego que mal cabe em uma sala tão grande.
Aqueles olhos escuros brilharam com um interesse quase visceral. Eu sabia o que ele estava fazendo: me desafiava, me testava. Ele queria que eu me quebrasse, que eu me entregasse ao poder que emanava de cada gesto seu. Mas, em vez disso, encontrei uma oportunidade para devolver o golpe. Porque, se havia algo que eu sabia, era que ele não estava preparado para alguém como eu.
Thomas inclinou-se ligeiramente para frente, suas mãos firmemente sobre a mesa, como se estivesse prestes a fechar o jogo. Sua presença era esmagadora, quase palpável. Eu podia sentir o calor da tensão entre nós.
— Então, me diga, Savannah Harper, o que você acha que pode fazer por mim? Por minha empresa? — O tom dele se tornou mais suave, quase provocador, como se quisesse me atrair para o seu território, como um predador que estuda sua presa.
Eu poderia ver a tentativa de manipulação ali, mas não deixei que me afetasse. Meu olhar não vacilou. A verdade é que, ao contrário do que ele pensava, eu não estava ali para impressioná-lo. Eu estava ali porque sabia o que queria e sabia o que ele precisava.
— O que posso fazer por você? — Repeti, não desviando o olhar. — Eu posso salvar sua empresa. Isso, se você tiver coragem para seguir minhas recomendações e me deixar trabalhar sem interferências.
Ele riu baixo, um som que vibrava nas paredes da sala, quase como um aviso. Havia uma arrogância nisso, mas também um toque de desafio. Algo em mim sabia que aquele riso era mais uma provocação do que uma resposta genuína.
— Coragem. — Ele repetiu, quase pensando em voz alta. — Acho que você está equivocada, senhorita Harper. Eu sou o homem que faz os outros terem coragem.
Havia algo de feroz em suas palavras. Thomas Montserrat era um homem que não conhecia limites, que não se submetia a ninguém. E de alguma forma, eu podia ver que ele estava se divertindo com essa tensão que estava crescendo entre nós. Como se estivesse gostando do fato de que alguém o estivesse desafiando de volta.
Minha respiração ficou mais curta, o sangue fervendo nas veias. Ele não me impressionava, mas, por algum motivo, isso só aumentava a excitação. Como se eu estivesse diante de uma prova de fogo, e o que fosse acontecer a seguir dependesse inteiramente de nós dois.
Eu me recusei a ser intimidada. Mantive os olhos firmes em seu rosto, ignorando a maneira como ele se aproximou da mesa, com um movimento tão lento e deliberado que eu podia sentir sua presença invadir cada centímetro do meu espaço pessoal.
— Você vai precisar de mais do que coragem, Savannah. Vai precisar de algo que você ainda não tem. Algo que você não vai encontrar em nenhum contrato ou número.
Havia uma intensidade naquelas palavras que fazia o ar ao nosso redor parecer mais denso. Uma tensão que ia além do profissional, que tocava algo mais primal, mais visceral.
Eu estava prestes a responder, mas então ele se levantou de repente, interrompendo qualquer pensamento que eu tinha formado. Ele fez um movimento para pegar o copo de whisky sobre a mesa e me olhou, com um leve sorriso de canto, como se estivesse no controle, como se soubesse que me havia deixado sem palavras.
— Se você quiser sobreviver, Harper, precisa aprender uma coisa importante.
Ele se aproximou, ficando ainda mais próximo, quase a ponto de me tocar. A proximidade era esmagadora. O cheiro do seu perfume, a força da sua presença, tudo parecia me envolver de maneira inebriante.
— As regras são minhas. E você aprende a jogá-las… ou será engolida por elas.
Quando ele se afastou e voltou a se sentar, o silêncio que se seguiu foi mais pesado do que antes. Mas algo havia mudado. A provocação no ar se tornava mais densa, mais palpável. O desejo estava ali, como uma chama que ainda não havia sido acesa, mas que certamente estava prestes a consumir tudo ao seu redor.
A porta do escritório se fechou com um leve estalo, mas a sensação de estar presa naquele lugar, sob a mesma cobertura que Thomas Montserrat, me seguiu até o corredor. Eu poderia sentir o peso do seu olhar, mesmo quando ele não estava mais tão perto. Naquele momento, ele já era uma presença que eu não conseguiria ignorar.Respirei fundo, tentando afastar a sensação de estar completamente absorvida pela sua aura, pela maneira como ele me desafiava a cada vez que fala, com cada gesto. Não era apenas o poder dele que me afetava. Era algo mais profundo. Quando passei pela porta do prédio e saí para a rua, as ruas movimentadas da cidade pareciam mais tranquilas, como se o mundo tivesse recuado por um momento, me dando espaço para respirar. Mas minha mente estava longe da calma da cidade. Eu nunca tinha odiado alguém da maneira como odiava Thomas. Não era um ódio visceral, mas algo mais sutil, uma amargura que crescia a cada momento que ele estava ao meu redor. Algo que eu cultivava há te
A reunião terminou com uma sensação no ar de que nada tinha sido resolvido, mas tudo tinha sido observado. Eu sentia os olhares dos diretores e acionistas fixados em mim enquanto saía da sala. Alguns pareciam satisfeitos com as explicações, outros, menos confiantes. A verdade é que todos estavam mais preocupados com o futuro da empresa do que com as minhas palavras, mas eu sabia que o único que realmente importava era Thomas Montserrat.Ele estava ali, no centro de tudo, mas agora não era mais o centro da minha atenção. Eu estava conversando com Richard Sanders, um dos diretores mais experientes da empresa, que tinha sido um dos poucos dispostos a ouvir minhas ideias com mais atenção. Ele parecia genuinamente interessado nas soluções que eu estava propondo.— Não é fácil, Savannah. Eu sei que ele tem um jeito... peculiar de lidar com as coisas, mas você parece ter a abordagem certa para salvar isso tudo. — Richard falou, com a voz baixa, como se temesse ser ouvido.Eu sorri levemente,
O dia tinha sido longo. Exaustivo. Estressante. E, ao mesmo tempo, estranhamente satisfatório. Enquanto dirigia de volta para casa, as palavras de Thomas ainda ecoavam na minha mente. Você me odeia? Ele não fazia ideia do que realmente se passava, do peso daquela pergunta.Ódio? Talvez fosse exagero. Mas desprezo? Isso, sim, eu sentia.Estacionei na garagem e soltei um suspiro pesado antes de sair do carro. Minha cabeça ainda fervilhava, tanto pelas estratégias que eu precisaria traçar para salvar a Montserrat Enterprises quanto pela promessa silenciosa que eu havia feito a mim mesma.Mas, assim que abri a porta de casa, meu foco desviou completamente ao ver uma mala largada na sala e uma silhueta familiar parada na cozinha, segurando uma taça de vinho.— Você voltou! — Falei surpresa, fechando a porta atrás de mim.Isabelle virou-se para mim com um sorriso cansado.— Voltei. — Ela ergueu a taça como se brindasse. — Surpresa?— Claro que sim! Você disse que ficaria fora mais tempo!—
O peso da conversa ainda pairava sobre nós quando Isabelle mudou de assunto. Ou, pelo menos, tentou.— E o Adam? — Ela perguntou de repente, cruzando os braços e me olhando com interesse.Franzi o cenho.— O que tem ele?— Você não falou mais nada sobre ele. Achei que as coisas estavam indo bem.Soltei uma risada curta e sem humor, girando a taça de vinho entre os dedos.— Se ‘indo bem’ significa que ele quer algo sério e eu estou fazendo de tudo para fugir disso, então sim, está ótimo.Isabelle suspirou, como se já esperasse essa resposta.— Savannah…— Não começa. — Alertei antes que ela pudesse soltar um daqueles discursos sobre como eu deveria me permitir sentir algo.— Mas por quê? — Ela insistiu. — O Adam parece ser um cara incrível. Bonito, bem-sucedido, paciente… E, pelo que você disse, gosta mesmo de você.Eu sabia disso.Adam Carter era um cara bom. Bom demais para mim. Ele estava sempre presente, sempre tentando me entender, me dando espaço quando eu parecia precisar, mas n
O salão de reuniões estava iluminado pela luz fria dos lustres de cristal. Sentada à mesa, de frente para um grupo de diretores e acionistas, eu mantinha a postura impecável, os ombros retos, as mãos cruzadas sobre os documentos que eu mesma havia preparado.À minha frente, Thomas Montserrat se reclinava em sua cadeira de couro preto, a expressão de quem estava prestes a se divertir às minhas custas.Maldito.— Então, senhorita Harper… — Ele começou, com aquela entonação casualmente arrogante que fazia meu sangue ferver. — Deixe-me ver se entendi. Acredita que pode salvar a minha empresa?Cruzei as pernas e inclinei levemente a cabeça para o lado, sustentando seu olhar com firmeza.— Se não acreditasse, não estaria aqui.A sombra de um sorriso brincou no canto de sua boca.— Interessante. Porque eu ainda não estou convencido.Revirei os olhos, recostando-me na cadeira.— E desde quando a sua opinião importa?Houve um breve silêncio na sala, enquanto os diretores e acionistas trocavam
Assim que estacionei o carro em frente ao prédio onde morava, soltei um longo suspiro e fechei os olhos por um momento, tentando dissipar a tensão que ainda vibrava em meu corpo. Eu odiava essa sensação, de estar… dividida.Saí do carro e subi rapidamente até o meu apartamento, torcendo para que Isabelle já estivesse no quarto ou ocupada com outra coisa. Eu simplesmente não estava pronta para suas perguntas afiadas sobre Thomas Montserrat. Ela me conhecia bem demais. E eu… bem, eu ainda não tinha respostas para as perguntas que ela certamente faria.Fechei a porta do quarto atrás de mim e me encostei nela, soltando a respiração que nem percebi que estava prendendo. Então, aquilo aconteceu.O instante em que Thomas me ajudou a recolher os papéis. A forma como seus dedos roçaram nos meus quando me entregou os documentos. A maneira como sua presença era sufocante, intensa a ponto de fazer minha pele formigar, de uma forma irritantemente involuntária. Eu odiava isso."Ele está jogando com
O primeiro passo para salvar a Montserrat Enterprises era simples: cortar os excessos e recuperar a liquidez. A empresa estava sangrando dinheiro. Os números eram uma bagunça, e os gastos desnecessários eram tão evidentes que até uma criança de dez anos conseguiria enxergá-los.Cancelei contratos inúteis.Revisitei fornecedores.Realinhei investimentos.Em menos de duas semanas, a estrutura financeira da empresa já estava visivelmente mais sólida. E, claro, Thomas Montserrat odiava isso. Ele não gostava de ser contrariado, menos ainda de ser ignorado. E eu estava ignorando. Fazia questão de agir como se ele fosse só mais um CEO desesperado tentando provar que ainda tinha as rédeas da própria empresa.Mas a verdade era uma só: se eu não estivesse ali, ele já teria perdido tudo. E o engraçado? Mesmo com o pai dele no encalço, cobrando resultado, ele ainda tentava atrapalhar.✧ » ◇ « ✧ » ✦ « ✧ » ◇ « ✧— Você cortou o contrato com a Luxor Tech sem me consultar.A voz de Thomas soou atrás
Entro em casa exausta, mas determinada a não pensar mais em Thomas Montserrat até, pelo menos, amanhã. Só que o universo parece ter outros planos. Isabelle está na sala, sentada no sofá, pintando as unhas do pé com uma paciência que eu nunca tive para essas coisas. Ela ergue os olhos quando me vê, com um sorrisinho no canto dos lábios.— Até que enfim apareceu, né? Já estava achando que a Montserrat Enterprises tinha te sequestrado.Reviro os olhos, mas acabo soltando um meio sorriso. Faz dias que evito Isabelle, não porque não quero vê-la, mas porque sei que suas perguntas viriam como uma metralhadora e, sinceramente, eu não tenho muitas respostas. Mas hoje… hoje, depois daquela reunião infernal, me vejo precisando cavar mais a fundo a vida de Thomas.Largo minha bolsa e me sento ao lado dela, observando-a passar o pincel com perfeição sobre a unha.— Como estão as coisas? — Isabelle pergunta, sem levantar o olhar, mas sei que está atenta a cada detalhe da minha expressão.— Ocupada.