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Capítulo3 Se há algo a culpar, é sua origem desprivilegiada
O homem sorria, ele estava impecável em seu terno, com uma aparência decente, mas havia algo em seu olhar que deixava Clara desconfortável. Ela entregou a ele os medicamentos de Sofia com uma expressão fria.

- Já vi Sofia. Entregue os medicamentos a Ximena.

Mário arqueou as sobrancelhas:

- Vamos subir juntos, faz tempo que não nos vemos.

- Não posso, tenho outros compromissos.

Clara entregou rapidamente os medicamentos e saiu do hall. Mário a observou partir, seu olhar profundo seguindo a elegância de suas costas. Ele cheirou os medicamentos.

Uma jovem bonita aparecendo na ginecologia com remédios antibacterianos e antivirais... Difícil não pensar em possibilidades. Mário abaixou o olhar, sentindo uma tensão no estômago.

"Quem diria que Clara, que sempre parecia tão fria, gostava de se divertir assim. Afinal, seu marido não estava por perto há três anos; era inevitável que uma mulher sozinha buscasse conforto em outro lugar. Não havia pressa, ela teria que voltar para a família Silva eventualmente. Terei minha chance."

Clara entrou no carro, ainda se sentindo um tanto sufocada. Desde que Mário se mudou para a família Silva com sua mãe e irmã, tudo ficou mais complicado. Seu pai a incentivou a ficar, mas quando ela insinuou que Mário poderia se mudar, Lucas ficou claramente desconfortável.

Lucas sentia que devia algo a Ximena e Sofia e, por extensão, a Mário. Clara não queria colocá-lo em uma posição difícil, então decidiu se mudar. Agora, mais do que nunca, ela se sentia como a estranha.

No caminho de volta para casa, seu celular tocou. O nome na tela só fez o humor dela piorar. Depois de respirar fundo, ela atendeu.

- Isabela Lima, olá.

A pessoa que ligava era Isabela, a mãe biológica de Simão. Desde que se casaram, essa mulher de origens nobres e com padrões elevados nunca aprovou Clara. Consciente disso, Clara sempre manteve uma distância respeitosa de toda a família Santos, exceto quando precisava manter as aparências diante do patriarca.

- Eu espero que você possa vir até a família Santos para discutirmos pessoalmente sobre o divórcio. - Isabela disse sem rodeios, batendo na tecla primeiro por medo de que Clara recusasse. - Clara, você deve entender que vocês se casaram só porque não pudemos desobedecer ao patriarca da família. Agora que o Simão assumiu o Grupo Santos, ele era quem manda. Provavelmente, o patriarca vai ceder também.

O subtexto era claro: esse casamento tinha que acabar.

Isabela até imaginava que Clara faria uma cena. Afinal, que mulher seria capaz de simplesmente largar seu filho?

Mesmo sem o amor dele para sempre, estar perto dele já seria o bastante.

Mas do outro lado da linha, a resposta de Clara foi apática.

- Ok, estou indo agora mesmo.

Sem uma gota de dúvida, tão casualmente dita.

Como se estivesse esperando por esse momento.

Isso desagradou Isabela. Era certo que a família Santos se livrasse de Clara, mas essa indiferença fazia parecer que seu filho não era suficientemente atraente.

Para salvar sua dignidade, ela resmungou.

- Tanto faz se você concorda, você não está à altura do Simão. Ele merece algo melhor. Venha agora, eu também já liguei para Simão; ele vai chegar em breve.

Clara hesitou por um momento, "Eu me pergunto como Simão reagiria se soubesse que a mulher com quem dormiu ontem à noite é a esposa de quem ele está prestes a se divorciar. Um homem tão orgulhoso provavelmente se sentiria como se tivesse engolido uma mosca; indigesto e irreversível."

Clara sorriu levemente e se dirigiu ao Grupo Santos.

Quando Isabela a viu, a expressão de Isabela não era das melhores, mas já que Clara sensatamente não estava exigindo qualquer compensação, ela não tornou as coisas difíceis.

- Não me leve a mal por ser tão direta. Você sabe bem a situação atual da família Silva. Não tenho problema em te dizer, fale com seu pai. Se ele não tem jeito para os negócios, é melhor ele aceitar o seu destino. A família Santos pode ajudá-lo uma vez, mas não uma segunda. Além disso, sua madrasta está de olho em tudo, sua situação é muito ruim. Simão ter casado com você não nos traz nenhum benefício e ainda temos que nos preocupar com sua família. Sabe como é, quando compramos um porco, também olhamos para o chiqueiro. A culpa é toda sua por ter nascido em uma família assim.

Clara estava sentada no sofá e, ao ouvir essas palavras, acenou com a cabeça em concordância.

- Sim, de fato, não sou digna do Sr. Simão.

Na realidade, exceto pela certidão de casamento, eles eram estranhos um para o outro e tinham apenas um título vazio entre eles.

Para ela, a separação poderia até ser um tipo de alívio.

Isabela não sabia mais o que dizer.

Ela sentia uma frustração, como socar algodão, e por um momento não conseguia discernir se Clara, à sua frente, estava fazendo ou se realmente não se importava.

O som de um carro freando ecoou de fora do pátio.

O empregado que esperava do lado de fora viu o carro de Simão parar e ele se apressou a entrar para anunciar.

- Senhora, o jovem mestre voltou!

Isabela se levantou com alegria e caminhou rapidamente até a porta.

Clara também fixou o olhar na direção da entrada. Embora estivesse psicologicamente preparada para encarar Simão, seu estado emocional antes estável, de repente, ficou incontrolavelmente tenso.
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