Capítulo5 Três anos neste ramo
Simão tinha uma frieza nos olhos, intocável até pelo calor do verão.

Ele deu a Clara um olhar profundo, sem revelar emoção alguma em seu rosto.

- Vamos.

Clara seguiu atrás dele, passou o cartão e entrou.

O chão do hall brilhava como um espelho, e todos que aguardavam na entrada cumprimentavam com reverência.

Depois de algum tempo caminhando, Simão se virou para olhá-la.

Clara parou e ofereceu a ele um sorriso educado.

- Quanto Antônio te pagou?

Clara realmente não sabia sobre a relação entre Antônio e Simão; não tinha conhecimento da família Santos e nem queria tê-lo.

Em três anos, ela nem mesmo havia chegado a conhecer o pai de Simão.

Para ela, se Antônio conhecia Simão, eles deviam frequentar os mesmos círculos sociais.

- Meu chefe disse que esse contrato poderia valer centenas de milhares.

- Você tem um chefe nesta linha de trabalho?

A pergunta de Simão expressava confusão, tocando em um ponto cego em seu conhecimento.

Parece que o que Antônio havia contado era verdade: o Bar Cor da Lua oferecia serviços ocultos para alguns clientes. Ele nunca tinha se envolvido com isso antes, e não esperava que na sua primeira noite de volta ao Brasil isso aconteceria.

Sem sentido em lamentar o que já estava feito, ele continuou a caminhar em direção à uma sala privada. Percebendo que Clara estava seguindo, ele se virou.

- Antônio disse que seus serviços são caros, mas que a satisfação é garantida. É verdade?

Nos últimos anos, Clara atendeu a muitos clientes; a maioria dos ricos era generosa, mas alguns eram particularmente exigentes.

Quando ouviu Simão dizer isso, automaticamente adotou um tom mais formal.

- Sr. Simão, quando se trata de cobrança, temos de considerar o cliente em questão.

"Considerar o cliente", ele repetiu para si mesmo, com um riso frio.

- É mesmo? Porque estou muito insatisfeito com o seu serviço.

A experiência foi desajeitada, sendo ele o que conduziu toda a situação. Ao se fazer negócios, a experiência do usuário é sempre importante.

Além disso, cobrando centenas de milhares, além do corpo e do rosto, o que mais ela teria para justificar esse preço?

Parecia realmente fácil ganhar dinheiro nesse ramo.

Embora guiada pelo profissionalismo do cliente sempre ter a razão, Clara respondeu com boa disposição:

- Sr. Simão, talvez você possa começar me dizendo qual estilo você prefere. Costumo ajustar meus serviços de acordo com os gostos dos clientes.

Um sorriso cortês iluminava o rosto austero da mulher. Banhada pelo brilho suave do abajur, sua face ganhava uma luminosidade encantadora e indescritível.

Simão hesitou por um momento, se lembrando de como ela parecia à beira da resistência na madrugada que se aproximava do fim. Os lábios vermelhos entreabertos, o olhar vago... "A maneira como ela só conseguia fraca e impotentemente me envolver..."

Seus olhos eram como dois lagos cintilantes, suas pálpebras traçadas elegantemente, os olhos lembrando pétalas de lótus, com uma beleza pura e inigualável.

Clara ergueu o rosto, plena de confiança.

- Tenho muitos clientes recorrentes que estão bastante satisfeitos com meus serviços.

As casas que ela já havia projetado, fossem casas de campo ou mansões, mesmo quando vendidas como propriedades usadas, alcançavam preços altíssimos. Até agora, ninguém se mostrou insatisfeito com o trabalho dela.

"Clientes recorrentes?"

- Você tem outros clientes?

Uma leve irritação atravessou Simão, e ele disse:

- Esta não é a sua primeira vez, é?

- Claro que não. Estou nessa área há três anos.

Clara ficou surpresa, como se não pudesse acreditar que ele faria tal pergunta. O que, afinal, Antônio estava dizendo?

Assim que suas palavras foram proferidas, a expressão do homem gelou.

Ele não conseguia definir o que sentia, apenas se sentia desconfortável, como se um peso inexplicável pesasse em seu peito.

- Tudo bem, não me siga mais. Estamos quites. Não espere nada além disso.

Clara parou por um instante, sem entender por que ele de repente havia se irritado.

- Devo procurar o Antônio?

Sua confusão, aos olhos de Simão, era uma farsa. O homem a olhou mais intensamente, claramente hesitante.

- Ele também é seu cliente?

- Pode-se dizer que sim.

Clara assentiu. Futuros clientes também são clientes, afinal.

O rosto de Simão escureceu ainda mais, e ele se afastou sem hesitação.

Clara ficou parada, ponderando por um momento, qual parte da resposta que ela havia dado, havia tocado algum nervo sensível dele. Eles não falaram muito, e ela não cometeu nenhum erro, então por que ele ainda estava insatisfeito?

Ele provavelmente ainda não sabia sobre sua verdadeira identidade.

Justo naquele momento, Torres ligou para ela.

- Você já entrou?

- Chefe, acho que estraguei tudo.

Torres ficou perplexo. Ele tinha muita confiança em Clara, que possuía um talento especial para design. Desde que começou na área, ela nunca havia dito que havia falhado em algo.

- Vá para a cabine 1402, eu te encontro lá.

- Ok.

Clara desligou o telefone e perguntou ao garçom onde ficava a cabine.

Torres olhou para o lado, onde Antônio estava sentado, com uma perna cruzada sobre a outra.

- Sr. Antônio, a designer estará aqui em breve.

Antônio tinha uma aparência bastante extravagante e irradiava uma aura jovial. Um sorriso sutil pairava em seus lábios.

- Sem pressa. Meu primo também vai chegar em breve. Quando ele chegar, eles podem conversar pessoalmente. Tenho certeza de que tudo vai dar certo.

Com essa garantia, Torres se sentiu aliviado e também começou a sorrir.

- Curiosamente, Simão e eu fomos colegas no ensino médio, mas duvido que ele ainda se lembre de mim.

Com aquela aparência e com a linhagem que possuía, nunca faltaram pessoas querendo para bajulá-lo.

Além disso, embora estivessem na mesma turma, Simão frequentou a escola por menos de seis meses.

Mal terminara de falar, a porta da cabine se abriu e Clara entrou.

Ela não vestia roupas formais naquele dia. Um conjunto casual de cor clara a fazia parecer muito elegante. Ela combinou com uma bolsa da mesma paleta de cores, e seu cabelo longo estava levemente preso, dando uma impressão de frescor e limpeza.

Ela sorriu para Antônio.

- Olá.

Os olhos de Antônio brilharam instantaneamente.

"Não esperava que a designer, além de talentosa, fosse tão bonita."

Vendo que ela havia entrado sozinha, ele ficou um pouco confuso.

- Não mandei meu primo ir te buscar? Onde ele está?

Clara hesitou, "Simão é o primo dele?"
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