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A hora já não importava mais

Ela havia tirado aquele pequeno tempo como costumeiramente fazia com a melhor amiga, era quase um hábito diário ambas almoçarem juntas. Estavam no restaurante favorito delas e à medida que os pratos eram colocados frente as mulheres, comiam e conversavam. Hanna, naquele momento, expunha a amiga todo o seu desconforto e insegurança que a assolava. Ela até poderia ser uma mulher madura e firme, uma incrivelmente linda e bem sucedida, mas ainda assim uma mulher, e como qualquer outra naquela situação enxia-se de inseguranças e incertezas.

Os olhos verdes esmeraldinos de Susan, sua melhor amiga, encontraram os seus azuis-violeta e ela falou:

— Bobagens suas, Hanna! Quer dizer... Aquele idiota é louco por você, ele a ama e é completamente apaixonado, bom, pelo menos é o que ele sempre demonstra, e sinceramente não vejo dúvidas pela forma que ele te olha.

— Parece, não é? — esboçou um sorriso triste — às vezes eu olho nos olhos dele, e os azuis que me apaixonei parecem tão... Perversos... ‘Tô louca?

Susan deu um longo suspiro.

— Amiga, você é uma mulher inteligente, elegante e ‘sexy’ mesmo sem ser nem um pouco vulgar, é exótica, filha de um dos empresários mais respeitados de Estermond, aliás, do país. É uma perita exímia e bem sucedida na profissão que escolheu seguir, é incrivelmente linda, doce e...

Hanna então abriu a sua bolsa que estava na cadeira ao lado e tirou de lá um pequeno papel já amassado, o colocando sobre a mesa diante do olhar da Uckermann que imediatamente franziu o cenho calando-se e pegou o papel para lê-lo.

— O que é isso?

— Exatamente o que parecer ser — Hanna bebeu da água de sua taça — estava no chão do closet dele.

— Pode não ser dele.

A senhora Scrudell esboçou um sorriso sarcástico do tipo: somos racionais, não estupidas.

— 'Tá! Entendi o recado — disse a mulher de cabelos curtos e loiros — bom... Pode ser algo, mas pode não ser. Não podemos descartar que você ocasionalmente tenha razão e seu marido está tendo um caso extraconjugal. — Hanna abria a boca para falar, mas Susan prosseguiu — mas também pode ser um amontoado de infeliz coincidência. Ele pode ser... Inocente.

— Com um recibo de motel?

— Já pensou que pode ser de uma das suas empregadas, de repente caiu sem querer, sei lá... Coisas acontecem e antes que fale, eu não estou o defendendo. Eu conheço você desde que tínhamos quatorze anos, e bem ou mal meu marido é um dos melhores amigos do Nicolas, eles se conhecem a quase tanto tempo que nós. Não podemos cruzar linhas sem certezas, entende?

Hanna remexeu-se desconfortável na cadeira.

— Um voto de confiança... — murmurou a morena. Susan gentilmente depositou sua mão sobre a dela e a fitou uns instantes.

— Ele seria um completo babaca se fizesse algo assim. Sinceramente? Melhor que você só se for alguma princesa bem rica e miss, e mesmo assim as chances de você ainda ganhar são imensas.

Hanna sorriu cúmplice á amiga. Sentia-se tão aliviada por ter alguém como ela ao seu lado sempre.

— Me sinto bem melhor com você inflando meu ego dessa maneira.

— Somos melhores amigas, é isso que fazemos. Nos damos força mutuamente — piscou

— Você é uma ótima amiga, e eu aqui... Te empurrando meus problemas, sendo rude — aquietou-se sorrindo francamente — como foi em Paris? Foi onde eu indiquei?

A Uckermann sorriu amplamente, tinha tantas coisas para contar, o que incluía um ato surpreendentemente selvagem do marido que a surpreendeu. E mesmo enquanto Hanna sorria, consentia, ouvia e esforçava-se para doar-se completamente aquela conversa, Susan não pode deixar de notas que a Scrudell estava mais abatida e aparentemente cansada, provavelmente de cabeça cheia.

...

Ela deslizou as mãos da barriga lisa, até as coxas, alisando o tecido do vestido vinho que usava. Um tecido macio e leve que ia até o meio de suas coxas e valorizava muito o biotipo dela. A peça tinha mangas curtas e um decote redondo, o que deixava praticamente sem mostra dos seios por decote enquanto valorizava seu colo. Tinha um corte simétrico e elegante. Uma peça bonita mais simples da qual ela usava em casa quando queria vestir-se um pouco melhor, ou talvez ir a um shopping, ou fazer compras… nada especial.

Hanna encarou-se frente ao espelho de seu closet. Os cabelos negros azulados longos dessa vez estavam presos em um coque desconstruído enquanto sua franja grossa estava bem bagunçada, conferindo-lhe um ar despojado. Um par de brincos de pérolas e um cordão com pingente. Ergueu o pulso checando em seu relógio vendo estar quase na hora. Desceu então do quarto de modo a esperar pelo marido. Ela estava linda, perfumada, arrumada… E extremamente ansiosa por alguma razão, e sentia-se tão boba por isso. Talvez porque a presença dele havia se tornado ansiada por ela, afinal, cada vez mais as desculpas e atrasos começavam a tomar conta da rotina deles.

A mesa posta estava perfeita. Alana fizera um trabalho magnifico e embora a mesa fosse grande, porque eles costumavam dar jantares maiores para familiares e amigos, a forma montada pela mulher deixava o toque acolhedor e intimista aos dois apenas.

Intimidade… eles careciam daquilo de volta. A coisa toda parecia tão mecânica e fria… quase como uma obrigação matrimonial.

Hanna andou até o aparador, mexeu no arranjo de lírios-brancos novinhos que estavam ali e perfumavam incrivelmente o ambiente, ela os adorava em momentos especiais, tal como amava girassóis, cada qual com seu significado especial. Andou pelo espaço, serviu-se de água, bebeu um pouco, sentou-se no sofá… O pulso erguera novamente: quase oito da noite. Então seu celular vibrou na mesa ao lado e ela o puxou vendo se tratar de uma mensagem do marido. Abriu-a:

“Sinto muito, amor. Tive um imprevisto de última hora e acabarei me atrasando, farei o possível para chegar cedo”

Ela novamente sentiu aquele embrulho horrendo no estômago, como se tivesse um buraco ali. Respirou fundo. Pegou uma das suas novas revistas e começou a lê-la, tentando inutilmente quebrar aquela sensação de descaso e abandono que aumentava subitamente. Lia tudo, mas não absorvia nada, e olha que aquela edição a havia deixado ansiosa já que teria uma matéria sobre Simon, marido de sua amiga Ivy, como um conceituado artista contemporâneo que vinha ganhando notório destaque. No entanto, mesmo esse fator não a prendeu, somente a distraiu superficialmente. Olhou o relógio novamente, vendo que esse aproximava-se das nove. Ela tinha uma crescente frustração em si, questionou-se momentaneamente se o casamento havia amornado? Esfriado de repente e ela não se dera conta? Porque não conseguia simplesmente ver em que momento as coisas haviam mudado, quando as coisas a dois deixaram de ser prazerosas, desde quando o trabalho cansava tanto, quando eles pareciam dois estranhos ou aquelas rachaduras entre os dois tornaram-se um abismo. Quando uma simples conversa tornou-se arma na mão do outro e virava uma guerra?

Largou a revista sobre a mesinha de centro e levantou-se caminhando em direção ao bar, do lugar buscou apenas o saca-rolhas, voltou-se então a mesa de jantar e embora não fosse uma perita em vinhos, abriu aquela garrava de tinto muito habilmente a levando ao nariz logo em seguida apreciando o cheiro da uva por um instante. Virou então o conteúdo no que seria sua taça de vinho e a encheu quase que completamente. Tomou o primeiro gole fechando os olhos sentindo toda a acidez e nenhuma doçura da bebida que era perfeita para aquela carne, mas perfeita ainda para o seu estado de espírito naquele instante. Pegou a garrafa com a outra mão e saiu dali encaminhando-se pelas escadas em direção ao terraço da casa, esse ficava no terceiro andar e era elaborado exclusivamente para ser seu ateliê. Sobre uma mesa de apoio ela repousou taça e garrafa, e então alcançou um dos seus aventais o colocando, pegando um pequeno controle, ela ligou o som colocando ao fundo músicas Blue-eyed soul. Conhecendo cada canto daquele seu lugar especial, ela pegou uma tela mediana em branco e a colocou sobre o cavalete.

Um novo gole de vinho…

Ela preparou sua paleta de tintas e os pinceis e os olhos fitaram a parede de vidraça do lugar que dava uma vista incrível do sol poente — embora fosse agora noite — e naquele instante ela olhava as silhuetas escuras dos campos que haviam ali por trás, já que a casa muito bem localizada ficava próximo ao parque ecológico de Estermond. Inspirando profundamente, ela encostou o pincel de cerdas medias e ponta fina na tinta vermelha e a pressionou contra o quadro, finalmente começando a pintar, permitindo-se inundar-se com a música, com o sentimento, e esses ela transpassava para a tela em forma de linhas, de formas…

Mais vinho… A hora já não importava mais.

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