Havia tanta pressa e desespero para estar ali, ele largou as chaves de qualquer jeito e topou com Nataly, que limpava a casa.— Onde está Hanna? — perguntou em tom de ordem.A mulher assustou-se com a face de Nicolas, sabia que algo estava acontecendo naquela casa, porem sempre fora uma pessoa discreta. Não era tola, viu como sua patroa havia chegado pouco antes...— E-ela está na suíte.Sem perder tempo, ele subiu as escadas praticamente correndo indo direto para o quarto do casal. Assim que entrou, viu Hanna sentada na cama, cabeça baixa e em soluços curtos. Não havia absolutamente nada fora do lugar e talvez isso o assustasse mais, porque Hanna era uma mulher sensível.— Hanna, por favor, vamos conversar...Um passo em direção a ela e ele a viu abrir a bolsa ao seu lado na cama e jogar um envelope sobre a mesma. Ele olhou dela para o objeto sobre a cama com tamanha incerteza.— Hanna... — tom era baixo e suplico. Havia tantas notas de desespero.— Abra! — a voz dela saiu em tom de
Ele estava prestes a abocanhar o seu sanduíche que fizera com tanto capricho, quando a campainha do seu pequeno apartamento soou. Franziu o cenho zangado e decidiu ignorar, trabalhara como um fodido o dia todo, nem almoçado tivera e agora que tinha paz alguém tentava usurpar? Não mesmo!Ele fingiu que não tinha ninguém, mas o barulho irritante continuou quebrando aquela magia de morder seu precioso…Bufou, e jogando a franja ruiva meio de lado, gritou:— Já vou, cacete! Isso não dá leite pra ficar apertando assim!Espiou então pelo olho magico e a boca foi quase ao chão quando viu quem estava do outro lado, destrancou a porta para dar de cara com o primo.— Olha… Quem é vivo sempre aparece, o que foi playboyzinho, a Barbie colocou você pra fora de casa? — zombou ao vê-lo com uma bagagem pequena. Mas a cara do Scrudell, bem como a resposta, o chocou.— Acertou!— Ohh hahaha ah! Cara… O que você fez? — disse dando passagem para Nicolas entrar enquanto fechava a porta atrás de si. Reparo
Era totalmente fora do horário e ela havia pulado novamente mais uma refeição, felizmente graças aos calmantes ela conseguiu descansar um pouco embora ainda estivesse mórbida e apática. A última coisa que ela se preocupava era com sua aparência, que deveria estar deplorável e refletiva ao seu atual estado emocional e de espírito. Usando uma calça de moletom grossa de pijama e uma blusinha de seda, ela tinha os cabelos presos desleixadamente com um prendedor de forma que havia várias mexas caindo livres. Com um copo de suco de amora em mãos, ela estava descalça no seu ateliê encarando inexpressiva a vidraça apreciando o entardecer, bom a palavra não é apreciando, ela devaneava sua atual situação tentando sinceramente absorver tudo aquilo ainda.No cavalete havia uma tela completamente negra com grossas gotas borradas e escorridas em um vermelho rubro que ela achou péssimo e talvez por isso largou a pintura, porque nem mesmo sua inspiração estava constante. Sobre uma das mesas havia o e
Ela usava uma combinação preta que contrastava absurdamente com os cabelos vermelhos que tinha, e com a sua pele clarinha. Os olhos azuis encaravam-se no reflexo do espelho enquanto reforçava o batom sobre os lábios. Os cabelos impecavelmente presos em um coque executivo davam ao rosto feminino o ar sério e elegante. Abrindo a caixinha de joias a sua frente, ela pegou uma combinação de peças colocando: brinco, gargantilha e pulseira. Seu ritual, no entanto, fora quebrado pela provocadora voz do homem loiro que tinha o corpo nu coberto apenas pelo lençol.— 'Tá caprichando hein?Ela o encarou pelo reflexo, era um quarto relativamente pequeno de um apartamento simples e não tão bem localizado. Embora o ar aborrecido nela, o tom de voz tinha a mesma provocação dele.— Claro que sim, imbecil! Preciso estar ao nível de uma dama da alta sociedade. Preciso consolar meu futuro maridinho — um pequeno biquinho tão falso quanto o conjunto de joias que ela usava formou-se nos lábios.Ao ouvir aqu
Estava claro para ele agora que as coisas não eram como ele achava. Uma mensagem apenas bastou para ele dispensar Sara daquela conversa da noite, não tinha cabeça alguma para lidar com ela, ou com qualquer coisa. Sua vida estava desmoronando completamente diante de seus olhos e ele sentia-se apenas travado, apático e em choque ainda. Talvez mais parecido com um moleque bobo, ele estava jogado no pequeno sofá da sala e fitava o teto apenas sentindo os grossos rastros de lagrimas que desciam pela face. Na garganta o gosto amargo e a incontrolável sensação de estar despencando de algum lugar muito alto.Na mente, as palavras de Hanna soavam cada vez mais alta, como se gritadas contra seus tímpanos, e a cada batida do coração esse repetia: divorcio…Acabou…Não… Eles não poderiam só acabar assim, daquela maneira tão…Ele fechou os olhos com força e travou a mandíbula com brusquidão. Deus, como ele pôde ser tão estupido? Ele estava a perdendo, simples assim… Ela escapava pelos seus dedos e
Ela estava travada olhando para um ponto fixo qualquer enquanto devaneava, havia se perdido um tanto no fio da meada em sua explicação sobre o romantismo na arte, até que o chamado de uma de suas alunas a despertou.— Perdão — disse e esboçou um sorriso pequeno — onde paramos?— A senhora parou no sentimento acima da razão.— Oh! Claro. Falemos então de Delacroix.Ela precisou amparar-se pela primeira vez em seu cronograma de aula, simplesmente porque não conseguia manter o foco e o objetivo da aula. Claro que esse fato fora percebido claramente pelos seus alunos, bem como o fogo e paixão da qual ela costumava lecionar não estavam ali, aliás, não havia mais fogo algum queimando. Hanna parecia uma tela em branco, sem pintura, sem expressão…A sempre elegante, apaixonada e vívida professora de história da arte, estava mais apagada que nunca. Usava uma sandália de saltinho baixo, um vestido longo e um cardigã escuro por cima. Havia usado bastante corretivo e base para esconder as olheira
Havia três caras dividindo o espaço do sofá, o que deixava apertado. Frente a eles, a televisão estava ligada diretamente a um console de videogame. No braço do sofá havia long necks de cerveja que eram tomadas pelos ocupantes, bem como salgadinhos e algumas porcarias. O clima era totalmente propicio para um encontro de amigos e deveria estar leve e fluido de velhos hábitos destes do passado que nunca mudou, mas não era assim que estava. Tinha uma tensão palpável e incrivelmente pesada ali, como se a sala, que já era pequena, ainda estivesse comprimida por um enorme elefante.Samuel, que assistia Nathan e Sérgio jogarem um contra o outro, enquanto fingiam que tudo estava bem. Olhou em direção a pequena cozinha que dividia espaço num conceito aberto que era separada apenas pelo balcão. O cheiro que vinha de lá denuncia que alguém cozinhava, ou tentava… E fora assim que o Uckermann ficou alguns segundos, encarando Nicolas, que parecia estranhamente bem enquanto cozinhava. Só tinha um gr
Ele largou as chaves sobre o balcão da cozinha, tendo apenas o silêncio do pequeno apartamento naquele final de tarde. Afrouxou a gravata, que já não estava tão perfeita assim, e a arrancou de vez. Os olhos azuis fitaram o canto do apartamento que ainda tinha algumas malas que ele nem se dera o trabalho de abrir. Coçou os cabelos, os desajeitando por completo. Abriu a geladeira passando o olho rapidamente sem real apreço a qualquer coisa.Sinceramente? Mal tocava em comida, e quando o fazia, geralmente era alguma porcaria. Poderia ir a um bom restaurante, poderia ter boas companhias… Até poderia, mais estava um caco e a última coisa que ele queria era sair, só o fazia para trabalhar e ainda assim porque era obrigado.Da bolsa largada no sofá, escapou mais algumas folhas que eram mais intimações do tal Hoffman quanto ao divórcio, da qual ele se recusava veemente a se pronunciar. Talvez lhe faltasse coragem, talvez força…— Droga, Hanna… — murmurou irritado com a linha de pensamentos qu