Havia três caras dividindo o espaço do sofá, o que deixava apertado. Frente a eles, a televisão estava ligada diretamente a um console de videogame. No braço do sofá havia long necks de cerveja que eram tomadas pelos ocupantes, bem como salgadinhos e algumas porcarias. O clima era totalmente propicio para um encontro de amigos e deveria estar leve e fluido de velhos hábitos destes do passado que nunca mudou, mas não era assim que estava. Tinha uma tensão palpável e incrivelmente pesada ali, como se a sala, que já era pequena, ainda estivesse comprimida por um enorme elefante.Samuel, que assistia Nathan e Sérgio jogarem um contra o outro, enquanto fingiam que tudo estava bem. Olhou em direção a pequena cozinha que dividia espaço num conceito aberto que era separada apenas pelo balcão. O cheiro que vinha de lá denuncia que alguém cozinhava, ou tentava… E fora assim que o Uckermann ficou alguns segundos, encarando Nicolas, que parecia estranhamente bem enquanto cozinhava. Só tinha um gr
Ele largou as chaves sobre o balcão da cozinha, tendo apenas o silêncio do pequeno apartamento naquele final de tarde. Afrouxou a gravata, que já não estava tão perfeita assim, e a arrancou de vez. Os olhos azuis fitaram o canto do apartamento que ainda tinha algumas malas que ele nem se dera o trabalho de abrir. Coçou os cabelos, os desajeitando por completo. Abriu a geladeira passando o olho rapidamente sem real apreço a qualquer coisa.Sinceramente? Mal tocava em comida, e quando o fazia, geralmente era alguma porcaria. Poderia ir a um bom restaurante, poderia ter boas companhias… Até poderia, mais estava um caco e a última coisa que ele queria era sair, só o fazia para trabalhar e ainda assim porque era obrigado.Da bolsa largada no sofá, escapou mais algumas folhas que eram mais intimações do tal Hoffman quanto ao divórcio, da qual ele se recusava veemente a se pronunciar. Talvez lhe faltasse coragem, talvez força…— Droga, Hanna… — murmurou irritado com a linha de pensamentos qu
Nicolas estava olhando a vista da sacada do apartamento enquanto tinha Samuel no seu encalço, tinha de admitir que tanto amor e zelo do Uckermann consigo estava o causando ânsia de vômito.— 'Tá, já que você não tomou frente e nenhuma atitude, eu coloquei o Henrique para lidar com seu divórcio.Nicolas virou para ele chocado.— Filho da mãe! Primeiro me recusa como cliente e agora isso?— Gostei mais da vista do da terceira avenida — disse Samuel colocando as mãos no bolso da calça e indo para a varanda, ignorando completamente o loiro.— Então será assim? — questionou indignado o Scrudell.— Vai sim! Eu trouxe comigo os papeis para você assinar.— Me recuso!— Arrebento tua cara, e sabe que eu faço. — disse com meio sorriso.— Como se pudesse! — resmungou o loiro se lembrando da última vez que ambos caíram na porrada pra valer apenas pelo prazer de medir força e acabaram os dois na emergência com uma Katherine aos prantos no pé deles.Nicolas suspirou, a pose ereta lembrava mesmo um
Ela respirou fundo mais uma vez, estava mentalmente cansada, desgastada. No dia anterior havia tido a primeira audiência do divórcio com Nicolas, e ainda repassava os detalhes em mente, o aspecto cansado por igual que ele exibia, as marcas de expressão no rosto e a ausência total do sorriso. Ele parecia tão deplorável quanto ela, mas ainda assim, ela não ousou olhá-lo nos olhos nem por um instante sequer, mesmo quando teve que lidar com as provas e acusações para fundamentar o divórcio litigioso, apenas porque Nicolas se recusava a da-la tal separação.Ela ouviu da boca dele diante do juiz que por ele o casamento não se dissolveria, se a escolha fosse dele sempre seria de tentar, de lutar… Felizmente a escolha não era dele.— Então… — Ela ia prosseguir o raciocínio da aula, não queria mais se focar naquilo, mas de repente estremeceu, o corpo travou e ela sentiu-se repentinamente leve. Uma sensação de flutuar no espaço.— Senhora Scrudell — ela ouviu o som da voz distanciar-se e seus s
— Julgo ser a hora ideal. Já falamos sobre formar nossa família, tínhamos um acordo. Meu relógio biológico tá se aproximando, Susan. Nossos projetos profissionais já aconteceram e com a ascensão dele não tem mais porque adiar, certo? — falava uma Hanna um pouco mais agitada que o normal e empolgada com ideia desde a última conversa que tivera com o marido.— Bom, acredito que sim… Eu e o Samuel, não falamos muito sobre isso, mais é claro que eu também quero… Se tá decidida deve procurar a Tereza.— Sua madrinha?— Ela mesma! Ela é ótima obstetra e ginecologista, fora que ela tem trabalhos fantásticos em reprodução humana. Deve marcar uma consulta e ver se está tudo bem.— Como assim? Não é… Só parar os anticoncepcionais?— Bom… Tecnicamente sim, mas é bom fazer uma avaliação às vezes você pode precisar de uma ajudinha da ciência, sei lá…Ela sorriu zangada daquela memória. Sentada em sua cama, olhava para os anticoncepcionais que deveriam ter sido tomados, mas estavam incompletos simp
Ele estava jantando em um dos seus restaurantes favoritos pensando que, já fazia um bom tempo que não pisava naquele lugar e como ele amava o espaço, era intimista e aconchegante, longe dos espalhafatosos que costumava ir com mais frequência. Buscava colocar sua cabeça no lugar, depois que saiu da sala do Uckermann ele teve muito o que pensar, e principalmente se dar conta que amava muito Hanna, mas aquela baboseira de “se ama deixe ir” doía pra caramba! Mas talvez e só, talvez estivesse certo. Hanna estava muito infeliz e muito machucada e tudo por sua culpa. Tudo foi um efeito dominó e a última peça foi a presença de Hector ali, sentia-se miseravelmente pequeno e incapaz. O que ele era afinal? Se até mesmo sua empresa, que ele se empenhou tanto, dedicou, esforçou, colocou seu coração e alma, não passava de uma mentira? De certa forma sentiu-se ligeiramente traído por Hanna, talvez ela não acreditasse nele como dizia, talvez ele não fosse tão bom quanto achava… talvez ela mesma não o
Mais uma aspirina e água, ele virou ambos enquanto a copeira do andar executivo depositou sobre a mesa a sua frente uma xícara de café, açúcar, creme e alguns biscoitos.— Obrigada — falou mais como um resmungo. Sua cabeça doía como um inferno, sua concentração estava mais lenta que de costume. Nada propício aquelas decisões que precisava tomar.Os olhos azuis fitaram a mulher deixar sua sala e ele adicionou açúcar ao café o mexendo. Talvez isso o ajudaria a levar aquele expediente e terminar seu trabalho da manhã. Aspirou o aroma do líquido levando a os lábios provando do primeiro um bom gole, fechou os olhos inspirando profundamente enquanto buscava serenidade, uma que ele não tinha naquele momento. Repousando a xícara, ele pegou a primeira pasta de documentos de uma grande pilha que se encontrava ali para revisão e seu aval.Mais um gole, e então seu celular vibrou perdido em algum lugar naquela mesa. Ele bufou, não era hora de ser interrompido, certo que deveria ser mais dor de ca
O saco de treino estava pendurado na varanda ampla, o frio da noite parecia acolhedor naquele instante. Usando nada mais que um short térmico, ele tinha os punhos enfaixados como proteção e socava repetidas vezes o objeto. A cada novo soco, ele sentia mais raiva, e em quem ele se projetava ali? Nem mesmo ele sabia. Mesmo com o frio, o suor escorria por seu corpo, os cabelos loiros estavam úmidos e os olhos azuis mais sombrios. Usava daquele instante para expurgar-se, para colocar a mente em ordem e repassar aquela conversa do jantar. De repente parou de socar o objeto e agarrou-se a ele, ofegante, ele estava agora movido pela frustração e a ira.— A doce, fria e gélida, Hanna Sanches, pelo visto não herdou apenas os olhos do pai, o coração também, e eu nunca notei. — Bufou. Soltou o saco e caminhou para dentro do apartamento, foi direto a geladeira a abrindo e pegou uma cerveja muito gelada a virando em goles rápidos, os olhos azuis fitaram o celular largado no silencioso sobre a ilha