Era totalmente fora do horário e ela havia pulado novamente mais uma refeição, felizmente graças aos calmantes ela conseguiu descansar um pouco embora ainda estivesse mórbida e apática. A última coisa que ela se preocupava era com sua aparência, que deveria estar deplorável e refletiva ao seu atual estado emocional e de espírito. Usando uma calça de moletom grossa de pijama e uma blusinha de seda, ela tinha os cabelos presos desleixadamente com um prendedor de forma que havia várias mexas caindo livres. Com um copo de suco de amora em mãos, ela estava descalça no seu ateliê encarando inexpressiva a vidraça apreciando o entardecer, bom a palavra não é apreciando, ela devaneava sua atual situação tentando sinceramente absorver tudo aquilo ainda.No cavalete havia uma tela completamente negra com grossas gotas borradas e escorridas em um vermelho rubro que ela achou péssimo e talvez por isso largou a pintura, porque nem mesmo sua inspiração estava constante. Sobre uma das mesas havia o e
Ela usava uma combinação preta que contrastava absurdamente com os cabelos vermelhos que tinha, e com a sua pele clarinha. Os olhos azuis encaravam-se no reflexo do espelho enquanto reforçava o batom sobre os lábios. Os cabelos impecavelmente presos em um coque executivo davam ao rosto feminino o ar sério e elegante. Abrindo a caixinha de joias a sua frente, ela pegou uma combinação de peças colocando: brinco, gargantilha e pulseira. Seu ritual, no entanto, fora quebrado pela provocadora voz do homem loiro que tinha o corpo nu coberto apenas pelo lençol.— 'Tá caprichando hein?Ela o encarou pelo reflexo, era um quarto relativamente pequeno de um apartamento simples e não tão bem localizado. Embora o ar aborrecido nela, o tom de voz tinha a mesma provocação dele.— Claro que sim, imbecil! Preciso estar ao nível de uma dama da alta sociedade. Preciso consolar meu futuro maridinho — um pequeno biquinho tão falso quanto o conjunto de joias que ela usava formou-se nos lábios.Ao ouvir aqu
Estava claro para ele agora que as coisas não eram como ele achava. Uma mensagem apenas bastou para ele dispensar Sara daquela conversa da noite, não tinha cabeça alguma para lidar com ela, ou com qualquer coisa. Sua vida estava desmoronando completamente diante de seus olhos e ele sentia-se apenas travado, apático e em choque ainda. Talvez mais parecido com um moleque bobo, ele estava jogado no pequeno sofá da sala e fitava o teto apenas sentindo os grossos rastros de lagrimas que desciam pela face. Na garganta o gosto amargo e a incontrolável sensação de estar despencando de algum lugar muito alto.Na mente, as palavras de Hanna soavam cada vez mais alta, como se gritadas contra seus tímpanos, e a cada batida do coração esse repetia: divorcio…Acabou…Não… Eles não poderiam só acabar assim, daquela maneira tão…Ele fechou os olhos com força e travou a mandíbula com brusquidão. Deus, como ele pôde ser tão estupido? Ele estava a perdendo, simples assim… Ela escapava pelos seus dedos e
Ela estava travada olhando para um ponto fixo qualquer enquanto devaneava, havia se perdido um tanto no fio da meada em sua explicação sobre o romantismo na arte, até que o chamado de uma de suas alunas a despertou.— Perdão — disse e esboçou um sorriso pequeno — onde paramos?— A senhora parou no sentimento acima da razão.— Oh! Claro. Falemos então de Delacroix.Ela precisou amparar-se pela primeira vez em seu cronograma de aula, simplesmente porque não conseguia manter o foco e o objetivo da aula. Claro que esse fato fora percebido claramente pelos seus alunos, bem como o fogo e paixão da qual ela costumava lecionar não estavam ali, aliás, não havia mais fogo algum queimando. Hanna parecia uma tela em branco, sem pintura, sem expressão…A sempre elegante, apaixonada e vívida professora de história da arte, estava mais apagada que nunca. Usava uma sandália de saltinho baixo, um vestido longo e um cardigã escuro por cima. Havia usado bastante corretivo e base para esconder as olheira
Havia três caras dividindo o espaço do sofá, o que deixava apertado. Frente a eles, a televisão estava ligada diretamente a um console de videogame. No braço do sofá havia long necks de cerveja que eram tomadas pelos ocupantes, bem como salgadinhos e algumas porcarias. O clima era totalmente propicio para um encontro de amigos e deveria estar leve e fluido de velhos hábitos destes do passado que nunca mudou, mas não era assim que estava. Tinha uma tensão palpável e incrivelmente pesada ali, como se a sala, que já era pequena, ainda estivesse comprimida por um enorme elefante.Samuel, que assistia Nathan e Sérgio jogarem um contra o outro, enquanto fingiam que tudo estava bem. Olhou em direção a pequena cozinha que dividia espaço num conceito aberto que era separada apenas pelo balcão. O cheiro que vinha de lá denuncia que alguém cozinhava, ou tentava… E fora assim que o Uckermann ficou alguns segundos, encarando Nicolas, que parecia estranhamente bem enquanto cozinhava. Só tinha um gr
Ele largou as chaves sobre o balcão da cozinha, tendo apenas o silêncio do pequeno apartamento naquele final de tarde. Afrouxou a gravata, que já não estava tão perfeita assim, e a arrancou de vez. Os olhos azuis fitaram o canto do apartamento que ainda tinha algumas malas que ele nem se dera o trabalho de abrir. Coçou os cabelos, os desajeitando por completo. Abriu a geladeira passando o olho rapidamente sem real apreço a qualquer coisa.Sinceramente? Mal tocava em comida, e quando o fazia, geralmente era alguma porcaria. Poderia ir a um bom restaurante, poderia ter boas companhias… Até poderia, mais estava um caco e a última coisa que ele queria era sair, só o fazia para trabalhar e ainda assim porque era obrigado.Da bolsa largada no sofá, escapou mais algumas folhas que eram mais intimações do tal Hoffman quanto ao divórcio, da qual ele se recusava veemente a se pronunciar. Talvez lhe faltasse coragem, talvez força…— Droga, Hanna… — murmurou irritado com a linha de pensamentos qu
Nicolas estava olhando a vista da sacada do apartamento enquanto tinha Samuel no seu encalço, tinha de admitir que tanto amor e zelo do Uckermann consigo estava o causando ânsia de vômito.— 'Tá, já que você não tomou frente e nenhuma atitude, eu coloquei o Henrique para lidar com seu divórcio.Nicolas virou para ele chocado.— Filho da mãe! Primeiro me recusa como cliente e agora isso?— Gostei mais da vista do da terceira avenida — disse Samuel colocando as mãos no bolso da calça e indo para a varanda, ignorando completamente o loiro.— Então será assim? — questionou indignado o Scrudell.— Vai sim! Eu trouxe comigo os papeis para você assinar.— Me recuso!— Arrebento tua cara, e sabe que eu faço. — disse com meio sorriso.— Como se pudesse! — resmungou o loiro se lembrando da última vez que ambos caíram na porrada pra valer apenas pelo prazer de medir força e acabaram os dois na emergência com uma Katherine aos prantos no pé deles.Nicolas suspirou, a pose ereta lembrava mesmo um
Ela respirou fundo mais uma vez, estava mentalmente cansada, desgastada. No dia anterior havia tido a primeira audiência do divórcio com Nicolas, e ainda repassava os detalhes em mente, o aspecto cansado por igual que ele exibia, as marcas de expressão no rosto e a ausência total do sorriso. Ele parecia tão deplorável quanto ela, mas ainda assim, ela não ousou olhá-lo nos olhos nem por um instante sequer, mesmo quando teve que lidar com as provas e acusações para fundamentar o divórcio litigioso, apenas porque Nicolas se recusava a da-la tal separação.Ela ouviu da boca dele diante do juiz que por ele o casamento não se dissolveria, se a escolha fosse dele sempre seria de tentar, de lutar… Felizmente a escolha não era dele.— Então… — Ela ia prosseguir o raciocínio da aula, não queria mais se focar naquilo, mas de repente estremeceu, o corpo travou e ela sentiu-se repentinamente leve. Uma sensação de flutuar no espaço.— Senhora Scrudell — ela ouviu o som da voz distanciar-se e seus s