Pagaram a conta no café e seguiram no carro da Scrudell para o endereço que ficava em um movimentado centro comercial que elas conheciam bem, faziam compras ali afinal, era lugar muito bem frequentado pelos tipos de loja que tinham ali. Hanna estacionou o carro frente ao endereço contemplado calada o grande e luxuoso letreiro da fachada daquela joalheria.
Sentiu seu coração apertar no peito.
— Compraremos joias, é isso? — perguntou a rosada com certa ironia, então viu uma seriedade obscura nos olhos geralmente tão doces e serenos de Hanna, ela desafivelou o cinto e abriu a porta do carro sendo seguida pela Uckermann.
Foram bem recebidas e sem muitos rodeios, Hanna foi direto ao ponto.
— Meu marido fez uma compra nesse estabelecimento a três dias, eu… — hesitou — quero confirmar a compra.
Sem muitas informações, ela logo estava falando com uma vendedora experiente que a ajudou e localizou assim a bendita compra. Susan apenas via e ouvia calada analisando cuidadosamente.
Um catálogo fora aberto na frente de Hanna onde fora mostrada a peça a ela. Uma pulseira de aro articulado feita de ouro branco e diamantes. Ela ficou fitando a peça um tempo até levantar-se.
— M-muito… muito obrigada! — disse sentindo-se tonta subitamente.
— O que foi isso, Hanna? — pediu Susan ajudando a amiga que parecia que ia cair dura no chão.
— Bom, eu espero que um presente de casamento antecipado — falou ela com notório sarcasmo, incredulidade e raiva.
(…)
Aquela era uma saída de garotas que, enquanto acontecia a versão feminina, acontecia a masculina com os respectivos amigos, mas esses sendo anfitrião por um Uckermann em sua casa, já que as garotas estavam em um badaladíssimo bar da capital. Elas dividiam um espaço de lounge na área vip, cada qual com seu copo de drink colorido, seus sorrisos, fofocas e mais fofocas, onde a maioria era comandada pela loiríssima e bela: Ivy Young.
A cada nova coisa, novo flerte nada indecente, apenas por diversão, os sorrisos pareciam mais acesos, principalmente pelo álcool. Susan olhou para Hanna que naquele instante tinha um sorriso tão falso quanto uma nota de trinta nos lábios. Talvez ela percebesse porque conhecia tão intimamente a garota e por mais tempo que as demais. Os olhos não carregavam o mesmo brilho, estavam estranhamente opacos e Susan tinha certeza que mesmo que a pessoa estivesse ali, a mente da Scrudell estava a quilômetros de distância, como gesto solidário e afável, ela colocou a mão sobre a de Hanna que a olhou. Os lábios da rosada moveram-se mesmo sem som, ciente que a amiga os lia:
— Banheiro?!
Hanna consentiu e elas pediram licença, as amigas saíram. Já mais afastadas, próximo ao banheiro feminino, elas desviaram o caminho para uma das varandas onde era aberto e tinha um bom ar, em posse de seu Manhattan (um drink) e Susan do seu New York Sour encostaram-se no parapeito e Hanna mergulho o dedo indicador na sua taça a mexendo e levando o dedo aos lábios dando um pesaroso suspiro.
— As coisas não andam bem?
— Estão ótimas! Perfeitas até! — disse Hanna em tom de desgaste e melancolia.
Ela só não queria ser o palco das amigas naquela noite, não queria seus problemas conjugais atrapalhando a alegria alheia, aliás, ela não queria aqueles olhares de pena como o que recebia da amiga naquele instante. Era humilhante demais.
Susan deu um longo suspiro e tomou mais um gole de bebida.
— Eu só saio daqui quando começar a falar. Não tenho pressa mesmo.
Hanna esboçou uma careta, mas a postura firme e decidida de Susan era imutável. Ela engoliu em seco e bebeu um gole da bebida por igual a Uckermann e repousou a taça sobre o parapeito.
— Achei um fio ruivo de cabelo no paletó dele — Susan a olhou e ela sorriu irritada — eu sei… É patético, me sinto estupida e… E… Me pergunto a cada dia porque eu to me sujeitando a isso? Por quê?
Os olhos não conseguiam segurar as lagrimas carregadas de sofrimento, angústia e dor.
Susan, por sua vez, vinha observando a amiga, definhar na sua frente desde a tal joia, claro que isso foi a apenas alguns dias, mas o bastante para Hanna apagar suas cores. Ela fixou os olhos verdes em algum ponto da cidade e respondeu:
— Porque o ama. — Houve um segundo de silêncio — é normal sentir-se assim. Caramba, Hanna! — ela exasperou um pouco — vocês estão juntos a sei lá… Doze anos se contar o tempo de namoro e noivado? Se conheceram no primeiro semestre da faculdade com tanta coisa envolvida e sinceramente não estou julgando, longe de mim, suponho que se o Samuel fizesse algo assim eu cortaria o pau dele fora!
Hanna arregalou os olhos, assustada com aquele ímpeto.
— Me julgue! Acredito que na raiva eu o mataria… Em fim. Eu não sou o foco dessa discussão.
— E-eu só não sei o que fazer! — ela balançou a cabeça — sabe… Eu poderia só o confrontar e ouvir mentiras, ou respostas prontas… Eu não conseguia me manter eu… Sou uma idiota, eu sei! Deus, eu me odeio!
— Se ele estiver mesmo fazendo isso…
— Se?
— Se… Ainda daremos ao adúltero safado o benefício da dúvida até ter um flagrante, não vale a pena um confronto sem armas. Isso é muito importante para um tribunal, vai por mim, mamãe sofreu muito para se divorciar.
Ela observou os olhos de Hanna ainda mais tristes e melancólicos com aquela palavra: divorcio.
— Hanna, é lamentável, mas vocês têm uma vida juntos e uma vida não apenas romântica. Vocês têm compromissos, finanças, investimentos… Tudo isso é importante.
— Susan… — murmurou Hanna, sentindo-se covarde diante da solução óbvia e o desenrolar certo.
— Sério! Conheço um bom detetive, ele colhe as provas e você acaba com ele, em casa e no tribunal.
— Não sei se quero isso, na verdade, sequer estou pronta.
— ahhh você vai querer! Quando você ter todas as respostas, você vai querer! Na verdade, eu te daria uma faca de caça, bem amolada. O Samuel tem uma coleção delas nem vai notar a falta, você corta não só pau, mas as bolas também!
Hanna sorriu achando graça, mas depois o sorriso morreu.
— Sou patética né? Ele me traindo, me humilhando e eu aqui preocupada com a situação dele, com a reputação…
— Não Hanna! Você é só boa… pelo visto boa demais para aquele imbecil.
Bebendo um pouco mais, Hanna olhou os olhos esmeraldinos.
— Prometo que pensarei. — Dito isso, ela sentiu a onda de enjoou a acometer novamente.
Viu o olhar intrigado de Susan e falou:
— Não ando bem.
— Isso acaba com o emocional da gente. — Ela foi totalmente compreensiva — posso ter muita raiva dele, né?
Aquela era uma viagem relativamente tranquila, apenas quarenta minutos de carro até os arredores de Estermond onde havia uma imensa propriedade que era de posse de Hector Sanches. Apenas mais um dos compromissos que o casal fazia juntos, embora aquele em especial fosse um prazer para Hanna, que visitaria a família, e um martírio para Nicolas, que tinha de aguentar o sogro e monstrinha da cunhada. Isso se, com sorte, não encontrar mais Sanches que o detestava reunidos, o que era uma chance imensa dada a circunstância que iam.No som, tocava uma música suave e bem atual, e era somente aquele som que havia entre eles. Para Nicolas, era normal àquela altura ele ficar ouvindo Hanna falando de algo com empolgação, compartilhando alguma fofoca, ou apenas com seus pequenos planos e acontecimentos, mas ela estava apenas lá: calada, aborrecida claramente, e ele não sabia o porquê ou exatamente o que fazer. Aliás, ele sabia exatamente o que fazer, mas talvez fosse fraco demais, assumia… Havia co
— É um evento beneficente, preciso estar lá ainda, né? — disse Hanna com o telefone preso entre o ouvido e o ombro enquanto contorcia-se calçando seus saltos.— Como estão as coisas? Alguma novidade?Um suspiro longo de Hanna.— O advogado levantou o que precisava, o detetive que me indicou já está agindo... Não sei mais o que fazer.— Esperar, né?— 'To tão nervosa, Susan, e se eu estiver me precipitando e se...— Chega de “e se” ... Respira Hanna. Dá um tempo para você digerir, absorver. Você quer e precisa de respostas.— Claro!— Eu to aqui, sempre.— Obrigada.— Então... Espero que esteja no mínimo deslumbrante para essa festa.Hanna fitou-se no espelho, mas não encontrou o reflexo de sempre, apenas bufou. Um barulho na porta a despertou.— Preciso desligar agora, nos falamos depois. Beijo.Ela colocou-se completamente ereta, finalmente encarando o espelho de corpo inteiro. O vestido azul-royal era longo, havia uma cava nas costas e um decote em v profundo na frente. O modelo tin
O retorno para casa fora terrivelmente calado, ele tentava puxar assunto com a esposa, e ela estava monossilábica e completamente fechada. Irritado lá pelas tantas, ele decidiu falar algo que o incomodou, principalmente porque Hanna recusou-se a sair daquela "rodinha" exclusiva do pai e de perto daquele sujeito.— Aquele tal de Olausen pareceu interessado em você.Ela, no entanto, o olhou no fundo dos olhos, mordeu os lábios e virou-se continuando calada.— O que foi, Hanna?— Só estou cansada, quero chegar em casa.Ele bufou, deixando livre toda a sua frustração bem a mostra dela.— Você tem agido estranha, fria e...Irritada com tamanha cara de pau, e arrogância dele, ela estourou, mesmo que num bom baixo e comum.— Eu, estranha, Nicolas? Não sou eu que chego tarde quase todas as noites, não sou eu que furo, compromissos que não me interessam, não sou eu que invento desculpas para não estar onde se precisa estar, logo eu pergunto, quem está frio e distante, Nicolas? Julgo que se dis
Elas estavam sentadas em um pequeno bistrô francês que ficava na grande avenida gourmet que havia no centro de Estermond, haviam decidido almoçarem mais cedo naquele dia já que Susan tinha uma cirurgia agendada para logo mais, e Hanna estava completamente focada em uma nova restauração que recebera de Theo. A mulher, de cabelos loiros, notara que a amiga não comeu nada além de uma Salada Niçoise com frango e meio copo de suco. Movida por isso, tomou frente a instigá-la a comer mais, e assim, a sobremesa fora um petit gateou simples de banana e canela com uma bola de sorvete de creme e logo depois, Hanna pediu um café preto que ela adoçou muito pouco. Concentrada naquele instante, Susan observava Hanna fazer anotações em sua agenda enquanto falava ao celular com algum aluno ou subordinado sobre o tal trabalho que estava presa, aliás, a Uckermann havia percebido a amiga presa como nunca ao trabalho, começando inclusive a estender seus horários no instituto. Quase uma semana depois da ta
Havia tanta pressa e desespero para estar ali, ele largou as chaves de qualquer jeito e topou com Nataly, que limpava a casa.— Onde está Hanna? — perguntou em tom de ordem.A mulher assustou-se com a face de Nicolas, sabia que algo estava acontecendo naquela casa, porem sempre fora uma pessoa discreta. Não era tola, viu como sua patroa havia chegado pouco antes...— E-ela está na suíte.Sem perder tempo, ele subiu as escadas praticamente correndo indo direto para o quarto do casal. Assim que entrou, viu Hanna sentada na cama, cabeça baixa e em soluços curtos. Não havia absolutamente nada fora do lugar e talvez isso o assustasse mais, porque Hanna era uma mulher sensível.— Hanna, por favor, vamos conversar...Um passo em direção a ela e ele a viu abrir a bolsa ao seu lado na cama e jogar um envelope sobre a mesma. Ele olhou dela para o objeto sobre a cama com tamanha incerteza.— Hanna... — tom era baixo e suplico. Havia tantas notas de desespero.— Abra! — a voz dela saiu em tom de
Ele estava prestes a abocanhar o seu sanduíche que fizera com tanto capricho, quando a campainha do seu pequeno apartamento soou. Franziu o cenho zangado e decidiu ignorar, trabalhara como um fodido o dia todo, nem almoçado tivera e agora que tinha paz alguém tentava usurpar? Não mesmo!Ele fingiu que não tinha ninguém, mas o barulho irritante continuou quebrando aquela magia de morder seu precioso…Bufou, e jogando a franja ruiva meio de lado, gritou:— Já vou, cacete! Isso não dá leite pra ficar apertando assim!Espiou então pelo olho magico e a boca foi quase ao chão quando viu quem estava do outro lado, destrancou a porta para dar de cara com o primo.— Olha… Quem é vivo sempre aparece, o que foi playboyzinho, a Barbie colocou você pra fora de casa? — zombou ao vê-lo com uma bagagem pequena. Mas a cara do Scrudell, bem como a resposta, o chocou.— Acertou!— Ohh hahaha ah! Cara… O que você fez? — disse dando passagem para Nicolas entrar enquanto fechava a porta atrás de si. Reparo
Era totalmente fora do horário e ela havia pulado novamente mais uma refeição, felizmente graças aos calmantes ela conseguiu descansar um pouco embora ainda estivesse mórbida e apática. A última coisa que ela se preocupava era com sua aparência, que deveria estar deplorável e refletiva ao seu atual estado emocional e de espírito. Usando uma calça de moletom grossa de pijama e uma blusinha de seda, ela tinha os cabelos presos desleixadamente com um prendedor de forma que havia várias mexas caindo livres. Com um copo de suco de amora em mãos, ela estava descalça no seu ateliê encarando inexpressiva a vidraça apreciando o entardecer, bom a palavra não é apreciando, ela devaneava sua atual situação tentando sinceramente absorver tudo aquilo ainda.No cavalete havia uma tela completamente negra com grossas gotas borradas e escorridas em um vermelho rubro que ela achou péssimo e talvez por isso largou a pintura, porque nem mesmo sua inspiração estava constante. Sobre uma das mesas havia o e
Ela usava uma combinação preta que contrastava absurdamente com os cabelos vermelhos que tinha, e com a sua pele clarinha. Os olhos azuis encaravam-se no reflexo do espelho enquanto reforçava o batom sobre os lábios. Os cabelos impecavelmente presos em um coque executivo davam ao rosto feminino o ar sério e elegante. Abrindo a caixinha de joias a sua frente, ela pegou uma combinação de peças colocando: brinco, gargantilha e pulseira. Seu ritual, no entanto, fora quebrado pela provocadora voz do homem loiro que tinha o corpo nu coberto apenas pelo lençol.— 'Tá caprichando hein?Ela o encarou pelo reflexo, era um quarto relativamente pequeno de um apartamento simples e não tão bem localizado. Embora o ar aborrecido nela, o tom de voz tinha a mesma provocação dele.— Claro que sim, imbecil! Preciso estar ao nível de uma dama da alta sociedade. Preciso consolar meu futuro maridinho — um pequeno biquinho tão falso quanto o conjunto de joias que ela usava formou-se nos lábios.Ao ouvir aqu