— É um evento beneficente, preciso estar lá ainda, né? — disse Hanna com o telefone preso entre o ouvido e o ombro enquanto contorcia-se calçando seus saltos.
— Como estão as coisas? Alguma novidade?
Um suspiro longo de Hanna.
— O advogado levantou o que precisava, o detetive que me indicou já está agindo... Não sei mais o que fazer.
— Esperar, né?
— 'To tão nervosa, Susan, e se eu estiver me precipitando e se...
— Chega de “e se” ... Respira Hanna. Dá um tempo para você digerir, absorver. Você quer e precisa de respostas.
— Claro!
— Eu to aqui, sempre.
— Obrigada.
— Então... Espero que esteja no mínimo deslumbrante para essa festa.
Hanna fitou-se no espelho, mas não encontrou o reflexo de sempre, apenas bufou. Um barulho na porta a despertou.
— Preciso desligar agora, nos falamos depois. Beijo.
Ela colocou-se completamente ereta, finalmente encarando o espelho de corpo inteiro. O vestido azul-royal era longo, havia uma cava nas costas e um decote em v profundo na frente. O modelo tinha alcinhas finas e delicadas, e um cintinho de brilhantes. A saia do vestido tinha pregas fazendo o efeito godê longo. Estava muito bem maquiada e usava belas joias mescladas em dourado e pérolas. Os longos cabelos negros estavam presos em um arranjo elegante.
Hanna ouviu o barulho do chuveiro sendo ligado vindo do banheiro e suspirou longamente. Virou-se de lado fitando-se no reflexo do espelho, percebendo como seu corpo parecia mais fraco, mais magro talvez, mas ainda assim o vestido apertava-se incomodamente nos seios e quadril. Bom, ao menos suas curvas não a deram adeus.
Estava tão concentrada naquilo, sentia-se eufórica, nervosa... No quarto, ela abriu e fechou sua clutch de mão conferindo as coisas e o celular ali novamente até ouvir um: Uau vindo do marido.
— Está maravilhosa!
Corou-se com tal elogio, a pegou desprevenida.
— O-obrigada — murmurou encarando os olhos azuis dele, e ali estava o sorriso que a acabava, o corpo alto muito bem definido envolto em nada além de uma toalha na cintura, ainda úmido do banho recém-tomado, o cheiro dos seus cosméticos espalharam-se pelo quarto... Deus, ela suplicava dia e noite para não ser verdade, simplesmente porque ela era completamente apaixonada por aquele homem, mas tinha tanto medo agora que só isso bastava para machucar dia após dia, naquela incerteza e insegurança. Susan tinha toda razão, ela precisava mesmo de respostas.
— Adoro você boba assim, corada... — ela desviou o olhar ainda mais constrangida e ele gargalhou.
Nicolas concentrou-se em se vestir enquanto falava e falava coisas da qual Hanna respondia tão mecanicamente. Ouvia-o falar de reuniões, de ações... Da empresa... Tudo era sempre a empresa e ele, o, nós, havia sumido do vocabulário dele a um tempo, e ela notara isso.
Sorriu frustrada e assustou-se com ele agarrando sua cintura já completamente vestido, exceto... Pela m*****a gravata, dessa vez uma borboleta para combinar com o ‘smoking’ que usaria.
— Me ajuda?
Ela sorriu e virou-se o encarando.
— Claro — olho no olho ela o ajeitava.
— Então... Não tem falado muito do seu trabalho — ele quebrou aquele silencio, que parecia, subitamente, incomodo como nunca foi, bem como os olhos dela pareciam tão ferozes, tão acusadores que o fizera estremecer, aqueles malditos olhos que ele amava, mas que odiava agora porque simplesmente pareciam lê-lo até o último fio de cabelo e eles gritavam: ADULTERO.
— Não há nada especial. Nada diferente, nada que vala compartilhar, aliás.
— Nenhuma obra?
— Tout n'est pas ce qu'il semble être (nem tudo é o que parece ser) ela disse o olhando nos olhos e ele sorriu.
— Sabe que eu não falo francês, Hanna.
Ela baixou os olhos e ajeitou o colarinho da camisa dele com a gravata.
— Chegou uma obra, das grandes. Um quadro com quatro metros por seis, veio direto do museu de Estermond para restauração. Ícone histórico e muito importante, ele retrata o rastro da liberdade.
— Manchete?
— Claro! — ela disse satisfeita — tudo documentado, sem dúvidas teremos a capa da revista.
— Essa é a minha garota! — disse ele beijando o topo da cabeça dela e afastando-se, pegando assim o casaco do ‘smoking’ e finalmente o vestindo.
Ela gritava: hipócrita, mentiroso! Em sua mente.
...
Aquela festa tinha o encontro de pessoas importantes que se conheciam muito entre si, famílias de renome, nomes de prestígio, presidentes de corporações...
Impecável, o lugar era extravagante e por todos os lados as bebidas eram servidas, canapés e mimos. Ali estava ela com um sorriso cumprimentando e recebendo cumprimentos de pessoas a ela estranhas, não tinha nenhuma intimidade, apenas as conhecia como se conhece o cara do açougue, ou o padeiro... A mão firme dele em sua cintura deveria fazê-la sentir-se amada, acolhida e protegida, aliás, muito bem acompanhada, diga-se de passagem, já que o Scrudell conseguia, sim, chamar grande atenção por onde passava.
Eram perfeitos juntos de tantas maneiras...
Mas ele apenas desfilava pelo lugar com ela de forma tão arrogante e tão longe do que ela conhecia tão intimamente bem, do garoto audacioso e vivaz, a pitada de ingenuidade que ele ainda tinha pareceu que se perdeu pelo caminho, corrompeu-se. Ela o via tão confiante de tudo, tão cheio de certezas e ela ali ao seu lado completamente morta, gritando por qualquer coisa, por resquícios de algo que ela agora supunha que nunca existiu... Mendigando atenção e amor... Na verdade, carente de amor-próprio e disso agora ela tinha total certeza.
Já Nicolas estava apenas altivo, porque era isso que o mundo corporativo exigia: presença, firmeza e segurança. Ele ao lado de sua bela esposa era mais-que-perfeito, afinal ele tinha a mulher mais incrível de toda aquela noite, apenas queria demostrar o quanto dominava aquele jogo, ou o quanto eram tão perfeitos juntos... Hanna era uma verdadeira Dama. Que sorte ele tinha!
Àquela altura, ela sentia-se como um troféu, sim... Uma esposa – troféu o vendo fazer consigo praticamente a mesma coisa que aqueles grandes figurões faziam com suas consortes. Ela o via encher o peito com imenso ego ao falar dos incríveis feitos da sua esposa, suas especializações, seu lado culto... Como uma boneca comprada num catálogo. Então uma presença de repente ganhou sua atenção, uma bela mulher que se aproximava deles, essa usava um vestido verde, e sinceramente parecia mais uma hera venenosa, cabelos longos e ruivos “que incrível coincidência...” Olhos verdes bonitos. Olhos esses que estavam fixos em um ponto e só então Hanna percebera que esse tal ponto era o seu marido que parecia estranhamente travado ali.
— Nicolas... — cumprimentou a mulher com um sorriso amplo.
Hanna pode ver três coisas naquela mulher: um, a forma de olhar para ele expressava a intimidade que ambos tinham, dois, o brilho de paixão que ardia nos olhos dela e ela não fazia questão de esconder, e finalmente três, a pulseira que estava no braço dela, e essa Hanna reconheceu do catálogo da joalheria.
A Scrudell sentia seu coração na boca agora, estava tão quente de repente, ela tremia-se de nervoso, de raiva... Havia tantas coisas querendo explodir de dentro de si. Tudo naquela mulher lhe era odioso, desde o perfume irritantemente doce demais, e ela sinceramente podia jurar que já havia a visto.
Tenso... Era assim que estavam os dois ali.
— Hã!?… Hanna, essa é Sara... Sara Rooran. Ela é... — Ele pigarreou — uma das diretoras menor do Grupo Botanic.
A mulher estendeu a mão, mais Hanna a olhou, e olhou para sua mão estendida, aquilo que sentia piorava ainda mais, sentia-se zonza, sufocada. Não tocou naquela mulher.
— Prazer conhecê-la, Sara — disse a olhando nos olhos vendo tudo que eles poderiam falar, eles diziam coisas terríveis. Sara parecia estar divertindo-se com aquilo, tão baixa...
Era por aquilo que Hanna sofria tanto? Era aquela a motivação do marido?
De repente, Hanna sentiu-se ainda mais diminuta e patética.
Ela nunca agradeceu tanto em sua vida ser tirada de um lugar. Estava mais que desconfortável, e agora os braços do seu pai, fora incrivelmente reconfortante. Porque ela subitamente sentia tanta vontade de chorar.
Hector, assim que observou a filha ali, não perdeu tempo ao trazê-la junto a si. Orgulhoso, queria apresentá-la a alguém — ele sempre queria — Então ao ser afastada do marido, Hanna se viu em uma roda mais aprazível com rostos que ela conhecia bem, exceto por um.
— Querida, esse é Theo, Olausen. Theo, essa é artista e perita excepcional, mais conhecida como minha filha, Hanna Scrudell.
Ela estendeu a mão, tinha um sorriso nervoso, estava presa no momento e então sentiu os lábios dele contra sua pele e despertou encontrando os olhos azuis-claros a encarando com um sorriso cavalheiresco.
Theo era um homem bonito, alto, cabelos platinados bem cuidados e levemente compridos que lhe caiam muito bem sobre os olhos enigmáticos e sedutores. Ele não fazia o tipo atlético, mas o terno caro certamente o caia muito bem no corte e mostrava que ele tinha uma boa forma física.
— É um imenso prazer, senhorita...
— Senhora — ela corrigiu um tanto desconfortável, olhou de soslaio em direção a Nicolas, que ainda estava parado no mesmo lugar com a ruiva. Pareciam estranhamente discutir, mesmo que não chamando atenção de ninguém.
— O jovem Theo é filho de Heitor, um dos meus mais notórios sócios. — Falava o senhor Sanches naquela conversa sem saber que a cabeça da filha estava agora focada no casal a vários passos deles, no salão. Ela estava tremula, mas ninguém notara, coração acelerado, ela transpirava. Olhou novamente para o casal, vendo Nicolas negar algo veemente enquanto segurava de uma forma nada carinhosa, mas também nada agressiva, o braço da ruiva.
— Ele tem uma galeria no bairro central, é um negociante de arte, compra, vende e oferece leilões. Constantemente precisa de avaliações e restauração de peças...
— E quem melhor que Hanna Scrudell? — completou Theo com um sorriso encantador.
Ela mordeu o lábio, em nome de Deus, ela tentava mesmo se concentrar ali, naquela conversa, era uma boa oportunidade, mas era quase impossível, principalmente quando olhou novamente em direção a Nicolas e não o viu mais. Tantas coisas passavam na sua mente que ela sentia que enlouqueceria completamente.
Ainda assim...
Sorriu.
— Claro! Seria um... Enorme prazer, senhor Olausen.
— Theo, odeio formalidades — sorriu virando um pequeno gole do espumante.
Ela trocou seu telefone com ele.
— Bom, estou sempre na universidade.
— excelente!
Ela respirou.
— Podem me dar um minuto, preciso ir ao toalete.
— Claro.
Caminhou então em direção ao lugar, realmente precisava respirar, parar, fechar-se..., mas acabou esgueirando-se do caminho, era quase como um sexto sentido gritando dentro de si, ela apertou o colar e continuou caminhando sem fazer barulho ao aproximar-se de um dos corredores de serviço. Com a porta entre aberta, ela conseguia ouvir a voz de Nicolas e da hera venenosa ruivinha. Tampou a própria boca de modo a concentrar-se no que era dito.
— Não preciso de uma exposição bem aqui e agora, quer acabar comigo? — ele tinha um tom bastante irritado.
— Eu não fiz nada! — ela fizera-se de inocente.
— Eu te conheço bem, Sara! Sei suas intensões.
— Não sabe de nada, Nicolas, se soubesse realmente já teria pedido o divórcio daquela Sanches esquisita.
Hanna abriu os lábios.
— Já falamos sobre isso. Não é simples...
— é simples sim! Não me ama, como sempre diz?
Hanna sentiu estilhaçar-se ali, seu mundo girar e tudo cair por terra, tantas coisas... A decepção era tão, mais tão forte que talvez criasse vida própria. Chocada, Hanna não ia ficar ouvindo aquilo, afastou-se imediatamente do lugar o mais rápido que pode. Assim voltou para a festa pegando uma taça de espumante já a virando de uma vez e descartando em outra bandeja, pegou uma nova e colocou seu melhor sorriso naquela noite. Não perderia a compostura, ela não era uma vagabunda qualquer, oh não! Aquilo foi apenas a motivação que ela carecia. Sentia-se humilhada e apunhalada demais para expressar qualquer coisa, Susan tinha toda razão, ela iria querer matá-lo e essa era a vontade que rasgava em seu peito, em sua alma ferida e traída. Uma mulher trocada...
Não... Ela era mais que isso, maior, melhor... Muito melhor.
Voltou a conversar com o Olausen, dessa vez realmente empenhada em interesse, mas por dentro gritava com toda a força, e já havia assassinado Nicolas de tantas formas que nem mesmo se reconhecia, ele conseguiu despertar algo que a Sanches nem imaginava existir dentro de si: um lado negro e perverso.
Ela sorria tão animosamente com Theo, falavam de viagens. E tal como ela, ele era um homem intrépido, fluente em algumas línguas e extremamente culto. Era um homem interessante sem dúvidas, mas não... Não era essa sua intensão. Pagar fogo com fogo só a colocava no mesmo nível que ele, e esse, ela não tinha. Ela era uma rainha e uma rainha jamais perdia sua coroa. Ela notou o retorno de Nicolas com esse aproximando-se de si novamente juntando-se ao grupo a muito contra gosto de Hector em tê-lo ali naquele meio, sem perder tempo, o loiro enlaçou a cintura de Hanna, mas ela sentiu-se tão desconfortável naquele instante, não... sentia nojo do toque dele em si.
— Esse é Nicolas Scrudell — disse Hector sem empolgação naquilo.
— Suponho que... — Theo começou.
— Supôs certo! — disse Nicolas e exibiu um sorriso arrogante para o sujeito cheio de intimidade com sua esposa.
O retorno para casa fora terrivelmente calado, ele tentava puxar assunto com a esposa, e ela estava monossilábica e completamente fechada. Irritado lá pelas tantas, ele decidiu falar algo que o incomodou, principalmente porque Hanna recusou-se a sair daquela "rodinha" exclusiva do pai e de perto daquele sujeito.— Aquele tal de Olausen pareceu interessado em você.Ela, no entanto, o olhou no fundo dos olhos, mordeu os lábios e virou-se continuando calada.— O que foi, Hanna?— Só estou cansada, quero chegar em casa.Ele bufou, deixando livre toda a sua frustração bem a mostra dela.— Você tem agido estranha, fria e...Irritada com tamanha cara de pau, e arrogância dele, ela estourou, mesmo que num bom baixo e comum.— Eu, estranha, Nicolas? Não sou eu que chego tarde quase todas as noites, não sou eu que furo, compromissos que não me interessam, não sou eu que invento desculpas para não estar onde se precisa estar, logo eu pergunto, quem está frio e distante, Nicolas? Julgo que se dis
Elas estavam sentadas em um pequeno bistrô francês que ficava na grande avenida gourmet que havia no centro de Estermond, haviam decidido almoçarem mais cedo naquele dia já que Susan tinha uma cirurgia agendada para logo mais, e Hanna estava completamente focada em uma nova restauração que recebera de Theo. A mulher, de cabelos loiros, notara que a amiga não comeu nada além de uma Salada Niçoise com frango e meio copo de suco. Movida por isso, tomou frente a instigá-la a comer mais, e assim, a sobremesa fora um petit gateou simples de banana e canela com uma bola de sorvete de creme e logo depois, Hanna pediu um café preto que ela adoçou muito pouco. Concentrada naquele instante, Susan observava Hanna fazer anotações em sua agenda enquanto falava ao celular com algum aluno ou subordinado sobre o tal trabalho que estava presa, aliás, a Uckermann havia percebido a amiga presa como nunca ao trabalho, começando inclusive a estender seus horários no instituto. Quase uma semana depois da ta
Havia tanta pressa e desespero para estar ali, ele largou as chaves de qualquer jeito e topou com Nataly, que limpava a casa.— Onde está Hanna? — perguntou em tom de ordem.A mulher assustou-se com a face de Nicolas, sabia que algo estava acontecendo naquela casa, porem sempre fora uma pessoa discreta. Não era tola, viu como sua patroa havia chegado pouco antes...— E-ela está na suíte.Sem perder tempo, ele subiu as escadas praticamente correndo indo direto para o quarto do casal. Assim que entrou, viu Hanna sentada na cama, cabeça baixa e em soluços curtos. Não havia absolutamente nada fora do lugar e talvez isso o assustasse mais, porque Hanna era uma mulher sensível.— Hanna, por favor, vamos conversar...Um passo em direção a ela e ele a viu abrir a bolsa ao seu lado na cama e jogar um envelope sobre a mesma. Ele olhou dela para o objeto sobre a cama com tamanha incerteza.— Hanna... — tom era baixo e suplico. Havia tantas notas de desespero.— Abra! — a voz dela saiu em tom de
Ele estava prestes a abocanhar o seu sanduíche que fizera com tanto capricho, quando a campainha do seu pequeno apartamento soou. Franziu o cenho zangado e decidiu ignorar, trabalhara como um fodido o dia todo, nem almoçado tivera e agora que tinha paz alguém tentava usurpar? Não mesmo!Ele fingiu que não tinha ninguém, mas o barulho irritante continuou quebrando aquela magia de morder seu precioso…Bufou, e jogando a franja ruiva meio de lado, gritou:— Já vou, cacete! Isso não dá leite pra ficar apertando assim!Espiou então pelo olho magico e a boca foi quase ao chão quando viu quem estava do outro lado, destrancou a porta para dar de cara com o primo.— Olha… Quem é vivo sempre aparece, o que foi playboyzinho, a Barbie colocou você pra fora de casa? — zombou ao vê-lo com uma bagagem pequena. Mas a cara do Scrudell, bem como a resposta, o chocou.— Acertou!— Ohh hahaha ah! Cara… O que você fez? — disse dando passagem para Nicolas entrar enquanto fechava a porta atrás de si. Reparo
Era totalmente fora do horário e ela havia pulado novamente mais uma refeição, felizmente graças aos calmantes ela conseguiu descansar um pouco embora ainda estivesse mórbida e apática. A última coisa que ela se preocupava era com sua aparência, que deveria estar deplorável e refletiva ao seu atual estado emocional e de espírito. Usando uma calça de moletom grossa de pijama e uma blusinha de seda, ela tinha os cabelos presos desleixadamente com um prendedor de forma que havia várias mexas caindo livres. Com um copo de suco de amora em mãos, ela estava descalça no seu ateliê encarando inexpressiva a vidraça apreciando o entardecer, bom a palavra não é apreciando, ela devaneava sua atual situação tentando sinceramente absorver tudo aquilo ainda.No cavalete havia uma tela completamente negra com grossas gotas borradas e escorridas em um vermelho rubro que ela achou péssimo e talvez por isso largou a pintura, porque nem mesmo sua inspiração estava constante. Sobre uma das mesas havia o e
Ela usava uma combinação preta que contrastava absurdamente com os cabelos vermelhos que tinha, e com a sua pele clarinha. Os olhos azuis encaravam-se no reflexo do espelho enquanto reforçava o batom sobre os lábios. Os cabelos impecavelmente presos em um coque executivo davam ao rosto feminino o ar sério e elegante. Abrindo a caixinha de joias a sua frente, ela pegou uma combinação de peças colocando: brinco, gargantilha e pulseira. Seu ritual, no entanto, fora quebrado pela provocadora voz do homem loiro que tinha o corpo nu coberto apenas pelo lençol.— 'Tá caprichando hein?Ela o encarou pelo reflexo, era um quarto relativamente pequeno de um apartamento simples e não tão bem localizado. Embora o ar aborrecido nela, o tom de voz tinha a mesma provocação dele.— Claro que sim, imbecil! Preciso estar ao nível de uma dama da alta sociedade. Preciso consolar meu futuro maridinho — um pequeno biquinho tão falso quanto o conjunto de joias que ela usava formou-se nos lábios.Ao ouvir aqu
Estava claro para ele agora que as coisas não eram como ele achava. Uma mensagem apenas bastou para ele dispensar Sara daquela conversa da noite, não tinha cabeça alguma para lidar com ela, ou com qualquer coisa. Sua vida estava desmoronando completamente diante de seus olhos e ele sentia-se apenas travado, apático e em choque ainda. Talvez mais parecido com um moleque bobo, ele estava jogado no pequeno sofá da sala e fitava o teto apenas sentindo os grossos rastros de lagrimas que desciam pela face. Na garganta o gosto amargo e a incontrolável sensação de estar despencando de algum lugar muito alto.Na mente, as palavras de Hanna soavam cada vez mais alta, como se gritadas contra seus tímpanos, e a cada batida do coração esse repetia: divorcio…Acabou…Não… Eles não poderiam só acabar assim, daquela maneira tão…Ele fechou os olhos com força e travou a mandíbula com brusquidão. Deus, como ele pôde ser tão estupido? Ele estava a perdendo, simples assim… Ela escapava pelos seus dedos e
Ela estava travada olhando para um ponto fixo qualquer enquanto devaneava, havia se perdido um tanto no fio da meada em sua explicação sobre o romantismo na arte, até que o chamado de uma de suas alunas a despertou.— Perdão — disse e esboçou um sorriso pequeno — onde paramos?— A senhora parou no sentimento acima da razão.— Oh! Claro. Falemos então de Delacroix.Ela precisou amparar-se pela primeira vez em seu cronograma de aula, simplesmente porque não conseguia manter o foco e o objetivo da aula. Claro que esse fato fora percebido claramente pelos seus alunos, bem como o fogo e paixão da qual ela costumava lecionar não estavam ali, aliás, não havia mais fogo algum queimando. Hanna parecia uma tela em branco, sem pintura, sem expressão…A sempre elegante, apaixonada e vívida professora de história da arte, estava mais apagada que nunca. Usava uma sandália de saltinho baixo, um vestido longo e um cardigã escuro por cima. Havia usado bastante corretivo e base para esconder as olheira