O ponteiro do relógio marcava onze em ponto. Tudo estava escuro e silencioso. Ele fechou a porta atrás de si, deixando as chaves no porta-objeto que tinha no aparador de entrada. A casa em geral estava escura, mas alguns pontos ainda tinham a iluminação fraca, do semelhante à meia luz. Em silêncio ele caminhou até onde essas luzes ainda estavam acesas, o que o levou até a sala de jantar, os olhos azuis contemplaram a mesa posta tão perfeita, mas completamente intocada. Foi inevitável não esboçar uma face frustrada, bufou sabendo que havia, sim, feito algo estupido mais uma vez, e não poderia iludir-se acreditando que não era intencional, afinal, escolheu atrasar-se.
Ele subiu as escadas ouvindo ao longe, baixinho, a música que tocava. Entrou no quarto do casal largando a bolsa; tirou o paletó e afrouxou a gravata desfazendo o nó pôr fim a tirando. Que ela estava em casa era um fato, mesa posta, música ligada e carro na garagem…
Cama feita, e o perfume dela pelo lugar. E como ele amava aquele cheiro.
Os primeiros botões de sua camisa branca foram abertos, tal como os punhos dela e ele repuxou as mangas até o braço enquanto subia as escadas em direção ao terraço. A conhecia bem o bastante para imaginar o que ela estava fazendo naquele instante. Encostando-se no vão de divisa e entrada, ele observou a garrafa de vinho sobre a mesa e essa praticamente pela metade, viu também a taça que tinha um último gole bem ao fundo, essa estava bem na ponta da mesa ao alcance das pequenas e delicadas mãos que estavam agora meio sujas de tinta. Ele desenhou um pequeno sorriso ao ver o sutil balançar dos quadris dela, enquanto pintava tão focada e desatenta.
Suspirou em um misto de cansaço e paixão…
Ele era completamente louco por ela e disso não tinha dúvidas alguma, ninguém fazia seu coração bater daquela forma, ninguém o tirava o folego como ela.
No entanto…
Deu alguns passos tão silenciosos que era surpreendente. Viu Hanna ainda de costas buscando pela taça sobre a mesa, apenas a mão tateava sem ela olhar de fato o que fazia, e antes que ela a firmasse a pegada na base da taça, ele pegou a mesma praticamente tirando da mão dela. Pega de surpresa, mas não assustada, ela virou-se encarando as gemas Azuis do marido.
Cínico com aquele olhar.
— Muito atrasado? — questionou ele como se não fosse nada de mais, ela, no entanto, pegou a taça da não dele e ainda o olhando nos olhos virou o último gole repousando a mesma já vazia na mesa para em seguida ao dar as costas voltando a pintar.
Ignorado e sentindo-se desprezível, ele continuou a falar:
— Hanna… tive trabalho e não é fácil con…
— Eu sei! Me avisou! — ela o cortou, ainda de costas o dedo apontou para a bancada pequena ao lado onde repousava o celular dela. E embora sua voz tivesse o mesmo tom baixo, educado e melodioso, havia um tom de aborrecimento e decepção que ele notara imediatamente.
Sim, novamente ele havia estragado tudo, mas às vezes as coisas simplesmente fugiam do controle.
Ele deu mais um passo até ela e segurou suavemente a cintura miúda e curvilínea, a apertando um pouco enquanto aproximava seu corpo ao dela. O nariz buscou logo deslizar pela pele de Hanna absorvendo do aroma delicioso que ela tinha, os lábios sorriram contra o pescoço dela, enquanto sentia o corpo gostoso da esposa estremecer em seus braços, sabendo como ela reagia tão deliciosamente ao seu toque.
— Está zangada… — não foi uma pergunta a que ele fez no ouvido dela, e embora ela ainda se focasse no quadro, sentiu as pernas amolecerem sutilmente e amaldiçoou o fato dele conhecer tão intimamente seus pontos de sensibilidade no corpo.
— Não estou! — afirmou um pouco tremula na voz, mantendo uma convicção que perdia a cada segundo.
— Não jantou. — disse ele, deixando as mãos deslizarem com suavidade pela barriga lisa em direção aos fartos seios por baixo do avental que ela usava.
— Não tenho fome!
— Podemos… Comer algo juntos agora — ele ronronou ainda a provocando — embora você tenha acabado com um vinho caríssimo, sozinha.
Ela suspirou, estava aborrecida, mas ele parecia não entender ou não se importar.
— Vamos… Não seja má, princesa.
Ela, no entanto, deixava a cada instante mais aquela insegurança a tomar, o medo, a rejeição… Tudo parecia vir tão rápido, tão intenso…
— O jantar já acabou, Nicolas! — dito isso ela afastou-se dele, do contato, e pegou um pano limpando as mãos sujas de tinta e fora somente aí que ele viu os olhos marejados que lutavam para não deixar lagrima alguma escoar.
A virando para si, ele segurou o rosto dela entre as mãos, focando os violetas com os azuis.
— Ouuu, que isso? — preocupou-se
— Não é nada!
— Nada não te faria… Chorar… Hanna… — percebera que dessa vez o vacilo fora muito maior, que de alguma forma aquilo mexeu mais do que deveria com ela. Hanna, encarando os olhos dele, sentiu-se tão pequena, tão… Patética e as lagrimas que lutou tanto para manter presa finalmente escorreram pela face, sem dar nenhuma chance de se mostrar mais tola, ela levou os punhos ao rosto as limpando, descobrira ter uma força interna absurda porque simplesmente forçou-se a sorri mesmo sentindo dor.
— TPM? — mentiu
Ele negou, em um gesto de carinho e afago ele deslizou os polegares pela bochecha dela, enquanto trazia o rostinho bonito e delicado para mais perto de si, fazendo os lábios tocarem-se, moveu-os começando um beijo, à medida que os lábios tocavam-se ele sentiu o sabor salgado ciente que ela estava chorando, mas decidido a não parar aquele contato ele aprofundou o beijo fazendo a língua tocar os lábios dela e como tal sendo correspondido por sua esposa. As mãos dele saíram da cintura dela subindo até o pescoço e desatando o nó do avental e depois da cintura fazendo a peça cair no chão, o beijo tornou-se mais intenso, mais profundo e pouco se afastavam para ter ar, ele sorriu vitorioso ao sentir as mãos dela envolta do seu pescoço e uma apertando seus cabelos.
Afastou-se ofegante dela, olhos fechados encontrando sua testa a dela, poderia chamá-lo de louco, mas aquela conexão que tinha com ela era única e nenhuma mulher o conseguia. As respirações chocavam-se e fora movido por extremo desejo que ele tomou a boca feminina novamente, agora com mais ânsia e afobação. Com facilidade ergueu o corpo dela a sentando sobre a mesa, o ruído da garra e taça estilhaçando-se no chão fora completamente ignorado enquanto ele se encaixava entre as pernas dela fazendo as mãos grandes e fortes subirem pelas coxas torneadas de Hanna arrastando o vestido consigo. Os lábios buscaram desesperados pelo pescoço onde ele beijava e chupava alimentando-se dela.
Ela havia repousado a cabeça no ombro dele, enquanto o abraçava apertado sentindo o calor do corpo de Nicolas tocar o seu, seu nariz encostou contra a camisa dele e não pode deixar de sentir um pequeno resquício de perfume adocicado que não era dela, conhecia de cor e salteado os seus perfumes. Imediatamente ela afastou-se dele, era obvio que ele estava começando a sentir-se mal com tudo aquilo, mas Nicolas segurou seu rosto com a canhota voltando a beijá-la enquanto a outra mão chegou ao meio das pernas adentrando o tecido da calcinha atingindo facilmente o ponto de prazer de Hanna que estremeceu deixando um gemido abafado escapar, soluçou em seguida.
Talvez ela estivesse mais bêbada do que realmente acreditava estar, ou melancólica… Talvez confusa e abatida…
Em algum momento ela não sabe exatamente qual, ela estava completamente perdida nos braços fortes dele, inclinava-se já sem calcinha e sentada ainda ali, naquela mesma posição, enquanto o sentia arremeter-se contra a si a penetrando fundo, alternando entre o lento e rápido, mas sempre forte. Suas pernas envolviam-no completamente o quadril enquanto suas mãos estavam espalmadas sobre a mesa, sentindo apenas as mãos dele apertado forte sua bunda a estocando cada vez mais forte enquanto estava afundado nos seus seios. Hanna levou uma das mãos ao ombro dele e sentiu suas unhas arranharem a pele dele, enquanto sentia o fulgor aumentar por todo o seu corpo até finalmente render-se ao ápice do momento, bem como, sentindo o marido finalmente gozar profundamente satisfeito dentro de si. A cabeça dele encostou contra o ombro dela, enquanto ele ofegava ainda se mantendo dentro da Scrudell, um beijo, dois… Esses subiram carinhosamente pelo pescoço dela até ele alcançar o ouvido e falar:
— Amo você.
Ela apertou um pouco mais seu corpo contra o dele e a mão entre os fios loiros.
— Também amo você, mas do que imagina. — disse ela.
Ainda com o corpo dela preso ao seu, ele a levantou da mesa e saiu com ela a levando no colo daquele modo até o quarto dos dois a depositando sobre a cama. A olhando ainda, ele falou:
— Vou tomar um banho!
Ela consentiu com um breve sorriso e quando ele finalmente saiu do seu campo de visão, ela virou-se lado agarrando o travesseiro, deixando um choro fraco fluir silencioso, percebendo o quanto o amava mesmo, o quanto ele era importante para si, mas, ao mesmo tempo, sentindo-se tão fraca, espezinhada e dependente.
(…)
Mal havia surgido os raios de sol daquela manhã iniciando o novo dia e Hanna encontrava-se prostrada diante do sanitário vomitando intensamente. Céus, ela deveria estar com uma aparência completamente deplorável e medonha! Percebeu quando o marido se encostou na porta, praticamente sentia o olhar dele sobre a analisando e teve imensa vontade de mandá-lo a merda.
— Esse é o resultado de beber meia garrafa de vinho sozinha, querida.
Oh sim! Ela realmente ia mandá-lo a merda depois daquele comentário inútil, mas assim que abriu a boca apenas vomitou mais.
…
Nataly não achara nada mais nas roupas do marido, Nicolas estava estranhamente mais quieto, buscando de fato cumprir os horários, embora ainda falhasse relativamente. Porém, aquilo não deixava de pairar em sua mente naqueles dias. Talvez ela devesse perder a vergonha e realmente questionar a empregada se o tal recibo de repente era dela, talvez estivesse mesmo louca, sofrendo por antecipação e ansiedade. Talvez Susan tivesse razão e Nicolas fosse ainda o seu Nick, o homem que era apaixonada perdidamente e esse apenas estava dedicando-se mesmo no trabalho, afinal ele sempre fora dedicado e esforçado quando o assunto era seus objetivos pessoais.
Naquela manhã de sábado ela estava com Susan em um café e enquanto conversava, ela usava um aplicativo em seu celular meramente por distração, Nicolas havia insistido tanto a uns dois anos atrás para que ela sempre ficasse a par da movimentação bancária deles, mas ela detestava aquilo, afinal confiada cegamente nele com as finanças do casal, ele poderia ter muitos defeitos, mas era um bom administrador, não era a toa que ocupava o cargo que tinha. Ela quebrava a cabeça para mexer naquela coisa, extratos bancários, ordens de pagamento… Era tudo tão chato e robótico, talvez por isso ela não quis formar-se nessa área e muito menos ocupar o seu lugar como sucessora do pai na empresa da família, em vez disso cedeu seu lugar ao seu primo, Nolan, que a representava e ela apenas colhia os frutos daquilo, era fato ele era melhor que ela naquilo e Hector aceitou com grandes ressalvas como sempre.
— Sabe que droga é essa aqui? — perguntou Hanna de repente mostrando o celular para Susan, a garota leu rapidamente mexendo.
— Acredito que esse aqui é extrato de cartões, usos gastos…
— Humm — disse a ex Sanches pegando o aparelho novamente.
— Por quê?
— Por que o quê? — Hanna arqueou uma sobrancelha.
— 'Tá olhando isso agora?
— Ah! Só passando o tempo — disse displicente e sorriu.
Quase todas as contas que eles tinham eram conjuntas, era algo normal e comum entre casais e facilitava muito o imposto de renda. Enquanto se acostumava com o tal aplicativo, ela deparou-se com os débitos de compras, valores comuns, despesas, mercado… Nada fora do normal, suas compras, compras dele e então no cartão de uso dele ela viu finalmente um débito em particular que chamou sua atenção pelo valor alto. Era algo particularmente incomum e aquilo a fez remexer-se incomodamente na cadeira. Era uma compra bem recente pela data, três dias atrás…
A mente tentou lembrar-se exatamente do dia, ela trabalhou o dia todo, recebeu um quadro novo no instituto de Estermond para restaurar, chegou em casa cedo, mas decidiu ir ao cinema, sozinha já que…
“Ele trabalhou até tarde” a mente trouxe como um ‘flash’ a constatação. Os olhos violeta arregalaram-se. Afinal, aquele valor seria suficiente para comprar um pequeno carro popular.
Abriu o detalhado da operação de modo a saber do que se tratava, surpreendendo-se com o nome da empresa. Um pouco tremula e sem prestar atenção em Susan que falava algo trivial, ela usou o celular realizando uma ligação diretamente para a administradora do cartão sendo logo atendida, ela queria apenas rastrear o endereço da loja que houve a compra, algo que fora relativamente fácil. Ela anotou o endereço e encerrou a chamada com os olhos verdes sobre si.
— Perdi algo?
— Quer dar uma volta comigo? — perguntou Hanna e Susan, melhor do que ninguém, conhecia aquele olhar.
Pagaram a conta no café e seguiram no carro da Scrudell para o endereço que ficava em um movimentado centro comercial que elas conheciam bem, faziam compras ali afinal, era lugar muito bem frequentado pelos tipos de loja que tinham ali. Hanna estacionou o carro frente ao endereço contemplado calada o grande e luxuoso letreiro da fachada daquela joalheria.Sentiu seu coração apertar no peito.— Compraremos joias, é isso? — perguntou a rosada com certa ironia, então viu uma seriedade obscura nos olhos geralmente tão doces e serenos de Hanna, ela desafivelou o cinto e abriu a porta do carro sendo seguida pela Uckermann.Foram bem recebidas e sem muitos rodeios, Hanna foi direto ao ponto.— Meu marido fez uma compra nesse estabelecimento a três dias, eu… — hesitou — quero confirmar a compra.Sem muitas informações, ela logo estava falando com uma vendedora experiente que a ajudou e localizou assim a bendita compra. Susan apenas via e ouvia calada analisando cuidadosamente.Um catálogo for
Aquela era uma viagem relativamente tranquila, apenas quarenta minutos de carro até os arredores de Estermond onde havia uma imensa propriedade que era de posse de Hector Sanches. Apenas mais um dos compromissos que o casal fazia juntos, embora aquele em especial fosse um prazer para Hanna, que visitaria a família, e um martírio para Nicolas, que tinha de aguentar o sogro e monstrinha da cunhada. Isso se, com sorte, não encontrar mais Sanches que o detestava reunidos, o que era uma chance imensa dada a circunstância que iam.No som, tocava uma música suave e bem atual, e era somente aquele som que havia entre eles. Para Nicolas, era normal àquela altura ele ficar ouvindo Hanna falando de algo com empolgação, compartilhando alguma fofoca, ou apenas com seus pequenos planos e acontecimentos, mas ela estava apenas lá: calada, aborrecida claramente, e ele não sabia o porquê ou exatamente o que fazer. Aliás, ele sabia exatamente o que fazer, mas talvez fosse fraco demais, assumia… Havia co
— É um evento beneficente, preciso estar lá ainda, né? — disse Hanna com o telefone preso entre o ouvido e o ombro enquanto contorcia-se calçando seus saltos.— Como estão as coisas? Alguma novidade?Um suspiro longo de Hanna.— O advogado levantou o que precisava, o detetive que me indicou já está agindo... Não sei mais o que fazer.— Esperar, né?— 'To tão nervosa, Susan, e se eu estiver me precipitando e se...— Chega de “e se” ... Respira Hanna. Dá um tempo para você digerir, absorver. Você quer e precisa de respostas.— Claro!— Eu to aqui, sempre.— Obrigada.— Então... Espero que esteja no mínimo deslumbrante para essa festa.Hanna fitou-se no espelho, mas não encontrou o reflexo de sempre, apenas bufou. Um barulho na porta a despertou.— Preciso desligar agora, nos falamos depois. Beijo.Ela colocou-se completamente ereta, finalmente encarando o espelho de corpo inteiro. O vestido azul-royal era longo, havia uma cava nas costas e um decote em v profundo na frente. O modelo tin
O retorno para casa fora terrivelmente calado, ele tentava puxar assunto com a esposa, e ela estava monossilábica e completamente fechada. Irritado lá pelas tantas, ele decidiu falar algo que o incomodou, principalmente porque Hanna recusou-se a sair daquela "rodinha" exclusiva do pai e de perto daquele sujeito.— Aquele tal de Olausen pareceu interessado em você.Ela, no entanto, o olhou no fundo dos olhos, mordeu os lábios e virou-se continuando calada.— O que foi, Hanna?— Só estou cansada, quero chegar em casa.Ele bufou, deixando livre toda a sua frustração bem a mostra dela.— Você tem agido estranha, fria e...Irritada com tamanha cara de pau, e arrogância dele, ela estourou, mesmo que num bom baixo e comum.— Eu, estranha, Nicolas? Não sou eu que chego tarde quase todas as noites, não sou eu que furo, compromissos que não me interessam, não sou eu que invento desculpas para não estar onde se precisa estar, logo eu pergunto, quem está frio e distante, Nicolas? Julgo que se dis
Elas estavam sentadas em um pequeno bistrô francês que ficava na grande avenida gourmet que havia no centro de Estermond, haviam decidido almoçarem mais cedo naquele dia já que Susan tinha uma cirurgia agendada para logo mais, e Hanna estava completamente focada em uma nova restauração que recebera de Theo. A mulher, de cabelos loiros, notara que a amiga não comeu nada além de uma Salada Niçoise com frango e meio copo de suco. Movida por isso, tomou frente a instigá-la a comer mais, e assim, a sobremesa fora um petit gateou simples de banana e canela com uma bola de sorvete de creme e logo depois, Hanna pediu um café preto que ela adoçou muito pouco. Concentrada naquele instante, Susan observava Hanna fazer anotações em sua agenda enquanto falava ao celular com algum aluno ou subordinado sobre o tal trabalho que estava presa, aliás, a Uckermann havia percebido a amiga presa como nunca ao trabalho, começando inclusive a estender seus horários no instituto. Quase uma semana depois da ta
Havia tanta pressa e desespero para estar ali, ele largou as chaves de qualquer jeito e topou com Nataly, que limpava a casa.— Onde está Hanna? — perguntou em tom de ordem.A mulher assustou-se com a face de Nicolas, sabia que algo estava acontecendo naquela casa, porem sempre fora uma pessoa discreta. Não era tola, viu como sua patroa havia chegado pouco antes...— E-ela está na suíte.Sem perder tempo, ele subiu as escadas praticamente correndo indo direto para o quarto do casal. Assim que entrou, viu Hanna sentada na cama, cabeça baixa e em soluços curtos. Não havia absolutamente nada fora do lugar e talvez isso o assustasse mais, porque Hanna era uma mulher sensível.— Hanna, por favor, vamos conversar...Um passo em direção a ela e ele a viu abrir a bolsa ao seu lado na cama e jogar um envelope sobre a mesma. Ele olhou dela para o objeto sobre a cama com tamanha incerteza.— Hanna... — tom era baixo e suplico. Havia tantas notas de desespero.— Abra! — a voz dela saiu em tom de
Ele estava prestes a abocanhar o seu sanduíche que fizera com tanto capricho, quando a campainha do seu pequeno apartamento soou. Franziu o cenho zangado e decidiu ignorar, trabalhara como um fodido o dia todo, nem almoçado tivera e agora que tinha paz alguém tentava usurpar? Não mesmo!Ele fingiu que não tinha ninguém, mas o barulho irritante continuou quebrando aquela magia de morder seu precioso…Bufou, e jogando a franja ruiva meio de lado, gritou:— Já vou, cacete! Isso não dá leite pra ficar apertando assim!Espiou então pelo olho magico e a boca foi quase ao chão quando viu quem estava do outro lado, destrancou a porta para dar de cara com o primo.— Olha… Quem é vivo sempre aparece, o que foi playboyzinho, a Barbie colocou você pra fora de casa? — zombou ao vê-lo com uma bagagem pequena. Mas a cara do Scrudell, bem como a resposta, o chocou.— Acertou!— Ohh hahaha ah! Cara… O que você fez? — disse dando passagem para Nicolas entrar enquanto fechava a porta atrás de si. Reparo
Era totalmente fora do horário e ela havia pulado novamente mais uma refeição, felizmente graças aos calmantes ela conseguiu descansar um pouco embora ainda estivesse mórbida e apática. A última coisa que ela se preocupava era com sua aparência, que deveria estar deplorável e refletiva ao seu atual estado emocional e de espírito. Usando uma calça de moletom grossa de pijama e uma blusinha de seda, ela tinha os cabelos presos desleixadamente com um prendedor de forma que havia várias mexas caindo livres. Com um copo de suco de amora em mãos, ela estava descalça no seu ateliê encarando inexpressiva a vidraça apreciando o entardecer, bom a palavra não é apreciando, ela devaneava sua atual situação tentando sinceramente absorver tudo aquilo ainda.No cavalete havia uma tela completamente negra com grossas gotas borradas e escorridas em um vermelho rubro que ela achou péssimo e talvez por isso largou a pintura, porque nem mesmo sua inspiração estava constante. Sobre uma das mesas havia o e