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Reconquistando minha esposa
Reconquistando minha esposa
Por: Nickollie Dliever
1. A desconfiança machuca

“O indivíduo infiel é tão perigoso quanto o mentiroso. Ambos são fracos, ingratos e constroem castelos sem fundações.”

Ela encarou o espelho de sua penteadeira naquela manhã, enquanto tinha uma caixa de veludo, daquelas que se guardava joias, a sua frente. Hanna Scrudell, não era uma mulher do tipo extremante vaidosa cuja vida e sentido giravam entorno apenas das ‘nuances’ da beleza, do caro, do ser, e do possuir, muito embora ela tivesse e pudesse ostentar uma vida assim, ou um closet de roupas caras, sapatos, bolsas e acessórios. Ela poderia se dar ao luxo de ser uma mulher mimada que vivia em clínicas e salões como uma boa socialite de capa de revistas. No entanto, ela não era assim. Era uma mulher muito simplista em seu dia-a-dia e apoiava-se em outras causas para satisfazer-se. Era também inegável seu bom gosto e sua delicadeza, bem como uma feminilidade e presença marcante onde quer que estivesse, e ela sempre estava em vários lugares, porque sua vida exigia isso. Sua imagem era sempre bem cuidada e zelada, porque do lado de fora, ela não representava apenas a si mesma, Hanna Scrudell não era apenas uma simples mulher, ela era também um sobrenome, uma herança e tantas outras coisas a mais.

Por um instante apenas, encarando-se, ela suspirou pesadamente, parando assim o gesto de colocar os brincos que escutava antes. Muita coisa atormentava naquele momento os seus pensamentos. A mente inquieta apenas pensava, e pensava, e justamente por isso ela levantou a mão esquerda, que carregava a sua aliança de casamento, e juntinho dela o anel de noivado que ela sempre carregava com todo orgulho, porque estes representavam algo importante e especial para si. Levou a mão ao peito apertando a camisa de seda à altura do coração, da qual acabou por amassar sem intensão. Talvez sua angústia era bastante notória. Antes de poder levantar dali e trocar a camisa agora amassada e desleixada, seus olhos, que tinha uma coloração de um incrível azul-violeta, encontrou-se com o par de olhos azuis-claros do marido através do reflexo do seu espelho. Ele havia banhado e se vestido, e ela mal percebera o barulho da presença dele ali. Travada em seu assento, o observou sorrir vindo em sua direção. Carinhosamente o homem curvou-se beijando o topo da sua cabeça e tal ato a forçou a sorrir.

Sim, forçou... Pareciam um casal tão bonito, tão… perfeitos.

— Me ajuda? Sabe como sou péssimo com essas coisas! – pediu ele, ficando completamente ereto em sua postura e mostrando a sua esposa às duas opções de gravatas que escolhera. Obviamente, ele confiava no bom gosto de Hanna, bem como o bom trato que ela sempre tinha de deixar a gravata tão perfeita em seu nó. Pondo em pontos mais óbvios, ele era tão mal-acostumado com todo cuidado dela sobre tudo na vida deles, principalmente sobre ele.

Ela levantou-se. Não era nem próxima à altura do marido, um homem loiro de um metro e oitenta, o qual o porte físico poderia ser taxado como bastante atraente. No auge dos seus um metro e sessenta, Hanna contava com o salto doze para equilibrar as coisas. Os olhos violeta encararam às duas gravatas por alguns instantes e não demorou por decidir pela de seda azul-marinho com listras e texturas em um degrade interessante. Tomando-a da mão do marido, levantou o colarinho e segurou a peça a envolvendo no pescoço masculino. Com seu jeitinho, ela começou a fazer o nó percebendo que os olhos dele não saiam de si um instante sequer, sentiu um pouco o rosto corar e era impressionante como mesmo depois de quase dez anos juntos ele ainda tinha aquele efeito nela, e mais impressionante ainda, era como, enquanto a intensidade do olhar dele a fazia se sentir tão amada e desejada, em simultâneo, as ações dele os empurrava em direção a um penhasco. Ela estava tão confusa.

— 'Tá pensando no que, Hanna? – perguntou quebrando o silêncio enquanto se deliciava alguns instantes com o aroma do perfume dela que exalava-se na pele. Estava focado em parte dos ombros e colo tão claros e delineados que ela possuía, ainda mais ajustado ao caimento da blusa escolhida por ela. Hanna era sempre tão impecável e perfeita.

— Em nada! – ela virou o nó e o encarou sorrindo sutilmente – bom, nada importante. – As mãos delicadas deslizaram sobre o largo ombro quando ela ajeitou tudo.

Ele colocou a ponta do indicador na testa de Hanna, pressionando, e falou:

— Se ficar fazendo isso tão tensa, vai surgir uma ruga bem aqui – sorriu genuinamente, e ela assumia, ele tinha um sorriso muito bonito em suas expressões calorosas, do tipo que deslumbrava qualquer garota, principalmente ela que talvez tenha se apaixonado pelo sorriso dele antes mesmo dele em si. Seu marido era um homem bastante bonito e charmoso, sempre fora, desde do dia que ela colocou os olhos pela primeira vez nele.

— Me amaria ainda com elas? — perguntou de repente, com intensidade, ela agarrou seu blazer do terno de ambos os lados e levantou a cabeça o encarando. O coração dele acelerou.

— Que pergunta boba! Eu amo você de qualquer maneira! Pode estar toda... Descabelada, de touquinha… velhinha… Não importa...

O coração dela sentiu uma pontada mais forte, mas não era tão bom quanto ela desejava que fosse. Ainda assim, inclinou-se e o beijou nos lábios. Separou e ajeitou o colarinho no lugar já com a gravata.

Impecável...

— Parece mesmo um homem importante. – disse, e ele sorriu virando-se para o espelho. Ela então se perguntou quando ele se tornou tão vaidoso ou egocêntrico?

— Sou um homem importante! – disse sem dá muita importância, como se fosse apenas mais uma das conversas triviais que tinham. – Sou o diretor-executivo do Grupo Botanic, que... olha só, foi fundado por mim. – Sorriu.

Como ela poderia esquecer de tal?

Mal sabia ele, que seu tão orgulhoso patrimônio tinha o dedo de seu pai, Hector Sanches, da qual ele tanto detestava, mas um homem muito influente que tinha importantes contatos e fez os investimentos necessários acontecerem. Para Hanna, foi um pouco de quebra do seu orgulho pedir algo para o pai, não que tivessem uma relação ruim, mas o problema era o seu pai em si, que era o tipo de homem que não fazia favores e sim negócios, e o negócio era que ele detestava o genro, sim... O “carinho” entre ambos era mutuo. Hector nunca o achou bom o bastante para sua filha. Para sorte de Hanna, Nicolas, seu marido, nunca soube da influência do seu pai em seus negócios e para ela, aquele segredo iria para tumulo.

— Um respeitável diretor, eu presumo... – ela sussurrou, havia uma pitada um tanto ácida no seu tom, mas ele estava concentrado demais fechando os botões do paletó para se dar conta.

Ele virou-se pegando sua bolsa e segurou a cabeça dela em seguida depositando um beijo ali, no topo.

— Quer carona?

Ela piscou algumas vezes rapidamente, como quem acorda de um longo devaneio e disse:

— Oh não! Eu ainda preciso terminar de me arrumar. Vou com meu carro, não se preocupe comigo.

— Sempre me preocupo, Hanna Scrudell!

“Não tanto quanto deveria” ela pensou, mas não o falou, em vez disso sorriu num tom de suavidade, ele enlaçou a cintura dela e colou os corpos beijando um pouco mais demoradamente a boca feminina enquanto sentia a suavidade e maciez que somente os lábios dela tinham. Sim! Ninguém mais tinha aquele toque aveludado que pareciam tão perfeitos não importasse a ocasião. Ele estremeceu diante do comparativo, era estupido, afinal Hanna era sua mulher. Sua linda, bem-educada, bem nascida, bela e incrivelmente perfeita esposa. Sua… Para todo sempre.

Ele soltou-a do enlaço e virou-se de modo a ir, enquanto ela mordeu sutilmente o lábio e chamou a atenção do marido novamente:

— Eu pedi ontem para a Alana preparar um assado especial, seu favorito.

Ele esboçou um sorriso.

— Humm, parece bom!

— Sim… Os Uckermann mandaram um vinho, um Château Pichon Baron. Susan trouxe da última viagem que realizaram para França.

— Ótimo! — ele ainda a olhava com aquele mesmo brilho no fundo dos olhos azuis, por um instante pareceu-lhe até perverso, talvez fosse apenas a culpa ou qualquer coisa do tipo. — Não irei me atrasar!

— Agradeço! — disse ela o vendo sair da suíte do casal.

Hanna caminhou de volta para o seu closet tirando seu blazer e desabotoando a camisa social rosa ‘vintage’ que usava, passando os cabides a sua frente, escolheu outra na cor pêssego e a vestiu, lisa e impecável. Ela tornou a colocar seu blazer e voltou à frente da penteadeira, colocou os brincos e uma pulseira. Ainda se encarando, ela abriu a gaveta do móvel e tirou dessa um ‘ticket’ de pagamento. Algo bobo e sem valor, um papel velho amarelado e amassado que por mero acaso ela achou, isso porque não era ela que lidava com roupas sujas, não tinha tanto tempo para ser a boa e dedicada dona de casa, e talvez por isso, pela falta de tempo, eles haviam entrado num acordo de que não teriam filhos ainda, bom, isso foi nos cinco primeiros anos de casamento e depois vieram as desculpas, oras dela, oras dele, e ali arrastaram-se mais cinco anos e agora ela já não tinha mais tanta certeza assim que fora uma má ideia a decisão embora nos quase dois últimos anos eles vinham discutindo bastante a possibilidade de finalmente terem a tão sonhada criança deles uma vez a senhora Scrudell visitava sua médica com frequência iniciando suas vitaminas e o necessário para se preparar para uma possível gravidez.

As mãos ainda trêmulas da mulher de cabelos negros, seguraram mais próximo dos olhos o papel lendo-o novamente: um recibo de pagamento de um motel. Talvez fosse o destino a mostrando algo. Quando ela achou aquele papelzinho pequeno caído no chão do closet dele ao recolher as roupas ali quase embaixo do móvel, de que não estava tão louca quanto achava estar, que os atrasos que vinham acontecendo cada vez mais frequente estavam interligados a isso, que o comportamento às vezes evasivo ou até mesmo frio do marido tinha ligação…

A destra passou pelos cabelos em um ato de frustração. Se perguntava se aquilo era possível? Talvez, só talvez fosse apenas uma infeliz combinação de coisas. Recusava-se a acreditar que o homem da qual ela colocou, não apenas seu amor, mais sua dedicação, compreensão, apoio e a sua vida, não passava de um traidorzinho barato.

Ela precisava realmente de ar. Pegando sua bolsa e as suas chaves, assim que saiu da suíte deu de cara com Nataly, a sua empregada e responsável pela limpeza e roupas.

— Bom dia! Senhora Scrudell.

— Bom dia! Nataly. — Cumprimentou com sua habitual educação e humor, não descontava, em momento algum, suas frustrações sobre qualquer uma das suas funcionárias. No entanto, tinha de admitir ser no mínimo humilhante a situação que se encontrava agora, visto que achou o tal ‘ticket’ ela praticamente pediu que a mulher separasse qualquer achado nas roupas do marido e a entregasse longe da presença dele.

Hanna saiu de sua casa naquela manhã com o coração um pouquinho mais apertado e angustiado, sentindo que aquilo estava acabando com ela, havia perdido mais um quilo e isso era péssimo! Onde estava toda sua autoconfiança agora?  Ela sinceramente buscava, porque nada doía mais que a incerteza e a insegurança. A dúvida machucava de forma tão cruel…

Ela só colocou alguma música em seu carro e dirigiu mantendo — ou tentando — a atenção no trânsito até a Universidade federal de Estermond, onde lecionava história da arte e era uma das mais influentes e requisitada especialista em restauração de obras dentro daquele instituto.

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