Capítulo 2

Adeus, Samantha

A música na jukebox ainda tocava, mas bem baixo para não incomodar os vizinhos. Os três estavam limpando o restaurante. Rebecca já tinha limpado as mesas e estava agora passando o mop, quase terminando para ir ajudar os outros dois que estavam na cozinha. Rebecca estava doida para ir para a cozinha; aqueles dois estavam muito quietos, a fofoca deveria ser das boas, pensava ela.

Mas na cozinha não estava rolando conversa alguma, apenas uma troca de olhares, cheia de lágrimas de felicidade, um pouco por conta da noite que foi maravilhosa e um pouco pela conversa que eles tinham tido no bar. Estavam planejando como contar para Rebecca, não poderia ser um segredo, não mais. Rebecca entrou na cozinha soltando um suspiro.

— Terminei lá fora, gente, que noite! — Disse ela com aquele sorriso maravilhoso no rosto. — Bora! Deixem de segredinho e contem o que está rolando. — Disse cutucando Antony, que lavava a louça, enquanto Samantha enxugava e fazia pilhas.

Ela os conhecia bem e sabia que tinha alguma coisa rolando.

— Pelo amor de Deus, não diga que vocês estão juntos? — Disse ela num misto de nojo e medo.

— Ele não daria conta disso tudo. — Disse Samantha, piscando para Antony e rindo. Estendeu um pano que estava no ombro e Rebecca começou a secar os pratos.

— Gente, é sério, não me façam vomitar. — Rebecca realmente estava enojada só de imaginar.

— Menina, te acalma. Nós não estamos transando, credo! — Disse Samantha, tentando acalmar a filha. — Eu e Tony pensamos em almoçarmos juntos para falarmos sobre o restaurante, só isso. Quero que tudo dê certo e, para isso, precisamos controlar tudo o que acontece aqui.

Enquanto eles estavam na cozinha arrumando, limpando e conversando, lá fora estacionava um carro preto. Dele desceram quatro homens e entraram no restaurante. Nesse momento, Samantha estava saindo da cozinha cheia de pratos na mão e se deparou com os homens. Um deles apontou a arma para ela. No susto, ela derrubou tudo o que carregava, assustando os dois que ainda estavam na cozinha, fazendo com que eles corressem até ela.

— Calma, calma, calma. — disse o homem, ainda apontando a arma para Samantha.

— Por favor, por favor, leve tudo, mas não machuque minha mãe. Temos dinheiro no caixa, todo o dinheiro da noite está lá! — Disse Rebecca, tremendo, chorando, morrendo de medo.

Antony estava ali ao seu lado, olhando para eles com a cara séria, segurando-a para que não avançasse mais. Ele não demonstrava medo, não demonstrava nada, apenas estava ali com Rebecca.

— Achou mesmo, Antony Catalano, que eu não iria achar essa vagabunda? Achou que eu não iria descobrir com você na cola dela feito um cachorrinho? — Cuspiu no chão ao dizer isso. Era italiano, cabelo cacheado, feição forte, tinha uma pinta no rosto, musculoso; dava para ver que não era boa coisa.

— Victor Milani, você e aqueles porcos que chama de família já deveriam saber que com os Catalano e sua família não se deve mexer. — Disse Antony, ainda sem emoção alguma.

Atrás apareceu Maurício. Ele ergueu os braços e apontou as armas para os dois que estavam mais próximos da porta. Victor, apesar de olhar para Antony, continuava com a arma apontada para o peito de Samantha, que permanecia parada com as mãos erguidas.

— Vocês não deviam estar aqui. — Disse Maurício, com os olhos fervendo de raiva.

— Eu estou pronto para acabar com isso. — Disse Victor.

— Eu também. — Disse Antony.

Lá fora chegaram mais três carros. Então começaram os tiros. Na mesma hora, Antony se jogou em cima de Rebecca, protegendo-a e tirando uma arma da bota que usava, participando do tiroteio. O que começou dentro do restaurante se estendeu até a rua. Depois de um tempo, houve um curto silêncio, e em seguida ouviu-se cantada de pneus e alguns homens gritando.

— Anda, anda, anda! Não os deixe fugir!

E então a rua estava silenciosa.

E então um grito ecoou, fazendo com que cada pessoa que morava ali se arrepiasse.

— Mãe! Mãe! Não, meu Deus, não! — Rebecca chorava em cima da mãe morta, deitada na poça do próprio sangue.

Maurício e Antony entraram ofegantes no restaurante e viram Rebecca deitada em cima da mãe. A jovem estava desesperada, abraçava a mãe e chorava descontroladamente. Antony se aproximou e a abraçou. Ele também chorava, não acreditava no que havia acontecido.

— Tony, eu os vi chegar da janela e chamei os outros imediatamente, mas um conseguiu fugir. Não vamos descansar até pegá-lo. — Disse Maurício, ainda de pé, mais atrás.

— Tio, chama a ambulância, ela não pode morrer, ela não pode. — Disse Antony, desesperado.

— Já chamei, mas, filho, ela se foi.

Os vizinhos começaram a aparecer, alguns ao telefone chamando a ambulância, a polícia; outros foram entrando. Ali já não estava apenas uma jovem órfã aos prantos, ali havia uma vizinhança que perdeu uma das mulheres mais felizes dali.

Não demorou muito para chegarem as viaturas e a ambulância. Pegaram Samantha e a levaram para o hospital, atrás estavam Antony e Rebecca. Maurício ficou no local com a polícia.

No hospital, Rebecca recebeu a confirmação da morte da mãe. Paralisou, veio um frio na espinha, as forças se acabaram e foi ao chão, apenas chorava e soluçava. Não conseguia falar, pensar, não conseguia respirar. Estava tendo uma crise. Antony apenas segurava a amiga, não podia se deixar levar pelas emoções, tinha que cuidar dela. Uma enfermeira deu uma medicação com a promessa de melhora, o que não demorou. Sentada ao lado do amigo, com a cabeça apoiada no ombro dele, foi se acalmando. Soltou um suspiro e começou:

— Tony, como vou fazer isso sozinha? Não tenho dinheiro, gastamos tudo com o restaurante.

— Becca, você não está só, estou aqui por você. Vamos te ajudar. — Disse ele, abraçando-a e acariciando sua cabeça.

— Vamos? Antony, eu não posso arrastar você e seu pai para todos os meus problemas.

— Rebecca, meu pai me mandou aqui para isso, para ficar com você, para não te deixar só. Não se preocupe, vamos dar um enterro para ela. Quero que escolha tudo, quero que seja como você deseja, e não se preocupe com o preço de nada.

Ele abraçou a amiga, que estava aos prantos. Tinha algumas coisas que deixaram Rebecca confusa, mas como pensar em algo que não seja sua mãe morta?

Nos dias seguintes, Rebecca teve Antony e Maurício ao lado. Eles a ajudaram em tudo, até na hora de dormir. Ela estava morrendo de medo e ficava na casa deles, até dormindo na mesma cama que seu amigo. A jovem alegre que vivia com um sorriso lindo no rosto agora não existia mais. Olheiras surgiram, não comia direito, para dormir tinha que estar medicada, e isso deixava todos preocupados.

O dia do enterro chegou, mas ela paralisou e não conseguia se mexer. Antony a colocou sentada na cama, abaixou e olhou bem nos olhos dela. Olhava-a cheio de doçura, segurou e beijou suas mãos. Rebecca nunca tinha visto aquele olhar. Conhecia muito aquele rapaz, mas aquele olhar de compaixão nunca tinha visto.

— Becca, eu sei que é difícil. Já enterrei alguém muito importante para mim também. Sei que está tudo confuso, sei o vazio que está sentindo. Mas eu prometi à sua mãe, eu prometi à Samantha que nunca deixaria você. É meu dever ficar ao lado da minha irmã. Você não está sozinha, sempre estarei aqui. Mas precisa levantar e dar o descanso dela para poder começar sua nova fase.

— Eu não consigo me mexer. — Falou chorando, mas não tinha mais emoção, ela só chorava.

— Eu vou te ajudar.

Ao dizer isso, ele se levantou e a levantou junto. Levou-a ao banheiro, tirou suas roupas e deu banho, vestiu-a com um vestido preto que era da sua mãe, penteou os cabelos, fez um coque alto e ajeitou com uns prendedores, passou rímel e batom vermelho. Era óbvio que ele não queria que ela estivesse desarrumada, até porque a própria Samantha vivia dizendo não querer gente feia em seu enterro. Isso sempre tirava sorrisos deles, pois ela sempre listava o que queria, o que não queria e como era para a filha estar. Aquilo era um adeus, era o adeus a Samantha, sua vizinha que tanto amou, mãe de sua melhor amiga, mãe da sua irmã. Então ele seguiu o que ela falou.

Antony e Maurício ficaram com Rebecca o tempo todo. Carregaram o caixão, seguraram sua mão, choraram. Todos foram embora e eles ainda ficaram ali por um tempo antes de decidirem ir para casa. Rebecca não chorava, não falava, só estava ali e, mesmo assim, parecia não estar.

O carro estacionou; estavam na frente do restaurante. Ela desceu e entrou lá, Antony a seguiu. Maurício, que estava dirigindo o carro, não entrou no restaurante como eles estavam fazendo, apenas seguiu para a casa dela.

— Olha isso, olha como está o restaurante da minha mãe. Isso era o sonho dela, Tony.

E ela começou a chorar. O lugar que antes era aconchegante e cheio de alegria estava com um cheiro ruim, tudo revirado, sujo, quebrado, imundo. No chão estava a poça onde sua mãe estava deitada há uns dias.

— Becca, preciso que confie em mim. Vamos embora.

— Já estou indo para casa.

— Não, vamos embora desse país, vamos para a Itália. Meu pai nos espera.

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