Mamãe sabe?
Rebecca acordou e ainda estava em voo. Estava meio zonza e ficou quieta, observando Antony e Maurício resolvendo umas coisas que ela não fazia ideia do que eram. Ela percebeu que logo também teria que estar envolvida nos assuntos da família, mas como faria aquilo? Começou a ficar com medo, e quando está com medo, ela começa a mexer as mãos. Maurício e Antony já tinham percebido que ela havia acordado, mas continuaram suas tarefas. Então, Maurício percebeu as mãos dela. Ela apertava os dedos, ele sabia o que era. Foram anos convivendo juntos, então ele a conhecia muito bem, além de que Antony, quando era criança, fazia o mesmo. Fechou o notebook, levantou-se e foi até ela. — Que foi, querida? — perguntou com muita doçura. — Tô com medo, tio. — E riu. — Eu sempre te chamei de tio e acabou que era mesmo. — O sorriso se desfez e o medo voltou. — Sim, sou seu tio. Mas se não se sente confortável com isso, tudo bem, sei que é muita coisa para digerir. Só quero que saiba que você vai ter sempre o meu carinho. Logo vai estar cercada de tios e vai me esquecer. — Ele disse num tom de ciúme. — Acha mesmo isso? Deixa de ser bobo! — Respirou fundo e então soltou o que estava lhe preocupando. — E se ele não gostar de mim? E se eu não aprender, não for útil? — Só em existir você é útil, pare de pensar bobagem. Olha pro seu irmão, lembra de como ele ficou bobão quando te conheceu? O cérebro do garoto praticamente derreteu quando te viu, ele te amou assim que te viu, seu pai te amou assim que soube de você, e eu te amei assim que sorriu. Então pare de pensar bobagem. Tem gente neste momento arrumando a casa pra te receber, gente enchendo o saco ligando pra saber do que você gosta. Você foi amada por sua mãe, e não é porque ela se foi que isso irá acabar. — Poxa, tio, não sabia que podia ser tão fofo. — Ela disse sorrindo, querendo deixar o clima mais leve.— Vocês planejaram tudo para chegar até mim, algo foi mentira? — Nada foi mentira. Era pra gente ter dado nome diferente, mas o bobão ali esqueceu. Tudo que falamos sobre a infância do Tony é verdade. Então fique tranquila com isso. Giovanni está ansioso pela nossa chegada, mas avisou que estava chovendo muito, então vamos ficar num hotel. — Disse e levantou-se, voltando para o seu lugar. Já fazia bastante tempo que estavam no voo, e ela já estava cansada daquilo. — Tony, já que vamos ficar num hotel, será que posso ficar com você? — Perguntou ela, demonstrando medo. — Já pensamos nisso, vamos todos ficar juntos. Suíte americana. Becca, desculpa, mas não posso te dar atenção agora, vai ver um filme, vai. Bom, já que não tinha jeito, ela fez o que ele sugeriu. Mas logo a ansiedade voltou. Os dois perceberam que ela estava inquieta, mas ignoraram, e isso a deixava ainda mais chateada. Tentou dormir, assistir a um filme, ouvir música, e nada estava ajudando. Levantou-se, pegou uma garrafa de vinho, encheu a taça e começou a beber. Antony levantou-se e tomou a garrafa. — Seu pai não gosta de exageros. — Falou ele bem sério, agora sim parecia um irmão mais velho. — Já estamos perto, está chovendo, vamos ter que ficar no hotel mesmo para depois seguirmos para casa. — Fica muito longe? — Perguntou curiosa. — Nossa casa? Um pouco, bastante na verdade. Mas vai gostar, garanto. O caso é que Sr. Giovanni está um pouco enrolado no momento e não nos quer por perto. Olha, não é porque ele é o chefe que ele é ruim. Nosso pai é meio bruto, mas ele cuida bem da família. Quando chegar no hotel, vou preparar seu banho, você precisa relaxar. — Guardou os documentos que estava revisando enquanto falava com Rebecca, sentou-se novamente de frente para ela e a olhou. — A família é muito grande? — Um pouco. Temos três tios, uma tia, todos casados. Tio Lorenzo tem três filhos, tio Marco dois, casal, e tia Emília duas meninas, e tio Maurício também tem um casal. Ah, quase esqueci, você terá um segurança, não vai sair de casa sem permissão ou sozinha. — Tudo bem, eu não quero dar trabalho. — Entenda que estamos sendo ameaçados e não queremos perder ninguém, é preciso ter cuidado e confiar na família. — Tony... — pausou, respirou fundo e continuou. — Mamãe morreu sem saber que não estou só. Ela morria de medo de me deixar sozinha. — Ela sabia, contei tudo a ela. — Mamãe sabia? Mas ela sempre soube de vocês? E não me disse nada, por quê? — Eu contei a ela no dia da inauguração. Contei quando fomos ao bar sem você. Íamos te contar, falamos disso. — Não! Vocês disseram que íamos conversar sobre o restaurante. — Parou e olhou para ele, que a olhava fixamente de volta com um sorriso no rosto. — Vocês iam me contar… — Sim, e foi a única vez que mentimos. — Como ela reagiu? Ela parecia estar tão bem. — Ela meio que já sabia. — Como assim? — Bom, lembra que eu falei que ele pensou em desistir da família? Então ele estava meio fora de si, não estava muito bem, e quando foi embora, falou pra sua mãe que era filho de mafioso e que tinha que voltar pra casa. — E ela acreditou? — Disse ela, incrédula. — Não, né? — E riram. — Ela achou que ele estava inventando histórias para sumir, então concordou com ele prontamente. — Então aquele discurso, ela sabia, que eu não estava mais só, isso me deixa mais tranquila. — A ideia era trazer vocês duas para ficar com a gente, infelizmente os Milani estavam um passo à frente. Rebecca, não vamos descansar até pegarmos o que fugiu e principalmente não vamos descansar enquanto não acabarmos com todos eles. Após pousarem, foram direto para o hotel, estava chovendo muito, seria perigoso sair dirigindo naquelas condições. Como prometido, Antony preparou o banho de Rebecca. Quando ela saiu do banho de pijama e roupão, havia bastante comida para eles. Sentaram juntos na mesa, conversaram sobre alguns membros da família, sobre os negócios, como era o pai, e as horas voaram sem que percebessem. O primeiro a se levantar foi Maurício, disse que estava velho e precisava dormir, o que fez os dois rirem. Não demorou muito e Rebecca foi deitar, enquanto Antony foi tomar banho. Quando retornou, Rebecca estava olhando para o teto, perdida em pensamentos. Ele sabia que era muita coisa, mas também sabia que ela daria conta, só estava cansada, logo estaria adaptada à vida nova. Sentou-se na cama dela, o que a fez olhar para ele. Ela sorriu. — É muita coisa. Um dia você é apenas meu vizinho, meu melhor amigo com o pai esquisito e minha mãe estava viva. Só fiz piscar e agora estou sem mãe, seu pai é meu tio, meu pai é mafioso e você é meu irmão. É tudo uma loucura, mas só em saber que você é mesmo meu irmão me enche de alegria. Nunca me dei tão bem com alguém. Você me traz paz, mesmo com tudo o que está acontecendo. — Falou, segurando a mão do irmão. — Você preencheu um vazio. Papai é muito ocupado, você sabe, e nem sempre podia ficar comigo. Quando te vi, eu não queria mais desgrudar, não estava mais só. Amo você. — Abraçou-a. — Também te amo. — Saiu do abraço e olhou bem nos olhos dele. — Mamãe sabia. — Sim, mamãe sabia. — Sorriu com doçura. — Confio em você. — Sorriu de volta. Antony deitou em sua cama e olhou para o teto como a irmã estava fazendo. Seguiram em silêncio até pegarem no sono.Início da VingançaRebecca foi a primeira a acordar, se arrumou e ficou esperando os outros acordarem. Não demorou muito e todos estavam alimentados e pegando a estrada. Dessa vez, mandaram um motorista; Maurício foi na frente e os irmãos atrás. Pareciam crianças, apontando para tudo, rindo e conversando. Rebecca adorou a paisagem; na verdade, ela adorou tudo o que estava vendo e achou tudo lindo.Demorou, mas chegaram. A casa ficava muito afastada da cidade e era enorme. Tinha um portão alto de ferro e, atrás dele, um caminho com árvores de cada lado. No final do caminho, havia uma fonte de mármore branco e, atrás, estava a mansão. Havia cinco degraus até a entrada de mármore branco, duas colunas também de mármore branco, dois jarros de plantas grandes e a porta ficava entre os jarros, uma enorme porta de madeira escura. As janelas eram da mesma madeira da porta, as paredes eram de pedra e algumas janelas tinham uma pequena varanda com plantas suspensas. O jardim ao redor de onde est
O JantarRebecca acordou de um sono pesado no final da tarde com Antony chamando-a. Já eram 17:00 horas, e ela precisava se arrumar para o jantar. Giovanni havia organizado um jantar com toda a família, inclusive a família "de negócios". Ele queria apresentar a filha e começar a planejar os próximos passos.— Becca, você tem que levantar para se arrumar — disse Antony quando ela abriu os olhos.— O quê? Para quê? — disse Rebecca, ainda zonza.— O jantar que papai organizou. Todo mundo vai estar lá. Seu quarto está cheio de presentes — disse ele, olhando para o canto repleto de pacotes. — Acho que você pode usar algo novo hoje — sugeriu, mexendo nos presentes.— Tem muita coisa aqui. Nunca recebi tantos presentes — falou, levantando-se devagar.— Venha abrir. Tô curioso — disse ele, sorrindo.Ela se aproximou, e começaram a abrir os presentes. Aos poucos, ela foi se animando. Havia de tudo: livros, perfumes, roupas, maquiagem, flores e até uma chave, embora ela não soubesse se era de c
A Reunião Quando Rebecca saiu da cama, já passava das 13h. A governanta a acordara, e assim que Rebecca abriu os olhos, a mulher escancarou as cortinas, deixando a luz inundar o quarto. Rebecca, irritada, se cobriu até a cabeça e tentou se acomodar novamente na cama.— Não, não, não, pode levantar! — ordenou a governanta, puxando o lençol sem cerimônia.— Pelo amor de Deus! — exclamou Rebecca, com os cabelos desgrenhados.— Você está péssima! — comentou a mulher de maneira natural, entregando a Rebecca uma caneca de café bem forte. — Tome, isso vai te ajudar.— Obrigada. Humm, tá gostoso — murmurou Rebecca, tomando um gole.— Então, o que vai fazer hoje? — perguntou a governanta.— Eu não faço ideia. O que faz uma filha de mafioso? — Rebecca respondeu, com um sorriso irônico.— Casa, tem filhos e anda por aí bem bonita — disse a governanta, empurrando Rebecca para fora da cama.— Nem pense nisso! — retrucou Rebecca, sentando-se à mesa que havia em seu quarto, e atacando as torradas q
Os CatalanoIr à cabana estava deixando todos animados. Fazia muito tempo que Giovanni não se empolgava ou tirava um tempinho para sair de casa e fazer algo diferente. Antony estava adorando a ideia de passar um tempo com a família, agora que estava completa.Iam todos à cabana: o pai, a irmã, os tios, Lourenço, Marco e Maurício. Fazia anos que isso não acontecia, os irmãos reunidos. Claro, eles falariam de trabalho, e muito, mas mesmo assim daria para aproveitar.De todos os tios, Antony era mais próximo de Maurício. Na mesma época em que a mãe de Antony estava grávida dele, a esposa de Maurício também estava, mas, infelizmente, a gravidez foi interrompida. Isso foi muito triste para todos e abalou profundamente Maurício. Após esse acontecimento, Maurício e a esposa foram passar um tempo com Giovanni, e acabaram se apegando ao menino.Maurício ama Antony como se fosse seu próprio filho, criaram uma conexão forte e bonita. Giovanni é muito grato por isso, pois, ao assumir os negócios
A CabanaDias se passaram até que todos fossem à cabana, localizada bem distante de casa. Quando Rebecca avistou a construção, não conseguiu conter o pensamento: “Uau!”. Para os Catalano, era um lugar simples, mas a simplicidade era apenas aparente.A cabana era enorme, com dois andares. Toda feita de madeira, tinha uma rede na entrada e, no segundo andar, uma pequena varanda com duas espreguiçadeiras. O interior também era de madeira, mas ao contrário do que Rebecca imaginava, não havia móveis antigos ou um estilo retrô. O ambiente era surpreendentemente moderno: a sala possuía um sofá espaçoso, tapetes cobertos de almofadas, e uma lareira. A cozinha americana tinha uma mesa para seis pessoas, e uma porta de vidro revelava o quintal mais lindo que Rebecca já havia visto.No quintal, havia uma fogueira cercada por cadeiras de madeira, e um caminho de pedras que descia até um rio, onde um barco e um pequeno píer completavam a paisagem. No segundo andar, havia três quartos: dois de casa
Em volta da fogueiraMaurício, Marco e Antony chegaram à noite, após resolverem algumas questões relacionadas aos ataques que a família sofreu. Eles tiveram que organizar o enterro e decidir o futuro da filha de Ricco, que havia sobrevivido. Felizmente, era uma menininha de apenas três anos, então não se lembraria de nada.Ao entrarem em casa, perceberam que estava tudo muito quieto. Verificaram os quartos e, ao constatarem que estava tudo em ordem, desceram. Viram que havia comida separada no balcão e a fogueira estava acesa. Eles avivaram o fogo e começaram a arrumar as coisas do lado de fora.Estavam famintos, então sentaram-se e começaram a preparar as salsichas na fogueira. A noite estava fria, e a fogueira os mantinha aquecidos.Após um breve descanso, Rebecca acordou. Ela estava de pijama, então colocou um roupão e calçou as pantufas, querendo ficar o mais aquecida possível. Olhou pela janela e viu a movimentação em torno da fogueira. Olhou para o lado e viu Matteo deitado, dor
19971997 não foi um ano fácil para Giovanni. Sua esposa estava gravemente doente, e ele ainda tinha negócios importantes para resolver. Lilian havia sido diagnosticada com câncer de pele e lutava contra a doença há muito tempo. Mal conseguia cuidar do filho pequeno, Antony, que tinha apenas dois anos na época. Tudo o que ela desejava era passar um tempo com a família.Com o passar do tempo, ficava cada vez mais evidente que essa batalha não duraria muito. Giovanni queria desesperadamente ficar ao lado da esposa, mas precisou ir a Nova Iorque para resolver alguns problemas. Embora planejasse ficar fora por apenas uma semana, a ideia de se ausentar o atormentava.Como combinado, Giovanni foi para Nova Iorque. Apenas três dias haviam se passado, e ele já estava louco para voltar para casa. Todos os dias ligava para falar com Lilian, com seu pai e com o filho, sempre em busca de notícias sobre a saúde da esposa e para manter o pai informado.No quarto dia em Nova Iorque, Giovanni consegu
Samantha e Giovanni Mesmo após a recusa, Giovanni e Samantha continuaram a se falar, mesmo quando ele não estava em Nova Iorque. Sempre que estava na cidade, fazia questão de encontrá-la.Em casa, Giovanni se esforçava para ser presente com o filho e a mãe. Sempre jantava com eles, colocava o filho para dormir e passava tempo com sua mãe. No trabalho, ele era tão dedicado quanto era como pai.Certo dia, Giovanni recebeu uma mensagem de Milani, convidando-o para um encontro. Imediatamente, Giovanni ligou para os irmãos e sócios, convocando uma reunião.No dia da reunião, Giovanni informou a todos sobre a mensagem que havia recebido e pediu a opinião deles. Todos sabiam o que aquilo significava: Milani queria se associar a Giovanni. No entanto, nenhum deles gostava de Milani, muito menos de sua maneira de conduzir os negócios. Após uma longa conversa, chegaram à conclusão de que não deveriam aceitar nenhum tipo de vínculo com ele. Giovanni decidiu seguir essa recomendação, pois até seu