Conte nossa história
Os dois saíram juntos do restaurante e seguiram para casa. Os vizinhos estavam lá, já sabendo que eles iriam embora. Abraçaram e beijaram a jovem, dizendo que seria melhor mesmo não ficar ali, que era para mandar notícias, que tudo ia ficar bem e, se quisesse voltar, eles estariam ali. Realmente eram ótimos vizinhos e, aos poucos, foram embora. Rebecca subiu para seu quarto, onde Maurício estava fazendo suas malas. — Peraí, vocês estão falando sério sobre irmos embora? Eu não posso ir para um lugar que não conheço, Maurício. — Puxou a mala que estava em cima da cama para perto de si. — Rebecca, você não pode ficar aqui, é perigoso. Já perdemos a Samantha, e o planejado não era esse. Era para vocês irem juntas para casa, então, antes que algo mais dê errado, nós vamos embora. O jatinho já está pronto. — Puxou a mala de volta e começou a arrumar novamente. Ela ficou ali parada, sem entender. Antony entrou no quarto, catou tudo o que conseguiu numa braçada só e jogou em outra mala. — Tony, eu tô com medo. — Disse Rebecca. — Acabei de perder minha mãe, a única pessoa que eu tinha, e vocês estão fazendo minhas malas para ir não sei onde. — Itália, Becca, vamos para a Itália. Ajuda, por favor, estamos com pressa. — Mas eu não conheço ninguém lá, quer dizer, só vocês e mesmo assim é estranho. — Falou, catando tudo do seu guarda-roupa, confusa, mas obedecendo. — Tio, esqueceu alguma coisa? — Perguntou Antony a Maurício. — Não, já tinha mandado arrumar umas coisas enquanto estávamos no cemitério. — Disse Maurício, saindo. — Tony. — Disse ela, totalmente confusa. — Por que está chamando seu pai de tio? — Prometo te contar tudo, mas só no jatinho. Confia em mim. Precisamos adiantar, aqui não é mais seguro para você! Então cataram tudo num grande silêncio, entraram no carro e seguiram. O silêncio só foi quebrado no jatinho. Antony sabia que viria uma enxurrada de perguntas. Rebecca era muito curiosa e, nesse momento, estaria ainda mais. E nem ele aguentava mais segurar o segredo, há muito tempo guardado, cinco longos anos. Sentou-se de frente para ela, sorriu e começou a chorar, era um misto de emoções. Segurou a mão da moça à sua frente, que estava em silêncio, sem entender nada, vendo seu amigo chorar, mas atrás daquelas lágrimas havia um sorriso. Antony parecia uma criança que tinha encontrado algo há muito tempo perdido. — Você, Rebecca Miller, é minha irmã. Meu pai é seu pai. E aquele homem que você conheceu como meu pai é nosso tio. Maurício e eu viemos atrás de você para te levar para casa. Você tem uma família enorme te esperando. Nunca vai ficar só, não vamos permitir. — Disse Antony, enxugando as lágrimas. — Como assim? Sou sua irmã? — Perguntou Rebecca, ainda mais confusa. — Meu pai, anos atrás, veio para Nova Iorque. Ele não estava muito bem. Então conheceu sua mãe, ficaram juntos um final de semana, e isso foi o bastante para você existir. Eu sou seu irmão, e por isso estou aqui, vou te levar para casa. A comissária aproximou-se e perguntou se eles queriam beber. Rebecca agarrou a garrafa de uísque e um copo, não soltando mais. Antony pegou um copo e a comissária se retirou. — Vou te contar tudo, mas vou precisar que divida o uísque. — Ele estendeu o copo, ela encheu, ele bebeu tudo num gole só, e ela fez o mesmo. Encheram o copo mais umas três vezes até ele respirar fundo e começar. — Papai é um homem de negócios, digamos assim. Casou com minha mãe, e ela morreu quando eu tinha dois anos. Ela estava bem doente, ele não queria sair do lado dela, mas a família precisou que ele resolvesse uns assuntos, por isso veio para Nova Iorque. Passou uns dias aqui, já ia voltar quando recebeu a notícia da morte dela. Ele ficou péssimo, não queria voltar para casa, queria largar tudo, mas não é assim que as coisas funcionam. Então conheceu sua mãe no meio de tudo o que estava acontecendo. Ele disse que ela era uma mulher inteligente e engraçada, e foi realmente adorável ver que ele falou a verdade. — Deu um sorriso, respirou fundo, deu outro gole e continuou. — Então, eles saíram, passaram uma noite juntos, e ele voltou. Ele não sabia que você existia, senão você com certeza cresceria com um pai ao lado. — Disse Antony com um sorriso muito amigável no rosto. — O que fez ele me procurar agora? O que houve? Eu não consigo entender nada, isso é uma loucura! — Rebecca estava ouvindo tudo atentamente, mas era muita informação. — Para proteger a nossa família. Papai não tem uma profissão legal, literalmente. Somos herdeiros da máfia, Rebecca. Papai é perigoso e, como ele, há vários que estão conosco, e outros que não. Essa rivalidade nunca vai acabar. Numa reunião, tio Vitale descobriu um filho que tinha tido antes do casamento, então todos começaram a vasculhar o passado e achamos você. A família Milani tinha jurado acabar com a gente, começando pelos desgarrados, nesse caso, aqueles que estavam longe. — E acharam muitos como eu por aí? — Não, você é única. — Mas, mas como? — Falou, enchendo os copos e fazendo sinal para a comissária trazer mais. Antony normalmente não deixaria ela secar uma garrafa e pedir mais, mas preferiu deixá-la fazer o que queria. — Assim que descobrimos você, mandamos uma pessoa para organizar nossa chegada. Pagamos muito bem para alugarmos a casa ao lado, até mesmo meu emprego na academia, foi tudo arranjado. — Vocês planejaram tudo? E acabou ficando esse tempo todo? — Agradeceu à comissária e sorriu de leve. — Digamos que as coisas não estavam muito boas para a gente voltar para casa. Lembra de quando a gente chegou aqui? Eu nunca vou esquecer, bati o olho em você e esqueci de tudo, nem era para a gente ter dado nossos nomes verdadeiros. — Disse, sorrindo. — Moleque burro! — Gritou Maurício lá na frente, e todos riram. — Lógico que me lembro! — Disse, rindo. Fechou os olhos, começou a reviver e dormiu. Já estavam na metade da segunda garrafa, não iria aguentar mais. Antony tirou a garrafa da sua mão, pegou uma manta e a cobriu. Ela precisava dormir, e ele faria o mesmo. Aliás, já fazia dias que nenhum deles dormia bem. Rebecca pelo luto, por medo do tiroteio, qualquer barulho a assustava. Antony não dormia para ficar de olho na irmã, e Maurício de olho na rua o tempo todo. Mas agora iriam descansar, estavam indo para casa, todos iriam ficar seguros.Mamãe sabe?Rebecca acordou e ainda estava em voo. Estava meio zonza e ficou quieta, observando Antony e Maurício resolvendo umas coisas que ela não fazia ideia do que eram. Ela percebeu que logo também teria que estar envolvida nos assuntos da família, mas como faria aquilo?Começou a ficar com medo, e quando está com medo, ela começa a mexer as mãos. Maurício e Antony já tinham percebido que ela havia acordado, mas continuaram suas tarefas. Então, Maurício percebeu as mãos dela. Ela apertava os dedos, ele sabia o que era. Foram anos convivendo juntos, então ele a conhecia muito bem, além de que Antony, quando era criança, fazia o mesmo. Fechou o notebook, levantou-se e foi até ela.— Que foi, querida? — perguntou com muita doçura.— Tô com medo, tio. — E riu. — Eu sempre te chamei de tio e acabou que era mesmo. — O sorriso se desfez e o medo voltou.— Sim, sou seu tio. Mas se não se sente confortável com isso, tudo bem, sei que é muita coisa para digerir. Só quero que saiba que você
Início da VingançaRebecca foi a primeira a acordar, se arrumou e ficou esperando os outros acordarem. Não demorou muito e todos estavam alimentados e pegando a estrada. Dessa vez, mandaram um motorista; Maurício foi na frente e os irmãos atrás. Pareciam crianças, apontando para tudo, rindo e conversando. Rebecca adorou a paisagem; na verdade, ela adorou tudo o que estava vendo e achou tudo lindo.Demorou, mas chegaram. A casa ficava muito afastada da cidade e era enorme. Tinha um portão alto de ferro e, atrás dele, um caminho com árvores de cada lado. No final do caminho, havia uma fonte de mármore branco e, atrás, estava a mansão. Havia cinco degraus até a entrada de mármore branco, duas colunas também de mármore branco, dois jarros de plantas grandes e a porta ficava entre os jarros, uma enorme porta de madeira escura. As janelas eram da mesma madeira da porta, as paredes eram de pedra e algumas janelas tinham uma pequena varanda com plantas suspensas. O jardim ao redor de onde est
O JantarRebecca acordou de um sono pesado no final da tarde com Antony chamando-a. Já eram 17:00 horas, e ela precisava se arrumar para o jantar. Giovanni havia organizado um jantar com toda a família, inclusive a família "de negócios". Ele queria apresentar a filha e começar a planejar os próximos passos.— Becca, você tem que levantar para se arrumar — disse Antony quando ela abriu os olhos.— O quê? Para quê? — disse Rebecca, ainda zonza.— O jantar que papai organizou. Todo mundo vai estar lá. Seu quarto está cheio de presentes — disse ele, olhando para o canto repleto de pacotes. — Acho que você pode usar algo novo hoje — sugeriu, mexendo nos presentes.— Tem muita coisa aqui. Nunca recebi tantos presentes — falou, levantando-se devagar.— Venha abrir. Tô curioso — disse ele, sorrindo.Ela se aproximou, e começaram a abrir os presentes. Aos poucos, ela foi se animando. Havia de tudo: livros, perfumes, roupas, maquiagem, flores e até uma chave, embora ela não soubesse se era de c
A Reunião Quando Rebecca saiu da cama, já passava das 13h. A governanta a acordara, e assim que Rebecca abriu os olhos, a mulher escancarou as cortinas, deixando a luz inundar o quarto. Rebecca, irritada, se cobriu até a cabeça e tentou se acomodar novamente na cama.— Não, não, não, pode levantar! — ordenou a governanta, puxando o lençol sem cerimônia.— Pelo amor de Deus! — exclamou Rebecca, com os cabelos desgrenhados.— Você está péssima! — comentou a mulher de maneira natural, entregando a Rebecca uma caneca de café bem forte. — Tome, isso vai te ajudar.— Obrigada. Humm, tá gostoso — murmurou Rebecca, tomando um gole.— Então, o que vai fazer hoje? — perguntou a governanta.— Eu não faço ideia. O que faz uma filha de mafioso? — Rebecca respondeu, com um sorriso irônico.— Casa, tem filhos e anda por aí bem bonita — disse a governanta, empurrando Rebecca para fora da cama.— Nem pense nisso! — retrucou Rebecca, sentando-se à mesa que havia em seu quarto, e atacando as torradas q
Os CatalanoIr à cabana estava deixando todos animados. Fazia muito tempo que Giovanni não se empolgava ou tirava um tempinho para sair de casa e fazer algo diferente. Antony estava adorando a ideia de passar um tempo com a família, agora que estava completa.Iam todos à cabana: o pai, a irmã, os tios, Lourenço, Marco e Maurício. Fazia anos que isso não acontecia, os irmãos reunidos. Claro, eles falariam de trabalho, e muito, mas mesmo assim daria para aproveitar.De todos os tios, Antony era mais próximo de Maurício. Na mesma época em que a mãe de Antony estava grávida dele, a esposa de Maurício também estava, mas, infelizmente, a gravidez foi interrompida. Isso foi muito triste para todos e abalou profundamente Maurício. Após esse acontecimento, Maurício e a esposa foram passar um tempo com Giovanni, e acabaram se apegando ao menino.Maurício ama Antony como se fosse seu próprio filho, criaram uma conexão forte e bonita. Giovanni é muito grato por isso, pois, ao assumir os negócios
A CabanaDias se passaram até que todos fossem à cabana, localizada bem distante de casa. Quando Rebecca avistou a construção, não conseguiu conter o pensamento: “Uau!”. Para os Catalano, era um lugar simples, mas a simplicidade era apenas aparente.A cabana era enorme, com dois andares. Toda feita de madeira, tinha uma rede na entrada e, no segundo andar, uma pequena varanda com duas espreguiçadeiras. O interior também era de madeira, mas ao contrário do que Rebecca imaginava, não havia móveis antigos ou um estilo retrô. O ambiente era surpreendentemente moderno: a sala possuía um sofá espaçoso, tapetes cobertos de almofadas, e uma lareira. A cozinha americana tinha uma mesa para seis pessoas, e uma porta de vidro revelava o quintal mais lindo que Rebecca já havia visto.No quintal, havia uma fogueira cercada por cadeiras de madeira, e um caminho de pedras que descia até um rio, onde um barco e um pequeno píer completavam a paisagem. No segundo andar, havia três quartos: dois de casa
Em volta da fogueiraMaurício, Marco e Antony chegaram à noite, após resolverem algumas questões relacionadas aos ataques que a família sofreu. Eles tiveram que organizar o enterro e decidir o futuro da filha de Ricco, que havia sobrevivido. Felizmente, era uma menininha de apenas três anos, então não se lembraria de nada.Ao entrarem em casa, perceberam que estava tudo muito quieto. Verificaram os quartos e, ao constatarem que estava tudo em ordem, desceram. Viram que havia comida separada no balcão e a fogueira estava acesa. Eles avivaram o fogo e começaram a arrumar as coisas do lado de fora.Estavam famintos, então sentaram-se e começaram a preparar as salsichas na fogueira. A noite estava fria, e a fogueira os mantinha aquecidos.Após um breve descanso, Rebecca acordou. Ela estava de pijama, então colocou um roupão e calçou as pantufas, querendo ficar o mais aquecida possível. Olhou pela janela e viu a movimentação em torno da fogueira. Olhou para o lado e viu Matteo deitado, dor
19971997 não foi um ano fácil para Giovanni. Sua esposa estava gravemente doente, e ele ainda tinha negócios importantes para resolver. Lilian havia sido diagnosticada com câncer de pele e lutava contra a doença há muito tempo. Mal conseguia cuidar do filho pequeno, Antony, que tinha apenas dois anos na época. Tudo o que ela desejava era passar um tempo com a família.Com o passar do tempo, ficava cada vez mais evidente que essa batalha não duraria muito. Giovanni queria desesperadamente ficar ao lado da esposa, mas precisou ir a Nova Iorque para resolver alguns problemas. Embora planejasse ficar fora por apenas uma semana, a ideia de se ausentar o atormentava.Como combinado, Giovanni foi para Nova Iorque. Apenas três dias haviam se passado, e ele já estava louco para voltar para casa. Todos os dias ligava para falar com Lilian, com seu pai e com o filho, sempre em busca de notícias sobre a saúde da esposa e para manter o pai informado.No quarto dia em Nova Iorque, Giovanni consegu