Capítulo 3

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Os dois saíram juntos do restaurante e seguiram para casa. Os vizinhos estavam lá, já sabendo que eles iriam embora. Abraçaram e beijaram a jovem, dizendo que seria melhor mesmo não ficar ali, que era para mandar notícias, que tudo ia ficar bem e, se quisesse voltar, eles estariam ali. Realmente eram ótimos vizinhos e, aos poucos, foram embora. Rebecca subiu para seu quarto, onde Maurício estava fazendo suas malas.

— Peraí, vocês estão falando sério sobre irmos embora? Eu não posso ir para um lugar que não conheço, Maurício. — Puxou a mala que estava em cima da cama para perto de si.

— Rebecca, você não pode ficar aqui, é perigoso. Já perdemos a Samantha, e o planejado não era esse. Era para vocês irem juntas para casa, então, antes que algo mais dê errado, nós vamos embora. O jatinho já está pronto. — Puxou a mala de volta e começou a arrumar novamente. Ela ficou ali parada, sem entender.

Antony entrou no quarto, catou tudo o que conseguiu numa braçada só e jogou em outra mala.

— Tony, eu tô com medo. — Disse Rebecca. — Acabei de perder minha mãe, a única pessoa que eu tinha, e vocês estão fazendo minhas malas para ir não sei onde.

— Itália, Becca, vamos para a Itália. Ajuda, por favor, estamos com pressa.

— Mas eu não conheço ninguém lá, quer dizer, só vocês e mesmo assim é estranho. — Falou, catando tudo do seu guarda-roupa, confusa, mas obedecendo.

— Tio, esqueceu alguma coisa? — Perguntou Antony a Maurício.

— Não, já tinha mandado arrumar umas coisas enquanto estávamos no cemitério. — Disse Maurício, saindo.

— Tony. — Disse ela, totalmente confusa. — Por que está chamando seu pai de tio?

— Prometo te contar tudo, mas só no jatinho. Confia em mim. Precisamos adiantar, aqui não é mais seguro para você!

Então cataram tudo num grande silêncio, entraram no carro e seguiram. O silêncio só foi quebrado no jatinho. Antony sabia que viria uma enxurrada de perguntas. Rebecca era muito curiosa e, nesse momento, estaria ainda mais. E nem ele aguentava mais segurar o segredo, há muito tempo guardado, cinco longos anos. Sentou-se de frente para ela, sorriu e começou a chorar, era um misto de emoções. Segurou a mão da moça à sua frente, que estava em silêncio, sem entender nada, vendo seu amigo chorar, mas atrás daquelas lágrimas havia um sorriso. Antony parecia uma criança que tinha encontrado algo há muito tempo perdido.

— Você, Rebecca Miller, é minha irmã. Meu pai é seu pai. E aquele homem que você conheceu como meu pai é nosso tio. Maurício e eu viemos atrás de você para te levar para casa. Você tem uma família enorme te esperando. Nunca vai ficar só, não vamos permitir. — Disse Antony, enxugando as lágrimas.

— Como assim? Sou sua irmã? — Perguntou Rebecca, ainda mais confusa.

— Meu pai, anos atrás, veio para Nova Iorque. Ele não estava muito bem. Então conheceu sua mãe, ficaram juntos um final de semana, e isso foi o bastante para você existir. Eu sou seu irmão, e por isso estou aqui, vou te levar para casa.

A comissária aproximou-se e perguntou se eles queriam beber. Rebecca agarrou a garrafa de uísque e um copo, não soltando mais. Antony pegou um copo e a comissária se retirou.

— Vou te contar tudo, mas vou precisar que divida o uísque. — Ele estendeu o copo, ela encheu, ele bebeu tudo num gole só, e ela fez o mesmo. Encheram o copo mais umas três vezes até ele respirar fundo e começar. — Papai é um homem de negócios, digamos assim. Casou com minha mãe, e ela morreu quando eu tinha dois anos. Ela estava bem doente, ele não queria sair do lado dela, mas a família precisou que ele resolvesse uns assuntos, por isso veio para Nova Iorque. Passou uns dias aqui, já ia voltar quando recebeu a notícia da morte dela. Ele ficou péssimo, não queria voltar para casa, queria largar tudo, mas não é assim que as coisas funcionam. Então conheceu sua mãe no meio de tudo o que estava acontecendo. Ele disse que ela era uma mulher inteligente e engraçada, e foi realmente adorável ver que ele falou a verdade. — Deu um sorriso, respirou fundo, deu outro gole e continuou. — Então, eles saíram, passaram uma noite juntos, e ele voltou. Ele não sabia que você existia, senão você com certeza cresceria com um pai ao lado. — Disse Antony com um sorriso muito amigável no rosto.

— O que fez ele me procurar agora? O que houve? Eu não consigo entender nada, isso é uma loucura! — Rebecca estava ouvindo tudo atentamente, mas era muita informação.

— Para proteger a nossa família. Papai não tem uma profissão legal, literalmente. Somos herdeiros da máfia, Rebecca. Papai é perigoso e, como ele, há vários que estão conosco, e outros que não. Essa rivalidade nunca vai acabar. Numa reunião, tio Vitale descobriu um filho que tinha tido antes do casamento, então todos começaram a vasculhar o passado e achamos você. A família Milani tinha jurado acabar com a gente, começando pelos desgarrados, nesse caso, aqueles que estavam longe.

— E acharam muitos como eu por aí?

— Não, você é única.

— Mas, mas como? — Falou, enchendo os copos e fazendo sinal para a comissária trazer mais. Antony normalmente não deixaria ela secar uma garrafa e pedir mais, mas preferiu deixá-la fazer o que queria.

— Assim que descobrimos você, mandamos uma pessoa para organizar nossa chegada. Pagamos muito bem para alugarmos a casa ao lado, até mesmo meu emprego na academia, foi tudo arranjado.

— Vocês planejaram tudo? E acabou ficando esse tempo todo? — Agradeceu à comissária e sorriu de leve.

— Digamos que as coisas não estavam muito boas para a gente voltar para casa. Lembra de quando a gente chegou aqui? Eu nunca vou esquecer, bati o olho em você e esqueci de tudo, nem era para a gente ter dado nossos nomes verdadeiros. — Disse, sorrindo.

— Moleque burro! — Gritou Maurício lá na frente, e todos riram.

— Lógico que me lembro! — Disse, rindo. Fechou os olhos, começou a reviver e dormiu.

Já estavam na metade da segunda garrafa, não iria aguentar mais. Antony tirou a garrafa da sua mão, pegou uma manta e a cobriu. Ela precisava dormir, e ele faria o mesmo. Aliás, já fazia dias que nenhum deles dormia bem. Rebecca pelo luto, por medo do tiroteio, qualquer barulho a assustava. Antony não dormia para ficar de olho na irmã, e Maurício de olho na rua o tempo todo. Mas agora iriam descansar, estavam indo para casa, todos iriam ficar seguros.

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