David
— Não deve ser tão ruim assim. — Caio resmungou quando saímos da sala de reuniões.
— É péssimo, Caio! — retruco mal-humorado.
— Seja lá o que você deixou para trás no Brasil, acho que já está mais do que na hora de voltar e dá um jeito nessa situação, David.
— Por que acha que eu deixei algo para trás? — rebato. Ele abre a porta do seu escritório e eu paro, esperando a sua resposta.
— Por vários motivos. Você não trepa mais, não sai para dançar, beber feito um louco todos os finais de semana e tem uma m*****a foto de Yaides em sua carteira. — Surpreso com esse último comentário, arqueio as sobrancelhas e o encaro com firmeza.
— Andou mexendo nas minhas coisas? — indago entre dentes, segurando um berro no meio do corredor, para não chamar a atenção dos funcionários. Caio respira fundo e antes de me responder, ele olha para os lados.
— Não. Eu só fui pegar o seu cartão como havia me pedido uma vez. Sem querer deixei alguns documentos cair no chão e a foto dela estava no meio deles. — Bufo irritado, mas respiro fundo, levando as mãos aos bolsos da calça. — Me lembro que a última vez que fomos ao Pub, vocês ficaram juntos e depois disso sumiram por uma semana. Olha, eu sei que não tenho nada a ver com isso e que nem devia estar me metendo na sua história com ela. Eu não sei o que rolou entre vocês, mas você não devia se esconder dos seus problemas assim. — Aproximo-me mais do meu primo, o olho bem dentro dos seus olhos e rosno para ele irritado:
— Tem razão, você não tem nada a ver com isso, portanto não deveria se meter na minha vida!
— Cacete, mano, eu só quero ajudar!
— Não preciso da sua ajuda! — falo áspero e me afasto, indo direto para a minha sala.
É incrível como tudo parece que tudo resolveu vir à tona na minha vida de uma só vez. Eu não fazia ideia de que Caio sabia sobre a Yaides. Eu nunca contei para ninguém sobre nós dois, a final, era apenas um início de namoro e era cedo demais para apresentá-la a minha família. O fato é que tínhamos um plano, iríamos para a mesma faculdade, faríamos o mesmo curso, dividiríamos o mesmo dormitório e viveríamos um romance intenso e apaixonante, e se tudo desse certo, no ano seguinte ela iria conhecer a minha família e eu a sua. E no final do curso nos casaríamos.
Era perfeito.
O que deu errado?
Eu fui para o aeroporto e a esperei por algumas horas, mas Yaides não apareceu. Decidi ligar e saber o que estava acontecendo, mas ela não me atendia. Então, peguei a minha mala, pus de volta no carro e dirigi até à sua casa. A cena que vi não foi nada agradável. Minha namorada estava abraçada de uma forma íntima demais com o meu melhor amigo do colégio. Júlio a apertava em seus braços, aspirava o seu cheiro e ela estava agarrada ao seu pescoço. Fiquei parado ali na frente da sua casa olhando aquela cena bizarra, sem saber o que fazer. Os minutos que passei ali, eles não se desgrudaram e covardemente, entrei no meu carro e voltei para o aeroporto. Aquela cena me perturbou por dias, semanas, meses e anos, e cada vez que a imagem vinha a minha mente, eu me fechava, me sentia sem vida e sem a alegria de viver. Parece perturbador pensar que em apenas cinco dias de um lance que envolvia sexo e carícias tenha me afetado com tamanha força. Quando cheguei a Massachusetts troquei o meu número de celular, evitei o meu e-mail pessoal e mantive um curto contato com meus familiares... Até hoje.
— Merda! — resmungo assim que entro na minha sala, encosto-me no encosto da cadeira e encaro o teto branco do meu escritório. Caio tem toda razão. Não é fácil aceitar que ele esteja certo quanto a minha vida, mas ele está. Eu preciso voltar e preciso passar uma borracha no meu passado. Protelei esse tempo todo para não ter que vê-los casados, felizes e com uma família formada. Contudo, não posso mais fugir dessa situação. Quem sabe quando constatar essa realidade finalmente ficarei liberto para seguir a diante. Respiro fundo e jogo esses pensamentos para bem longe, e tento focar no meu trabalho.
***
— Senhor Lacerda, a senhorita Backer está aqui. — Minha secretária avisa pelo telefone.
— Pode mandá-la entrar, Judith — peço no meu melhor modo profissional e encerro a ligação.
Patrícia Backer é a proprietária de um laboratório farmacêutico que já não sabe o que fazer para a empresa avançar no concorrido mercado de medicamentos. Prestes a abrir falência, ela me procurou a dois dias e hoje vamos ver as condições da sua empresa, antes de fecharmos negócio. A porta da minha sala se abre minutos depois e uma linda mulher, usando um vestido preto e simples, de alças largas e colado ao seu corpo. Observo atentamente seu andar firme misturado a sua delicadeza feminina, e a uma pasta executiva em sua mão direita, além de uma bolsa grande de couro pendurada em seu ombro. Os poucos passos da porta até a minha mesa são semelhantes a de uma modelo em uma passarela, sobre os saltos altos demais e só quando se aproxima, ela abre um sorriso estritamente profissional, me estendendo a sua mão.
— Boa tarde, senhor Lacerda!
— Boa tarde, senhorita Backer! Sente-se, por favor! — respondo formalmente, apontando a cadeira para a mulher e ela se acomoda, cruzando as suas pernas. Não pude evitar de perceber o tecido do vestido se encolher um pouco, revelando mais um pouco de sua coxa. Um tanto constrangido, ergo os meus olhos e encontro os seus me encarando com um brilho indecifrável.
Incomodado, limpo a minha garganta e me inclino sobre o tampo da mesa, seguro uma caneta dourada entre os meus dedos e vou direto ao assunto.
— O que tem aí para mim? — A garota descruza as pernas e se inclina um pouco para frente, revelando um pouco dos seios fartos no decote quadrado do vestido. Ela põe a pasta em cima da minha mesa e a abre, tirando de lá alguns papéis.
— Trouxe o balanço de pelo menos seis meses da minha empresa para você. Não acha melhor irmos para o sofá para analisarmos os documentos? Acredito que vamos demorar algumas horas fazendo isso e seria mais confortável, não acha? — Ela sugere e morde levemente o lábio inferior. Reviro os olhos internamente e me pergunto que há de errado com essas mulheres? Cacete, elas não podem ver um par de calças que já querem cair em cima? Puxo uma respiração profunda, mas de uma forma bem discreta e ajeito a minha gravata, fitando a mulher do outro lado da mesa. Em silêncio e de cara dura, estendo a minha mão, para que ela me entregue os documentos e depois de olhá-los rapidamente, depois, volto o meu olhar para ela.
— Não será necessário, senhorita Backer.
— Me chame apenas de Patrícia — pede, me interrompendo e abre um sorriso ainda maior que o primeiro. Pigarreio mais uma vez incomodado com a sua atitude e continuo.
— Como estava dizendo, não será necessário à sua presença nessa análise. Eu mesmo terei todo o cuidado em analisar e contabilizar os números de cada página, e assim que tiver uma resposta, pedirei a minha secretária que entre em contato com a senhorita. — O sorriso da mulher vai sumindo aos poucos e ela se mexe em cima da cadeira.
— Tem certeza? Eu fiz um curso básico de contabilidade e posso ajudá-lo...
— Eu tenho certeza. — A corto e ela engole em seco. De repente o seu rosto começa a corar e agora parece meio sem graça.
— Claro. — Patrícia se levanta da cadeira e ajeita sua bolsa em seu ombro. — Ficarei esperando o seu contato. — Cordialmente, me levanto da cadeira e lhe estendo minha mão, porém, ela apenas a olha e me dá as costas, saindo da sala em seguida. Encho os pulmões de ar.
David — Porra, que gata, quem é? — Caio pergunta, praticamente quebrando seu pescoço, para olhar a bunda da garota, que saiu pisando duro e rebolando dentro do vestido apertado. — Patrícia Backer. — Da indústria de farmacêutica? — Ele parece surpreso. — Por que não a passou para mim? Cara, unir os negócios ao prazer é a melhor coisa do mundo! Tenho certeza de que a deixaria bem satisfeita. — Você ainda vai se dar mal com isso — ralho em resposta, encarando os papéis. Ele se senta à minha frente e o seu tempo em silêncio me faz olhá-lo por cima dos documentos. — E aí? — indaga. Dou de ombros. — E aí o quê? — Liguei para a minha mãe e avisei que irei ao Brasil na próxima semana — informa. Faço um sim em concordância para ele. — Contei pra ela que você vai comigo. — VOCÊ O QUÊ? — Praticamente grito a indagação. Ele se ajeita na cadeira. — O encontro da turma será em quinze dias e como você aceitou o convite... — Semicerro os olhos para o meu primo, contendo uma fúria que parece m
David — Entendeu tudo direitinho, Kathy? — pergunto para a nossa assessora, após uma reunião rápida. Caio e eu decidimos que Kathy Lourency ficará responsável pela empresa enquanto estivermos no Brasil. É claro que algumas coisas farei de maneira remota pela internet, como algumas reuniões, leituras de contratos, avaliação de documentos, entre outras coisas. — Pode ter certeza de que entendi tudo direitinho. Não se preocupe, Senhor Lacerda e Senhor Alcântara. Tomarei conta de tudo. — E me ligue se precisar, a qualquer hora. — Reforço. — Deixa de ser babaca, David a Kathy não é nenhuma criança e você já repetiu a mesma coisa dezenas de vezes. — Caio rebate impaciente e a garota rir do seu comentário. — Podem ir tranquilos, qualquer coisa eu peço socorro. — Kathy fala sorridente. Querem saber a verdade? Estou protelando esse momento. Quanto mais as horas se avançam, mas nervoso eu fico e consequentemente quero recuar, mas eu sei que não posso e que o meu primo também não permitirá
DavidDuda e Caio tiveram um namoro que durou quase um ano. Naquela época o cara era um bom moço, comportando e acreditem ou não, era do tipo que levava flores para ela. Entretanto, desde que o namoro acabou, Caio caiu literalmente de cabeça nas farras e no meio das pernas da mulherada.Assim que entro na enorme e bem iluminada sala de visitas, decorada com o requinte de uma rainha, encontro praticamente toda a família e assim que ponho os meus pés no cômodo, sou abraçado por todos eles, e no final, recebo um forte abraço do meu tio Luís Renato Alcântara e depois do meu pai e do meu tio Marcos Albuquerque. Esses três me ensinaram muita coisa sobre empreendimentos e se hoje me tornei um grande empresário, foi graças a eles também.— Como você está, filho? — Meu coroa pergunta, segurando firme os meus ombros e me olha nos olhos.— Estou bem! — respondi com um tom de desdém, porque não quero que perceba que estou frágil, ou que de alguma forma me sinta abalado. Kevin me sorrir orgulhoso e
David — Mais uma David. — Carlos, um antigo amigo de farras disse enchendo mais um copo de uísque. Estamos em um clube noturno, onde meu pai é um dos sócios. Caio e alguns amigos que vieram juntos e já tem algum tempo que eles sumiram na pista de dança lotada. Já é quase uma da madrugada e a minha cabeça não para de girar e eu não sei dizer se é por conta da bebida, do som alto demais ou por conta da visão de mais cedo. O fato é que quando eu cheguei na casa dos meus pais, liguei para todos, combinando uma noitada. Eu precisava apagar aquela imagem, afogá-la em uma garrafa de uísque e depois levar uma garota qualquer para um motel e transar com ela até perder a consciência. — Vem dançar David. — Luana, uma garota que acabei de conhecer pediu, praticamente se jogando em cima de mim. Esvaziei mais um copo e segurei a sua mão, a levando para a pista aperta. A música tinha um ritmo dançante, mas a garota se encostou no meu corpo, envolveu o meu pescoço e começou a se esfregar de uma fo
David Ela perguntou ao sair do carro. — Claro! Vão na frente, eu entro já — pedi porque precisava respirar um pouco e quando as três mulheres entraram na loja, deixei a minha cabeça pender para trás, encontrando o conforto do encosto do banco. Respirei fundo e olhei para a fachada simples do prédio para depois sair do carro e caminhei para na direção da enorme, porém, antiga porta de madeira que tinha alguns vidros quadrados, separados por finas vigas de madeira envernizadas. Levei uma mão para o trinco e ao abri-la um sino tocou avisando a minha presença. Entrei na loja, observando algumas prateleiras algumas estantes com alguns livros arrumados de acordo com seus gêneros e lançamentos. Mais à frente tinha um balcão grande de fórmica branca e de vidros transparentes que continha alguns materiais de papelaria, canecas personalizadas, agendas e outros objetos. Em cima dele tinha uma caixa registradora antiga. Respirei fundo outra vez e olhei para os lados a procura das minhas garotas
Yaides Olhei através do vidro da vitrine assim que a Senhora Lilian e suas filhas saíram da loja e pude vê-lo dentro do carro, sentado no banco do motorista, com a porta aberta. Já fazia tanto tempo, mas eu ainda conseguia ver o quanto ele estava afetado em me ver na sua frente. Comigo não foi diferente. Eu não esperava vê-lo nunca mais na minha vida e saber que ele era o filho de uma das minhas melhores clientes, só piorou a situação. — Yaidis, estou indo buscar a Maya. Quer que eu traga alguma coisa para o jantar? — A voz de Júlio me fez saltar e afastar-me da vitrine. Ele me lançou um olhar estranho e suspirou baixinho. — Está tudo bem, você parece nervosa — disse. Me afastei ainda mais da vitrine e forcei um sorriso pra ele. — Está. — Ele assentiu, mas não me pareceu convencido. — Tem certeza? — Júlio se aproximou de mim, segurou uma mão minha e me olhou especulativo. — Você está gelada, Yaidis. — Puxei a minha mão da sua e me afastei para ir até o balcão. — Deve ser o excess
Yaides — Tá bom. — Maya saiu correndo para dentro do corredor, que separa a loja da nossa casa e eu olhei para Júlio, que ainda estava parado no meio do salão, me olhando como se quisesse me perguntar algo. — Obrigada por ir buscá-la! — Você sabe que não precisa me agradecer. Sou louco por ela e eu faço tudo por você. — Forcei um sorriso para o meu amigo. — Eu sei e sempre serei grata por tudo. — Ele respira fundo e caminha para perto de mim. — Soube que o David está na cidade. Você o viu? — Engoli em seco. — Sim. — Ele meneou a cabeça, fazendo um sim lento e parecia desapontado. — E, pretendia me contar isso? — Júlio, eu... — Deixa, não precisa explicar. — Me interrompeu e eu puxei a respiração. — Só quero que pense direto, Yaidis. Foi ele quem te deixou para trás. Durante todos esses anos ele se quer ligou para saber de você. Você seria uma estúpida se voltasse pra ele. — Limpei a garganta incomodada com esse assunto e decidi acabar logo com essa conversa. — É melhor você ir
David Entrei no meu carro puto da vida e antes de arrancar dali esmurrei com força o volante, e chorei feito um menino tolo, inclinando a minha cabeça sobre ele. Porra, ela estava ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim e o fato de ter que manter-me afastado dela quase me enlouqueceu. Ela o estava protegendo, quando eu mais precisava da proteção dos seus braços. Dirigi pela cidade, por um longo tempo, até que a minha cabeça esfriasse e eu pudesse voltar para casa. Já era bem tarde quando entrei em uma casa silenciosa e semiescura e fui para o meu quarto, tirei as roupas com uma urgência louca e entrei no banheiro, liguei o chuveiro e entrei debaixo da água gelada da madrugada. Preciso que você vá embora. Suas palavras se repetiam dentro da minha cabeça como um eco irritante. Yaidis parecia estar com medo. Ela me queria longe dali e queria logo. É claro, o Júlio podia chegar a qualquer momento e me pegar lá com ela de um jeito que não teria mais volta, pois eu juro que já