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David

— Entendeu tudo direitinho, Kathy? — pergunto para a nossa assessora, após uma reunião rápida. Caio e eu decidimos que Kathy Lourency ficará responsável pela empresa enquanto estivermos no Brasil. É claro que algumas coisas farei de maneira remota pela internet, como algumas reuniões, leituras de contratos, avaliação de documentos, entre outras coisas.

— Pode ter certeza de que entendi tudo direitinho. Não se preocupe, Senhor Lacerda e Senhor Alcântara. Tomarei conta de tudo.

— E me ligue se precisar, a qualquer hora. — Reforço.

— Deixa de ser babaca, David a Kathy não é nenhuma criança e você já repetiu a mesma coisa dezenas de vezes. — Caio rebate impaciente e a garota rir do seu comentário.

— Podem ir tranquilos, qualquer coisa eu peço socorro. — Kathy fala sorridente.

Querem saber a verdade? Estou protelando esse momento. Quanto mais as horas se avançam, mas nervoso eu fico e consequentemente quero recuar, mas eu sei que não posso e que o meu primo também não permitirá que isso aconteça. Com tudo acertado, nos levantamos das cadeiras ao mesmo tempo. Kathy e eu apertamos as mãos, mas o meu sócio como sempre é mais atrevido e puxa a garota para um abraço demorado. Solto o ar com força e saio da sala o deixando para trás. Alcanço o elevador e assim que as portas se abrem, ele para ao meu lado, ofegante. Provavelmente correu para me alcançar.

— Você não tem jeito, não é? — resmungo sério, porém, ele me encara com fingida confusão.

— O que eu fiz? — Como sempre esse inocente leva as mãos ao peito e faz um olhar complacente para mim. Tenho vontade de rir, mas permaneço de cara fechada pata não lhe dar moral e não lhe respondo nada.

O caminho até o aeroporto é feito em silêncio. Enquanto o meu primo se despede das garotas enviando lhes mensagens pelo seu telefone, eu me perco em meus próprios pensamentos. Durante o voo não consigo dormir, pois, estou com a cabeça cheia de perguntas e confusa, e confesso que até nasceu uma pontinha de esperança em meu peito. Pode soar desesperador, mas sim, nessas poucas horas de viagem mantive essa pontinha de esperança de que ela não tivesse realmente se casado com ele. Com um suspiro frustrado, pego o notebook dentro de uma pasta de couro e me ocupo em trabalhar. Eu preciso ocupar a minha mente ou explodirei de ansiedade.

— Uau, o sol está lindo lá fora! — Caio fala despertando do seu sono interminável e se ajeita em sua poltrona, no exato momento em que a aeromoça entra no corredor com um carrinho e o nosso café da manhã em cima dele. O safado analisa a jovem com o seu uniforme curto, azul marinho, com alguns detalhes mínimos alaranjados. Ele me olha rapidamente deslizando o indicador pelo lábio inferior.

Rolo os olhos para ele e volto para o meu trabalho.

Atenciosa, a moça deixa um prato com um sanduíche natural, um copo de suco de laranja e um potinho com alguns cubos de frutas na mesinha a minha frente. A olho rapidamente e peço para trocar a minha refeição por um copo de uísque. Sim, ela me fitou com espanto, mas não me contestou e antes de sair, recolheu os três copos vazios que deixei na mesinha.

— Uísque? Minha nossa, o caso é mais sério do que eu imaginava! — Meu primo retruca de boca cheia.

— Não sei do que está falando, Caio — rebato sem tirar os meus olhos da tela do computador e tento me concentrar no meu trabalho.

— Sério, David. Você sabe que não precisa sofrer calado, né? Cara, eu estou aqui, se abre comigo. — Impacientemente, fecho o notebook e o encaro.

— Caio as vezes você me irrita, sabia? Eu não tenho o que dizer, não há nada pra falar. Mas que merda, cara!

— Ok, não está mais aqui quem falou! — Ele voltou a se ajeitar na poltrona e põe os fones de ouvidos, concentrando-se no seu café da manhã. Melhor assim. Penso, voltando para o meu o meu mundo tecnológico.

***

Desço os primeiros degraus do avião, olhando ao meu redor. O Rio de Janeiro continua lindo e ensolarado. Observo o céu límpido, sem nuvens e com alguns pássaros voando livremente. Respiro fundo e tento acalmar as batidas desenfreadas do meu coração, que parece querer sair pela boca. Ponho os óculos escuros e caminho com passos largos na direção do salão do aeroporto, sentindo o vento bagunçar os meus cabelos cheios e através das lentes escuras, reconheço uma loira alta e muito bem-vestida no meio de algumas pessoas que aguardam seus parentes ou amigos desembarcarem.

Ela sorri quando me vir e automaticamente sorrio para ela também.

Apresso os meus passos para poder alcançá-la e finalmente abraçá-la. Lilian faz o mesmo vindo ao meu encontro. E, nossa! Como senti a sua falta! O seu abraço é apertado e ao mesmo tempo aconchegante. Depois de longos sete anos, estou me sentindo em casa outra vez e mais uma vez, senti-me um tolo por ter me afastado assim da minha família, das únicas pessoas que realmente podiam me ajudar, por tanto tempo. Ela se afasta um pouco, passou as suas mãos em meus cabelos e na barba cheia, e sorri com seus lindos olhos molhados de lágrimas não derramadas.

— Senti tanto a sua falta, filho! — diz chorosa e emocionada, fazendo-me abrir um sorriso emocionado também.

— Eu também mãe — Sussurro e a beijo demoradamente no rosto, para depois abraçá-la outra vez.

— O que é isso que eu estou vendo? — Brinca, mexendo na minha barba assim que se afasta e me faz rir outra vez. — Meu Deus, onde está o meu rosto de menino? — Dou de ombros.

— Não sou mais aquele menino, dona Lilian — retruco e ela me abre outro sorriso carinhoso.

— Não, você não é. Tornou-se um homem alto e muito lindo. Mas, ainda prefiro aquele rostinho limpo de menino — rebate com humor.

— Bom para o seu governo as minas piram, sabia? — rebato com humor, mas ela bufa em resposta.

— Vamos para casa, querido. Todos estão ansiosos para vê-los — fala, mudando de assunto.

— Todos? — pergunto, pegando o carrinho com as minhas malas e o empurro, a acompanhando e procuro o meu primo. O encontro do outro lado, nos braços da tia Ana e sorrio.

Eu amo essa família! Eles são sempre assim, tão unidos e estão sempre por perto.

Do lado de fora do aeroporto, abraço a minha tia demoradamente e quando a solto, a baixinha resmunga do meu aperto, arrancando algumas gargalhadas de todos. Voltamos para casa no mesmo carro, mas não fomos para a casa dos meus pais e sim, para a casa da tia Ana e isso me faz pensar que sua casa deve estar cheia.

— Oh meu Deus, você tem uma barba! — Eduarda, minha irmã do meio ralha assim que sai de dentro do carro e se aproxima enfiando os seus dedos nos pelos loiros, acariciando-os e me fazendo rir sonoramente.

— Gostou? — pergunto com humor e ela ri, franzindo a pontinha do nariz, como sempre faz.

— Eu gostei! Deixa o meu irmão mais velho másculo e gostoso — diz, me arrancando mais risadas, então a abraço e a beijo cheio de saudades.

— Viu, dona Lilian? — Provoquei a minha mãe.

— Ainda o prefiro sem barba. — A loira pisca um olho para mim e sobe os poucos degraus na frente da casa, enquanto meneia a cabeça em um não lento, porém, ela está se divertindo com essa brincadeira. Levo uma mão na cintura da minha irmã, contudo, não pude deixar de notar o seu olhar especulativo em cima do nosso primo devasso, que está rodeado por seus irmãos e sobrinhos.

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