David
— Porra, que gata, quem é? — Caio pergunta, praticamente quebrando seu pescoço, para olhar a bunda da garota, que saiu pisando duro e rebolando dentro do vestido apertado.
— Patrícia Backer.
— Da indústria de farmacêutica? — Ele parece surpreso. — Por que não a passou para mim? Cara, unir os negócios ao prazer é a melhor coisa do mundo! Tenho certeza de que a deixaria bem satisfeita.
— Você ainda vai se dar mal com isso — ralho em resposta, encarando os papéis. Ele se senta à minha frente e o seu tempo em silêncio me faz olhá-lo por cima dos documentos.
— E aí? — indaga. Dou de ombros.
— E aí o quê?
— Liguei para a minha mãe e avisei que irei ao Brasil na próxima semana — informa. Faço um sim em concordância para ele. — Contei pra ela que você vai comigo.
— VOCÊ O QUÊ? — Praticamente grito a indagação. Ele se ajeita na cadeira.
— O encontro da turma será em quinze dias e como você aceitou o convite... — Semicerro os olhos para o meu primo, contendo uma fúria que parece me destruir por dentro, e fecho as mãos em punho, inclinando-me sobre o tampo da mesa.
— Como sabe que aceitei a porra do convite?! — Uma indagação baixa, aparentemente calma, porém fria e enfurecida. O imbecil apenas dá de ombros.
— Porque fui eu quem o aceitou por você.
— Caio, eu vou te matar! — rosno entre dentes. Ele ri e se levanta imediatamente da cadeira, erguendo as suas mãos e anda de costas para a porta.
— Na verdade, você vai me agradecer — retruca. Salto para fora da cadeira como uma onça pronta para o seu ataque, porém, ele corre para fora da minha sala. Ainda dou alguns passos largos, mas infelizmente não o alcanço.
Adeus paz, adeus sossego! Penso, levando as mãos aos cabelos e agito os fios para o alto e quando retorno à minha mesa, o telefone começa a tocar.
— Fala. Judith!
— Sua mãe está na linha 4, senhor Lacerda.
Inferno! Bufo baixinho e encaro a porta fechada do meu escritório.
Eu te mato Caio Alcântara! Rosno mentalmente.
— Pode passar a ligação, Judith.
— Sim, senhor!
— Dona Lilian Lacerda! — falo com fingido entusiasmo, após respirar fundo e me preparo para o seu desabafo.
— Como assim, você está vindo para o Brasil e não me disse nada? Eu tinha que saber pela Ana? — Minha mãe esbraveja do outro lado da linha. Respiro fundo.
— Calma, dona Lilian! Eu já estava me preparando para avisar quando a sua ligação chegou. — Jogo uma desculpa aceitável, expressada com um bom-humor e ela suspira do outro lado.
— David, você anda muito estranho — comenta. Reviro os olhos. — Eu nunca pensei que se afastaria dessa maneira da sua família.
— Mãe, você sabe que tenho negócios aqui em Massachusetts. Não dá pra ficar de passeio sempre que a senhora sentir saudades.
— Passeios? Querido, já faz sete anos e não pense que deixarei você voltar com tanta facilidade. Vai ter que me acompanhar em alguns eventos, passeios e compras. Estou morrendo de saudades de você, filho! — Ela praticamente choraminga o final da frase.
A pior parte é que também estou morrendo de saudades de todos. Embora tenha sido adotado e o fato de eu ser o filho de uma ex-amante de meu pai, Lilian Alcântara nunca me destratou. Pelo contrário, ela foi a melhor mãe do mundo! Uma mulher linda, meiga, atenciosa, amorosa... São tantos adjetivos que daria para escrever um livro. Sinto falta dos seus conselhos, dos seus carinhos de mãe, do café da manhã que ela fazia questão de preparar pessoalmente. Enfim, Lilian e Kevin Lacerda são os pais que toda criança gostaria de ter.
— Eu também, mãe — confesso e encerro a ligação, sentindo-me emocionado. Realmente está na hora de encarar o meu passado e de retomar a minha vida de uma vez por todas.
***
Pensar que voltarei para o Brasil depois de tanto tempo fugindo do meu passado, me deixa um tanto ansioso por finalmente vê-la outra vez, e ao mesmo tempo, com medo. Medo de saber que eles realmente estão juntos e que eu perdi o meu tempo parado no meio do caminho, sem seguir em frente. O que ela pensaria ao ver que não levei a minha vida a diante?
Quanta tolice David! Eu fui um tolo em me amarrar a um passado incerto. Voltar ao Brasil solteiro não era uma opção. E se eu alugasse uma garota para fingir ser a minha namorada? Porra David, virou um moleque agora?
O Tim do elevador me desperta, avisando que cheguei ao meu destino. Solto uma respiração alta e me livro das luvas que aquece as minhas mãos do frio do inverno lá fora. Entro no imenso hall de piso xadrez, que comporta apenas um pequeno divã vermelho no canto da parede e um enorme lustre bem no centro dele. Abro a porta e encontro o Caio com a língua enfiada na boca de uma garota, no sofá da sala. Tento passar despercebido, mas ele explode um PORRA, DAVID! me fazendo parar no meio do caminho.
— Cara, já passam das onze! onde você estava?
— Caminhando por aí. Precisava ficar sozinho e pôr as minhas ideias no lugar.
— Tia Lilian ligou umas duas vezes — informa. Fito a moça atenta a nossa conversa e lhe dou as costas, seguindo direto para o meu quarto.
— O que ela queria? — pergunto, sabendo que ele está bem atrás de mim.
— Saber a hora do nosso voo. — Abro a porta do meu quarto e entro no cômodo, largando as luvas em cima de uma mesinha e me livro do cachecol em seguida, e depois do casaco. Olho o meu primo em pé na porta.
— Nosso voo? — indago confuso. Ele dá de ombros e sorri com a cara mais deslavada do mundo.
— Não pensou que ia sozinho naquele jatinho, não é? — ralha.
— Sim, eu pensei — retruco e começo a me desfazer da camisa e depois dos sapatos, e deixo as peças largadas pelo chão.
— Bom, então estou informando que vamos juntos. Não vou perder a oportunidade de ver a Duda. — Arqueio as sobrancelhas para ele.
— Eduarda? Achei que o lance com a minha irmã já tinha terminado — comento, me livrando das minhas calças.
— E terminou. Mas, não quer dizer que eu não sinta saudades dela. — Dou de ombros com desdém.
— O que disse para minha mãe?
— Nada, eu não sabia dos seus planos para essa viagem. — Aceno um sim pra ele.
— Deixe que eu falo com ela. Vou ligar para o nosso piloto e saber dos planos de voo para esses dias.
— Ok! — Ele se afasta da porta e eu o chamo de volta.
— Caio, você pode fechar o negócio com a Backer amanhã? — Um sorriso gigante e safado surge no rosto do meu primo.
— Sério? Pensei que você queria cuidar dessa conta pessoalmente.
— E eu cuidei. Eu só preciso que você a leve para jantar, faça assinar os documentos e lhe entregue um cheque. E depois disso, se quiser dar um trato especial, fique à vontade — insinuo. Seu sorriso se agiganta ainda mais.
— Não estou acreditando no que acabou de dizer.
— Parece que ela também gosta de misturar negócios com prazer. Só estamos unindo o útil ao agradável, certo? — ralho. Caio ergueu suas mãos e caminha para dentro do cômodo e ao meu encontro. Ele segura nos dois lados do meu rosto e me faz encará-lo
— Você é o melhor primo e sócio desse mundo, cara!
— Ei, ficou maluco, porra? — Protesto, o empurrando para longe de mim quando começa a dar beijos no meu rosto e limpo a minha boca e as bochechas. O infeliz sai do meu quarto, dando risadas escandalosas. Meneio a cabeça e me pego rindo da sua molecagem. Entro no banheiro e tomo um banho quente e rápido.
David — Entendeu tudo direitinho, Kathy? — pergunto para a nossa assessora, após uma reunião rápida. Caio e eu decidimos que Kathy Lourency ficará responsável pela empresa enquanto estivermos no Brasil. É claro que algumas coisas farei de maneira remota pela internet, como algumas reuniões, leituras de contratos, avaliação de documentos, entre outras coisas. — Pode ter certeza de que entendi tudo direitinho. Não se preocupe, Senhor Lacerda e Senhor Alcântara. Tomarei conta de tudo. — E me ligue se precisar, a qualquer hora. — Reforço. — Deixa de ser babaca, David a Kathy não é nenhuma criança e você já repetiu a mesma coisa dezenas de vezes. — Caio rebate impaciente e a garota rir do seu comentário. — Podem ir tranquilos, qualquer coisa eu peço socorro. — Kathy fala sorridente. Querem saber a verdade? Estou protelando esse momento. Quanto mais as horas se avançam, mas nervoso eu fico e consequentemente quero recuar, mas eu sei que não posso e que o meu primo também não permitirá
DavidDuda e Caio tiveram um namoro que durou quase um ano. Naquela época o cara era um bom moço, comportando e acreditem ou não, era do tipo que levava flores para ela. Entretanto, desde que o namoro acabou, Caio caiu literalmente de cabeça nas farras e no meio das pernas da mulherada.Assim que entro na enorme e bem iluminada sala de visitas, decorada com o requinte de uma rainha, encontro praticamente toda a família e assim que ponho os meus pés no cômodo, sou abraçado por todos eles, e no final, recebo um forte abraço do meu tio Luís Renato Alcântara e depois do meu pai e do meu tio Marcos Albuquerque. Esses três me ensinaram muita coisa sobre empreendimentos e se hoje me tornei um grande empresário, foi graças a eles também.— Como você está, filho? — Meu coroa pergunta, segurando firme os meus ombros e me olha nos olhos.— Estou bem! — respondi com um tom de desdém, porque não quero que perceba que estou frágil, ou que de alguma forma me sinta abalado. Kevin me sorrir orgulhoso e
David — Mais uma David. — Carlos, um antigo amigo de farras disse enchendo mais um copo de uísque. Estamos em um clube noturno, onde meu pai é um dos sócios. Caio e alguns amigos que vieram juntos e já tem algum tempo que eles sumiram na pista de dança lotada. Já é quase uma da madrugada e a minha cabeça não para de girar e eu não sei dizer se é por conta da bebida, do som alto demais ou por conta da visão de mais cedo. O fato é que quando eu cheguei na casa dos meus pais, liguei para todos, combinando uma noitada. Eu precisava apagar aquela imagem, afogá-la em uma garrafa de uísque e depois levar uma garota qualquer para um motel e transar com ela até perder a consciência. — Vem dançar David. — Luana, uma garota que acabei de conhecer pediu, praticamente se jogando em cima de mim. Esvaziei mais um copo e segurei a sua mão, a levando para a pista aperta. A música tinha um ritmo dançante, mas a garota se encostou no meu corpo, envolveu o meu pescoço e começou a se esfregar de uma fo
David Ela perguntou ao sair do carro. — Claro! Vão na frente, eu entro já — pedi porque precisava respirar um pouco e quando as três mulheres entraram na loja, deixei a minha cabeça pender para trás, encontrando o conforto do encosto do banco. Respirei fundo e olhei para a fachada simples do prédio para depois sair do carro e caminhei para na direção da enorme, porém, antiga porta de madeira que tinha alguns vidros quadrados, separados por finas vigas de madeira envernizadas. Levei uma mão para o trinco e ao abri-la um sino tocou avisando a minha presença. Entrei na loja, observando algumas prateleiras algumas estantes com alguns livros arrumados de acordo com seus gêneros e lançamentos. Mais à frente tinha um balcão grande de fórmica branca e de vidros transparentes que continha alguns materiais de papelaria, canecas personalizadas, agendas e outros objetos. Em cima dele tinha uma caixa registradora antiga. Respirei fundo outra vez e olhei para os lados a procura das minhas garotas
Yaides Olhei através do vidro da vitrine assim que a Senhora Lilian e suas filhas saíram da loja e pude vê-lo dentro do carro, sentado no banco do motorista, com a porta aberta. Já fazia tanto tempo, mas eu ainda conseguia ver o quanto ele estava afetado em me ver na sua frente. Comigo não foi diferente. Eu não esperava vê-lo nunca mais na minha vida e saber que ele era o filho de uma das minhas melhores clientes, só piorou a situação. — Yaidis, estou indo buscar a Maya. Quer que eu traga alguma coisa para o jantar? — A voz de Júlio me fez saltar e afastar-me da vitrine. Ele me lançou um olhar estranho e suspirou baixinho. — Está tudo bem, você parece nervosa — disse. Me afastei ainda mais da vitrine e forcei um sorriso pra ele. — Está. — Ele assentiu, mas não me pareceu convencido. — Tem certeza? — Júlio se aproximou de mim, segurou uma mão minha e me olhou especulativo. — Você está gelada, Yaidis. — Puxei a minha mão da sua e me afastei para ir até o balcão. — Deve ser o excess
Yaides — Tá bom. — Maya saiu correndo para dentro do corredor, que separa a loja da nossa casa e eu olhei para Júlio, que ainda estava parado no meio do salão, me olhando como se quisesse me perguntar algo. — Obrigada por ir buscá-la! — Você sabe que não precisa me agradecer. Sou louco por ela e eu faço tudo por você. — Forcei um sorriso para o meu amigo. — Eu sei e sempre serei grata por tudo. — Ele respira fundo e caminha para perto de mim. — Soube que o David está na cidade. Você o viu? — Engoli em seco. — Sim. — Ele meneou a cabeça, fazendo um sim lento e parecia desapontado. — E, pretendia me contar isso? — Júlio, eu... — Deixa, não precisa explicar. — Me interrompeu e eu puxei a respiração. — Só quero que pense direto, Yaidis. Foi ele quem te deixou para trás. Durante todos esses anos ele se quer ligou para saber de você. Você seria uma estúpida se voltasse pra ele. — Limpei a garganta incomodada com esse assunto e decidi acabar logo com essa conversa. — É melhor você ir
David Entrei no meu carro puto da vida e antes de arrancar dali esmurrei com força o volante, e chorei feito um menino tolo, inclinando a minha cabeça sobre ele. Porra, ela estava ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim e o fato de ter que manter-me afastado dela quase me enlouqueceu. Ela o estava protegendo, quando eu mais precisava da proteção dos seus braços. Dirigi pela cidade, por um longo tempo, até que a minha cabeça esfriasse e eu pudesse voltar para casa. Já era bem tarde quando entrei em uma casa silenciosa e semiescura e fui para o meu quarto, tirei as roupas com uma urgência louca e entrei no banheiro, liguei o chuveiro e entrei debaixo da água gelada da madrugada. Preciso que você vá embora. Suas palavras se repetiam dentro da minha cabeça como um eco irritante. Yaidis parecia estar com medo. Ela me queria longe dali e queria logo. É claro, o Júlio podia chegar a qualquer momento e me pegar lá com ela de um jeito que não teria mais volta, pois eu juro que já
David — Eu não fiz. Você conhece bem essa história. Depois daquela mentira absurda que nos separou, eu fui praticamente um babaca com a Lilian. Mas quando se abriu uma pequena brecha e eu pude senti-la em mim outra vez, fiquei determinado a lutar e reconquistá-la e foi isso que eu fiz. Respirei fundo e esvaziei o meu copo. — Porque não se abre comigo, filho? — pediu. Eu pensei e não vi outra saída. — Tem uma garota. Eu a amo desde que me entendo por gente e nós, ficamos juntos dias antes de eu ir para os Estados Unidos. — E? — Ela está com um cara, o homem que um dia foi o melhor amigo nos tempos do colegial e parece que eles têm uma filha juntos. — E ela gosta dele? — indagou. Dei de ombros e fui até o bar, me servir de mais uma dose. — Eu não sei, pai. — Não sabe? — Fiz não com a cabeça. — Quando estávamos juntos, nós fizemos algumas declarações e promessas. Mas agora eu não sei o que pensar. A verdade é que eu fui um idiota com ela ontem e eu a acusei de ser interesseira.