David Ela perguntou ao sair do carro. — Claro! Vão na frente, eu entro já — pedi porque precisava respirar um pouco e quando as três mulheres entraram na loja, deixei a minha cabeça pender para trás, encontrando o conforto do encosto do banco. Respirei fundo e olhei para a fachada simples do prédio para depois sair do carro e caminhei para na direção da enorme, porém, antiga porta de madeira que tinha alguns vidros quadrados, separados por finas vigas de madeira envernizadas. Levei uma mão para o trinco e ao abri-la um sino tocou avisando a minha presença. Entrei na loja, observando algumas prateleiras algumas estantes com alguns livros arrumados de acordo com seus gêneros e lançamentos. Mais à frente tinha um balcão grande de fórmica branca e de vidros transparentes que continha alguns materiais de papelaria, canecas personalizadas, agendas e outros objetos. Em cima dele tinha uma caixa registradora antiga. Respirei fundo outra vez e olhei para os lados a procura das minhas garotas
Yaides Olhei através do vidro da vitrine assim que a Senhora Lilian e suas filhas saíram da loja e pude vê-lo dentro do carro, sentado no banco do motorista, com a porta aberta. Já fazia tanto tempo, mas eu ainda conseguia ver o quanto ele estava afetado em me ver na sua frente. Comigo não foi diferente. Eu não esperava vê-lo nunca mais na minha vida e saber que ele era o filho de uma das minhas melhores clientes, só piorou a situação. — Yaidis, estou indo buscar a Maya. Quer que eu traga alguma coisa para o jantar? — A voz de Júlio me fez saltar e afastar-me da vitrine. Ele me lançou um olhar estranho e suspirou baixinho. — Está tudo bem, você parece nervosa — disse. Me afastei ainda mais da vitrine e forcei um sorriso pra ele. — Está. — Ele assentiu, mas não me pareceu convencido. — Tem certeza? — Júlio se aproximou de mim, segurou uma mão minha e me olhou especulativo. — Você está gelada, Yaidis. — Puxei a minha mão da sua e me afastei para ir até o balcão. — Deve ser o excess
Yaides — Tá bom. — Maya saiu correndo para dentro do corredor, que separa a loja da nossa casa e eu olhei para Júlio, que ainda estava parado no meio do salão, me olhando como se quisesse me perguntar algo. — Obrigada por ir buscá-la! — Você sabe que não precisa me agradecer. Sou louco por ela e eu faço tudo por você. — Forcei um sorriso para o meu amigo. — Eu sei e sempre serei grata por tudo. — Ele respira fundo e caminha para perto de mim. — Soube que o David está na cidade. Você o viu? — Engoli em seco. — Sim. — Ele meneou a cabeça, fazendo um sim lento e parecia desapontado. — E, pretendia me contar isso? — Júlio, eu... — Deixa, não precisa explicar. — Me interrompeu e eu puxei a respiração. — Só quero que pense direto, Yaidis. Foi ele quem te deixou para trás. Durante todos esses anos ele se quer ligou para saber de você. Você seria uma estúpida se voltasse pra ele. — Limpei a garganta incomodada com esse assunto e decidi acabar logo com essa conversa. — É melhor você ir
David Entrei no meu carro puto da vida e antes de arrancar dali esmurrei com força o volante, e chorei feito um menino tolo, inclinando a minha cabeça sobre ele. Porra, ela estava ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim e o fato de ter que manter-me afastado dela quase me enlouqueceu. Ela o estava protegendo, quando eu mais precisava da proteção dos seus braços. Dirigi pela cidade, por um longo tempo, até que a minha cabeça esfriasse e eu pudesse voltar para casa. Já era bem tarde quando entrei em uma casa silenciosa e semiescura e fui para o meu quarto, tirei as roupas com uma urgência louca e entrei no banheiro, liguei o chuveiro e entrei debaixo da água gelada da madrugada. Preciso que você vá embora. Suas palavras se repetiam dentro da minha cabeça como um eco irritante. Yaidis parecia estar com medo. Ela me queria longe dali e queria logo. É claro, o Júlio podia chegar a qualquer momento e me pegar lá com ela de um jeito que não teria mais volta, pois eu juro que já
David — Eu não fiz. Você conhece bem essa história. Depois daquela mentira absurda que nos separou, eu fui praticamente um babaca com a Lilian. Mas quando se abriu uma pequena brecha e eu pude senti-la em mim outra vez, fiquei determinado a lutar e reconquistá-la e foi isso que eu fiz. Respirei fundo e esvaziei o meu copo. — Porque não se abre comigo, filho? — pediu. Eu pensei e não vi outra saída. — Tem uma garota. Eu a amo desde que me entendo por gente e nós, ficamos juntos dias antes de eu ir para os Estados Unidos. — E? — Ela está com um cara, o homem que um dia foi o melhor amigo nos tempos do colegial e parece que eles têm uma filha juntos. — E ela gosta dele? — indagou. Dei de ombros e fui até o bar, me servir de mais uma dose. — Eu não sei, pai. — Não sabe? — Fiz não com a cabeça. — Quando estávamos juntos, nós fizemos algumas declarações e promessas. Mas agora eu não sei o que pensar. A verdade é que eu fui um idiota com ela ontem e eu a acusei de ser interesseira.
Yaides — Eu vou querer esses três aqui. — A moça disse, colocando os três livros em cima do balcão. Satisfeita, eu fiz o cálculo da sua compra, pus os livros em uma sacola, que tem a logomarca da loja e depois de passar o seu cartão, entreguei-lhe. A moça saiu sorridente. Então vi um homem alto, usando sobretudo, perto de uma das estantes de livros para executivos e do outro lado havia uma jovem olhando a sessão de fantasias e ficção. Eu percebi que em poucos dias havia um movimento diferente na loja e sorri. Eu nunca havia vendido tantos livros como nesses últimos dias. Fui até a garota, mostrei-lhe alguns clássicos do gênero que ela escolhera e além de três livros, ela ainda levou mais dois de mistério e quando ela saiu da loja, observei que o homem ainda estava parado na mesma sessão. — Posso ajudá-lo em alguma coisa? — perguntei solicita, aproximando-me dele. Ele se virou para mim, me mostrando um dos livros de Alfredo Bryce. Surpresa, me afastei imediatamente e o questionei. —
Yaides — Mamãe, quem é esse homem? — O som da voz infantil fez-me afastar rapidamente dos seus braços. David estava ofegante, mas os seus olhos estavam fixos na garotinha loira, com o rostinho amassado de sono, os cabelos malamanhados e usando um pijama de flanela, em pé na nossa frente. Ele me lançou um olhar confuso e eu estava completamente sem chão. — Oi garotinha, como você se chama? — indagou com um som meigo na voz e um sorriso doce, se ajoelhando diante da minha menina. Eu tentei puxar a respiração, mas não consegui, simplesmente não conseguia respirar diante dessa situação. Maya olhou para mim, como se me pedisse permissão para falar e eu assenti sutilmente. — Meu nome é Maya e você, quem é? — Ele sorriu, ajeitando alguns cachos loiros da menina que estavam bagunçados. — Eu sou o David, eu sou... — Ele me olhou e o meu coração parou bruscamente. — Um amigo da sua mãe. — Alívio, Deus ele mentiu, por quê? Por mim? Por ela? — Filha sobe, a mamãe vai já. — Mas eu estou com f
David — Mais uma, por favor! Pedi para o garçom, erguendo o meu copo vazio e enquanto aguardava a minha bebida, meus pensamentos me levaram para a garotinha, entrando no salão da livraria e a chamando de mãe. Uma filha. Nem mesmo nos meus sonhos, conseguiria imaginar isso para mim. A menina tem tudo de mim; o mesmo tom da pele, dos cabelos e dos olhos. Não tinha como eu me enganar com as minhas próprias conclusões. Agora está explicado o fato de Yaidis sempre ter pressa de me tirar de lá. O tempo todo eu achei que era por causa dele. Mas não, a m*****a estava escondendo a minha própria filha de mim! O garçom pôs o copo cheio em cima do balcão e eu o peguei, sorvendo imediatamente metade do líquido que havia dentro dele e encarei o espelho, por trás das prateleiras de vidro transparente, a minha imagem. — Nossa, você não me parece nada bem. Eu me chamo Savana e você é o... — Uma linda e estonteante mulher disse sentando-se no banco ao meu lado. — Uma péssima companhia — respondi d