David Não sei como descrever a sensação de estar sentado ao lado dela. É estranho ter uma criança sentada no banco do carona, agarrada a sua mochila cor de rosa. Ela está séria e o tempo todo olha pela janela do carro. Eu simplesmente não sei como agir com ela e nem o que dizer pra ela e por esse motivo, estamos em um completo silêncio. Maya é uma criança aparentemente esperta e de alguma forma eu sei que ela não é tímida. Talvez esteja com raiva, por eu ter obrigado a sua mãe a deixá-la vir comigo, ou talvez só esteja apenas analisando essa situação inusitada. Não dá pra saber o que se passa em sua cabecinha. — Gosta de barcos? — Arrisquei uma pergunta. Ela não me olhou. Seus olhos continuaram fixos na janela. — Tanto faz — disse séria demais. Eu só consegui encarar a estrada, soltando o ar com força e me concentrei. Sabia que não seria tão fácil assim, mas isso está ficando ridículo. Parei o carro em um estacionamento privativo e quando ela saiu, agarrada a sua mochila, a garoti
David — Posso te fazer uma pergunta? — indagou assim que estacionei o carro em frente a livraria. Eu olhei para a garotinha, que já não tinha mais aquele rosto tão sério e confirmei com a cabeça. — Por que você não me quis? — E quem disse que eu não te quis? — Ela deu de ombros. — Ninguém, mas sete anos é muito tempo pra você vir me procurar. — Maya, o que eu posso te dizer nesse momento é que, eu não sabia da sua existência. Mas se você quiser mais respostas além disso, terá que perguntar para sua mãe. — Ela fez um sim com a cabeça e levou a mão a porta para abri-la. — Ei, calma aí! Será que eu não mereço um beijo, ou pelo menos um obrigado pelo dia de hoje? — Cobrei com humor e ela sorrio de boca fechada. — Obrigada, David! — Espera, eu vou te deixar na loja. — Sai do carro e segurei a sua mão, quando ela parou ao meu lado na calçada e depois entramos na loja juntos. Assim que viu sua mãe, Maya soltou a minha mão e correu animada para os seus braços. Ela falava tudo ao mesmo te
David — Porque me trouxe aqui, David? — questionou-me. Dei de ombros. — Você não sente curiosidade de conhecer o seu outro lado da família? — Maya fez não com a cabeça e suspirou baixinho. — Por que não? — E se eles não gostarem de mim? Quero dizer, você nem sabia da minha existência até poucos dias atrás e provavelmente, eles também não sabem. E se eles não me quiserem? — Abri a porta do carro e me agachei ao seu lado. — Quer saber? Eu acho impossível alguém não gostar de você. Você é uma garotinha linda, é alegre, inteligente. — Posso dizer uma coisa? Você é péssimo em convencer alguém a fazer qualquer coisa. Mas a minha mãe me ensinou que eu preciso ser uma pessoa forte e não me deixar abalar pelos meus medos e receios. Que se eu quiser vencer na vida, terei que ser destemida e determinada. — Soltei um assobio apreciativo. — Sua mãe te ensinou tudo isso? — Ela fez sim com a cabeça e eu me afastei para que ela saísse do carro. Não vou mentir. Eu não sei o que a minha família v
David — Não sei se cabe tudo isso no meu quarto. — Minha filha ralhou olhando as enumeras sacolas dentro de carro e eu ri. — Se não der a gente amplia o seu quarto. — Escutei o som da sua risada e me senti aquecido. Passamos o dia inteiro andando pela cidade, paramos em vários pontos turísticos e depois do almoço fomos para o shopping e não conseguimos parar de fazer compras. Maya se encantava com tudo que via e quando nos damos conta, havia dezenas de sacolas. Agora estou indo levá-la para a sua casa. Estacionei o carro em frente a livraria como sempre e ela praticamente saltou para fora dele, abrindo a porta de trás com empolgação e começou a tirar de lá algumas sacolas. Eu a ajudei tirando a maior parte de lá, fechando o carro em seguida com dificuldade. Maya abriu a porta da loja, que já tinha o a placa com o nome fechado e nós encontramos a sua mãe andando de um lado para o outro, como se estivesse preocupada com algo. Minha menina largou as sacolas no chão e correu para os seu
David — Com certeza — respondi e assisti a bela mulher tirar de dentro do mesmo baú duas taças. Ela foi até a mesa e eu me aproximei, pegando a garrafa da sua mão para abri-la. No mesmo instante minha pele roçou a sua e as batidas do meu coração erraram o seu compasso. Nós nos olhamos e eu quase me senti preso as lindas retinas escuras. — Pronto — sussurrei quando a rolha saio fazendo um som abafado e lhe entreguei a garrafa. Ela a pegou e imediatamente começou a servir as taças. — O que você quer saber, David? — indagou de uma forma seca, depois de me entregar uma taça e de bebericar a sua. Senti o meu corpo suar de nervoso e respirei fundo pelo menos duas vezes antes de soltar a primeira pergunta. — Por quê? — Yaidis esvaziou a sua taça e tornou a enchê-la, para em seguida beber metade dela. Dava para sentir o seu nervosismo. Parece que não é algo fácil de se falar e eu só consigo pensar, que para mim também não foi nada fácil de saber que ela preferiu ficar aqui com ele, a ir com
Yaides— Você precisa se casar comigo, Yaidis, eu posso te dar a segurança e a estabilidade que você e a Maya precisam.— Você me ama Yaidis?Os beijos passeiam ávidos pelo meu corpo. Minha respiração fica alterada.— Ah! — Gemi alto e sôfrego quando senti o orgasmo chegar com força para mim e abri os olhos encontrando o teto escuro.Espera, o teto escuro?Olhei para o lado e o encontrei sentado em uma pequena poltrona me olhando e a minha ficha caiu. Não foi um sonho, nós realmente fizemos. Olhei ao meu redor e constatei que ainda estávamos dentro da biblioteca. Me sentei no sofá e percebi o seu terno cobrindo o meu corpo.— Você estava com frio. — Ele falou, como se quisesse se justificar, mas eu o ignorei.— Que horas são? — Ele deu de ombros.— Sete, oito. Vai saber? — Me levantei do sofá e lhe devolvi o terno.— Obrigada! — David também se levantou e segurou o objeto. Seus olhos estavam fixos em mim. Tentei me afastar, mas ele segurou o meu braço e eu o olhei.— Ainda não termina
Yaides— Obrigada! — falei no mesmo tom. Ele encostou a sua testa na minha e depois me beijou calidamente. Deus isso parece um sonho. Pensei me sentindo envolvida por seus braços em seguida.— Tive uma ideia. O encontro da turma de 80 será em dois dias. Vem comigo.— Você sabe que eu não posso.— Por que não? Por causa da Maya? Você sabe que ela pode ficar na casa dos meus pais, não é? Todos lá a amaram. — Ergui os meus olhos para seu último comentário e me afastei um pouco.— Você levou a Maya a casa dos seus pais? — Ele me abriu um sorriso grande e lindo.— Claro que a levei.— Aí meu Deus! — falei completamente estarrecida e ele rio alto, depois segurou o meu rosto e beijou-me calidamente. Se ele soubesse o quanto esse simples gesto meche comigo.— Como eu estava dizendo, podemos ir juntos a esse encontro e renovar a nossa aliança lá — sussurrou perto da minha boca, deixando mais um beijo lá. Respirei fundo e me afastei só um pouco para olhá-lo nos olhos. — O que foi?— Tem mais um
YaidesEstamos perto do Dia dos Namorados e eu amo essa data! É a data que a livraria rende mais e que me mantém ocupada por um bom tempo. Nesse horário a Maya está no colégio e quando ela sair de lá, já tem um compromisso com as novas tias e isso quer dizer que eu terei o meu dia livre para trabalhar com atenção redobrada. Satisfeita, vou até a porta, viro a placa com o nome fechado para aberto e giro a chave na fechadura para iniciar o meu dia. Enquanto a clientela não chega decido ir arrumar o novo estoque de livros nas prateleiras.Abrir uma livraria não foi exatamente uma ideia minha. Isso aqui era o sonho da minha mãe. Sorrio ao me lembrar disso.Quando tínhamos uma vida financeira instável, ela tinha uma livraria em um dos bairros mais nobres do Rio, mas tivemos que vende-la para adquirir dinheiro para uma nova moradia, ou ficaríamos na rua. Com a venda de outros imóveis pudemos investir nesse lugar, que antes era apenas uma farmácia e tivemos que fazer uma pequena reforma tamb