David
Duda e Caio tiveram um namoro que durou quase um ano. Naquela época o cara era um bom moço, comportando e acreditem ou não, era do tipo que levava flores para ela. Entretanto, desde que o namoro acabou, Caio caiu literalmente de cabeça nas farras e no meio das pernas da mulherada.
Assim que entro na enorme e bem iluminada sala de visitas, decorada com o requinte de uma rainha, encontro praticamente toda a família e assim que ponho os meus pés no cômodo, sou abraçado por todos eles, e no final, recebo um forte abraço do meu tio Luís Renato Alcântara e depois do meu pai e do meu tio Marcos Albuquerque. Esses três me ensinaram muita coisa sobre empreendimentos e se hoje me tornei um grande empresário, foi graças a eles também.
— Como você está, filho? — Meu coroa pergunta, segurando firme os meus ombros e me olha nos olhos.
— Estou bem! — respondi com um tom de desdém, porque não quero que perceba que estou frágil, ou que de alguma forma me sinta abalado. Kevin me sorrir orgulhoso e tira do bolso traseiro da calça social um jornal enrolado. Ele o abre e me mostra uma manchete.
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Abro o maior sorriso que posso, quando percebo um brilho orgulhoso em seus olhos.
— Parabéns, meu filho! Mas, me conta, como andam as coisas em Massachusetts? E o coração, como está? — Ele me puxa para um canto onde os homens estão reunidos e eu me aprofundo nos assuntos da empresa, pois não estou preparado para me abrir sobre os problemas do coração.
***
— Bom dia! — Escuto o som animado da voz da minha mãe e em seguida um forte flash de luz invade o meu quarto. Contrariado, resmungo qualquer coisa e levo um travesseiro para o meu rosto.
— Que horas são?
— Já passam das dez da manhã. — Ela diz animada demais. Ergo um pouco o travesseiro e encontro um par de olhos azuis me encarando com diversão.
— Está me dizendo que apaguei por quase vinte horas? — rosno exasperado, mas ri do meu desespero.
— É normal, filho. São os efeitos do fuso horário. Está pronto? — pergunta em seguida. Uno as sobrancelhas em confusão.
— Pronto para quê? — Sento-me na cama, mantendo os lençóis em minha cintura, pois estou usando apenas uma cueca box.
— Nós vamos sair um pouco, David.
— A doutora Lilian Alcântara não vai trabalhar hoje? — ralho, saindo da cama, puxando os lençóis junto comigo.
— Está brincando? Faz sete anos que não vejo o meu filho! Tirei o dia de folga para curtir o meu filhote.
— Mãe?! — A repreendo, mas ela simplesmente dá de ombros e me abraça por trás.
— Sem reclamações, filho. Quero passar esse dia com você. — Ela beija carinhosamente as minhas costas e se afasta. — Tome um banho e coma algo. Estarei te esperando lá embaixo — avisou e sai do quarto. Respiro fundo e fito a pequena bandeja de inox, largada em cima de uma mesinha, perto de uma janela. Um pequeno bule de porcelana branca, provavelmente com leite quente, uma xícara de café preto, algumas torradas frescas, um pequeno pote com requeijão e uma pequena banda de mamão.
Ela não muda nunca. Penso, abrindo um sorriso e vou para o banheiro.
Minutos depois, estou descendo as escadas e me preparo para um dia de compras e de muita conversa com a dona Lilian. Com certeza ela vai tentar arrancar algumas coisas de mim. Conheço bem a minha mãe e não é à toa que ela é a melhor psicóloga desse país. Embora muitas pessoas usem o termo "CASA DE FERRO, ESPETO DE PAU", isso não inclui a Senhora Lacerda. Lilian sempre cuidou BEM dos filhos em todos os sentidos que a medicina lhe permitiu e como eu e a Duda somos adotados, ela sempre teve cuidado com o nosso lado emocional.
— David? — Dominik, minha irmã caçula fala assim que entra na sala, saltando literalmente em meu pescoço. Seguro firme a sua cintura, colando o seu corpo ao meu e a giro no meio da sala, ouvindo o som gostoso da sua risada.
— Nossa, como você cresceu! — retruco, colocando-a de volta no chão e beijo várias vezes o seu rosto. Recentemente minha irmã fez dezenove anos e confesso que ela se tornou uma linda mulher.
— Eu cresci, e você nem estava aqui como prometeu — cobra, segurando o meu rosto entre suas mãos e olha em meus olhos, perdendo seu lindo sorriso de repente. — Não vejo aquela alegria em seus olhos — comenta com um tom baixo demais. Tento manter o meu sorriso intacto, seguro as suas mãos e beijo cada palma demoradamente.
— Que besteira é essa, Nick? É claro que estou feliz! — Sorrio ainda mais, porém, ela dá de ombros.
— Me leva para o cursinho hoje? — pede com empolgação na voz.
— Hum, pensei que tivesse de carro novo — resmungo. Ela dá de ombros outra vez, abrindo um sorriso presunçoso.
— E estou, mas não é todo dia que o meu irmão mais velho está em casa — ralha e rio do seu comentário. Volto a abraçá-la, fazendo algumas cócegas nela. Nick ri e se contorce em meus braços.
— Para seu maluco, eu não sou mais a sua criancinha, sabia? — Protesta ainda rindo sonoramente e consegue fugir dos meus braços. Ela se recompõe e pegar o seu material que está em cima da mesinha de centro.
— Eu te deixo no cursinho, querida. Até porque o seu irmão e eu vamos sair. — Mamãe informa, entrando na sala com uma bolsa de grife apoiada em seu ombro.
— Help! — peço para a minha irmã sem emitir som, juntando minhas mãos diante dela. A danada apenas ri, levando uma mão a boca. Mamãe me dá um tapa na nuca e eu gemo um ai, rindo da sua atitude em seguida.
***
Algumas horas depois...
Quase um dia inteiro dirigindo para minha mãe e ouvindo-a contar as histórias divertidas sobre o seu dia a dia no trabalho e os encontros com suas amigas. Não vou mentir, senti muita falta disso também! Em nossa família temos o hábito de falar sobre o nosso dia a dia e pelo jeito isso não mudou com o tempo. Após passarmos algumas horas dentro de um shopping, entrando e saindo das lojas, saímos para tomarmos um chá da tarde com alguns biscoitos que a minha mãe adora, em uma das cafeterias mais conceituadas aqui na cidade do Rio de Janeiro. E quando já é final de tarde e dona Lilian finalmente se cansa de fazer compras, resolvemos entrar no carro e ir para casa. Em algum momento quando paro o carro no sinal vermelho, ela me j**a uma pergunta que eu não esperava.
— Quando vai me falar sobre ela, filho? — Lanço lhe um olhar confuso.
— Do que está falando, dona Lilian° — Ela respira fundo, sorri de boca fechada e acaricia os meus cabelos.
— Acredito que ainda não esteja pronto, mas quando tiver, espero que me procure para conversarmos. Adoraria lhe aconselhá-lo. — Sem dizer uma palavra, apenas viro o meu rosto e olho pela janela do carro. Os meus olhos param fixos em um casal que está na calçada, do outro lado da rua, segurando as mãos de uma menina, usando um casaco cor de rosa com capuz da mesma cor, cobrindo a sua cabeça. Engulo em seco quando percebo que se trata de Yaidis e Júlio. Meu maior medo acabou de tornar-se realidade. Eles realmente se casaram e construíram uma família.
— David? — Desperto ao ouvir a minha mãe me chamar e respiro fundo antes de olhá-la.
— O que foi? — questiono aturdido.
— O sinal já abriu, filho. — Só então percebo as buzinas irritantes atrás de mim. Dei partida no carro, mas antes de sair dali, volto o meu olhar para a calçada, porém, eles já não estão mais lá.
David — Mais uma David. — Carlos, um antigo amigo de farras disse enchendo mais um copo de uísque. Estamos em um clube noturno, onde meu pai é um dos sócios. Caio e alguns amigos que vieram juntos e já tem algum tempo que eles sumiram na pista de dança lotada. Já é quase uma da madrugada e a minha cabeça não para de girar e eu não sei dizer se é por conta da bebida, do som alto demais ou por conta da visão de mais cedo. O fato é que quando eu cheguei na casa dos meus pais, liguei para todos, combinando uma noitada. Eu precisava apagar aquela imagem, afogá-la em uma garrafa de uísque e depois levar uma garota qualquer para um motel e transar com ela até perder a consciência. — Vem dançar David. — Luana, uma garota que acabei de conhecer pediu, praticamente se jogando em cima de mim. Esvaziei mais um copo e segurei a sua mão, a levando para a pista aperta. A música tinha um ritmo dançante, mas a garota se encostou no meu corpo, envolveu o meu pescoço e começou a se esfregar de uma fo
David Ela perguntou ao sair do carro. — Claro! Vão na frente, eu entro já — pedi porque precisava respirar um pouco e quando as três mulheres entraram na loja, deixei a minha cabeça pender para trás, encontrando o conforto do encosto do banco. Respirei fundo e olhei para a fachada simples do prédio para depois sair do carro e caminhei para na direção da enorme, porém, antiga porta de madeira que tinha alguns vidros quadrados, separados por finas vigas de madeira envernizadas. Levei uma mão para o trinco e ao abri-la um sino tocou avisando a minha presença. Entrei na loja, observando algumas prateleiras algumas estantes com alguns livros arrumados de acordo com seus gêneros e lançamentos. Mais à frente tinha um balcão grande de fórmica branca e de vidros transparentes que continha alguns materiais de papelaria, canecas personalizadas, agendas e outros objetos. Em cima dele tinha uma caixa registradora antiga. Respirei fundo outra vez e olhei para os lados a procura das minhas garotas
Yaides Olhei através do vidro da vitrine assim que a Senhora Lilian e suas filhas saíram da loja e pude vê-lo dentro do carro, sentado no banco do motorista, com a porta aberta. Já fazia tanto tempo, mas eu ainda conseguia ver o quanto ele estava afetado em me ver na sua frente. Comigo não foi diferente. Eu não esperava vê-lo nunca mais na minha vida e saber que ele era o filho de uma das minhas melhores clientes, só piorou a situação. — Yaidis, estou indo buscar a Maya. Quer que eu traga alguma coisa para o jantar? — A voz de Júlio me fez saltar e afastar-me da vitrine. Ele me lançou um olhar estranho e suspirou baixinho. — Está tudo bem, você parece nervosa — disse. Me afastei ainda mais da vitrine e forcei um sorriso pra ele. — Está. — Ele assentiu, mas não me pareceu convencido. — Tem certeza? — Júlio se aproximou de mim, segurou uma mão minha e me olhou especulativo. — Você está gelada, Yaidis. — Puxei a minha mão da sua e me afastei para ir até o balcão. — Deve ser o excess
Yaides — Tá bom. — Maya saiu correndo para dentro do corredor, que separa a loja da nossa casa e eu olhei para Júlio, que ainda estava parado no meio do salão, me olhando como se quisesse me perguntar algo. — Obrigada por ir buscá-la! — Você sabe que não precisa me agradecer. Sou louco por ela e eu faço tudo por você. — Forcei um sorriso para o meu amigo. — Eu sei e sempre serei grata por tudo. — Ele respira fundo e caminha para perto de mim. — Soube que o David está na cidade. Você o viu? — Engoli em seco. — Sim. — Ele meneou a cabeça, fazendo um sim lento e parecia desapontado. — E, pretendia me contar isso? — Júlio, eu... — Deixa, não precisa explicar. — Me interrompeu e eu puxei a respiração. — Só quero que pense direto, Yaidis. Foi ele quem te deixou para trás. Durante todos esses anos ele se quer ligou para saber de você. Você seria uma estúpida se voltasse pra ele. — Limpei a garganta incomodada com esse assunto e decidi acabar logo com essa conversa. — É melhor você ir
David Entrei no meu carro puto da vida e antes de arrancar dali esmurrei com força o volante, e chorei feito um menino tolo, inclinando a minha cabeça sobre ele. Porra, ela estava ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim e o fato de ter que manter-me afastado dela quase me enlouqueceu. Ela o estava protegendo, quando eu mais precisava da proteção dos seus braços. Dirigi pela cidade, por um longo tempo, até que a minha cabeça esfriasse e eu pudesse voltar para casa. Já era bem tarde quando entrei em uma casa silenciosa e semiescura e fui para o meu quarto, tirei as roupas com uma urgência louca e entrei no banheiro, liguei o chuveiro e entrei debaixo da água gelada da madrugada. Preciso que você vá embora. Suas palavras se repetiam dentro da minha cabeça como um eco irritante. Yaidis parecia estar com medo. Ela me queria longe dali e queria logo. É claro, o Júlio podia chegar a qualquer momento e me pegar lá com ela de um jeito que não teria mais volta, pois eu juro que já
David — Eu não fiz. Você conhece bem essa história. Depois daquela mentira absurda que nos separou, eu fui praticamente um babaca com a Lilian. Mas quando se abriu uma pequena brecha e eu pude senti-la em mim outra vez, fiquei determinado a lutar e reconquistá-la e foi isso que eu fiz. Respirei fundo e esvaziei o meu copo. — Porque não se abre comigo, filho? — pediu. Eu pensei e não vi outra saída. — Tem uma garota. Eu a amo desde que me entendo por gente e nós, ficamos juntos dias antes de eu ir para os Estados Unidos. — E? — Ela está com um cara, o homem que um dia foi o melhor amigo nos tempos do colegial e parece que eles têm uma filha juntos. — E ela gosta dele? — indagou. Dei de ombros e fui até o bar, me servir de mais uma dose. — Eu não sei, pai. — Não sabe? — Fiz não com a cabeça. — Quando estávamos juntos, nós fizemos algumas declarações e promessas. Mas agora eu não sei o que pensar. A verdade é que eu fui um idiota com ela ontem e eu a acusei de ser interesseira.
Yaides — Eu vou querer esses três aqui. — A moça disse, colocando os três livros em cima do balcão. Satisfeita, eu fiz o cálculo da sua compra, pus os livros em uma sacola, que tem a logomarca da loja e depois de passar o seu cartão, entreguei-lhe. A moça saiu sorridente. Então vi um homem alto, usando sobretudo, perto de uma das estantes de livros para executivos e do outro lado havia uma jovem olhando a sessão de fantasias e ficção. Eu percebi que em poucos dias havia um movimento diferente na loja e sorri. Eu nunca havia vendido tantos livros como nesses últimos dias. Fui até a garota, mostrei-lhe alguns clássicos do gênero que ela escolhera e além de três livros, ela ainda levou mais dois de mistério e quando ela saiu da loja, observei que o homem ainda estava parado na mesma sessão. — Posso ajudá-lo em alguma coisa? — perguntei solicita, aproximando-me dele. Ele se virou para mim, me mostrando um dos livros de Alfredo Bryce. Surpresa, me afastei imediatamente e o questionei. —
Yaides — Mamãe, quem é esse homem? — O som da voz infantil fez-me afastar rapidamente dos seus braços. David estava ofegante, mas os seus olhos estavam fixos na garotinha loira, com o rostinho amassado de sono, os cabelos malamanhados e usando um pijama de flanela, em pé na nossa frente. Ele me lançou um olhar confuso e eu estava completamente sem chão. — Oi garotinha, como você se chama? — indagou com um som meigo na voz e um sorriso doce, se ajoelhando diante da minha menina. Eu tentei puxar a respiração, mas não consegui, simplesmente não conseguia respirar diante dessa situação. Maya olhou para mim, como se me pedisse permissão para falar e eu assenti sutilmente. — Meu nome é Maya e você, quem é? — Ele sorriu, ajeitando alguns cachos loiros da menina que estavam bagunçados. — Eu sou o David, eu sou... — Ele me olhou e o meu coração parou bruscamente. — Um amigo da sua mãe. — Alívio, Deus ele mentiu, por quê? Por mim? Por ela? — Filha sobe, a mamãe vai já. — Mas eu estou com f