David — Eu não fiz. Você conhece bem essa história. Depois daquela mentira absurda que nos separou, eu fui praticamente um babaca com a Lilian. Mas quando se abriu uma pequena brecha e eu pude senti-la em mim outra vez, fiquei determinado a lutar e reconquistá-la e foi isso que eu fiz. Respirei fundo e esvaziei o meu copo. — Porque não se abre comigo, filho? — pediu. Eu pensei e não vi outra saída. — Tem uma garota. Eu a amo desde que me entendo por gente e nós, ficamos juntos dias antes de eu ir para os Estados Unidos. — E? — Ela está com um cara, o homem que um dia foi o melhor amigo nos tempos do colegial e parece que eles têm uma filha juntos. — E ela gosta dele? — indagou. Dei de ombros e fui até o bar, me servir de mais uma dose. — Eu não sei, pai. — Não sabe? — Fiz não com a cabeça. — Quando estávamos juntos, nós fizemos algumas declarações e promessas. Mas agora eu não sei o que pensar. A verdade é que eu fui um idiota com ela ontem e eu a acusei de ser interesseira.
Yaides — Eu vou querer esses três aqui. — A moça disse, colocando os três livros em cima do balcão. Satisfeita, eu fiz o cálculo da sua compra, pus os livros em uma sacola, que tem a logomarca da loja e depois de passar o seu cartão, entreguei-lhe. A moça saiu sorridente. Então vi um homem alto, usando sobretudo, perto de uma das estantes de livros para executivos e do outro lado havia uma jovem olhando a sessão de fantasias e ficção. Eu percebi que em poucos dias havia um movimento diferente na loja e sorri. Eu nunca havia vendido tantos livros como nesses últimos dias. Fui até a garota, mostrei-lhe alguns clássicos do gênero que ela escolhera e além de três livros, ela ainda levou mais dois de mistério e quando ela saiu da loja, observei que o homem ainda estava parado na mesma sessão. — Posso ajudá-lo em alguma coisa? — perguntei solicita, aproximando-me dele. Ele se virou para mim, me mostrando um dos livros de Alfredo Bryce. Surpresa, me afastei imediatamente e o questionei. —
Yaides — Mamãe, quem é esse homem? — O som da voz infantil fez-me afastar rapidamente dos seus braços. David estava ofegante, mas os seus olhos estavam fixos na garotinha loira, com o rostinho amassado de sono, os cabelos malamanhados e usando um pijama de flanela, em pé na nossa frente. Ele me lançou um olhar confuso e eu estava completamente sem chão. — Oi garotinha, como você se chama? — indagou com um som meigo na voz e um sorriso doce, se ajoelhando diante da minha menina. Eu tentei puxar a respiração, mas não consegui, simplesmente não conseguia respirar diante dessa situação. Maya olhou para mim, como se me pedisse permissão para falar e eu assenti sutilmente. — Meu nome é Maya e você, quem é? — Ele sorriu, ajeitando alguns cachos loiros da menina que estavam bagunçados. — Eu sou o David, eu sou... — Ele me olhou e o meu coração parou bruscamente. — Um amigo da sua mãe. — Alívio, Deus ele mentiu, por quê? Por mim? Por ela? — Filha sobe, a mamãe vai já. — Mas eu estou com f
David — Mais uma, por favor! Pedi para o garçom, erguendo o meu copo vazio e enquanto aguardava a minha bebida, meus pensamentos me levaram para a garotinha, entrando no salão da livraria e a chamando de mãe. Uma filha. Nem mesmo nos meus sonhos, conseguiria imaginar isso para mim. A menina tem tudo de mim; o mesmo tom da pele, dos cabelos e dos olhos. Não tinha como eu me enganar com as minhas próprias conclusões. Agora está explicado o fato de Yaidis sempre ter pressa de me tirar de lá. O tempo todo eu achei que era por causa dele. Mas não, a m*****a estava escondendo a minha própria filha de mim! O garçom pôs o copo cheio em cima do balcão e eu o peguei, sorvendo imediatamente metade do líquido que havia dentro dele e encarei o espelho, por trás das prateleiras de vidro transparente, a minha imagem. — Nossa, você não me parece nada bem. Eu me chamo Savana e você é o... — Uma linda e estonteante mulher disse sentando-se no banco ao meu lado. — Uma péssima companhia — respondi d
David Não sei como descrever a sensação de estar sentado ao lado dela. É estranho ter uma criança sentada no banco do carona, agarrada a sua mochila cor de rosa. Ela está séria e o tempo todo olha pela janela do carro. Eu simplesmente não sei como agir com ela e nem o que dizer pra ela e por esse motivo, estamos em um completo silêncio. Maya é uma criança aparentemente esperta e de alguma forma eu sei que ela não é tímida. Talvez esteja com raiva, por eu ter obrigado a sua mãe a deixá-la vir comigo, ou talvez só esteja apenas analisando essa situação inusitada. Não dá pra saber o que se passa em sua cabecinha. — Gosta de barcos? — Arrisquei uma pergunta. Ela não me olhou. Seus olhos continuaram fixos na janela. — Tanto faz — disse séria demais. Eu só consegui encarar a estrada, soltando o ar com força e me concentrei. Sabia que não seria tão fácil assim, mas isso está ficando ridículo. Parei o carro em um estacionamento privativo e quando ela saiu, agarrada a sua mochila, a garoti
David — Posso te fazer uma pergunta? — indagou assim que estacionei o carro em frente a livraria. Eu olhei para a garotinha, que já não tinha mais aquele rosto tão sério e confirmei com a cabeça. — Por que você não me quis? — E quem disse que eu não te quis? — Ela deu de ombros. — Ninguém, mas sete anos é muito tempo pra você vir me procurar. — Maya, o que eu posso te dizer nesse momento é que, eu não sabia da sua existência. Mas se você quiser mais respostas além disso, terá que perguntar para sua mãe. — Ela fez um sim com a cabeça e levou a mão a porta para abri-la. — Ei, calma aí! Será que eu não mereço um beijo, ou pelo menos um obrigado pelo dia de hoje? — Cobrei com humor e ela sorrio de boca fechada. — Obrigada, David! — Espera, eu vou te deixar na loja. — Sai do carro e segurei a sua mão, quando ela parou ao meu lado na calçada e depois entramos na loja juntos. Assim que viu sua mãe, Maya soltou a minha mão e correu animada para os seus braços. Ela falava tudo ao mesmo te
David — Porque me trouxe aqui, David? — questionou-me. Dei de ombros. — Você não sente curiosidade de conhecer o seu outro lado da família? — Maya fez não com a cabeça e suspirou baixinho. — Por que não? — E se eles não gostarem de mim? Quero dizer, você nem sabia da minha existência até poucos dias atrás e provavelmente, eles também não sabem. E se eles não me quiserem? — Abri a porta do carro e me agachei ao seu lado. — Quer saber? Eu acho impossível alguém não gostar de você. Você é uma garotinha linda, é alegre, inteligente. — Posso dizer uma coisa? Você é péssimo em convencer alguém a fazer qualquer coisa. Mas a minha mãe me ensinou que eu preciso ser uma pessoa forte e não me deixar abalar pelos meus medos e receios. Que se eu quiser vencer na vida, terei que ser destemida e determinada. — Soltei um assobio apreciativo. — Sua mãe te ensinou tudo isso? — Ela fez sim com a cabeça e eu me afastei para que ela saísse do carro. Não vou mentir. Eu não sei o que a minha família v
David — Não sei se cabe tudo isso no meu quarto. — Minha filha ralhou olhando as enumeras sacolas dentro de carro e eu ri. — Se não der a gente amplia o seu quarto. — Escutei o som da sua risada e me senti aquecido. Passamos o dia inteiro andando pela cidade, paramos em vários pontos turísticos e depois do almoço fomos para o shopping e não conseguimos parar de fazer compras. Maya se encantava com tudo que via e quando nos damos conta, havia dezenas de sacolas. Agora estou indo levá-la para a sua casa. Estacionei o carro em frente a livraria como sempre e ela praticamente saltou para fora dele, abrindo a porta de trás com empolgação e começou a tirar de lá algumas sacolas. Eu a ajudei tirando a maior parte de lá, fechando o carro em seguida com dificuldade. Maya abriu a porta da loja, que já tinha o a placa com o nome fechado e nós encontramos a sua mãe andando de um lado para o outro, como se estivesse preocupada com algo. Minha menina largou as sacolas no chão e correu para os seu