David Entrei no meu carro puto da vida e antes de arrancar dali esmurrei com força o volante, e chorei feito um menino tolo, inclinando a minha cabeça sobre ele. Porra, ela estava ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim e o fato de ter que manter-me afastado dela quase me enlouqueceu. Ela o estava protegendo, quando eu mais precisava da proteção dos seus braços. Dirigi pela cidade, por um longo tempo, até que a minha cabeça esfriasse e eu pudesse voltar para casa. Já era bem tarde quando entrei em uma casa silenciosa e semiescura e fui para o meu quarto, tirei as roupas com uma urgência louca e entrei no banheiro, liguei o chuveiro e entrei debaixo da água gelada da madrugada. Preciso que você vá embora. Suas palavras se repetiam dentro da minha cabeça como um eco irritante. Yaidis parecia estar com medo. Ela me queria longe dali e queria logo. É claro, o Júlio podia chegar a qualquer momento e me pegar lá com ela de um jeito que não teria mais volta, pois eu juro que já
David — Eu não fiz. Você conhece bem essa história. Depois daquela mentira absurda que nos separou, eu fui praticamente um babaca com a Lilian. Mas quando se abriu uma pequena brecha e eu pude senti-la em mim outra vez, fiquei determinado a lutar e reconquistá-la e foi isso que eu fiz. Respirei fundo e esvaziei o meu copo. — Porque não se abre comigo, filho? — pediu. Eu pensei e não vi outra saída. — Tem uma garota. Eu a amo desde que me entendo por gente e nós, ficamos juntos dias antes de eu ir para os Estados Unidos. — E? — Ela está com um cara, o homem que um dia foi o melhor amigo nos tempos do colegial e parece que eles têm uma filha juntos. — E ela gosta dele? — indagou. Dei de ombros e fui até o bar, me servir de mais uma dose. — Eu não sei, pai. — Não sabe? — Fiz não com a cabeça. — Quando estávamos juntos, nós fizemos algumas declarações e promessas. Mas agora eu não sei o que pensar. A verdade é que eu fui um idiota com ela ontem e eu a acusei de ser interesseira.
Yaides — Eu vou querer esses três aqui. — A moça disse, colocando os três livros em cima do balcão. Satisfeita, eu fiz o cálculo da sua compra, pus os livros em uma sacola, que tem a logomarca da loja e depois de passar o seu cartão, entreguei-lhe. A moça saiu sorridente. Então vi um homem alto, usando sobretudo, perto de uma das estantes de livros para executivos e do outro lado havia uma jovem olhando a sessão de fantasias e ficção. Eu percebi que em poucos dias havia um movimento diferente na loja e sorri. Eu nunca havia vendido tantos livros como nesses últimos dias. Fui até a garota, mostrei-lhe alguns clássicos do gênero que ela escolhera e além de três livros, ela ainda levou mais dois de mistério e quando ela saiu da loja, observei que o homem ainda estava parado na mesma sessão. — Posso ajudá-lo em alguma coisa? — perguntei solicita, aproximando-me dele. Ele se virou para mim, me mostrando um dos livros de Alfredo Bryce. Surpresa, me afastei imediatamente e o questionei. —
Yaides — Mamãe, quem é esse homem? — O som da voz infantil fez-me afastar rapidamente dos seus braços. David estava ofegante, mas os seus olhos estavam fixos na garotinha loira, com o rostinho amassado de sono, os cabelos malamanhados e usando um pijama de flanela, em pé na nossa frente. Ele me lançou um olhar confuso e eu estava completamente sem chão. — Oi garotinha, como você se chama? — indagou com um som meigo na voz e um sorriso doce, se ajoelhando diante da minha menina. Eu tentei puxar a respiração, mas não consegui, simplesmente não conseguia respirar diante dessa situação. Maya olhou para mim, como se me pedisse permissão para falar e eu assenti sutilmente. — Meu nome é Maya e você, quem é? — Ele sorriu, ajeitando alguns cachos loiros da menina que estavam bagunçados. — Eu sou o David, eu sou... — Ele me olhou e o meu coração parou bruscamente. — Um amigo da sua mãe. — Alívio, Deus ele mentiu, por quê? Por mim? Por ela? — Filha sobe, a mamãe vai já. — Mas eu estou com f
David — Mais uma, por favor! Pedi para o garçom, erguendo o meu copo vazio e enquanto aguardava a minha bebida, meus pensamentos me levaram para a garotinha, entrando no salão da livraria e a chamando de mãe. Uma filha. Nem mesmo nos meus sonhos, conseguiria imaginar isso para mim. A menina tem tudo de mim; o mesmo tom da pele, dos cabelos e dos olhos. Não tinha como eu me enganar com as minhas próprias conclusões. Agora está explicado o fato de Yaidis sempre ter pressa de me tirar de lá. O tempo todo eu achei que era por causa dele. Mas não, a m*****a estava escondendo a minha própria filha de mim! O garçom pôs o copo cheio em cima do balcão e eu o peguei, sorvendo imediatamente metade do líquido que havia dentro dele e encarei o espelho, por trás das prateleiras de vidro transparente, a minha imagem. — Nossa, você não me parece nada bem. Eu me chamo Savana e você é o... — Uma linda e estonteante mulher disse sentando-se no banco ao meu lado. — Uma péssima companhia — respondi d
David Não sei como descrever a sensação de estar sentado ao lado dela. É estranho ter uma criança sentada no banco do carona, agarrada a sua mochila cor de rosa. Ela está séria e o tempo todo olha pela janela do carro. Eu simplesmente não sei como agir com ela e nem o que dizer pra ela e por esse motivo, estamos em um completo silêncio. Maya é uma criança aparentemente esperta e de alguma forma eu sei que ela não é tímida. Talvez esteja com raiva, por eu ter obrigado a sua mãe a deixá-la vir comigo, ou talvez só esteja apenas analisando essa situação inusitada. Não dá pra saber o que se passa em sua cabecinha. — Gosta de barcos? — Arrisquei uma pergunta. Ela não me olhou. Seus olhos continuaram fixos na janela. — Tanto faz — disse séria demais. Eu só consegui encarar a estrada, soltando o ar com força e me concentrei. Sabia que não seria tão fácil assim, mas isso está ficando ridículo. Parei o carro em um estacionamento privativo e quando ela saiu, agarrada a sua mochila, a garoti
David — Posso te fazer uma pergunta? — indagou assim que estacionei o carro em frente a livraria. Eu olhei para a garotinha, que já não tinha mais aquele rosto tão sério e confirmei com a cabeça. — Por que você não me quis? — E quem disse que eu não te quis? — Ela deu de ombros. — Ninguém, mas sete anos é muito tempo pra você vir me procurar. — Maya, o que eu posso te dizer nesse momento é que, eu não sabia da sua existência. Mas se você quiser mais respostas além disso, terá que perguntar para sua mãe. — Ela fez um sim com a cabeça e levou a mão a porta para abri-la. — Ei, calma aí! Será que eu não mereço um beijo, ou pelo menos um obrigado pelo dia de hoje? — Cobrei com humor e ela sorrio de boca fechada. — Obrigada, David! — Espera, eu vou te deixar na loja. — Sai do carro e segurei a sua mão, quando ela parou ao meu lado na calçada e depois entramos na loja juntos. Assim que viu sua mãe, Maya soltou a minha mão e correu animada para os seus braços. Ela falava tudo ao mesmo te
David — Porque me trouxe aqui, David? — questionou-me. Dei de ombros. — Você não sente curiosidade de conhecer o seu outro lado da família? — Maya fez não com a cabeça e suspirou baixinho. — Por que não? — E se eles não gostarem de mim? Quero dizer, você nem sabia da minha existência até poucos dias atrás e provavelmente, eles também não sabem. E se eles não me quiserem? — Abri a porta do carro e me agachei ao seu lado. — Quer saber? Eu acho impossível alguém não gostar de você. Você é uma garotinha linda, é alegre, inteligente. — Posso dizer uma coisa? Você é péssimo em convencer alguém a fazer qualquer coisa. Mas a minha mãe me ensinou que eu preciso ser uma pessoa forte e não me deixar abalar pelos meus medos e receios. Que se eu quiser vencer na vida, terei que ser destemida e determinada. — Soltei um assobio apreciativo. — Sua mãe te ensinou tudo isso? — Ela fez sim com a cabeça e eu me afastei para que ela saísse do carro. Não vou mentir. Eu não sei o que a minha família v