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Capítulo 8 - Ele não está garantindo seu perdão
Deirdre congelou. Ela mal havia se recuperado do choque, quando alguém deu um passo à frente, agarrou seu tornozelo e começou a arrastá-la pelo chão.

― O que você está fazendo?! Pare! Nããão! ― seus gritos caíram em ouvidos surdos. A líder respondeu com seu próprio grito irado:

― Essa cria de demônio, dentro de você, com certeza não sabe quando desistir! Ele sabe que já se passaram dois meses? Já deveria ter descido pelo ralo, há muito tempo. Verme teimoso. Nesse ritmo, teremos que fazer seu aborto, nós mesmas, e isso é uma merda! ―

Os olhos de Deirdre se arregalaram. Ela se desvencilhou do aperto da mulher e caiu de joelhos, com as mãos entrelaçadas:

― Eu imploro, por favor, poupe meu filho! Ele é inocente! ―

― Mas, você não é, né? ― veio a resposta arrepiante ― seu pecado, vadia, foi ter desagradado o Brighthall. É isso! Que pecado mais horrível... honestamente, estamos apenas entregando sua punição! Deus, você não tem ideia do quanto ele a quer morta e deseja, mais do que tudo, que essa criatura indesejada que você carrega, desapareça! Por isso, me desculpe, querida. Mas, é hora da sua operação! ―

O resto do grupo a agarrou, prendendo braços e pernas, para que Deirdre não conseguisse reagir e a mulher ficou tão chocada com a certeza de que seu bebê seria tirado de dentro dela que desabou em lágrimas, soluçando:

― Não foi isso que ele prometeu! Não foi isso que ele disse! Ele disse que eu poderia ficar com a criança! Ele disse que faria com que eu sobrevivesse! ―

Mas, com um lampejo, ela entendeu tudo. Todo o tormento e atribulações, assim como a grotesca negligência dos guardas, faziam sentido. Quem mais tinha dinheiro e status para anular os direitos legais de um indivíduo? Quem mais senão Brendan Brighthall?! Mas, por quê? Por quê?!

Ela tinha feito a parte dela e assumido a pena de Charlene! Por que ele ainda não havia conseguido libertá-la? Ele a tinha enganado? Ele realmente a odiava tanto?!

― Deus, por queeeeeeê?! ― ela gritou, a plenos pulmões, sentindo como se fosse explodir em lágrimas e dor. Dor que queimava, arranhando suas entranhas, fazendo seu corpo explodir em uma fúria brutal. ―

Mesmo suas agressoras, acostumadas à violência, ficaram surpresas:

― Porra, coloquem ela no chão, suas idiotas! Segura ela direito! Precisamos fazer essa merda, antes que ela enlouqueça! ―

Com esforço, as detentas conseguiram dominar a loucura de Deirdre e a obrigaram a abrir a boca, puxando com força e tomando cuidado para não terem os dedos arrancados. Uma delas tirou algumas pílulas do bolso e jogou na boca de Deirdre.

Ela lutou, engasgando, para impedir que o comprimido descesse por sua garganta e as presidiárias tiveram dificuldade em mantê-la parada. Sem paciência, a líder achou que seria mais fácil, simplesmente, espancá-la mais uma vez e, sem dó, chutou a barriga de Deirdre, paralisando-a de dor e fazendo com que engolisse o comprimido.

― Ei! Você se lembra do que mais o Brighthall, falou? ― uma mulher de cabelos curtos, cujo papel era segurar o braço de Deirdre no lugar, começou a dizer, piscando para a líder ― ele falou que ela não merecia ter uma cara dessas. Que, se ela vai viver, ela deve viver com um rosto mais adequado à sua personalidade. Bem hediondo! Então, o que você acha de fazermos uma cirurgia plástica? ―

A líder sorriu, divertida. Então, enfiou a mão embaixo do travesseiro e tirou um grande caco de vidro:

― Claro! Claro! Como eu podia ter me esquecido ― ela concordou, exibindo os lábios em uma risada cruel ― ela é uma assassina, meninas! E uma assassina não deveria ter essa carinha! ―

Uma nova pontada de dor irrompeu na barriga de Deirdre tão profundamente que ela arqueou as costas instintivamente. Entretanto, antes que se recuperasse da cólica, uma dor nova e mais aguda surgiu, rasgando o rosto de Deirdre. As mulheres desenhavam em sua face, usando o caco de vidro como se fosse uma caneta e seu rosto uma tela sangrenta. O líquido quente e vermelho jorrava da obra-de-arte.

Deirdre cuspiu sangue nelas e a líder xingou, com raiva:

― Sua filha da puta nojenta! ― e, suas palavras foram seguidas por outro chute.

Deirdre não tinha ideia de onde vinha sua força, mas de alguma forma ela surgiu. Deirdre agarrou a mulher pela coxa e mordeu o braço de outra captora, fazendo esses movimentos com tanta força que uma caiu e a outra teve um pedaço de carne arrancado.

― Puta que pariu! Isso dói! Caralho ―

― Ahhh! ―

O sucesso do começo de sua revolta alimentou a raiva, já monstruosa, transformando-se em uma surra. Eram cinco contra uma e, mesmo assim, era a ‘uma’ quem desferia mais golpes. Entretanto, assim que o grupo se reorganizou, o jogo virou e, com raiva, as detentas a agrediam, esquecendo-se de qualquer cautela, até que Deirdre parou de se mover.

― Meninas? Ela está... morta? ― uma das mulheres disse.

As outras pararam, com medo. O pânico se infiltrando nelas até que toda adrenalina fosse embora e só restasse medo. O objetivo delas era arruinar o rosto de Deirdre e não a matar.

― Oh meu Deus! Ufa! Ela ainda está respirando! Deus, ela ainda está respirando! ― uma delas finalmente gritou, com a voz trêmula ― chame os malditos guardas! ―

"Isso dói.” O pensamento se materializou, assim que Deirdre ficou consciente. Seu corpo inteiro estava moído e pedia por analgésicos. A mulher abriu os olhos, sentindo-se perdida, e sentiu um cobertor sobre seu corpo. Então, instintivamente, colocou a mão na barriga e sentiu o universo congelar. Ela sabia que não tinha mais nada ali dentro.

― Deus, você está acordada? ― uma voz feminina e gentil veio de longe. ― você apagou por quatro dias! Você deve estar com sede, não é? Fique aí. Vou servir-lhe um copo de água! ―

Deirdre ouviu o som de água corrente:

― Obrigada... ―

― Não tem de quê, apenas beba. ―

Ela estendeu a mão e fez uma pausa. Erguendo a cabeça, ela disse:

― Está meio escuro aqui. Você pode, por favor, acender as luzes? Não sei dizer onde está o copo. ―

A médica estacou e encarou Deirdre, então, antes de responder, agitou a mão na frente dos olhos da mulher, cautelosamente.
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