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Capítulo 11 - Não pode ser ela
Brendan mantinha uma das mãos no bolso e suas sobrancelhas estavam bem franzidas. No entanto, ele disse em voz baixa, ao ouvir as queixas da mulher:

― Seu corpo é frágil e mesmo depois de um ano de tratamento, você não consegue se recuperar de suas crises de tontura. É evidente que ainda existe algo de errado. Embora este lugar seja minúsculo, o médico que o administra é altamente respeitável. Ele certamente será capaz de curá-la. ―

― Um médico competente, nesta pequena clínica? ― Charlene estava cheia de descrença, mas viu a expressão descontente de Brendan, com o canto do olho. Ela mordeu o lábio inferior se preparando para assumir uma expressão diferente, enquanto envolvia o braço forte do homem ― só me preocupo com a possibilidade de ser um vigarista e que você acabe desperdiçando seu tempo e dinheiro com isso. Sabe como eu me sinto culpada de dar tanto trabalho, especialmente sabendo que você é um homem tão ocupado. ―

― Não está desperdiçando nada ― o olhar de Brendan pousou no braço dela e o homem se sentiu inquieto ― sua saúde é mais importante do que qualquer outra coisa, e não vou deixar escapar a oportunidade de curá-la, mesmo que haja apenas 1% de sucesso. ―

Charlene corou:

— Você é muito bom para mim, Bren. ―

O casal entrou na clínica e, na recepção, o homem perguntou sobre o consultório de Sterling. Brendan recebeu as instruções e caminhava na direção indicada quando ouviu a voz de crianças chamando por um nome vagamente conhecido:

― Enfermeira Deirdre, eu quero subir no balanço! ―

Brendan não conseguiu ouvir claramente, porque estava longe, mas, inconscientemente, olhou para o quintal e viu a silhueta de uma mulher que o deixou completamente atordoado.

"Deirdre? Isso não pode estar certo!" Chocado, Brendan balançou a cabeça, achando que sua mente lhe pregava peças. "Ela não está aqui. Deirdre fugiu para outro país, levando a criança, há muito tempo. Além disso, se ela tivesse voltado, estaria atrás de mim e não trabalhando em uma pequena clínica."

— O que está acontecendo com você? ― Charlene perguntou.

Brendan balançou a cabeça, sacudindo os pensamentos, mas o nome de Deirdre estava tão profundamente arraigado em sua mente que ele tinha problemas para parar de pensar no assunto. Mesmo assim, respondeu:

― Estou bem. ― Um momento depois, seu punho cerrado relaxou e ele concluiu ― Aqui estamos, vamos entrar. ―

Sterling verificou os sinais vitais de Charlene e rabiscou uma receita para medicação, fazendo orientações e indicando algumas medidas de precaução.

Sentado em uma cadeira, num dos cantos do consultório, Brendan mexia no vaso de plantas, Coral Bells, colocado em um canto. O vaso parecia bastante familiar para ele e, por isso, lembrou-se de que, quando Deirdre se casou com ele, ela não gostava de sair de casa. Era como se seu maior passatempo fosse passar o dia podando e mexendo nos Coral Bells da sala. Ela ria e dizia:

― Você sabe o que a Coral Bells simboliza? Um futuro brilhante, porque florescem com as cores mais bonitas nos dias mais frios. Você acha que nosso relacionamento será o mesmo? ―

― Essas plantas... ― Brendan puxou a gravata, com impaciência, e falou subitamente ― não são nada comuns. Por que você escolheu plantá-las, doutor Fuller? ―

Sterling virou a cabeça, na direção indicada. Sua expressão era severa, mas ele parecia estar sorrindo, quando olhou para as Coral Bells. Sua expressão se tornou afável e o médico pareceu estar emocionado, quando respondeu:

― Eu não entendo muito de plantas. Foi minha assistente quem plantou. ―

― Sua assistente? ― Sem motivo aparente, mas ainda incomodado pela impressão de ter ouvido o nome de Deirdre e com a silhueta da jovem que vira no quintal, perguntou, mais incisivo do que gostaria ― quem é ela? ―

Entretanto, antes que Sterling pudesse responder, a porta do escritório se abriu e Deirdre entrou, dizendo:

― Sterling, a corda do balanço do pátio se quebrou e as crianças quase se machucaram. Lembre-se de comprar uma corda resistente para substituí-la, depois do trabalho. ―

Enquanto falava, Deirdre sentiu um olhar escaldante sobre ela. Sentindo que o ambiente estava diferente do que deveria, um calafrio percorreu suas costas, enquanto ela olhava na direção de Brendan, perguntando:

― Tem algum paciente aqui? ―

Brendan tinha cerrado os punhos e estava furioso. No momento em que seu olhar encontrou o rosto de Deirdre, ele ficou perplexo, sentindo o sangue pulsando em suas têmporas.

O rosto da mulher estava coberto de cicatrizes profundas e quase não havia como reconhecer seus, antigamente belos, traços faciais. Sua face era uma máscara horrenda e seus olhos eram ainda piores. Nem mesmo uma leve fagulha de brilho era vista em seus olhos mortos. Suas pupilas pareciam cobertas por uma densa neblina.

Brendan ficou tão atordoado que não conseguia mexer o corpo.

— Essa é Deirdre? ―

"Não, claro que não! como poderia ser Deirdre!” A mulher que ele tinha na memória era linda e cheia de alegria, e deveria estar segurando uma criança de um ano. "Como ela se transformou nisso? Deve ser uma ilusão. Tem que ser!" Brendan se recusava a acreditar em seus olhos.

Apesar das ambições selvagens e descomedidas de fortuna que a mulher manifestava, Brendan sempre a protegeu, por mais que soubesse que não passava de uma interesseira. Como ela tinha se tornado bode expiatório de Charlene, uma pessoa tinha ficado à disposição para protegê-la e impedir que ela se prejudicasse... “Como ela acabou desfigurada e cega?"

A expressão de Brendan era fria como gelo, e então, consternado, ele saiu do local, batendo a porta, sob o olhar atento dos outros.
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