Riddick
— Vão! — Eu não entrei com eles, mesmo querendo fazer isso, por que existiam coisas muito complexas para se fazer, que só eu posso. Às vezes me arrependo de não ter passado esses conhecimentos que tenho. Mas eu sei por que não fiz isso. Não fiz, pois não achei a pessoa certa.
Estamos atrás de um contrabandista. Ele contrabandeava tudo que você possa imaginar. De drogas, a pessoas. Eu soube de uma fonte segura que ele estaria aqui, o chamam de Trayrom! Particularmente, acho isso uma cafonice, mas tudo bem. Não faço ideia do por que, apenas quero pegá-lo, e acabar com a raça desse desgraçado.
— Equipe diamante, podem entrar! — Falei pelo alto-falante da escuta. Eu tenho muitos homens que trabalham para mim, todos altamente treinados, por mim, é claro. Divido todos em equipes; são quatro ao total: Equipe prata, ouro, bronze e diamante.
— As escutas estão oks? — Perguntei apenas para confirmar. Eu não sei o que, mas sinto que algo não está bem, e pior que isso, está me inquietando.
— JJ, ok!
— Joan, ok!
— Victor, ok!
— Mara, ok!
Todos responderam o chamado, e se prepararam para entrar, eu fiquei na van, olhando pelas câmeras do capacete. JJ foi o primeiro a entrar, e analisou o perímetro e tudo estava limpo. Não deveria está assim. Tinha que pelo menos, ter um guarda, ou, dois para não ter suspeitas.
— John, está tudo limpo. Eu sinto que tem alguma coisa errada! — JJ falou com preocupação em sua voz. Eu tomei uma decisão que era para ter feito antes.
— Recuem todos, isso é uma ordem! — Falei autoritário e todos me responderam, menos Mara. Eu olhei na tela, onde ficava sua câmera, mas havia sido desligada.
— JJ cadê a Mara? — Perguntei, pensando no pior.
— Ela estava aqui até nesse instante. Espera! — Pediu, deixando-me mais aflito.
— O que foi? — Apertei meus punhos.
— Senhor, a casa está toda cheia de explosivos. — Eu senti pela voz dele, que a merda era das grandes.
— Saiam! — Tomei essa decisão, e foi a mais acertada.
— E a Mara? — Joan indagou.
— Saiam! — Repeti a ordem. Chamei Mara pela sua escuta, mas não houve retorno. Do nada sua câmera liga, me deixando em alerta. Eu a vi, cheia de sangue no rosto.
— Está vendo, comandante Riddick! — Uma voz desconhecida pronunciou. Quem será? E como sabe o meu nome?
— Você deve está se perguntando quem sou eu, e como sei o seu nome! — Ele falou debochando. Por acaso tem vidência, porra! Não conseguia ver seu rosto, mas de alguma forma, eu já sabia quem é.
— Trayrom! — Exclamei com asco.
— Bingo! — Proferiu rindo. Desgraçado. A minha vontade, é de ir até lá e destruir cada osso do corpo dele.
— Solte-a imediatamente! — Mandei, como sempre faço.
— Ou o quê? — Demandou troçando com a minha cara. Eu fiquei calado, esperando-o se manifestar. — Vocês invadem a minha casa, e ainda querem mandar em mim! Essa cadela vai morrer por sua causa Riddick. — Avisou enraivecido.
— Seu desgraçado, eu vou acabar com você!
— Shiii! Pare de ameaças vazias. — cuspiu no chão — Sabemos que você nunca vai me encontrar!
— É o que veremos!
— Adeus Riddick! — Apontou com a arma para Mara — Diga adeus a sua namoradinha também.
— Mara! — Gritei aflito.
— Me perdoe amor! — Foi o que ela disse, antes de ele atirar na cabeça dela a sangue frio. Quando me preparava para entrar no prédio, meus soldados estavam chegando e me impediram. Em poucos segundos o prédio explodiu, eu nem pude pegar o seu corpo.
— Eu sinto muito, senhor! — Todos falavam chocados. Olhavam-me com pena. Que porra de piedade! Eu não quero compadecimento de ninguém, droga. Eu só sentia ódio e, mas ódio. Eu vou matá-lo com minhas próprias mãos, acabarei com a raça desse desgraçado, não sei quando, mas, eu vou fazer isso, ou, não me chamo John Riddick.
Abla Dinis
Há tempo para tudo, tempo para todas as coisas. Mas por que eu sinto que tudo que eu fiz, não fez e não faz nenhum sentido? Passei o resto da minha juventude tentando provar que sou eficiente, que sou boa no que faço.
Com apenas dezesseis anos, larguei tudo e fui me alistar no exército brasileiro. Havia acabado de perder minha mãe, meu pai já estava morto há muito tempo. Digo isso, porque nunca o conheci, quer dizer, nem eu e nem minha irmã gêmea. Ela se chama Panyin Dinis, e eu me chamo Abla Dinis, temos 23 anos. Gêmeas univitelinas. Para quem não conhece, gêmeos univitelinos, são os que nascem da mesma placenta.
O fato do meu nome e o da minha irmã serem de origem africana, não significa que somos de lá. Temos esse nome graças a nossa falecida mãe, ela trabalhava com missões à África. Ela era apaixonada por esse povo maravilhoso. Lembro que uma vez, ela nos levou, nós duas, e ficamos assustadas pelo nível de pobreza, no entanto, encantadas pelo lugar. Eu fico muito puta quando vejo reportagens sobre a África que só mostram as misérias. As pessoas esquecem que existem muitos lugares lindos por lá. É igual aqui no Brasil, só que aqui é o contrário. Existem muitos lugares pavorosos, mas só mostram os melhores. Acho isso patético.
Meu nome significa “rosa selvagem”, perguntei uma vez a minha mãe por que esse nome, ela disse que eu nasci dando chutes, eu parei para imaginar a cena, e sempre que eu faço isso, eu começo a sorrir. O nome da minha irmã significa mais velha de gêmeos. Então vocês já sabem o porquê de ela se chamar assim, né? Quem falou por que ela nasceu primeiro, acertou em cheio.
Nunca fui descolada como ela; nunca fui de chamar a atenção do sexo oposto como ela fazia. Eu sempre vivi no meu canto, sonhando em um dia ser a melhor no que eu escolher fazer.
Ser irmã e ter uma irmã é muito bom, ainda mais se essa irmã for a sua gêmea. Ser gêmeo é nascer com seu melhor amigo, seu melhor confidente. Sempre fomos bastante unidas, contávamos sempre uma com a outra. Quando nós duas éramos mais jovens, ela sempre fez mais sucesso com os meninos. Seu corpo chamava bastante atenção, já eu, sempre fui gordinha. Eu perdi peso depois que entrei para o exército. Também quem não perderia? Treinava todos os dias sem parar, quanto mais doía, mais eu me exercitava. A dor é simplesmente a fraqueza saindo do corpo. Era o meu mantra de todos os dias.
Nós éramos muito unidas, mas como quaisquer irmãos, depois que nós crescemos, acabamos nos distanciando. Claro que não totalmente, eu acabei escolhendo o exército e ela desejou ficar e fazer um cursinho que hoje não lembro o nome.
Sempre quando eu podia, ligava para saber se ela estava bem, se precisava de algo. Mas por algum motivo, ela parou de atender meus telefonemas, e isso me magoou muito, me machucou demais, no entanto, eu não insisti mais. Foquei todos os meus esforços no exército. Com sete anos, conquistando o meu espaço, consegui alcançar um posto de oficial. Tenente-coronel. Essa é a patente militar de um oficial superior situada entre a de Major e a de Coronel. Nesse posto o militar pode receber o comando de um Batalhão. Na verdade, eu seria designada a um batalhão, só que eu não quis. Vocês devem está se perguntando por quê?
Tudo que sonhei, eu conquistei, claro com muito esforço. Mas hoje, eu percebi que nada daquilo valeu a pena. Eu me sentia vazia e não estava feliz. Com toda a dor do mundo, eu fui até o meu superior e pedi baixa. Foi uma luta, mas por fim, ele liberou.
Estou a caminho de casa, doida para ver a minha gêmula, é assim que a chamo carinhosamente. Acabei de descer do táxi, bati na porta, só que não houve nenhuma resposta. Estou com minha roupa do exército, então estou chamando bastante atenção, coisa que detesto.
— Pan! — Chamei novamente e nada. Estava quase chamando novamente quando fui impedida por uma vizinha.
— Ah! Você é a irmã de Panyin. — Não encarei como pergunta, pois ela notou a nossa semelhança. Mesmo assim, lhe respondi educadamente.
— Isso!
— Nossa! Vocês são muito parecidas. — Fez o que todos fazem quando veem gêmeos. Encarou curiosa e com um grande sorriso.
— Sorte a nossa! Sabe onde posso encontrá-la? — Eu não gostei da cara que ela fez. Oxe, eu sinto que há algo de errado.
— Eu sinto muito... — Tentou falar, mas lhe interrompi, nervosa.
— Por que sente muito? Onde está a minha irmã? — Há cacete, detesto quando enrolam ao falar comigo.
— Aqui a chave da casa, ela deixou na minha mão. — Deu de ombros — Ela... Está no hospital João Batista Caribé.
— Mas... — Olhei séria. — Por que ela está em uma maternidade?
Assim que fiz a pergunta, eu já sabia a resposta, mas a necessidade de ouvir alguém dizer falou mais alto.
— Sua irmã foi dar a luz. — Me olhava com pena. Porra, eu não quero pena, quero a minha irmãzinha, bem.
Abla Dinis— Quando ela foi? — Não me importei se a pergunta soou rude.— Ontem! — Respondeu calmamente. Meu coração estava apertado desde ontem, só que eu não sabia o porquê, até agora.— Agradeço pela informação. — Entrei correndo, tomei um banho rápido e me preparei para sair de novo. Ela não me disse que estava grávida, na verdade não nos comunicamos muito nesses sete anos separadas. Como é que ela falaria?Quando cheguei ao hospital, estava lotado. Não estranhei, afinal, o SUS no Brasil é uma miséria. Andei para cima e para baixo, para ter uma notícia da minha irmã e não foi fácil. As informações eram sempre contrárias, sempre diferentes.— Família de Panyin Dinis? — Ouvi gritarem.— Aqui! — Levantei a mão, eufórica, e corri para onde a mulher me chamou, estava um pouco longe.— Siga-me, o médico deseja falar com você! — Informou friamente, sem ao menos olhar em meus olhos. Achei uma falta de empatia da parte dela, afinal de contas, estou nervosa, e com muito medo que algo esteja
Dias atuais…RiddickQuatro anos haviam se passado, e nada foi feito. Sempre informações falsas chegavam até mim, só que ainda não desistir. Estou com 34 anos. Possuo as mesmas capacidades de combate, eu acho até que bem melhores. Treino todos os dias sem parar.Tenho as mesmas equipes trabalhando comigo, porém, o mais chegado a mim continua sendo JJ, ele ainda é o meu braço direito e meu melhor amigo. Lutamos lado a lado no Vietnã.A minha empresa está situada em New York, várias pessoas de todas as partes do mundo vêm pedir a minha ajuda. Às vezes faço alguns trabalhos Pro Bono, outras vezes não. Eu não sou padre, e tão pouco voluntário. Não faço caridades. Por escolha minha, me tornei um homem frio, quer dizer mais frio do que eu era. Se antes eu não buscava relacionamentos fixos, agora piorou. Só dou prazer e recebo em troca, apenas isso.Não me acho um homem lindo, mas tenho meus atributos físicos que dão inveja a muitos por aí. Fora meu corpo atlético, sei que elas gostam disso.
Abla Dinis.Faz exatamente, quatro anos que estou aqui em New York. Naquele mesmo dia em que perdi minha gêmea, tomei a decisão de ir embora da minha cidade, Salvador, capital da Bahia. Mas, o que me surpreendeu mesmo, foi à necessidade de partir do meu país. Eu escolhi essa cidade, na verdade aleatoriamente, não foi porque eu a amava. Em primeiro lugar, nunca havia pisado nela. Foi muito difícil dar esse passo, no entanto, eu estava decidida. Para ajudar a nossa mudança, pedi um favor a uma conhecida, ela conseguiu um visto para mim, e para as meninas. Desde que eu cheguei, trabalhei em vários lugares. Tudo isso para dar uma boa estrutura às minhas meninas. No tempo do exército, consegui guardar uma boa soma, mas quando se vive com duas crianças, o dinheiro evapora. Eu preciso de um emprego que possa ganhar melhor, sei que ficarei muito tempo longe delas, mas é necessário para nós três.Vocês devem ter reparado que as meninas me chamam de mãe! Na verdade, é uma opção delas. Assim qu
Abla DinisFui para casa correndo, estou com muita saudade delas. Não sei o que vai ser de mim, nunca me separei das minhas pequenas por tanto tempo. Será muito difícil. Bati na porta de Bia e minhas pimpolhas, saíram correndo para me abraçar.— A benção mãe! — As duas falaram juntas, me arrancando uma gargalhada.— Deus abençoe as duas. — Entreguei as sacolas e elas foram à frente.— Agradeço muito, Bia. Aqui está o pagamento — Sorri sem graça. — Sei que não é muito, mas quando pegar meu primeiro salário, lhe darei um melhor.— Não se preocupe senhorita Abla, gosto de cuidar das meninas. — Respondeu-me sincera. Eu sei que ela gosta, se não soubesse, ela nem ia encostar nelas.— Que bom! — Me despedir dela e fui ver meus furacões em forma de gêmeas. Porque é isso que elas são, meus melhores e mais intensos furacões.Abla Dinis— Meninas, vocês têm cinco minutos, se eu for aí, vocês não vão gostar! — Disse zangada, para elas se tocarem. Meu pai do céu, toda vez é essa luta para levanta
Abla Dinis— Não tem problema, meninas, nada de brigas. Estou muito orgulhosa de vocês.— Nós te amamos mamãe! — As duas falaram juntas, eu não aguentei comecei a chorar.— O que foi? Por que tá cholando? — Niara perguntou preocupada.— É de emoção, eu amo tanto vocês duas. Nós ficamos abraçadas um bom tempo, porém, a fome bateu. Levantamos as três, tomamos banho juntas, fiz uma janta leve, e comemos. Na hora de dormir, elas fizeram birra.— Deixa a gente dormir com a senhola hoje? — Nia pediu fazendo aquele biquinho irresistível.— Tá bom. — Respondi vencida.— Ebaaaa! — As duas gritaram, me fazendo tapa os ouvidos.— Mas só hoje, amanhã cada uma em sua cama. — Elas concordaram com a cabeça.— Vamos fazer nossa oração! — Niara falou eufórica. Ajoelhamo-nos na beira da cama e elas repetiram a oração delas, as duas falavam a mesma coisa em uma só voz.— Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça de Deus e do Espírito Santo.— Anjinho da Guarda, meu bom amiguinho, me leve she
RiddickFui para a minha sala ainda mais puto do que eu estava. Se isso é possível, porra.— Cara o que foi aquilo tudo? — Nunca o vi tão chateado comigo. Por que tratou a moça daquele jeito? — Fiquei o encarando, calado. Na verdade, não sei o que dizer, nem sei por que a tratei daquele jeito. — Estou esperando! — JJ falou, contrariado.— Não tenho nada a dizer. E outra coisa, a funcionária é minha, acho bom não se meter. — Avisei voltando ao normal.— Claro que tem muito a dizer. Diga o porquê daquela raiva que vi em seus olhos quando olhou para ela. — Foi até a janela para espiar. — Claro que vou me meter. Antes você nem se importava quando me via conversando com suas funcionárias.— Não sei dizer. — Dei de ombros, ansioso. — Eu não sei cara. Tem algo estranho nessa mulher. — Em vez de ficar sério, JJ sentou de frente para mim e começou a rir. Imbecil!— Qual é a graça, porra? — Questionei batendo na mesa. Mesmo assim não o intimidei. Depois que acabou com sua crise de riso, JJ f
RiddickEntrei no meu carro e esperei até ela aparecer. Minha querida assistente entrou em um táxi, sorridente como sempre e em menos de dez minutos, ela parou em frente a um portão velho. Pagou o táxi e entrou. Eu continuei no mesmo lugar, observando. De repente uma jovem que aparenta ter uns dezoito anos, saí da casa, sorrindo. Abla dá um abraço nela e lhe entrega algo em mãos. Se eu for deduzir, diria que é dinheiro. Isso me deixou intrigado e curioso. Por que será que ela estava com uma menina na casa dela? E por que lhe entregou dinheiro? A curiosidade está me matando, peguei o meu celular e liguei para Mabel.— Algum problema, senhor Riddick? — Mabel me perguntou com sua voz assustada. Porra, as vezes isso é chato demais, caramba.— Quero que adiante a investigação sobre a senhorita Dinis! — Fui direto ao ponto sem rodeios.— Algum problema? Ela fez algo que não gostou? — Questionou preocupada. — Só faça o que eu mandei. — Falei ignorando sua pergunta.— Sim, senhor Riddick!
Abla DinisHoje, faz três semanas que comecei a trabalhar com o senhor Riddick. Suas grosserias não pararam, mas em compensação deram uma amenizada. Bem, eu não consigo entender por que tanta implicância comigo. Ainda me pergunto se é só com a minha pessoa ou ele faz a mesma coisa com outras também. Agora eu não posso conversar com nenhum homem, que a grosseria triplica de intensidade. Uma vez, ele me pegou conversando com o rapaz da contabilidade, encheu o cara de desaforos, e claro que eu não fiquei atrás. O ponto alto dessas três semanas foi percebê-lo me seguindo naquele dia. Admito que fiquei intrigada e curiosa. Confesso que fiz de tudo para não ir lá tirar satisfação, mas a droga da curiosidade falou mais alto. Fora que as minhas filhas estavam em casa, e eu não queria expô-las de forma alguma. Bem, ele não quis me dizer o porquê de ter feito aquilo, entretanto, nem eu quis saber. Graças a Deus, ele não fez, mas isso, quer dizer, eu acho que não fez. Mas, engraçado foi a cara q