Abla Dinis
Fui para casa correndo, estou com muita saudade delas. Não sei o que vai ser de mim, nunca me separei das minhas pequenas por tanto tempo. Será muito difícil. Bati na porta de Bia e minhas pimpolhas, saíram correndo para me abraçar.
— A benção mãe! — As duas falaram juntas, me arrancando uma gargalhada.
— Deus abençoe as duas. — Entreguei as sacolas e elas foram à frente.
— Agradeço muito, Bia. Aqui está o pagamento — Sorri sem graça. — Sei que não é muito, mas quando pegar meu primeiro salário, lhe darei um melhor.
— Não se preocupe senhorita Abla, gosto de cuidar das meninas. — Respondeu-me sincera. Eu sei que ela gosta, se não soubesse, ela nem ia encostar nelas.
— Que bom! — Me despedir dela e fui ver meus furacões em forma de gêmeas. Porque é isso que elas são, meus melhores e mais intensos furacões.
Abla Dinis
— Meninas, vocês têm cinco minutos, se eu for aí, vocês não vão gostar! — Disse zangada, para elas se tocarem. Meu pai do céu, toda vez é essa luta para levantarem e irem à escolinha. Eu e a mãe delas não éramos assim, quer dizer, só um pouquinho. Até parece que estou pagando tudo que fiz. Não consegui conter o sorriso.
— Não quero ir, mamãe! — Nia falou choramingando. Não sei com quem aprenderam isso. Eu não vivo dando dengo a elas. Ajoelhei-me e fiquei na mesma altura que ela.
— A escola é o lugar onde aprendemos a ser alguém na vida. Por acaso quer crescer burra, Nia? — Sei que fui dura nas palavras, mas é o certo. Quando é para dar amor, eu dou sem problemas, porém, na hora de educar, eu não penso duas vezes.
— Não, né, mamãe! — Arregalou os olhos assustada com o que acabei de dizer. — Quelo ser tão inteligente quanto a senhola.
— Então levante seu pandeiro daí, chame a sua irmã, preciso arrumar as duas — Pedi ainda séria. Mas por dentro sorria, pelo simples fato de elas quererem se espelhar em mim.
— Mas chabemos nos vestir! — Avisou carrancuda.
— Fazemos assim, ficarei de olho em vocês enquanto se arrumarem, caso não consigam, ajudarei. Combinado?
— Shim! — Concordou rindo, e consequentemente me fazendo rir também. Por ter acordado cedo e ter adiantado as coisas, não saí atrasada. Cheguei à empresa, mas cedo que o necessário. Encontrei Mabel no seu posto, na recepção da presidência. Sorri calorosamente para ela, recebendo um sorriso em troca.
— Bom dia Abla!
— Bom dia Mabel! E o meu patrão? — A quem eu quero enganar, estou ansiosa para pegar no batente.
— Ainda não chegou. Ele chega sempre às 08h00min., em ponto! — Se sentou novamente, para digitar algo no computador.
— Entendi! — Sentei de frente para ela. — E o que eu faço daqui até lá?
— Eu não sei. — Deu de ombros. — Você terá que esperar ele chegar. O senhor Riddick não gosta que entrem em seu escritório sem a sua permissão, ainda mais alguém que ele nunca viu na vida.
— Ele está certíssimo! — Falei sincera, me colocando no lugar dele.
Falamos várias amenidades até ouvir o barulho do elevador chegando. Quando as portas se abriram, saiu um homem grande. Eu digo com um porte físico avantajado. Ele usa óculos escuros, e está todo de preto. Da roupa social ao sobretudo. Não posso dizer que ele é um homem lindo, mas feio também não é. Possui uma beleza rústica, rude, e, um ar de perigo que me fez arrepiar dos pés à cabeça. Ele possui uma beleza singular, sem sombra de dúvidas. Escutei um pigarrear do meu lado, quando olhei, vi Mabel me encarando.
— O quê? — Me sentia desorientada. Agora, por que, não faço a mínima ideia.
— Você o está secando. — Apontou sua cabeça para o homem. — Não seque Abla!
— Quem é ele? — Perguntei ignorando seu aviso. Meu corpo de alguma forma despertou para o desconhecido. Nunca havia acontecido algo do tipo.
— Seu patrão! — Escondeu o sorriso em um pigarro ao ver minha cara de panaca. Eu olhei incrédula para o espécime vindo em nossa direção.
Meu Deus, o homem que emana perigo dos poros, é o meu patrão. Hum, isso não é nada bom.
Olhei no relógio e comprovei o quanto é pontual. Chegou na hora exata que Mabel me passou.
— Tire essa cara! — Avisou rapidamente.
— Que cara? — Questionei confusa.
Se eu tirar minha cara ficarei com o quê? Pensei debochada.
— Você praticamente o comeu com os olhos. — Mabel está com as feições dura, olhando para mim. — Esqueça Abla, ele não costuma se envolver com seus funcionários. E outra coisa, ele é um homem rude e intimidador.
Quando eu ia respondê-la, não havia, mais tempo, o homem que estava na pauta de nossa conversa, se aproximou.
— Bom dia senhor Riddick! — Disse séria, e demonstrando preocupação.
Onde está aquela Mabel alegre e extrovertida? Que coisa estranha viu. Será possível ser tão ruim assim?
— Alguma ligação? — Indagou duramente. Que homem mal educado. Nem respondeu à saudação da coitada. Se antes eu fiquei encantada, o encanto caiu no chão e se quebrou em vários pedaços. Depois que ouviu a resposta da mulher, ele olhou em minha direção. — Quem é essa aí? — Eu senti desprezo na voz dele. Foi isso mesmo?
Essa aí é as suas quengas! Não perdi tempo. Não vou deixar um desconhecido me inferiorizar. Tenho minha dignidade.
— Me chamo Abla Dinis, sou a sua nova assistente! — Falei me metendo. Ele virou a cabeça para o lado, em um sinal claro de interrogação. Quando olhei para Mabel, eu vi receio.
Ah, pelo amor viu...
— Me siga! — Disse olhando para mim. Senti-me em desvantagem, afinal, não consigo ver os seus, por causa dos óculos escuros. Porém em nenhum momento parei de encará-lo, pelo contrário, continuei o encarando até que ele desistiu desse duelo ridículo e saiu andando.
— Você está maluca, Abla? — Olhei para ela como se tivesse três olhos.
— Sobre?
— Não pode desafiá-lo dessa maneira! — Ela disse preocupada.
— O que não pode, é ele me tratar dessa forma; com descaso. Ele não me conhece e não tem o direito de ser rude comigo ou com qualquer um. — Eu disse dando de ombros e segui até a sala dele. Bati uma vez e abri, dando de cara com ele sentado, com a cabeça baixa, lendo algo.
Abla Dinis— Não tem problema, meninas, nada de brigas. Estou muito orgulhosa de vocês.— Nós te amamos mamãe! — As duas falaram juntas, eu não aguentei comecei a chorar.— O que foi? Por que tá cholando? — Niara perguntou preocupada.— É de emoção, eu amo tanto vocês duas. Nós ficamos abraçadas um bom tempo, porém, a fome bateu. Levantamos as três, tomamos banho juntas, fiz uma janta leve, e comemos. Na hora de dormir, elas fizeram birra.— Deixa a gente dormir com a senhola hoje? — Nia pediu fazendo aquele biquinho irresistível.— Tá bom. — Respondi vencida.— Ebaaaa! — As duas gritaram, me fazendo tapa os ouvidos.— Mas só hoje, amanhã cada uma em sua cama. — Elas concordaram com a cabeça.— Vamos fazer nossa oração! — Niara falou eufórica. Ajoelhamo-nos na beira da cama e elas repetiram a oração delas, as duas falavam a mesma coisa em uma só voz.— Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça de Deus e do Espírito Santo.— Anjinho da Guarda, meu bom amiguinho, me leve she
RiddickFui para a minha sala ainda mais puto do que eu estava. Se isso é possível, porra.— Cara o que foi aquilo tudo? — Nunca o vi tão chateado comigo. Por que tratou a moça daquele jeito? — Fiquei o encarando, calado. Na verdade, não sei o que dizer, nem sei por que a tratei daquele jeito. — Estou esperando! — JJ falou, contrariado.— Não tenho nada a dizer. E outra coisa, a funcionária é minha, acho bom não se meter. — Avisei voltando ao normal.— Claro que tem muito a dizer. Diga o porquê daquela raiva que vi em seus olhos quando olhou para ela. — Foi até a janela para espiar. — Claro que vou me meter. Antes você nem se importava quando me via conversando com suas funcionárias.— Não sei dizer. — Dei de ombros, ansioso. — Eu não sei cara. Tem algo estranho nessa mulher. — Em vez de ficar sério, JJ sentou de frente para mim e começou a rir. Imbecil!— Qual é a graça, porra? — Questionei batendo na mesa. Mesmo assim não o intimidei. Depois que acabou com sua crise de riso, JJ f
RiddickEntrei no meu carro e esperei até ela aparecer. Minha querida assistente entrou em um táxi, sorridente como sempre e em menos de dez minutos, ela parou em frente a um portão velho. Pagou o táxi e entrou. Eu continuei no mesmo lugar, observando. De repente uma jovem que aparenta ter uns dezoito anos, saí da casa, sorrindo. Abla dá um abraço nela e lhe entrega algo em mãos. Se eu for deduzir, diria que é dinheiro. Isso me deixou intrigado e curioso. Por que será que ela estava com uma menina na casa dela? E por que lhe entregou dinheiro? A curiosidade está me matando, peguei o meu celular e liguei para Mabel.— Algum problema, senhor Riddick? — Mabel me perguntou com sua voz assustada. Porra, as vezes isso é chato demais, caramba.— Quero que adiante a investigação sobre a senhorita Dinis! — Fui direto ao ponto sem rodeios.— Algum problema? Ela fez algo que não gostou? — Questionou preocupada. — Só faça o que eu mandei. — Falei ignorando sua pergunta.— Sim, senhor Riddick!
Abla DinisHoje, faz três semanas que comecei a trabalhar com o senhor Riddick. Suas grosserias não pararam, mas em compensação deram uma amenizada. Bem, eu não consigo entender por que tanta implicância comigo. Ainda me pergunto se é só com a minha pessoa ou ele faz a mesma coisa com outras também. Agora eu não posso conversar com nenhum homem, que a grosseria triplica de intensidade. Uma vez, ele me pegou conversando com o rapaz da contabilidade, encheu o cara de desaforos, e claro que eu não fiquei atrás. O ponto alto dessas três semanas foi percebê-lo me seguindo naquele dia. Admito que fiquei intrigada e curiosa. Confesso que fiz de tudo para não ir lá tirar satisfação, mas a droga da curiosidade falou mais alto. Fora que as minhas filhas estavam em casa, e eu não queria expô-las de forma alguma. Bem, ele não quis me dizer o porquê de ter feito aquilo, entretanto, nem eu quis saber. Graças a Deus, ele não fez, mas isso, quer dizer, eu acho que não fez. Mas, engraçado foi a cara q
Abla Dinis — Hum... A senhorita é realmente perversa! — Ele disse como se tivesse constatado agora. Não havia desgosto nos olhos dele, apenas surpresa.— Só com quem precisa, senhor! — Ele riu de ladino, antes de dar essa conversa por encerrada.— Se isso passar dos limites, eu quero o nome dele!— Feito! — Eu disse me afastando e respirando normalmente de novo.— O que temos para hoje? — O senhor dará uma palestra no espaço de formação de agentes Excellence. Já separei o conteúdo que será dado.— A senhorita leu o conteúdo?— Não senhor. Os arquivos diziam confidenciais, achei prudente não mexer. — Eu falei com um pouco de animação. Acho que até demais, pois ele reparou. — Algum problema? — Perguntei tentando disfarçar minha euforia, mas isso foi quase impossível.— Não entendi essa sua animação? — Arqueou a sobrancelha claramente intrigado. Tossi nervosamente, para camuflar meu entusiasmo.— Eu gosto dessas coisas, senhor! — Confessei olhando para ele. Meu Deus, tomara que ele
Abla Dinis — Se é tão esperta, por que não explica a cena de crime seguinte. — Ela disse destilando seu veneno, mas comigo não, meu amor, eu já sou imune a esse tipo de peçonha.— Com maior prazer! — Me aproximei e virei para a imagem projetada. — Posso, senhor Riddick? — Perguntei, me referindo à cena de crime no telão. Ele respondeu-me com um menear de cabeça. Voltei-me para os futuros agentes e perguntei. — Para vocês, o que é crime? — Todos estavam calados, ninguém fez menção de responder, então eu mesma escolhi. É, sou muito vingativa. — Você, agente 4, responda à pergunta. — Ela me olhou feio e ficou calada. — Vamos! Por acaso está surda? — Meu chefe falou, já impaciente. Não sei se comigo, ou se com ela. É, paciência não é seu nome.— Desculpa senhor! — A vadia disso toda doce.— Então agente 4? — Questionei irritada.— É um fato material… — Nem a deixei terminar. Já começou falando merda.— Está errado! — O senhor Riddick fala antes que eu diga algo.Olhei para o agente 10,
Abla Dinis— Obrigada! — Ouvi um pigarrear atrás de mim e olhei já sabendo quem é.— Senhorita Dinis, pode ir pegar as coisas para irmos embora. — Sua voz estava dura feito pedra.— Sim senhor! Por favor, me deem licença. — Pedi me afastando.— Toda! — Eu saí praticamente correndo. Ainda pude ouvir meu chefe falando alguma coisa com o rapaz. Eu só queria entender por que ele é assim. Deus do céu, para que tanta raiva? Tanta grosseria? Quando estava passando, eu vi aquela vadia da agente 4 jogando seu charme em cima dele. Eu saí o mais rápido que pude. Não quero presenciar nada desagradável. Fiquei no carro o esperando. Ele abriu a porta e entrou sem falar nada. Ele não falou e nem eu fiz questão de falar. Chegamos à empresa, e cada um foi para seu canto.— Como foi? — Mabel perguntou receosa.— Muito bom! Por quê?— Todos os assistentes do senhor Riddick, não vingaram. — Deu de ombros. — Digo isso, porque não gostavam quando iam para o campo com ele.— Eu gosto dessas coisas, eu nã
RiddickAbri oenvelope com toda calma que não tinha e comecei a ler.— Abla Dinis, 26 anos, solteira. — Franzo a testa, impressionado. Não parece, achei até que teria mais idade! Bem, saber que não há nenhum cara em sua vida, é uma informação muito bem-vinda. Continuei lendo, o conteúdo do envelope. — Não conheceu o pai, mãe falecida. Tinha uma irmã gêmea, porém, também falecida. — Parei um tanto impactado ao ler a data da morte de sua irmã. É o mesmo período que fui ao Brasil! Então deve ter sido isso que a deixou tão triste naquela época. Deixando as conjecturas de lado, continuo. — Serviu por sete anos ao Exército Brasileiro. Seu último cargo era de Tenente-coronel. Pediu dispensa quatro anos atrás. Motivos desconhecidos. — Estalei a língua. Puta merda! Isso explica muita coisa. Pelo que vi naquele dia da palestra, ela foi um tesão e tanto, e o que me deixa puto é que não foi apenas eu que vi. Clarkson, intrometido também estava bem atento a ela. Por que será que ela pediu dispen