CINCO

Abla Dinis

Fui para casa correndo, estou com muita saudade delas. Não sei o que vai ser de mim, nunca me separei das minhas pequenas por tanto tempo. Será muito difícil. Bati na porta de Bia e minhas pimpolhas, saíram correndo para me abraçar.

A benção mãe! — As duas falaram juntas, me arrancando uma gargalhada.

— Deus abençoe as duas. — Entreguei as sacolas e elas foram à frente.

— Agradeço muito, Bia. Aqui está o pagamento — Sorri sem graça. — Sei que não é muito, mas quando pegar meu primeiro salário, lhe darei um melhor.

— Não se preocupe senhorita Abla, gosto de cuidar das meninas. — Respondeu-me sincera. Eu sei que ela gosta, se não soubesse, ela nem ia encostar nelas.

— Que bom! — Me despedir dela e fui ver meus furacões em forma de gêmeas. Porque é isso que elas são, meus melhores e mais intensos furacões.

Abla Dinis

Meninas, vocês têm cinco minutos, se eu for aí, vocês não vão gostar! — Disse zangada, para elas se tocarem. Meu pai do céu, toda vez é essa luta para levantarem e irem à escolinha. Eu e a mãe delas não éramos assim, quer dizer, só um pouquinho. Até parece que estou pagando tudo que fiz. Não consegui conter o sorriso.

— Não quero ir, mamãe! — Nia falou choramingando. Não sei com quem aprenderam isso. Eu não vivo dando dengo a elas. Ajoelhei-me e fiquei na mesma altura que ela.

— A escola é o lugar onde aprendemos a ser alguém na vida. Por acaso quer crescer burra, Nia? — Sei que fui dura nas palavras, mas é o certo. Quando é para dar amor, eu dou sem problemas, porém, na hora de educar, eu não penso duas vezes.

— Não, né, mamãe! — Arregalou os olhos assustada com o que acabei de dizer. — Quelo ser tão inteligente quanto a senhola.

— Então levante seu pandeiro daí, chame a sua irmã, preciso arrumar as duas — Pedi ainda séria. Mas por dentro sorria, pelo simples fato de elas quererem se espelhar em mim.

— Mas chabemos nos vestir! — Avisou carrancuda.

— Fazemos assim, ficarei de olho em vocês enquanto se arrumarem, caso não consigam, ajudarei. Combinado?

— Shim! — Concordou rindo, e consequentemente me fazendo rir também. Por ter acordado cedo e ter adiantado as coisas, não saí atrasada. Cheguei à empresa, mas cedo que o necessário. Encontrei Mabel no seu posto, na recepção da presidência. Sorri calorosamente para ela, recebendo um sorriso em troca.

— Bom dia Abla!

— Bom dia Mabel! E o meu patrão? — A quem eu quero enganar, estou ansiosa para pegar no batente.

— Ainda não chegou. Ele chega sempre às 08h00min., em ponto! Se sentou novamente, para digitar algo no computador.

— Entendi! — Sentei de frente para ela. — E o que eu faço daqui até lá?

— Eu não sei. — Deu de ombros. — Você terá que esperar ele chegar. O senhor Riddick não gosta que entrem em seu escritório sem a sua permissão, ainda mais alguém que ele nunca viu na vida.

— Ele está certíssimo! — Falei sincera, me colocando no lugar dele. 

Falamos várias amenidades até ouvir o barulho do elevador chegando. Quando as portas se abriram, saiu um homem grande. Eu digo com um porte físico avantajado. Ele usa óculos escuros, e está todo de preto. Da roupa social ao sobretudo. Não posso dizer que ele é um homem lindo, mas feio também não é. Possui uma beleza rústica, rude, e, um ar de perigo que me fez arrepiar dos pés à cabeça. Ele possui uma beleza singular, sem sombra de dúvidas. Escutei um pigarrear do meu lado, quando olhei, vi Mabel me encarando.

— O quê? — Me sentia desorientada. Agora, por que, não faço a mínima ideia.

— Você o está secando. — Apontou sua cabeça para o homem. — Não seque Abla!

— Quem é ele? — Perguntei ignorando seu aviso. Meu corpo de alguma forma despertou para o desconhecido. Nunca havia acontecido algo do tipo.

— Seu patrão! — Escondeu o sorriso em um pigarro ao ver minha cara de panaca. Eu olhei incrédula para o espécime vindo em nossa direção.

Meu Deus, o homem que emana perigo dos poros, é o meu patrão. Hum, isso não é nada bom.

Olhei no relógio e comprovei o quanto é pontual. Chegou na hora exata que Mabel me passou.

— Tire essa cara! — Avisou rapidamente.

— Que cara? — Questionei confusa. 

Se eu tirar minha cara ficarei com o quê? Pensei debochada.

— Você praticamente o comeu com os olhos. — Mabel está com as feições dura, olhando para mim. — Esqueça Abla, ele não costuma se envolver com seus funcionários. E outra coisa, ele é um homem rude e intimidador. 

Quando eu ia respondê-la, não havia, mais tempo, o homem que estava na pauta de nossa conversa, se aproximou.

— Bom dia senhor Riddick! — Disse séria, e demonstrando preocupação. 

Onde está aquela Mabel alegre e extrovertida? Que coisa estranha viu. Será possível ser tão ruim assim?

— Alguma ligação? — Indagou duramente. Que homem mal educado. Nem respondeu à saudação da coitada. Se antes eu fiquei encantada, o encanto caiu no chão e se quebrou em vários pedaços. Depois que ouviu a resposta da mulher, ele olhou em minha direção. — Quem é essa aí? — Eu senti desprezo na voz dele. Foi isso mesmo? 

Essa aí é as suas quengas! Não perdi tempo. Não vou deixar um desconhecido me inferiorizar. Tenho minha dignidade.

— Me chamo Abla Dinis, sou a sua nova assistente! — Falei me metendo. Ele virou a cabeça para o lado, em um sinal claro de interrogação. Quando olhei para Mabel, eu vi receio. 

Ah, pelo amor viu...

— Me siga! — Disse olhando para mim. Senti-me em desvantagem, afinal, não consigo ver os seus, por causa dos óculos escuros. Porém em nenhum momento parei de encará-lo, pelo contrário, continuei o encarando até que ele desistiu desse duelo ridículo e saiu andando.

— Você está maluca, Abla? — Olhei para ela como se tivesse três olhos.

— Sobre?

— Não pode desafiá-lo dessa maneira! — Ela disse preocupada.

— O que não pode, é ele me tratar dessa forma; com descaso. Ele não me conhece e não tem o direito de ser rude comigo ou com qualquer um. — Eu disse dando de ombros e segui até a sala dele. Bati uma vez e abri, dando de cara com ele sentado, com a cabeça baixa, lendo algo.

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