SETE

Riddick

Fui para a minha sala ainda mais puto do que eu estava. Se isso é possível, porra.

— Cara o que foi aquilo tudo? — Nunca o vi tão chateado comigo. Por que tratou a moça daquele jeito? — Fiquei o encarando, calado. Na verdade, não sei o que dizer, nem sei por que a tratei daquele jeito. — Estou esperando! — JJ falou, contrariado.

— Não tenho nada a dizer. E outra coisa, a funcionária é minha, acho bom não se meter. — Avisei voltando ao normal.

— Claro que tem muito a dizer. Diga o porquê daquela raiva que vi em seus olhos quando olhou para ela. — Foi até a janela para espiar. —   Claro que vou me meter. Antes você nem se importava quando me via conversando com suas funcionárias.

— Não sei dizer. — Dei de ombros, ansioso. — Eu não sei cara. Tem algo estranho nessa mulher. — Em vez de ficar sério, JJ sentou de frente para mim e começou a rir. 

Imbecil!

— Qual é a graça, porra? — Questionei batendo na mesa. Mesmo assim não o intimidei. Depois que acabou com sua crise de riso, JJ ficou sério novamente.

— O termo negra gostosa, lhe diz alguma coisa?  — Inquiriu zombeteando. Eu olhei para ele com a minha pior carranca. 

Ele não vai dá em cima dela. Não mesmo!

— Tire o olho dela JJ! — Mandei autoritário.

— Uau! Você está fazendo isso de novo. — Interpelou debochado. Eu fiquei sem entender nada.

— Fazendo o que de novo, seu imbecil? Seja específico. — Passei a mão em minha cabeça, em sinal de nervosismo. — Pare de falar comigo em códigos. Ele bufou antes de tomar a palavra.

— Lembra quando fomos ao Brasil fazer aquele trabalho?

— Por que está falando sobre isso agora? — Perguntei zangado. Eu faço de tudo para esquecer aquela viagem de merda.

— Vem cá, seu idiota! — JJ pediu se levantando, e indo até a janela. Eu o seguir a contragosto e esperei ele falar. — Você não está reconhecendo a mulher? — Falou apontando na direção de Abla.

— Como assim? — Estou ficando louco ou realmente com o raciocínio lento.

— Deus do céu, que homem lerdo. — Jogou as mãos para cima em um sinal claro de impaciência. — A sua assistente é a mesma negra gostosa que você se interessou naquele dia que chegamos ao Brasil. — Fiquei assustado na hora, voltei a olhar pela janela, e me forcei a encará-la. Voltei minhas lembranças para aquele dia e constatei o óbvio. É ela mesma. 

Mas como eu não a reconheci?

— Porra, é ela! — Declarei o óbvio.

— Como não percebeu isso? — JJ perguntou sério.

— Não sei. — Respondi com sinceridade. — Na verdade, eu faço de tudo para esquecer o que aconteceu naquele país.

— Ela está ainda, mas linda! — Meu amigo idiota soltou do nada.

— Eu lhe disse para você tirar o olho dela. — Alertei azedo

— Cara, eu não sou cego. Você vai investir nela? — Bateu palmas, eufórico. — Afinal, vocês têm um lance não resolvido. Se não investir, avise, porque eu estou aqui. 

Parei para pensar. Lembro que eu fiquei muito interessado nela, e agora que eu sei que é ela, algo reacendeu em mim.

— Não sei dizer. — Disse contendo o sorriso que ameaçou aparecer em meus lábios.

— Posso investir? — JJ perguntou passando a língua no lábio inferior.

— Não! — Apontei o dedo para ele. — Acho bom você não tocar nela ou quebrarei todos os dedos da sua mão.

— Porra, para quê tanta violência? — Interpelou levantando suas mãos em rendição.

— Você está avisado. Agora vamos falar sobre o que realmente interessa. — Pedi fechando a cara.

— Ainda não descobri nada. Esse cara é um fantasma, pelo menos se soubéssemos o seu nome verdadeiro.

— Só que não sabemos! — Declarei a contragosto.

— Precisa ter paciência, é a única forma.

— Já se passaram quatro longos anos, droga. — A raiva me domina de tal forma.

— Eu sei, eu sei… — Confirmou chateado.

— Só consiga as informações que precisamos. — Suspirei. — Ele não vai nos vencer.

— Darei o meu melhor. — Estendeu a mão em um comprimento. — Preciso ir agora, tenho que encontrar um informante.

— Certo! — Confirmei com o polegar.

— E você... — Apontou o dedo para mim. — Espero que pare de maltratar sua assistente. Ela realmente me parece uma boa moça. — Ele disse antes de sair, deixando-me prezo em meus pensamentos.

Porra! Não acredito que é ela. Que mundo pequeno. 

Olhei no relógio e vi que já havia dado o meu horário. Arrumei tudo para sair. Quando cheguei à mesa de Abla, ela estava muito entretida nos papéis que lhe dei mais cedo. Admito que foram muitos papéis, e que ela não terminaria hoje.

— Largue isso! Pode ir embora, amanhã você termina. — Ela me olhou com preocupação, mas disfarçou. 

Está mais gostosa mesmo. Hum, apesar de que não a vi em pé naquele dia. Céus ela é divina!

— Já terminei, só estava organizando em quesitos. — Informou arrumando as folhas em uma pasta preta. 

Como assim, já terminou?

Ela está mentindo ou é mais eficiente do que eu imaginei.

— Quais? — Questionei com a sobrancelha arqueada.

— A pasta amarela é dos menos urgentes. A verde dos que é urgente, mas podem esperar. E a preta, dos casos mais urgentes, e que não podem adiar.

— Como sabe que se encaixa nesses requisitos? — Não escondi minha surpresa.

— Eu apenas sei. — Deu de ombros. — E o senhor também saberá quando for procurar o que precisa. — Proferiu com os olhos cravados em mim. 

Arrogância!

O interessante é que tenta esconder sua personalidade forte, mas falha miseravelmente.

— Já pode ir para casa! — Tornei a repetir.

— Onde deixo essas pastas?

— Na minha sala. Até amanhã senhorita Dinis! — Eu falei saindo, quando entrei no elevador, ainda pude ver sua cara de surpresa. Nem sei o porquê. Quer dizer, até desconfio o que seja. Provavelmente foi porque não fiz grosserias com ela. 

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