SEIS

Abla Dinis

— Não tem problema, meninas, nada de brigas. Estou muito orgulhosa de vocês.

— Nós te amamos mamãe! — As duas falaram juntas, eu não aguentei comecei a chorar.

— O que foi? Por que tá cholando? — Niara perguntou preocupada.

— É de emoção, eu amo tanto vocês duas. 

Nós ficamos abraçadas um bom tempo, porém, a fome bateu. Levantamos as três, tomamos banho juntas, fiz uma janta leve, e comemos. Na hora de dormir, elas fizeram birra.

— Deixa a gente dormir com a senhola hoje? — Nia pediu fazendo aquele biquinho irresistível.

— Tá bom. — Respondi vencida.

— Ebaaaa! —

As duas gritaram, me fazendo tapa os ouvidos.

— Mas só hoje, amanhã cada uma em sua cama. — Elas concordaram com a cabeça.

— Vamos fazer nossa oração! — Niara falou eufórica. 

Ajoelhamo-nos na beira da cama e elas repetiram a oração delas, as duas falavam a mesma coisa em uma só voz.

— Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça de Deus e do Espírito Santo.

— Anjinho da Guarda, meu bom amiguinho, me leve shempre, pelo bom caminho.

— Shanto Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege me guarda, governa e ilumina.

— Meu bom Jesus, verdadeiro Filho da Virgem Maria, me acompanhai esta noite, e amanhã por todo o dia.

— Ó Anjo da minha guarda, que me protege e inumina ajude-me todo o dia a ser uma boa menina.

— Anjo da minha guarda, doce companhia, não me dejampare, nem de noite, nem de dia. — Elas oravam com afinco. Claro que algumas palavras saíam erradas, mas é tão lindo de se vê. — Jesus me ajude a pensar bem, falar bem e querer bem a todos. Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém!  

Depois que terminaram a oração que ensinei a elas. A mesma que minha falecida mãe ensinou a mim e a minha falecida irmã. Deitei-me primeiro, depois cada uma tomou um lugar ao meu lado.

— Boa noite Nia! — Falei bocejando.

— Boa noite mamãe!

— Boa noite Niara! — Saudei olhando para ela.

— Boa noite mamãe! 

Desliguei as luzes, e esperei elas pegarem no sono, mesmo cansada pra burro. Sem perceber, o nojento do meu chefe entrou em meus pensamentos. Até tentei não pensar, mas foi impossível, o grosso impregnou até as raízes. Eu sei que ele me dará muito trabalho. Que suas grosserias serão uma grande dificuldade para mim. No entanto, aprendi algo em meio às provações que passei. Eu aprendi que as dificuldades preparam pessoas comuns, como eu, para destinos extraordinários. Então eu confio em mim, e sei que de uma forma ou de outra, ei de conquistar a confiança dele. Tenho fé que sim. Farei isso, ou não me chamo Abla Dinis.

Riddick

— Não importa JJ, amanhã quero você aqui para me passar os relatórios. — Falei aos berros ao telefone. Ele já está acostumado com os meus rompantes de raiva. E não será diferente até eu ter o que quero. Eu ainda não encontrei aquele desgraçado, mas estou perto.

— John precisa se acalmar! — Pediu com uma tranquilidade invejável. Nem eu sei por que estou tão nervoso, aliás, acho que sei muito bem.

— Eu quero respostas! — Falei ignorando seu pedido e desligando o telefone em sua cara. Sei que estou mais nervoso que o normal, agora não entendo o porquê de tanto nervosismo. Apenas sei que fiquei dessa forma por causa da minha m*****a assistente intrometida, que me pediu para tirar meus óculos. Claro que ela não falou diretamente comigo, mas eu a vi comentando com Mabel.

“O que ela quer com isso? Por acaso quer ver a aberração que me tornei?”

— Porra! — Exclamo furioso. Existe algo estranho nessa mulher. Não sei quantas vezes cogitei em demiti-la. Só não faço isso porque preciso de um assistente e pelo pouco que a vi trabalhando, a mulher é muito eficiente.

Passei o dia todo trabalhando em alguns casos. Perdi até a porra do almoço. Fico de muito mau humor quando estou com fome. Na verdade, estou sempre de mau humor, não importa a desculpa. Assustei-me quando alguém bateu na porta. Já posso até imaginar quem é. Ela bateu duas vezes e entrou. Nem esperou autorizar que entrasse. 

“Atrevida!”

Botei meus óculos antes de ela entrar com aquele sorriso desconcertante. 

“Vou ter trabalho com essa mulher!” 

— Olá! — Cumprimentou-me ainda sorrindo. Admito que o seu sorriso é algo lindo de se ver. Fora que mexe muito comigo. — Qual é o problema? — Ela me olhou mortalmente. Acho que ela detesta ser ignorada. 

“Problema é seu.” Pensei irritado. 

Vê se eu posso com isso?

— Nenhum problema — Ficou ereta, atrevida. — O senhor JJ está subindo.

— Ok! — A interrompe sendo mal educado. Ela fez menção de falar, porém desistiu. 

Eu só quero saber o que há tanto nessa mulher que me incomoda. E o que JJ está fazendo aqui? Ele não falou nada a respeito. Ela saiu da sala tentando esconder o seu desgosto com minhas grosserias. Senti vontade de rir, pois, é diferente o seu modo de agir comigo. As pessoas não costumam demonstrar seus desprezos por mim tão nitidamente. Eu nem sei o porquê de ficar atacando-a dessa forma, é só que, ela é estranha. Tem algo nessa Abla que me atormenta e o fato de não saber o que é, deixa-me descontente.

Percebi que JJ estava demorando por demais, então levantei e fui ver o porquê. Quando abri a porta, a primeira coisa que ouvi foi aquele sorriso sensual da minha assistente. Saí da minha sala para saber o motivo de tantos risos e estaquei com a cena. A senhorita Dinis está em pé na frente de sua mesa com seus braços cruzados no peito, conversando com JJ. Ele falou algo no pé do ouvido dela, que correspondeu sorrindo. 

“Qual é o problema dessa mulher? Não pode ver um homem, é isso?” 

Coloquei a minha pior cara e me aproximei deles. O sorriso dela morreu na hora quando me viu.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntei com a minha habitual grosseria.

— Nada senhor Riddick, só está... — A interrompi com raiva.

— Eu não lhe pago para não fazer nada senhorita Dinis. Então volte ao seu trabalho. — Falei quase que gritando com ela. Qual é o meu problema? Ela me olhou triste, me deixando ainda pior. 

— Como quiser senhor Riddick. — Falou ríspida comigo, mas ao se virar para falar com J, sorriu. — Peço licença senhor James! O quê? Ele disse o seu nome a ela. Ele nunca faz isso.

— Apenas J, princesa. — Beijou o dorso da mão direita dela. — Até mais.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo