Abla Dinis
— Não tem problema, meninas, nada de brigas. Estou muito orgulhosa de vocês.
— Nós te amamos mamãe! — As duas falaram juntas, eu não aguentei comecei a chorar.
— O que foi? Por que tá cholando? — Niara perguntou preocupada.
— É de emoção, eu amo tanto vocês duas.
Nós ficamos abraçadas um bom tempo, porém, a fome bateu. Levantamos as três, tomamos banho juntas, fiz uma janta leve, e comemos. Na hora de dormir, elas fizeram birra.
— Deixa a gente dormir com a senhola hoje? — Nia pediu fazendo aquele biquinho irresistível.
— Tá bom. — Respondi vencida.
— Ebaaaa! —
As duas gritaram, me fazendo tapa os ouvidos.— Mas só hoje, amanhã cada uma em sua cama. — Elas concordaram com a cabeça.
— Vamos fazer nossa oração! — Niara falou eufórica.
Ajoelhamo-nos na beira da cama e elas repetiram a oração delas, as duas falavam a mesma coisa em uma só voz.
— Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça de Deus e do Espírito Santo.
— Anjinho da Guarda, meu bom amiguinho, me leve shempre, pelo bom caminho.
— Shanto Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege me guarda, governa e ilumina.
— Meu bom Jesus, verdadeiro Filho da Virgem Maria, me acompanhai esta noite, e amanhã por todo o dia.
— Ó Anjo da minha guarda, que me protege e inumina ajude-me todo o dia a ser uma boa menina.
— Anjo da minha guarda, doce companhia, não me dejampare, nem de noite, nem de dia. — Elas oravam com afinco. Claro que algumas palavras saíam erradas, mas é tão lindo de se vê. — Jesus me ajude a pensar bem, falar bem e querer bem a todos. Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém!
Depois que terminaram a oração que ensinei a elas. A mesma que minha falecida mãe ensinou a mim e a minha falecida irmã. Deitei-me primeiro, depois cada uma tomou um lugar ao meu lado.
— Boa noite Nia! — Falei bocejando.
— Boa noite mamãe!
— Boa noite Niara! — Saudei olhando para ela.
— Boa noite mamãe!
Desliguei as luzes, e esperei elas pegarem no sono, mesmo cansada pra burro. Sem perceber, o nojento do meu chefe entrou em meus pensamentos. Até tentei não pensar, mas foi impossível, o grosso impregnou até as raízes. Eu sei que ele me dará muito trabalho. Que suas grosserias serão uma grande dificuldade para mim. No entanto, aprendi algo em meio às provações que passei. Eu aprendi que as dificuldades preparam pessoas comuns, como eu, para destinos extraordinários. Então eu confio em mim, e sei que de uma forma ou de outra, ei de conquistar a confiança dele. Tenho fé que sim. Farei isso, ou não me chamo Abla Dinis.
Riddick
— Não importa JJ, amanhã quero você aqui para me passar os relatórios. — Falei aos berros ao telefone. Ele já está acostumado com os meus rompantes de raiva. E não será diferente até eu ter o que quero. Eu ainda não encontrei aquele desgraçado, mas estou perto.
— John precisa se acalmar! — Pediu com uma tranquilidade invejável. Nem eu sei por que estou tão nervoso, aliás, acho que sei muito bem.
— Eu quero respostas! — Falei ignorando seu pedido e desligando o telefone em sua cara. Sei que estou mais nervoso que o normal, agora não entendo o porquê de tanto nervosismo. Apenas sei que fiquei dessa forma por causa da minha m*****a assistente intrometida, que me pediu para tirar meus óculos. Claro que ela não falou diretamente comigo, mas eu a vi comentando com Mabel.
“O que ela quer com isso? Por acaso quer ver a aberração que me tornei?”
— Porra! — Exclamo furioso. Existe algo estranho nessa mulher. Não sei quantas vezes cogitei em demiti-la. Só não faço isso porque preciso de um assistente e pelo pouco que a vi trabalhando, a mulher é muito eficiente.
Passei o dia todo trabalhando em alguns casos. Perdi até a porra do almoço. Fico de muito mau humor quando estou com fome. Na verdade, estou sempre de mau humor, não importa a desculpa. Assustei-me quando alguém bateu na porta. Já posso até imaginar quem é. Ela bateu duas vezes e entrou. Nem esperou autorizar que entrasse.
“Atrevida!”
Botei meus óculos antes de ela entrar com aquele sorriso desconcertante.
“Vou ter trabalho com essa mulher!”
— Olá! — Cumprimentou-me ainda sorrindo. Admito que o seu sorriso é algo lindo de se ver. Fora que mexe muito comigo. — Qual é o problema? — Ela me olhou mortalmente. Acho que ela detesta ser ignorada.
“Problema é seu.” Pensei irritado.
Vê se eu posso com isso?
— Nenhum problema — Ficou ereta, atrevida. — O senhor JJ está subindo.
— Ok! — A interrompe sendo mal educado. Ela fez menção de falar, porém desistiu.
Eu só quero saber o que há tanto nessa mulher que me incomoda. E o que JJ está fazendo aqui? Ele não falou nada a respeito. Ela saiu da sala tentando esconder o seu desgosto com minhas grosserias. Senti vontade de rir, pois, é diferente o seu modo de agir comigo. As pessoas não costumam demonstrar seus desprezos por mim tão nitidamente. Eu nem sei o porquê de ficar atacando-a dessa forma, é só que, ela é estranha. Tem algo nessa Abla que me atormenta e o fato de não saber o que é, deixa-me descontente.
Percebi que JJ estava demorando por demais, então levantei e fui ver o porquê. Quando abri a porta, a primeira coisa que ouvi foi aquele sorriso sensual da minha assistente. Saí da minha sala para saber o motivo de tantos risos e estaquei com a cena. A senhorita Dinis está em pé na frente de sua mesa com seus braços cruzados no peito, conversando com JJ. Ele falou algo no pé do ouvido dela, que correspondeu sorrindo.
“Qual é o problema dessa mulher? Não pode ver um homem, é isso?”
Coloquei a minha pior cara e me aproximei deles. O sorriso dela morreu na hora quando me viu.
— O que está acontecendo aqui? — Perguntei com a minha habitual grosseria.
— Nada senhor Riddick, só está... — A interrompi com raiva.
— Eu não lhe pago para não fazer nada senhorita Dinis. Então volte ao seu trabalho. — Falei quase que gritando com ela. Qual é o meu problema? Ela me olhou triste, me deixando ainda pior.
— Como quiser senhor Riddick. — Falou ríspida comigo, mas ao se virar para falar com J, sorriu. — Peço licença senhor James! O quê? Ele disse o seu nome a ela. Ele nunca faz isso.
— Apenas J, princesa. — Beijou o dorso da mão direita dela. — Até mais.
RiddickFui para a minha sala ainda mais puto do que eu estava. Se isso é possível, porra.— Cara o que foi aquilo tudo? — Nunca o vi tão chateado comigo. Por que tratou a moça daquele jeito? — Fiquei o encarando, calado. Na verdade, não sei o que dizer, nem sei por que a tratei daquele jeito. — Estou esperando! — JJ falou, contrariado.— Não tenho nada a dizer. E outra coisa, a funcionária é minha, acho bom não se meter. — Avisei voltando ao normal.— Claro que tem muito a dizer. Diga o porquê daquela raiva que vi em seus olhos quando olhou para ela. — Foi até a janela para espiar. — Claro que vou me meter. Antes você nem se importava quando me via conversando com suas funcionárias.— Não sei dizer. — Dei de ombros, ansioso. — Eu não sei cara. Tem algo estranho nessa mulher. — Em vez de ficar sério, JJ sentou de frente para mim e começou a rir. Imbecil!— Qual é a graça, porra? — Questionei batendo na mesa. Mesmo assim não o intimidei. Depois que acabou com sua crise de riso, JJ f
RiddickEntrei no meu carro e esperei até ela aparecer. Minha querida assistente entrou em um táxi, sorridente como sempre e em menos de dez minutos, ela parou em frente a um portão velho. Pagou o táxi e entrou. Eu continuei no mesmo lugar, observando. De repente uma jovem que aparenta ter uns dezoito anos, saí da casa, sorrindo. Abla dá um abraço nela e lhe entrega algo em mãos. Se eu for deduzir, diria que é dinheiro. Isso me deixou intrigado e curioso. Por que será que ela estava com uma menina na casa dela? E por que lhe entregou dinheiro? A curiosidade está me matando, peguei o meu celular e liguei para Mabel.— Algum problema, senhor Riddick? — Mabel me perguntou com sua voz assustada. Porra, as vezes isso é chato demais, caramba.— Quero que adiante a investigação sobre a senhorita Dinis! — Fui direto ao ponto sem rodeios.— Algum problema? Ela fez algo que não gostou? — Questionou preocupada. — Só faça o que eu mandei. — Falei ignorando sua pergunta.— Sim, senhor Riddick!
Abla DinisHoje, faz três semanas que comecei a trabalhar com o senhor Riddick. Suas grosserias não pararam, mas em compensação deram uma amenizada. Bem, eu não consigo entender por que tanta implicância comigo. Ainda me pergunto se é só com a minha pessoa ou ele faz a mesma coisa com outras também. Agora eu não posso conversar com nenhum homem, que a grosseria triplica de intensidade. Uma vez, ele me pegou conversando com o rapaz da contabilidade, encheu o cara de desaforos, e claro que eu não fiquei atrás. O ponto alto dessas três semanas foi percebê-lo me seguindo naquele dia. Admito que fiquei intrigada e curiosa. Confesso que fiz de tudo para não ir lá tirar satisfação, mas a droga da curiosidade falou mais alto. Fora que as minhas filhas estavam em casa, e eu não queria expô-las de forma alguma. Bem, ele não quis me dizer o porquê de ter feito aquilo, entretanto, nem eu quis saber. Graças a Deus, ele não fez, mas isso, quer dizer, eu acho que não fez. Mas, engraçado foi a cara q
Abla Dinis — Hum... A senhorita é realmente perversa! — Ele disse como se tivesse constatado agora. Não havia desgosto nos olhos dele, apenas surpresa.— Só com quem precisa, senhor! — Ele riu de ladino, antes de dar essa conversa por encerrada.— Se isso passar dos limites, eu quero o nome dele!— Feito! — Eu disse me afastando e respirando normalmente de novo.— O que temos para hoje? — O senhor dará uma palestra no espaço de formação de agentes Excellence. Já separei o conteúdo que será dado.— A senhorita leu o conteúdo?— Não senhor. Os arquivos diziam confidenciais, achei prudente não mexer. — Eu falei com um pouco de animação. Acho que até demais, pois ele reparou. — Algum problema? — Perguntei tentando disfarçar minha euforia, mas isso foi quase impossível.— Não entendi essa sua animação? — Arqueou a sobrancelha claramente intrigado. Tossi nervosamente, para camuflar meu entusiasmo.— Eu gosto dessas coisas, senhor! — Confessei olhando para ele. Meu Deus, tomara que ele
Abla Dinis — Se é tão esperta, por que não explica a cena de crime seguinte. — Ela disse destilando seu veneno, mas comigo não, meu amor, eu já sou imune a esse tipo de peçonha.— Com maior prazer! — Me aproximei e virei para a imagem projetada. — Posso, senhor Riddick? — Perguntei, me referindo à cena de crime no telão. Ele respondeu-me com um menear de cabeça. Voltei-me para os futuros agentes e perguntei. — Para vocês, o que é crime? — Todos estavam calados, ninguém fez menção de responder, então eu mesma escolhi. É, sou muito vingativa. — Você, agente 4, responda à pergunta. — Ela me olhou feio e ficou calada. — Vamos! Por acaso está surda? — Meu chefe falou, já impaciente. Não sei se comigo, ou se com ela. É, paciência não é seu nome.— Desculpa senhor! — A vadia disso toda doce.— Então agente 4? — Questionei irritada.— É um fato material… — Nem a deixei terminar. Já começou falando merda.— Está errado! — O senhor Riddick fala antes que eu diga algo.Olhei para o agente 10,
Abla Dinis— Obrigada! — Ouvi um pigarrear atrás de mim e olhei já sabendo quem é.— Senhorita Dinis, pode ir pegar as coisas para irmos embora. — Sua voz estava dura feito pedra.— Sim senhor! Por favor, me deem licença. — Pedi me afastando.— Toda! — Eu saí praticamente correndo. Ainda pude ouvir meu chefe falando alguma coisa com o rapaz. Eu só queria entender por que ele é assim. Deus do céu, para que tanta raiva? Tanta grosseria? Quando estava passando, eu vi aquela vadia da agente 4 jogando seu charme em cima dele. Eu saí o mais rápido que pude. Não quero presenciar nada desagradável. Fiquei no carro o esperando. Ele abriu a porta e entrou sem falar nada. Ele não falou e nem eu fiz questão de falar. Chegamos à empresa, e cada um foi para seu canto.— Como foi? — Mabel perguntou receosa.— Muito bom! Por quê?— Todos os assistentes do senhor Riddick, não vingaram. — Deu de ombros. — Digo isso, porque não gostavam quando iam para o campo com ele.— Eu gosto dessas coisas, eu nã
RiddickAbri oenvelope com toda calma que não tinha e comecei a ler.— Abla Dinis, 26 anos, solteira. — Franzo a testa, impressionado. Não parece, achei até que teria mais idade! Bem, saber que não há nenhum cara em sua vida, é uma informação muito bem-vinda. Continuei lendo, o conteúdo do envelope. — Não conheceu o pai, mãe falecida. Tinha uma irmã gêmea, porém, também falecida. — Parei um tanto impactado ao ler a data da morte de sua irmã. É o mesmo período que fui ao Brasil! Então deve ter sido isso que a deixou tão triste naquela época. Deixando as conjecturas de lado, continuo. — Serviu por sete anos ao Exército Brasileiro. Seu último cargo era de Tenente-coronel. Pediu dispensa quatro anos atrás. Motivos desconhecidos. — Estalei a língua. Puta merda! Isso explica muita coisa. Pelo que vi naquele dia da palestra, ela foi um tesão e tanto, e o que me deixa puto é que não foi apenas eu que vi. Clarkson, intrometido também estava bem atento a ela. Por que será que ela pediu dispen
Abla Dinis— Porra! — Exclamei furiosa comigo mesma. Detesto quando isso acontece. Hoje cheguei atrasada, tudo bem que foi a primeira vez. Só que eu nunca gostei de fazer essas coisas. Para mim o tempo é precioso. Nunca deixei ninguém me esperando, e nunca gostei que fizessem isso comigo. Por isso nunca fiz com ninguém. Olhei no relógio novamente, já passava das 08h00min., então significa que o meu querido chefe já chegou. Parece que tudo está dando errado. As meninas se atrasaram para se arrumar, eu não acordei na hora certa. A droga do despertador não funcionou. Eu sempre acordo antes, mas com os problemas que estão se apresentando, acabei não dormindo direito, e o resultado foi esse. Acordar no horário errado e isso embananou tudo.— Bom dia Bel! — Falei com ela, sorrindo triste.— Bom dia minha gata! Que carinha é essa? — Me interrogou, cismada com a minha tristeza.— Alguns problemas. Ele já chegou né? — Só perguntei para confirmar.— Já sim, e disse que quando chegasse era para