NOVE

Abla Dinis

Hoje, faz três semanas que comecei a trabalhar com o senhor Riddick. Suas grosserias não pararam, mas em compensação deram uma amenizada. Bem, eu não consigo entender por que tanta implicância comigo. Ainda me pergunto se é só com a minha pessoa ou ele faz a mesma coisa com outras também. Agora eu não posso conversar com nenhum homem, que a grosseria triplica de intensidade. Uma vez, ele me pegou conversando com o rapaz da contabilidade, encheu o cara de desaforos, e claro que eu não fiquei atrás. O ponto alto dessas três semanas foi percebê-lo me seguindo naquele dia. Admito que fiquei intrigada e curiosa. Confesso que fiz de tudo para não ir lá tirar satisfação, mas a droga da curiosidade falou mais alto. Fora que as minhas filhas estavam em casa, e eu não queria expô-las de forma alguma. Bem, ele não quis me dizer o porquê de ter feito aquilo, entretanto, nem eu quis saber. Graças a Deus, ele não fez, mas isso, quer dizer, eu acho que não fez. Mas, engraçado foi a cara que perpetrou quando lhe ameacei. Claro que não explicitamente, não sou doida. Porém, eu não estava brincando. Se continuar fazendo isso, sou capaz de fazer uma arte com ele. O senhor Riddick não me conhece. Não sabe o que sou capaz de fazer para proteger minhas filhas.

— Bom dia gata! — Saudou sorrindo. Tomei um susto com a saudação da Mabel com seu sorriso arreganhado para mim. Só que eu não estou com nenhuma vontade de sorrir, essa é a verdade.

— Bom dia! — Eu falei um pouco seca. Acho que até demais. Eu preciso aprender a separar as coisas. Não posso descontar em pessoas que não tem nada a ver.

— Que carinha é essa minha linda? É o nosso chefe? — Ela pergunta preocupada. Eu gosto muito dela, e acho que ela gosta de mim também.

— Não é o nosso chefe! — Eu não estava mentindo. Realmente não é ele, por incrível que pareça. Estou puta com outra pessoa.

— Quem é? — Me questionou ainda preocupada.

— É um cara que eu conheci há uns três dias aqui na empresa. Ele não me deixa em paz, e hoje ele passou dos limites. — Grunhi. —  Teve a audácia em me tocar sem a minha permissão.

— Que filho da puta, Abla! Denúncia o infeliz para os recursos humanos. — Ela não deu espaço para brincadeiras. O que Bel não sabe, é que já pensei nessa hipótese, mas descartei na hora. Sou nova na empresa. Qual é a corda que vai partir mais rápido? Claro que é a minha.

— Eu não farei isso, Bel, vai demorar muito, fora que pode me queimar na empresa. — Declarei nada animada.

— Você precisa fazer algo, Abla, ou ele continuará com os assédios. — Mabel informou demonstrando sua raiva.

— E vou fazer! — Eu disse com minha cara de maligna. Eu só faço essa cara quando desejo fazer algo de ruim. 

— O que vai fazer? — Ela proferiu curiosa.

— Na próxima vez que ele me tocar sem a minha permissão, eu vou quebrar o braço dele e... — Falava furiosa, mas fui interrompida pela voz que está me tirando o sono esses dias.

— Quem é ele? — Riddick inquiriu, não parecendo nada contente. Mabel tomou um susto, pensou em falar algo, mas, eu a impedi. Claro que eu não queria que ele fizesse suas grosserias com ela de manhã cedo, né.

— Bom dia, senhor Riddick! — Saudei formalmente

— Na minha sala! — Mandou antes de sair com uma cara nada boa.

— É melhor você falar a verdade! — Mabel aconselhou se sentando em seu lugar.

— Eu não gosto de mentiras Mabel. — Falei, me sentindo ofendida.

— Boa sorte! — Sorriu amigável.

— Eu não preciso disso com o senhor Riddick, o que preciso mesmo, é de paciência. — Eu falei rindo da cara que ela fez. 

Bati na porta e entrei. Meu chefe estava virado para a grande janela de vidro, que dá para ver todo o Central Park. Uma bela visão, sem dúvidas.

— Quem é ele, Abla? — Sua voz está sombria como nunca. Eu não sei se já comentei com vocês sobre a voz dele. Bem, ele fala tão calmo, tão devagar que às vezes irrita. Mas quando ele está bastante sério e sombrio, como nesse exato momento, e falando dessa forma, fica muito sexy. 

Meu Deus, qual é o meu problema? Até parece que estou há séculos sem um homem. Espera aí, eu estou realmente há séculos sem saber o que é um homem, ou simplesmente beijar na boca. Aff droga! Preciso resolver isso urgentemente.

— Não quero que se meta senhor Riddick! — Eu exclamei firme e isso fez com que ele virasse a cabeça, lentamente em minha direção, igualzinho os filmes de exorcismo. Eu tive que me esforçar muito para não rir, por causa do meu pensamento idiota.

— Isso não é uma negociação! Essa é a minha empresa. Se ele está fazendo isso com você, já fez com outras. — Ele disse furioso.

— Eu sei que a empresa é do senhor, porém, a vida é minha. — Eu disse também furiosa. Ele não tem o direito de falar dessa forma comigo. — E só para constar, senhor Riddick, o Idiota desconhece algo sobre mim. 

Eu falei para amenizar, minha raiva, e consequentemente a dele.

— O que seria? Será que eu posso saber? — Ele disse debochado, mas a postura sombria estava lá, não saia de jeito nenhum.

— Eu não sou as outras mulheres que ele fez isso, comigo o buraco é mais embaixo. — Frisei bem a última palavra.

— É mesmo? — Disse com sarcasmo na voz. 

Maldito!

— Com toda certeza! Estou lhe avisando, senhor. Se ele me tocar sem a minha permissão novamente, quebrarei o braço dele com toda força. — Falei perversamente, fitando-o sem parar. 

Sou uma pessoa muito visual, uma pena não ter descrito a forma que faria se ele tentasse. Depois que terminei de falar, ele não prendeu o seu riso, ele ria sem parar. É a primeira vez que vejo algo tão inédito e raro. Confesso que é algo muito lindo de se vê. 

Lindo demais.

— E por acaso teria coragem de fazer algo tão violento? — Objetou, desafiando-me. Coitado, não viu nada.

— Teria coragem para isso e muito mais. — Ele se levantou e se aproximou de mim feito uma cobra, eu parei de respirar. Graças a Deus ele não tentou nada, apenas falou.

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