Abla Dinis
— Quando ela foi? — Não me importei se a pergunta soou rude.
— Ontem! — Respondeu calmamente. Meu coração estava apertado desde ontem, só que eu não sabia o porquê, até agora.
— Agradeço pela informação. — Entrei correndo, tomei um banho rápido e me preparei para sair de novo. Ela não me disse que estava grávida, na verdade não nos comunicamos muito nesses sete anos separadas. Como é que ela falaria?
Quando cheguei ao hospital, estava lotado. Não estranhei, afinal, o SUS no Brasil é uma miséria. Andei para cima e para baixo, para ter uma notícia da minha irmã e não foi fácil. As informações eram sempre contrárias, sempre diferentes.
— Família de Panyin Dinis? — Ouvi gritarem.
— Aqui! — Levantei a mão, eufórica, e corri para onde a mulher me chamou, estava um pouco longe.
— Siga-me, o médico deseja falar com você! — Informou friamente, sem ao menos olhar em meus olhos. Achei uma falta de empatia da parte dela, afinal de contas, estou nervosa, e com muito medo que algo esteja acontecendo.
Fui até a sala do médico a contragosto, porque na verdade, eu preferia ver a minha irmã, primeiro, claro, meu sobrinho ou sobrinha. Entrei na sala e analisei a feição do tal médico. Eu vi imparcialidade, e algo a mais como... Pena. Eu não entendo por que ele está me passando isso. Droga! Essa porra hoje parece que é viral.
— Boa tarde! Quero que diga qual é a real situação, da minha irmã, e, por favor, sem rodeios. — Ele assentiu compreendendo, e fez o que pedi.
— Sua irmã deu entrada em trabalho de parto. — Falou tranquilamente.
— Isso eu já sei, doutor! Quero saber, por que está me olhando com pena. — O olhei contrariada. — É o bebê, é isso? Como está o bebê, doutor?
— Na verdade, são os bebês! — Sorriu. — São duas meninas muito saudáveis!
Gêmeas!! Senti algo tão bom por dentro. Eu tenho duas sobrinhas, isso é maravilhoso.
— E a minha irmã? — O sorriso do médico desapareceu. Meu coração começou a bombear rápido em meu peito.
— Houve uma complicação no parto, ela perdeu muito sangue, eu... — Engoliu seco. — Receio que ela não tenha muito tempo.
Levantei exasperada, derrubando até a cadeira no chão.
— Como assim? — Apertei meus punhos. — Quero ver minha irmã, doutor!
— Claro! Venha comigo. — Ele me levou até a UTI, e me mandou vestir uma roupa esterilizada.
— É nesse quarto. — Entrei sem olhar para a cara do médico, e me dirigi até o leito onde ela está. Quando a avistei, a primeira coisa que vi foi a sua palidez. Ela está tão magra. Como eu pude abandonar a minha irmã? Como?
— Pan! — Chamei com lágrimas nos olhos.
— Ablinha! — Falou com dificuldade o apelido que me colocou desde a nossa infância.
— Não fale, isso pode lhe deixar cansada. — Ela riu tristemente, antes de falar.
— Eu estou morrendo minha gêmula. — Disse normalmente, fazendo meu coração sangrar.
— Pare de falar isso, você não pode me deixar. — Falei desesperada. — Você está vendo? Eu voltei! Nós vamos ficar juntas agora. Eu, você e minhas sobrinhas.
— Abla, me escute. — Ela pediu com dificuldades, só que eu não quero aceitar.
— Deixe-me ser o seu abrigo, deixe eu lhe proteger minha Pan. — Eu pedia com tanta dor. Como se uma parte minha estivesse sendo tirada de mim.
— Abla! — Implorou.
— Por favor, pare. Precisa de descanso, com toda certeza ficará nova em folha! — Eu pedia, dilacerada. Mas ela não me escutou, estava determinada a falar.
— Quero que me prometa uma coisa. — Mesmo com o obstáculo que é a sua respiração, não desistiu de falar. Eu não aguentava ver a minha irmã sofrendo desse jeito.
— Tudo o que quiser. — Falei por fim, para ela falar de uma vez, e depois descansar.
— Cuida das minhas filhas por mim, dê todo o amor que não poderei dar as duas.
— Não fale assim. — Pedi com os olhos cheios de lágrimas. — Se você morrer, eu morrerei junto, você me completa Pan. Como posso perder uma parte de mim?
— Você não pode morrer comigo! — Declarou séria. — Não faça isso.
— Me perdoe por tê-la abandonado, eu deveria estar lá por você.
— Você só seguiu o seu sonho, assim como eu seguir o meu. Estou muito orgulhosa de você, eu a amo.
— Também amo você. — Eu já estava em prantos. Já vi muitos morrerem, eu sei quando a morte está por perto, e nesse exato momento, ela está aqui nos rondando.
— Promete que cuidará de Nia e Niara? — Perguntou com um meio sorriso.
— Com a minha vida! Você quer que eu coloque o nome delas assim? — Dei um meio sorriso, em meio às lágrimas.
— Quero! — Afirmou. — Nia significa...
— Desígnio, e Niara aquela que tem grandes propósitos. — Nós duas falamos juntas. Ela deu outro sorriso triste, cortando o meu coração.
— O pai delas? — Perguntei apertando sua mão fria.
— Eu não sei quem... — Não conseguiu terminar.
Meu Deus, a minha irmã precisava de mim, e eu não estava aqui para protegê-la.
— Me perdoe minha irmã, eu falhei com você. — Falei novamente, me sentindo culpada.
— Não se culpe pelas minhas escolhas, eu escolhi viver dessa forma.
— Mas... — Tentei falar, mas ela não deixou.
— Shiii! Não quero que fale mais desse jeito. — Exigiu. — Não pode carregar o mundo todo nas costas. Promete para mim?
— Está bem! Agora pare de falar, e descanse, por favor. — Eu implorei. Ela me chamou para perto dela, e me deu um beijo no rosto. Sentei ao seu lado, e zelei pelo seu sono.
Ela respirava lentamente e cada vez, mais devagar. Teve uma hora que ela deu um grande suspiro, e parou de vez. Os aparelhos começaram a apitar, e eu comecei a entrar em pânico.
— Pan, Pan, acorda. Não brinca assim comigo... Acorda! — Eu gritava chacoalhando os ombros dela. Uma enfermeira entrou e pediu para eu sair enquanto o médico a olhava. Eu me debatia para me soltar e voltar para dentro, só que não deixavam. Os vi tentando reanimá-la e nada acontecia.
— Hora do óbito 15h00min! — Ouvi a voz entristecida do médico, olhando para o leito onde minha irmã jazia inconsciente.
Eu não conseguia acreditar que a minha irmã estava morta. Que a minha metade não estava mais neste mundo. Eu sinto como se ela só estivesse esperando por mim para dizer adeus. Era como se soubesse que eu estava a caminho. Eu fiquei aérea, sentada no banco da recepção, sem conseguir me mover.
— Abla Dinis! — Quando ouvi chamarem pelo meu nome, me levantei no modo automático, e fui ver do que se tratava.
— Qual é o problema?
— É sobre os bebês! — Eu não havia esquecido delas, eu só estava dando um tempo para assimilar tudo.
— Onde elas estão? — A mulher me levou até onde eu poderia vê-las, e foi me passando algumas informações.
— Você pode vir buscá-las amanhã!
— Certo! — Eu disse. Mas na verdade estava em pânico, eu nunca cuidei de um bebê, ainda, mais de duas, e ainda por cima, recém-nascidas. Como irei alimentá-las? O resto é fácil, procuro no G****e, agora e o leite materno, que é essencial para os primeiros meses de vida?
Bem, eu saí do hospital com esses pensamentos em mente, tentando achar uma solução para minha vida, que mudou drasticamente, novamente. Estou no ônibus a caminho de casa, eu tento conter as lágrimas, porém, elas são teimosas e caem sem parar. O ônibus parou na sinaleira, e eu olhei para o lado. Vi um carro muito luxuoso, provavelmente quem estava dentro deveria ser muito rico. Na verdade, riquezas nunca encheram meus olhos. O que atraiu meus olhos ao carro foi a sua singularidade. Ele é todo preto, e tem seus vidros todos filmados, não dá para ver nada por dentro, e isso me incomodou um pouco. Quando os carros começaram a rodar novamente, eu dei graças a Deus. Por incrível que pareça, ver aquele carro me deu uma vontade louca. Uma vontade de ir embora desse estado, e renovar as nossas vidas.
— É isso que vou fazer. Eu irei embora daqui, com minhas sobrinhas e recomeçar do zero. Só preciso encontrar o lugar certo.
Dias atuais…RiddickQuatro anos haviam se passado, e nada foi feito. Sempre informações falsas chegavam até mim, só que ainda não desistir. Estou com 34 anos. Possuo as mesmas capacidades de combate, eu acho até que bem melhores. Treino todos os dias sem parar.Tenho as mesmas equipes trabalhando comigo, porém, o mais chegado a mim continua sendo JJ, ele ainda é o meu braço direito e meu melhor amigo. Lutamos lado a lado no Vietnã.A minha empresa está situada em New York, várias pessoas de todas as partes do mundo vêm pedir a minha ajuda. Às vezes faço alguns trabalhos Pro Bono, outras vezes não. Eu não sou padre, e tão pouco voluntário. Não faço caridades. Por escolha minha, me tornei um homem frio, quer dizer mais frio do que eu era. Se antes eu não buscava relacionamentos fixos, agora piorou. Só dou prazer e recebo em troca, apenas isso.Não me acho um homem lindo, mas tenho meus atributos físicos que dão inveja a muitos por aí. Fora meu corpo atlético, sei que elas gostam disso.
Abla Dinis.Faz exatamente, quatro anos que estou aqui em New York. Naquele mesmo dia em que perdi minha gêmea, tomei a decisão de ir embora da minha cidade, Salvador, capital da Bahia. Mas, o que me surpreendeu mesmo, foi à necessidade de partir do meu país. Eu escolhi essa cidade, na verdade aleatoriamente, não foi porque eu a amava. Em primeiro lugar, nunca havia pisado nela. Foi muito difícil dar esse passo, no entanto, eu estava decidida. Para ajudar a nossa mudança, pedi um favor a uma conhecida, ela conseguiu um visto para mim, e para as meninas. Desde que eu cheguei, trabalhei em vários lugares. Tudo isso para dar uma boa estrutura às minhas meninas. No tempo do exército, consegui guardar uma boa soma, mas quando se vive com duas crianças, o dinheiro evapora. Eu preciso de um emprego que possa ganhar melhor, sei que ficarei muito tempo longe delas, mas é necessário para nós três.Vocês devem ter reparado que as meninas me chamam de mãe! Na verdade, é uma opção delas. Assim qu
Abla DinisFui para casa correndo, estou com muita saudade delas. Não sei o que vai ser de mim, nunca me separei das minhas pequenas por tanto tempo. Será muito difícil. Bati na porta de Bia e minhas pimpolhas, saíram correndo para me abraçar.— A benção mãe! — As duas falaram juntas, me arrancando uma gargalhada.— Deus abençoe as duas. — Entreguei as sacolas e elas foram à frente.— Agradeço muito, Bia. Aqui está o pagamento — Sorri sem graça. — Sei que não é muito, mas quando pegar meu primeiro salário, lhe darei um melhor.— Não se preocupe senhorita Abla, gosto de cuidar das meninas. — Respondeu-me sincera. Eu sei que ela gosta, se não soubesse, ela nem ia encostar nelas.— Que bom! — Me despedir dela e fui ver meus furacões em forma de gêmeas. Porque é isso que elas são, meus melhores e mais intensos furacões.Abla Dinis— Meninas, vocês têm cinco minutos, se eu for aí, vocês não vão gostar! — Disse zangada, para elas se tocarem. Meu pai do céu, toda vez é essa luta para levanta
Abla Dinis— Não tem problema, meninas, nada de brigas. Estou muito orgulhosa de vocês.— Nós te amamos mamãe! — As duas falaram juntas, eu não aguentei comecei a chorar.— O que foi? Por que tá cholando? — Niara perguntou preocupada.— É de emoção, eu amo tanto vocês duas. Nós ficamos abraçadas um bom tempo, porém, a fome bateu. Levantamos as três, tomamos banho juntas, fiz uma janta leve, e comemos. Na hora de dormir, elas fizeram birra.— Deixa a gente dormir com a senhola hoje? — Nia pediu fazendo aquele biquinho irresistível.— Tá bom. — Respondi vencida.— Ebaaaa! — As duas gritaram, me fazendo tapa os ouvidos.— Mas só hoje, amanhã cada uma em sua cama. — Elas concordaram com a cabeça.— Vamos fazer nossa oração! — Niara falou eufórica. Ajoelhamo-nos na beira da cama e elas repetiram a oração delas, as duas falavam a mesma coisa em uma só voz.— Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça de Deus e do Espírito Santo.— Anjinho da Guarda, meu bom amiguinho, me leve she
RiddickFui para a minha sala ainda mais puto do que eu estava. Se isso é possível, porra.— Cara o que foi aquilo tudo? — Nunca o vi tão chateado comigo. Por que tratou a moça daquele jeito? — Fiquei o encarando, calado. Na verdade, não sei o que dizer, nem sei por que a tratei daquele jeito. — Estou esperando! — JJ falou, contrariado.— Não tenho nada a dizer. E outra coisa, a funcionária é minha, acho bom não se meter. — Avisei voltando ao normal.— Claro que tem muito a dizer. Diga o porquê daquela raiva que vi em seus olhos quando olhou para ela. — Foi até a janela para espiar. — Claro que vou me meter. Antes você nem se importava quando me via conversando com suas funcionárias.— Não sei dizer. — Dei de ombros, ansioso. — Eu não sei cara. Tem algo estranho nessa mulher. — Em vez de ficar sério, JJ sentou de frente para mim e começou a rir. Imbecil!— Qual é a graça, porra? — Questionei batendo na mesa. Mesmo assim não o intimidei. Depois que acabou com sua crise de riso, JJ f
RiddickEntrei no meu carro e esperei até ela aparecer. Minha querida assistente entrou em um táxi, sorridente como sempre e em menos de dez minutos, ela parou em frente a um portão velho. Pagou o táxi e entrou. Eu continuei no mesmo lugar, observando. De repente uma jovem que aparenta ter uns dezoito anos, saí da casa, sorrindo. Abla dá um abraço nela e lhe entrega algo em mãos. Se eu for deduzir, diria que é dinheiro. Isso me deixou intrigado e curioso. Por que será que ela estava com uma menina na casa dela? E por que lhe entregou dinheiro? A curiosidade está me matando, peguei o meu celular e liguei para Mabel.— Algum problema, senhor Riddick? — Mabel me perguntou com sua voz assustada. Porra, as vezes isso é chato demais, caramba.— Quero que adiante a investigação sobre a senhorita Dinis! — Fui direto ao ponto sem rodeios.— Algum problema? Ela fez algo que não gostou? — Questionou preocupada. — Só faça o que eu mandei. — Falei ignorando sua pergunta.— Sim, senhor Riddick!
Abla DinisHoje, faz três semanas que comecei a trabalhar com o senhor Riddick. Suas grosserias não pararam, mas em compensação deram uma amenizada. Bem, eu não consigo entender por que tanta implicância comigo. Ainda me pergunto se é só com a minha pessoa ou ele faz a mesma coisa com outras também. Agora eu não posso conversar com nenhum homem, que a grosseria triplica de intensidade. Uma vez, ele me pegou conversando com o rapaz da contabilidade, encheu o cara de desaforos, e claro que eu não fiquei atrás. O ponto alto dessas três semanas foi percebê-lo me seguindo naquele dia. Admito que fiquei intrigada e curiosa. Confesso que fiz de tudo para não ir lá tirar satisfação, mas a droga da curiosidade falou mais alto. Fora que as minhas filhas estavam em casa, e eu não queria expô-las de forma alguma. Bem, ele não quis me dizer o porquê de ter feito aquilo, entretanto, nem eu quis saber. Graças a Deus, ele não fez, mas isso, quer dizer, eu acho que não fez. Mas, engraçado foi a cara q
Abla Dinis — Hum... A senhorita é realmente perversa! — Ele disse como se tivesse constatado agora. Não havia desgosto nos olhos dele, apenas surpresa.— Só com quem precisa, senhor! — Ele riu de ladino, antes de dar essa conversa por encerrada.— Se isso passar dos limites, eu quero o nome dele!— Feito! — Eu disse me afastando e respirando normalmente de novo.— O que temos para hoje? — O senhor dará uma palestra no espaço de formação de agentes Excellence. Já separei o conteúdo que será dado.— A senhorita leu o conteúdo?— Não senhor. Os arquivos diziam confidenciais, achei prudente não mexer. — Eu falei com um pouco de animação. Acho que até demais, pois ele reparou. — Algum problema? — Perguntei tentando disfarçar minha euforia, mas isso foi quase impossível.— Não entendi essa sua animação? — Arqueou a sobrancelha claramente intrigado. Tossi nervosamente, para camuflar meu entusiasmo.— Eu gosto dessas coisas, senhor! — Confessei olhando para ele. Meu Deus, tomara que ele