Capítulo 0003
Jefferson a levou até o banheiro sem dizer uma palavra e saiu logo em seguida, deixando Camila sozinha com seus pensamentos.

Ela permaneceu com a cabeça baixa, os olhos fixos no chão. Só depois que Jefferson saiu, Camila levantou lentamente o olhar e, com mãos trêmulas, limpou as lágrimas que teimavam em escorrer por seu rosto.

Alguns momentos se passaram antes que ela respirasse fundo, tentando recuperar um pouco de sua compostura. Com movimentos lentos e quase mecânicos, ela trancou a porta do banheiro, isolando-se do resto do mundo, e tirou do bolso o relatório do teste de gravidez que havia recebido do hospital.

Ao ver o papel em suas mãos, uma dor aguda perfurou seu coração. O relatório estava todo borrado, as palavras manchadas e quase ilegíveis, arruinadas pela chuva que parecia ter destruído mais do que apenas um pedaço de papel.

Ela tinha planejado dar essa notícia como uma surpresa, algo que pudesse, quem sabe, trazer alguma alegria. Mas agora, enquanto observava as letras borradas, percebeu que essa ideia já não fazia mais sentido. O sorriso que tentou formar em seus lábios se transformou em uma expressão amarga.

Depois de dois anos ao lado de Jefferson, Camila conhecia bem o homem que estava ao seu lado. Ele era o tipo de pessoa que não se separava do celular, que sempre tinha controle sobre tudo. Não seria o tipo de pessoa que enviaria uma mensagem só para mandá-la de volta em seguida.

Alguém devia ter pegado o celular dele, enviando aquela mensagem maldosa, apenas para fazer dela motivo de chacota. A amargura tomou conta de seu coração, e ela se imaginou, molhada e ridícula, enquanto um grupo de pessoas se divertia às suas custas, rindo de sua inocência, de sua vulnerabilidade.

Camila ficou olhando para o relatório por um longo tempo, antes de soltar um sorriso irônico. Com uma mão trêmula, ela começou a rasgar o papel lentamente, pedaço por pedaço.

Meia hora depois, ela saiu do banheiro, a pele ainda quente do banho, mas seu coração gelado. Estava calma, pelo menos por fora.

Jefferson estava sentado no sofá, com as longas pernas estendidas e os olhos fixos no notebook em seu colo. Parecia estar mergulhado em questões de trabalho, seus dedos se movendo rapidamente sobre o teclado.

Ao vê-la sair, ele levantou o olhar por um breve momento e apontou para uma tigela de chá de gengibre que estava sobre a mesa ao lado dele.

— Beba o chá de gengibre.

— Tudo bem. — Respondeu Camila, sua voz soando suave e quase mecânica. Ela se aproximou devagar, pegando a tigela com mãos trêmulas. No entanto, em vez de beber, algo dentro dela insistiu em ser dito. Ela hesitou, sentindo um nó se formar em sua garganta, antes de chamar seu nome. — Jefferson.

— O que foi? — Ele respondeu com frieza, sem desviar os olhos da tela.

Camila estudou o perfil dele, os contornos rígidos e a linha bem definida do maxilar, enquanto sentia um calafrio percorrer sua espinha. Seus lábios pálidos tremeram ligeiramente, as palavras presas em sua garganta.

Jefferson parecia impaciente, esperando que ela falasse logo. Finalmente, ele levantou a cabeça, seus olhos se encontrando com os dela. Houve um instante de silêncio, onde os dois apenas se olharam.

Após o banho, a pele de Camila estava rosada, e seus lábios, que antes estavam quase sem cor, haviam recuperado um pouco do calor. Mas ela ainda parecia frágil, como uma flor prestes a murchar. Toda a sua aparência transmitia uma sensação de vulnerabilidade que Jefferson não pôde ignorar.

Ele não sabia explicar, mas algo dentro dele se mexeu, despertando um impulso que ele não conseguia controlar.

Camila, por outro lado, estava perdida em seus próprios pensamentos, concentrada apenas nas palavras que estava prestes a dizer. Mas, quando finalmente se preparou para falar:

— Você...

Antes que as palavras pudessem sair, Jefferson se inclinou rapidamente, segurou o queixo dela com firmeza e a beijou com uma intensidade inesperada.

Os dedos ásperos dele pressionaram sua pele sensível, deixando marcas vermelhas que contrastavam com a brancura de sua pele. A respiração quente de Jefferson se misturou com a dela, e Camila se sentiu sufocada pelo desejo repentino que emanava dele. Tentou resistir, empurrá-lo, mas seus movimentos eram fracos, hesitantes.

Então, o celular de Jefferson, que estava sobre a mesa, começou a tocar, quebrando o momento de forma abrupta. Ele parou de repente, como se toda a paixão que o consumia tivesse se esvaído em um instante. Ainda ofegante, ele deu um beijo suave no canto dos lábios dela, quase como um pedido de desculpas.

— Beba o chá de gengibre e vá dormir cedo.

Sem esperar por uma resposta, ele pegou o celular e se afastou, caminhando em direção à varanda enquanto atendia a ligação. A porta se fechou atrás dele, deixando Camila sozinha, sentada no sofá, ainda atordoada pelo beijo inesperado.

Ela ficou ali por alguns minutos, tentando processar o que havia acabado de acontecer, antes de finalmente se levantar. No entanto, em vez de ir para o quarto, seus passos a levaram até a varanda.

A porta de vidro estava entreaberta, permitindo que uma brisa fresca entrasse e trouxesse consigo a voz baixa de Jefferson.

— Sim, não vou a lugar nenhum. O que está pensando? Durma bem.

A voz dele, que pouco antes havia sido tão fria, agora era tão suave quanto uma carícia, cheia de ternura.

Camila ficou parada, ouvindo aquelas palavras que não eram destinadas a ela, e um sorriso triste se formou em seus lábios.

— Então ele sabe ser gentil. — Murmurou para si mesma, com uma risada baixa e amarga. — Pena que essa gentileza nunca é para mim.

Com o coração pesado, ela se afastou da porta e foi para o quarto. Ela se sentou na beira da cama, seus olhos fixos no vazio, sua expressão inabalável.

Ela sabia, lá no fundo, que o casamento entre eles nunca deveria ter acontecido. Não passava de uma transação, uma forma de resolver problemas que ela não havia criado.

Dois anos atrás, a família Carvalho faliu, e em uma única noite, ela caiu do alto escalão, tornando-se motivo de chacota em toda Santa Sul.

A família Carvalho sempre foi muito influente, mas também fez muitos inimigos. Quando caíram, todos queriam ver seu fracasso. Os sorrisos maliciosos, os sussurros pelas costas, tudo isso ainda ecoava em sua mente. E houve até quem dissesse que pagaria as dívidas da família Carvalho, mas apenas se a filha se submetesse a ele.
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