Na manhã seguinte. Ao acordar, Camila percebeu que estava gripada. O corpo parecia pesado, e uma leve dor de cabeça latejava, incomodando-a desde o instante em que abriu os olhos. Ela pegou um remédio para resfriado da gaveta e encheu um copo com água morna. Assim que colocou o comprimido na boca, um pensamento atravessou sua mente como um relâmpago. Com uma expressão de pânico, ela correu para o banheiro, quase tropeçando no caminho, e cuspiu o remédio na pia com urgência.Ela se inclinou sobre a pia, respirando fundo, tentando tirar o gosto amargo da boca. As mãos trêmulas seguravam as laterais da pia, e seus olhos se fixaram no reflexo no espelho, onde via a própria expressão de desespero.— Tudo bem? Por que tanta pressa? Está se sentindo mal? — A voz masculina, clara e penetrante, surgiu de repente na porta, fazendo Camila sobressaltar. O coração dela quase saiu pela boca, e ela olhou em direção à voz.Jefferson estava na porta, com uma expressão preocupada, os olhos buscando os
— Estou bem mesmo. Você terminou o resumo do trabalho ontem? — Camila perguntou, desviando rapidamente a conversa de volta para o trabalho. Sem poder fazer muito, Viviane decidiu agir de forma prática. Ela trouxe os documentos organizados e preparou uma xícara de água quente para Camila, tentando ajudar da maneira que sabia.— Já que você não quer ir ao hospital, beba um pouco de água quente para se sentir melhor. — Sugeriu Viviane, com um leve sorriso preocupado no rosto.Camila olhou para a xícara que Viviane lhe oferecia e, por um momento, ficou surpresa. Embora Viviane sempre tivesse sido muito dedicada ao trabalho, as duas raramente falavam sobre algo além de questões profissionais. A súbita demonstração de cuidado a pegou de surpresa, e ela se sentiu um pouco aquecida, não apenas pela água quente, mas também pelo gesto.— Obrigada, Viviane. — Disse Camila, pegando a xícara e tomando um gole da água. Enquanto o líquido quente descia por sua garganta, ela notou que Viviane a obser
— Foi só uma chuva, não é nada grave. — Disse Camila, um pouco frustrada, tentando minimizar a situação enquanto seu olhar evitava o de Jefferson. Ela avançou com passos firmes e colocou o relatório de trabalho do dia anterior na mesa. — Aqui está o resumo de ontem, já está tudo organizado. Tenho outras coisas para fazer, então não vou atrapalhar vocês com a conversa. Ela lançou um olhar rápido para Júlia, que imediatamente sorriu para ela.Quando Camila saiu do escritório, Jefferson permaneceu parado, seus olhos ainda fixos na porta por onde ela havia acabado de sair. Uma expressão de preocupação permaneceu em seu rosto, e ele franziu a testa, refletindo sobre o estado visivelmente debilitado de Camila.— Jefferson? — Júlia o chamou suavemente, sua voz delicada o trouxe de volta à realidade.Ele piscou, afastando os pensamentos, mas a preocupação ainda estava presente. Notando isso, Júlia, que sempre tinha um tom gentil, sentiu uma preocupação inexplicável se formando dentro dela. Te
Camila não sabia de alguns detalhes dessa história. Naquele ano, ela também havia caído na água e, após uma alta febre, ficou doente por um bom tempo. Quando despertou, muitas coisas anteriores tinham se apagado de sua memória, incluindo como ela caiu na água. Seus colegas disseram que foi por diversão que ela acabou caindo, mas isso nunca fez sentido para ela.Camila sempre sentiu que algo estava faltando em sua memória, uma espécie de vazio que a perturbava, mas não conseguia se lembrar. Com o tempo, esse episódio se perdeu ainda mais em sua mente, tornando-se apenas uma vaga lembrança. Ela não imaginava que Jefferson guardaria tanta gratidão por quem lhe salvou a vida. E se fosse ela quem tivesse pulado para salvá-lo?No sonho, os sentimentos de Camila pareciam se misturar com o que ela estava vivendo agora. O coração apertado, a cabeça latejando. Por que, na época, a pessoa que salvou Jefferson não foi ela? Se ao menos...De repente, o rosto de Jefferson surgiu diante dela, tão ní
Camila sabia que não podia ir ao hospital. Se o fizesse, a verdade sobre sua gravidez seria revelada, algo que ela temia muito. Era irônico, mas ela não queria que ninguém soubesse, pois ainda desejava preservar o pouco de dignidade que lhe restava. Camila sabia que sua dignidade havia sido comprometida desde o momento em que aceitou o casamento de fachada com Jefferson. Agora, diante dele e de Júlia, a quem ele claramente valorizava, lhe restava ainda menos dignidade. Mesmo assim, ela não conseguia se conformar em expor completamente sua situação e ser alvo de zombarias. Preferia guardar aquele segredo, mesmo que isso lhe custasse ainda mais.Ao ouvir a recusa de Camila, Jefferson franziu a testa, seu olhar ficando sombrio. Sem aviso, ele estacionou abruptamente o carro na beira da estrada, o som dos freios cortando o silêncio tenso no interior do veículo. Camila, surpresa, pensou que ele estava mandando-a sair do carro e, sem hesitar, tentou abrir a porta. Mas, antes que pudesse a
Camila abaixou os olhos, perdida em seus próprios pensamentos. Júlia não era só bonita; ela era incrivelmente competente, carismática, e, acima de tudo, tinha salvado a vida de Jefferson. Se ela estivesse no lugar dele, provavelmente também se sentiria atraída por alguém assim.Quando o amigo de Júlia chegou, vestindo um jaleco branco que transmitia profissionalismo, ele se dirigiu a Camila com um sorriso acolhedor. Após uma breve conversa com Júlia, ele se apresentou, mantendo um tom amigável:— Oi, você é amiga da Juju, certo? Eu sou Guilherme Santos. — Olá. — Camila acenou com a cabeça, tentando não demonstrar sua inquietação. — Está com febre? — Perguntou Guilherme suavemente, aproximando a mão para tocar a testa de Camila. O movimento repentino fez Camila recuar, os olhos se arregalando um pouco com a surpresa. Guilherme riu levemente, percebendo o desconforto dela.— Calma, é só para checar a temperatura. — Disse ele com um tom tranquilizador, tirando um termômetro do bolsocom
Capricho?Camila hesitou por um momento e, sem perceber, soltou um sorriso sarcástico para si mesma.— Claro, é impossível comparar com a sensibilidade da sua Juju. — A frase escapou dos lábios dela antes que pudesse se conter, deixando Jefferson atônito. A própria Camila ficou surpresa com o que havia dito. O que estava falando?Ainda processando suas palavras, ela tentou afastar a sensação de arrependimento que a dominava, mas não teve tempo. Jefferson a puxou delicadamente pelo queixo, forçando-a a encará-lo. Seus olhos, negros como carvão, eram penetrantes, como se quisessem decifrá-la por completo.— Você está com ciúmes dela? — A voz dele saiu baixa, quase um sussurro, mas cheia de um desafio velado.— O que está dizendo? — Camila se apressou em negar.O coração dela deu um salto, batendo rápido e descompassado. Ela tentou empurrar a mão de Jefferson, mas estava fraca, e seu movimento foi ineficaz, quase infantil.O gesto fez com que Jefferson erguesse uma sobrancelha, uma expres
Jefferson não teve escolha a não ser entregar a toalha úmida para Júlia.— Guilherme já me explicou tudo. Deixe comigo. Pode ficar tranquilo, Jef. Vou cuidar bem da Camila. — Garantiu Júlia, com um sorriso tranquilizador.Jefferson lançou um último olhar a Camila, que estava imóvel no sofá, como se fosse um corpo inanimado, e apenas assentiu com a cabeça antes de se virar e sair, fechando a porta atrás de si.O som da porta se fechando ecoou pelo quarto, deixando um silêncio pesado no ar. Júlia lavou a toalha novamente e se aproximou de Camila, carregando um pacote.— Camila, posso te ajudar a limpar? — Perguntou ela, sua voz gentil, quase maternal.Camila realmente estava sem forças, e a ajuda seria mais do que bem-vinda, mas uma parte dela ainda resistia.— Se não for incômodo, talvez seja melhor chamar uma enfermeira. Isso pode ser complicado para você. — Sugeriu Camila, com a voz fraca.Júlia sorriu suavemente, sem deixar transparecer qualquer desconforto.— Não é incômodo, imagina