Camila sabia que não podia ir ao hospital. Se o fizesse, a verdade sobre sua gravidez seria revelada, algo que ela temia muito. Era irônico, mas ela não queria que ninguém soubesse, pois ainda desejava preservar o pouco de dignidade que lhe restava. Camila sabia que sua dignidade havia sido comprometida desde o momento em que aceitou o casamento de fachada com Jefferson. Agora, diante dele e de Júlia, a quem ele claramente valorizava, lhe restava ainda menos dignidade. Mesmo assim, ela não conseguia se conformar em expor completamente sua situação e ser alvo de zombarias. Preferia guardar aquele segredo, mesmo que isso lhe custasse ainda mais.Ao ouvir a recusa de Camila, Jefferson franziu a testa, seu olhar ficando sombrio. Sem aviso, ele estacionou abruptamente o carro na beira da estrada, o som dos freios cortando o silêncio tenso no interior do veículo. Camila, surpresa, pensou que ele estava mandando-a sair do carro e, sem hesitar, tentou abrir a porta. Mas, antes que pudesse a
Camila abaixou os olhos, perdida em seus próprios pensamentos. Júlia não era só bonita; ela era incrivelmente competente, carismática, e, acima de tudo, tinha salvado a vida de Jefferson. Se ela estivesse no lugar dele, provavelmente também se sentiria atraída por alguém assim.Quando o amigo de Júlia chegou, vestindo um jaleco branco que transmitia profissionalismo, ele se dirigiu a Camila com um sorriso acolhedor. Após uma breve conversa com Júlia, ele se apresentou, mantendo um tom amigável:— Oi, você é amiga da Juju, certo? Eu sou Guilherme Santos. — Olá. — Camila acenou com a cabeça, tentando não demonstrar sua inquietação. — Está com febre? — Perguntou Guilherme suavemente, aproximando a mão para tocar a testa de Camila. O movimento repentino fez Camila recuar, os olhos se arregalando um pouco com a surpresa. Guilherme riu levemente, percebendo o desconforto dela.— Calma, é só para checar a temperatura. — Disse ele com um tom tranquilizador, tirando um termômetro do bolsocom
Capricho?Camila hesitou por um momento e, sem perceber, soltou um sorriso sarcástico para si mesma.— Claro, é impossível comparar com a sensibilidade da sua Juju. — A frase escapou dos lábios dela antes que pudesse se conter, deixando Jefferson atônito. A própria Camila ficou surpresa com o que havia dito. O que estava falando?Ainda processando suas palavras, ela tentou afastar a sensação de arrependimento que a dominava, mas não teve tempo. Jefferson a puxou delicadamente pelo queixo, forçando-a a encará-lo. Seus olhos, negros como carvão, eram penetrantes, como se quisessem decifrá-la por completo.— Você está com ciúmes dela? — A voz dele saiu baixa, quase um sussurro, mas cheia de um desafio velado.— O que está dizendo? — Camila se apressou em negar.O coração dela deu um salto, batendo rápido e descompassado. Ela tentou empurrar a mão de Jefferson, mas estava fraca, e seu movimento foi ineficaz, quase infantil.O gesto fez com que Jefferson erguesse uma sobrancelha, uma expres
Jefferson não teve escolha a não ser entregar a toalha úmida para Júlia.— Guilherme já me explicou tudo. Deixe comigo. Pode ficar tranquilo, Jef. Vou cuidar bem da Camila. — Garantiu Júlia, com um sorriso tranquilizador.Jefferson lançou um último olhar a Camila, que estava imóvel no sofá, como se fosse um corpo inanimado, e apenas assentiu com a cabeça antes de se virar e sair, fechando a porta atrás de si.O som da porta se fechando ecoou pelo quarto, deixando um silêncio pesado no ar. Júlia lavou a toalha novamente e se aproximou de Camila, carregando um pacote.— Camila, posso te ajudar a limpar? — Perguntou ela, sua voz gentil, quase maternal.Camila realmente estava sem forças, e a ajuda seria mais do que bem-vinda, mas uma parte dela ainda resistia.— Se não for incômodo, talvez seja melhor chamar uma enfermeira. Isso pode ser complicado para você. — Sugeriu Camila, com a voz fraca.Júlia sorriu suavemente, sem deixar transparecer qualquer desconforto.— Não é incômodo, imagina
Camila foi direta. Diferente da abordagem delicada de Júlia, suas palavras foram mais incisivas.Júlia sentiu um leve desconforto ao ser confrontada daquela maneira.— Eu não quis dizer isso. — Murmurou ela, evitando os olhos de Camila, sua voz quase um sussurro.Camila, no entanto, não estava interessada em discussões. Antes de irem embora, Guilherme entregou um pacote de remédios para Júlia.— Embora sua amiga não queira tomar os medicamentos, tente fazer com que ela tome o máximo que conseguir. É uma medicina tradicional, não faz mal ao corpo. Algumas doses devem ser suficientes. — Explicou ele, com um tom de preocupação evidente.— Entendi. — Respondeu Júlia, pegando o remédio com uma expressão séria. As três pessoas saíram da clínica e voltaram para a família Almeida.Quando chegaram à mansão da família Almeida, Camila, ainda se sentindo desconfortável e com a cabeça pesada, desceu do carro com dificuldade, querendo apenas subir para o andar de cima e descansar. No entanto, ao de
Antes de sair, ela deu uma última olhada no quarto, seus olhos capturando cada detalhe com rapidez. Foi então que notou um terno masculino sob medida pendurado no cabide do lado de fora. Não havia dúvida, era um estilo que só Jefferson usaria.A expressão de Júlia ficou mais pálida, o coração apertado com uma sensação de desconforto que ela rapidamente reprimiu. Sem demonstrar emoções, seguiu Jefferson para fora, mantendo a postura elegante e fria que a situação exigia. Depois que eles se foram, Camila abriu os olhos devagar, o olhar perdido no teto branco. A confusão tomava conta de sua mente.O que fazer com relação à gravidez? Ela sabia que não poderia esconder aquilo por muito tempo. Diferente dos sentimentos que podia reprimir por anos, a gravidez se tornaria evidente com o tempo. Cada dia que passava era um passo mais perto de um abismo de incertezas.Apenas pensar nisso fazia sua cabeça girar. A exaustão física e emocional a dominou, e ela acabou adormecendo profundamente.No s
No momento em que Jefferson apareceu, Camila sentiu um tremor no fundo da alma, seguido por uma onda rápida de pânico. Era como se tivesse sido pega em flagrante, mas ela logo se forçou a se recompor, mantendo a calma exterior.— Você já viu tudo. — Disse ela, mordendo seus lábios pálidos, sem tentar disfarçar a situação.A atitude direta de Camila fez com que o olhar investigativo de Jefferson diminuísse um pouco. Ele estreitou os olhos, mas o tom de seu olhar ficou menos severo. Jefferson se aproximou, parando a uma distância que para Camila parecia ao mesmo tempo próxima e distante, e olhou para a tigela de remédio vazia em suas mãos.— Todo o trabalho que a cozinheira teve para preparar o remédio e você simplesmente derramou tudo sem tomar uma gota? — Jefferson perguntou, com um tom de uma leve irritação reprimida.Camila lançou um olhar de lado a ele, uma mistura de desafio e cansaço.— Eu já disse que não ia tomar. — Respondeu ela, sem esconder a decisão que havia tomado.Depois
A cama estava fria. Ela mordeu os lábios vermelhos, um gesto automático de inquietação, e a luz em seus olhos, que já estava fraca, se apagou lentamente. Parecia que toda a cor e vida estavam se esvaindo aos poucos.Logo pela manhã, antes mesmo de ela ter a chance de respirar fundo, a empregada entrou com uma tigela de comida e uma de remédio. O cheiro forte invadiu suas narinas, provocando um desconforto instantâneo.Depois de se arrumar, Camila sentiu uma onda de irritação tomar conta de si ao perceber o forte odor do remédio. Suas sobrancelhas se franziram automaticamente.— Senhorita, sobre o remédio... — Começou a empregada, tentando introduzir o assunto com cuidado.— Eu não pedi para não prepararem mais esse remédio? Por que está aqui de novo? — Camila já irritada, interrompeu-a com um tom mais severo do que pretendia.Normalmente, Camila era muito tranquila, raramente levantava a voz, então a sua súbita mudança de comportamento pegou a empregada de surpresa. Os olhos da emprega