Capítulo 0008
Camila não sabia de alguns detalhes dessa história.

Naquele ano, ela também havia caído na água e, após uma alta febre, ficou doente por um bom tempo. Quando despertou, muitas coisas anteriores tinham se apagado de sua memória, incluindo como ela caiu na água. Seus colegas disseram que foi por diversão que ela acabou caindo, mas isso nunca fez sentido para ela.

Camila sempre sentiu que algo estava faltando em sua memória, uma espécie de vazio que a perturbava, mas não conseguia se lembrar. Com o tempo, esse episódio se perdeu ainda mais em sua mente, tornando-se apenas uma vaga lembrança. Ela não imaginava que Jefferson guardaria tanta gratidão por quem lhe salvou a vida. E se fosse ela quem tivesse pulado para salvá-lo?

No sonho, os sentimentos de Camila pareciam se misturar com o que ela estava vivendo agora. O coração apertado, a cabeça latejando. Por que, na época, a pessoa que salvou Jefferson não foi ela? Se ao menos...

De repente, o rosto de Jefferson surgiu diante dela, tão nítido e real que parecia estar ali, à sua frente. Seus olhos, antes tão familiares, estavam frios e impiedosos.

— Camila, tire o bebê. — Disse ele, com uma voz áspera, quase sem emoção.

Logo, Júlia apareceu ao lado de Jefferson, grudada a ele como uma sombra persistente, o rosto angelical, mas com um olhar de superioridade que fazia o sangue de Camila gelar.

— Camila, se você não abortar, não estará tentando destruir nosso relacionamento, estará? — A voz de Júlia era doce, mas carregava uma ameaça sutil que cortava como uma lâmina afiada.

Ao ouvir a palavra “destruir”, o olhar de Jefferson se tornou ainda mais frio. Ele deu alguns passos à frente, seus movimentos lentos, mas cheios de uma tensão ameaçadora, e apertou o queixo de Camila com força, obrigando-a a olhar diretamente em seus olhos.

— Comporte-se, senão não me culpe se eu agir com firmeza. — Ele ameaçou com frieza.

A pressão em seu queixo era tão intensa que parecia que ele poderia esmagá-lo. Camila sentia a dor irradiando pelo rosto enquanto lutava para se libertar, o desespero crescendo dentro dela. De repente, tudo ficou escuro e ela acordou, suando frio e completamente encharcada.

O que viu à sua frente foram as estradas passando rapidamente pela janela do carro. Ainda estava ofegante, o coração batendo descontrolado. Será que havia acabado de ter um pesadelo? Parecia tão real...

Camila soltou um suspiro pesado, tentando acalmar a respiração e o coração acelerado.

— Camila, você acordou. — A voz suave de Júlia a fez levantar os olhos. Ela viu o rosto preocupado de Júlia, que se virou para ela com um olhar ansioso. — Que bom que você está bem. Estava preocupada que algo pudesse ter acontecido com você.

“Júlia? O que ela estava fazendo aqui?”, Camila pensou, confusa.

Ainda desorientada, Camila percebeu algo e olhou ao seu redor. Era Jefferson quem estava dirigindo, com Júlia ao seu lado no banco do passageiro.

Jefferson, ao notar que ela havia acordado, lançou um olhar preocupado para ela pelo espelho retrovisor.

— Já acordou? Onde mais está se sentindo mal? Vamos ao hospital mais tarde para que o médico possa examinar tudo. — Disse ele, com uma voz que tentava ser firme, mas havia um leve tremor de preocupação nela.

A ideia de ir ao hospital fez o coração de Camila acelerar novamente, já que a recente experiência com o pesadelo ainda a deixava agitada e insegura.

— Não, não é necessário ir ao hospital. Eu estou bem. — Recusou ela, diretamente.

Jefferson olhou para ela novamente, dessa vez com uma expressão de irritação crescente.

— Você está com febre. Não sabe que precisa de cuidados médicos? — Ele argumentou, tentando manter a paciência.

Júlia também concordou, sua expressão preocupada e o tom da voz gentil, quase maternal:

— Sim, Camila, você está com febre alta e precisa ir ao hospital. Ouvi do Jef que você se molhou na chuva ontem. O que aconteceu exatamente?

Camila olhou para Júlia com os lábios pálidos, incapaz de responder.

Júlia parecia estar insinuando algo com suas perguntas, e Camila se perguntava o que exatamente ela queria descobrir. Enquanto sua mente corria, buscando respostas, Júlia, com um olhar ainda mais preocupado, disse:

— Sobre o que aconteceu ontem...

Antes que pudesse terminar, Jefferson a interrompeu com uma voz firme, o tom não deixando espaço para discussão:

— De qualquer forma, vamos ao hospital. Você deve descansar bem nos próximos dias e não ir ao trabalho por enquanto.

Júlia olhou para Jefferson com surpresa pela interrupção abrupta. Era raro vê-lo tomar decisões tão autoritárias, especialmente quando se tratava de Camila.

Camila, por sua vez, abaixou os olhos, sentindo um frio profundo se espalhar por seu corpo. Jefferson realmente parecia proteger Júlia com muito zelo, quase como se ela fosse a única coisa que importasse para ele.

Depois de um momento, Camila levantou a cabeça, a determinação em seu olhar se intensificando.

— Eu não vou ao hospital. — Declarou, a voz firme, mas com uma tristeza que se escondeu atrás de suas palavras.

Jefferson franziu a testa, achando que ela estava agindo de maneira especialmente teimosa naquele dia.

— Você está doente e não quer ir ao hospital? O que você está pensando? — Ele perguntou, com um tom de exasperação.

— Eu sei como meu corpo está. — Afirmou Camila, mordendo os lábios, sua voz baixa, mas resoluta.
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