Capítulo 0007
— Foi só uma chuva, não é nada grave. — Disse Camila, um pouco frustrada, tentando minimizar a situação enquanto seu olhar evitava o de Jefferson. Ela avançou com passos firmes e colocou o relatório de trabalho do dia anterior na mesa. — Aqui está o resumo de ontem, já está tudo organizado. Tenho outras coisas para fazer, então não vou atrapalhar vocês com a conversa.

Ela lançou um olhar rápido para Júlia, que imediatamente sorriu para ela.

Quando Camila saiu do escritório, Jefferson permaneceu parado, seus olhos ainda fixos na porta por onde ela havia acabado de sair. Uma expressão de preocupação permaneceu em seu rosto, e ele franziu a testa, refletindo sobre o estado visivelmente debilitado de Camila.

— Jefferson? — Júlia o chamou suavemente, sua voz delicada o trouxe de volta à realidade.

Ele piscou, afastando os pensamentos, mas a preocupação ainda estava presente. Notando isso, Júlia, que sempre tinha um tom gentil, sentiu uma preocupação inexplicável se formando dentro dela. Tentando entender o que se passava, ela comentou. — Pelo que eu vi, a Camila não está bem. Embora ela seja sua secretária agora, ela era filha de uma família importante antes da falência. Não trate ela com rigidez.

Rigidez?

Jefferson soltou um leve suspiro, com um sorriso sarcástico brincando nos lábios. A verdade é que, por mais que tentasse ser duro com ela, havia algo em Camila que o desarmava, algo que o impedia de agir com a rigidez que julgava necessária. Mas ele não expressou isso em voz alta. Apenas respondeu, desta vez de forma mais seca:

— Entendi.

Enquanto isso, Camila voltou para o escritório com a cabeça pesada e mal conseguia se manter em pé. Assim que se sentou em sua cadeira, uma onda de exaustão a envolveu, e ela não conseguiu evitar de se deitar sobre a mesa. O mal-estar que sentia parecia estar aumentando, sua cabeça girando como se o ambiente estivesse se movendo ao seu redor.

Ela não sabia quanto tempo havia se passado quando ouviu a voz de Viviane.

— Camila, por que você não vai para casa descansar? — Viviane perguntou, com uma voz suave, mas cheia de preocupação.

Camila estava realmente sem energia e se sentia extremamente desconfortável.

— Vivi, vou dormir um pouco... Só um pouquinho. — Respondeu, com um suspiro cansado.

Depois de falar, Camila caiu em um sono profundo, seu corpo finalmente cedendo ao cansaço.

Ela sonhou, e no sonho, ela voltou para quando tinha dezoito anos.

Era o dia do aniversário de maioridade de Camila e Jefferson. As cerimônias de ambas as famílias estavam sendo realizadas juntas em uma grande festa. Camila usava um vestido azul que adorava, que realçava sua pele clara e seus olhos brilhantes. Seus cabelos ondulados estavam perfeitamente arrumados, e ela se sentia confiante e bonita, pronta para confessar seus sentimentos a Jefferson naquele dia especial.

Camila procurou por Jefferson durante um bom tempo até finalmente encontrá-lo no pequeno jardim. Quando estava prestes a se aproximar, ouviu alguns dos amigos de Jefferson brincando com ele.

— E aí, Jef, agora que você é adulto, tem alguma garota que te interessa? — Um dos amigos provocou, rindo. — Talvez seja hora de pensar em noivado.

— Eu acho que a Camila é uma boa escolha. Ela está sempre por perto de você. — Outro comentou, com um sorriso de malícia no rosto.

Camila parou ao ouvir isso, seu coração pulando uma batida. Curiosa, ela decidiu esperar e ouvir a resposta de Jefferson. Afinal, a resposta dele era crucial para o que ela planejava fazer a seguir.

Antes que Jefferson pudesse responder, um dos melhores amigos dele se adiantou:

— A Camila não serve. O Jef a vê como uma irmã. Todos sabem que ele só tem olhos para a Juju. Juju...

Camila espiou Jefferson discretamente, seu coração afundando. Ele estava sentado calmamente no banco de pedra, com um leve sorriso no rosto, sem negar o que o amigo havia dito. O que era ainda pior, ele parecia concordar com a afirmação.

— De fato, a Juju é mais suave e feminina. A Camila é só uma garotinha. E mais importante, a Juju é a salvadora do Jef.

Quem falou isso era Eduardo Costa, um dos melhores amigos de Jefferson. Ele adorava provocar Camila e sempre que a via, puxava seu cabelo. Ele era, sem dúvida, a pessoa que Camila mais detestava.

Camila sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. Aquelas palavras a feriram mais do que qualquer coisa que ela poderia imaginar.

— Sim, a Juju salvou sua vida. — Acrescentou outro amigo, fazendo um gesto dramático. — Naquela noite, quando o rio estava turbulento, se não fosse por ela, talvez não teríamos mais o Jefferson aqui.

Jefferson confirmou com um aceno de cabeça, seu rosto ficando sério e sombrio à medida que recordava aquela noite. Sob a luz suave da lua, ele murmurou:

— Sempre deixarei um lugar ao meu lado para ela.

Com essas palavras, todo o sangue de Camila pareceu sumir de seu rosto, deixando-a pálida como um fantasma. Seu mundo desabou naquele momento, e ela se deu conta de que sua confissão de amor, que tanto planejava, já estava condenada antes mesmo de começar.

Ela não esperava que tudo desmoronasse tão rapidamente, como um castelo de cartas. A história de Júlia salvando Jefferson era bem conhecida em toda a sociedade, como um conto moderno de “herói salvando a donzela”. Porém, nessa versão, a donzela era ele, e a heroína era Júlia.
Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App