Capítulo 0005
Na manhã seguinte.

Ao acordar, Camila percebeu que estava gripada. O corpo parecia pesado, e uma leve dor de cabeça latejava, incomodando-a desde o instante em que abriu os olhos. Ela pegou um remédio para resfriado da gaveta e encheu um copo com água morna. Assim que colocou o comprimido na boca, um pensamento atravessou sua mente como um relâmpago. Com uma expressão de pânico, ela correu para o banheiro, quase tropeçando no caminho, e cuspiu o remédio na pia com urgência.

Ela se inclinou sobre a pia, respirando fundo, tentando tirar o gosto amargo da boca. As mãos trêmulas seguravam as laterais da pia, e seus olhos se fixaram no reflexo no espelho, onde via a própria expressão de desespero.

— Tudo bem? Por que tanta pressa? Está se sentindo mal? — A voz masculina, clara e penetrante, surgiu de repente na porta, fazendo Camila sobressaltar. O coração dela quase saiu pela boca, e ela olhou em direção à voz.

Jefferson estava na porta, com uma expressão preocupada, os olhos buscando os dela, tentando entender o que havia acontecido.

Assim que seus olhares se cruzaram, Camila desviou rapidamente o olhar, tentando mascarar o nervosismo com uma expressão despreocupada.

— Nada, só... só tomei o remédio errado. — Respondeu ela, tentando se recomper.

Ela limpou a água ao redor da boca, os dedos ainda trêmulos, e saiu do banheiro com passos rápidos, evitando encará-lo.

Jefferson observou sua saída com uma expressão pensativa, o cenho ligeiramente franzido. Algo estava diferente nela desde que voltou na noite anterior, mas ele não conseguia identificar o que era.

Depois do café da manhã, eles saiu juntos. Camila mantinha o olhar baixo, focada em suas próprias mãos, que mexiam nervosamente no cinto de segurança. Jefferson, ao seu lado, notou a palidez no rosto dela e o cansaço nos olhos.

— Quer vir no meu carro? — Perguntou ele, com um tom mais suave do que o habitual, enquanto lançava um olhar preocupado para ela.

Camila, que havia se molhado na chuva no dia anterior e estava se sentindo mal ao acordar, estava prestes a concordar, reconhecendo que talvez precisasse de ajuda, quando o telefone de Jefferson tocou. Ele olhou para o visor e viu que era uma ligação da Juju. Por um momento, ele hesitou, seu olhar cruzando brevemente com o de Camila, mas antes que pudesse tomar uma decisão, ela já tinha se afastado, fingindo não notar a situação.

Apesar de serem casados, Camila e Jefferson não compartilhavam a mesma sintonia, e ela não tinha o hábito de ouvir suas ligações. Mantinham entre eles uma distância que, embora silenciosa, era perceptível e pesada. No entanto, ao ver a maneira como ela estava se afastando, Jefferson sentiu uma pontada de desconforto, como se estivesse perdendo algo, mas rapidamente ignorou o sentimento e atendeu a chamada.

Camila observava de perto, sem querer, mas não conseguia evitar. Percebeu, pelo tom de voz de Jefferson, que a pessoa na linha era alguém importante para ele. Havia uma suavidade, uma leveza em sua voz que ele raramente usava com ela. Ela suspirou profundamente, sentindo um peso no peito, e tirou o celular da bolsa, tentando afastar o ciúme que ameaçava dominá-la, enquanto se dirigia para o estacionamento.

Cinco minutos depois, quando Jefferson terminou a ligação e se virou, Camila já havia sumido. No celular, ele recebeu uma mensagem curta e fria.

[Preciso ir para o trabalho com urgência. Já estou indo.]

Jefferson olhou para a mensagem com um olhar sombrio, o rosto se fechando em uma expressão séria. Ele sabia que algo estava errado, mas não tinha a menor ideia de como começar a corrigir as coisas.

...

Camila, forçando-se a ir para o trabalho apesar do mal-estar que só parecia piorar, se sentou na cadeira do escritório e apoiou a cabeça na mesa. A dor de cabeça estava insuportável, e ela sentia que a qualquer momento poderia desmaiar. O fato de estar grávida tornava a situação ainda mais complicada, não podia simplesmente tomar qualquer remédio sem se preocupar com as consequências para o bebê.

Ela não sabia ao certo o que pensar. Na verdade, a gravidez não era algo que Jefferson desejava, e a única pessoa que provavelmente ficaria feliz de verdade com a notícia seria a vovó Isabela. Os outros, especialmente Jefferson, provavelmente não aceitariam bem a gravidez.

Antes do dia passado, Camila havia alimentado a esperança de que Jefferson poderia aceitar o filho e que talvez o casamento deles pudesse se concretizar de verdade, se tornando algo mais do que apenas um acordo conveniente. No entanto, ao ver que a Juju havia retornado e que os sentimentos de Jefferson permaneciam os mesmos, ela tinha medo de que a reação dele ao saber da gravidez seria algo como: Vamos interromper, isso pode atrapalhar meu relacionamento com a Juju. Esse pensamento a apavorava, fazendo com que sentisse um nó na garganta.

Sua razão dizia que ela deveria considerar a interrupção da gravidez o quanto antes para não perder completamente a dignidade.

— Camila.

A voz suave de sua assistente, Viviane, trouxe Camila de volta à realidade. Ela levantou a cabeça com um esforço considerável e viu Viviane olhando-a com preocupação genuína, os olhos refletindo a apreensão que sentia.

Camila se endireitou na cadeira, tentando parecer mais forte do que realmente estava, e forçou um sorriso que não alcançou os olhos.

— Bom dia, você chegou.

Viviane não sorriu, sua expressão permanecia séria, os olhos examinando Camila.

— Camila, você está pálida. Está se sentindo bem? — Perguntou, preocupada.

Camila hesitou, lutando contra o impulso de admitir que não estava bem, mas ao invés disso, balançou a cabeça com uma tentativa de naturalidade.

— Não é nada, só não dormi bem ontem à noite.

— Será? — Viviane ainda parecia incerta, o tom dela revelando que não estava convencida. — Sua aparência está realmente pálida. Não seria melhor tirar um tempo para ir ao médico?
Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App