Capítulo 0002
No meio das provocações dos amigos, Jefferson abaixou os olhos, desviando o olhar com uma expressão tensa, enquanto rapidamente respondia à mensagem de Camila.

[Não preciso do guarda-chuva. Pode voltar para casa.]

Ao receber essa mensagem, uma onda de confusão tomou conta do coração de Camila. Ela franziu as sobrancelhas, mordendo de leve o lábio inferior, antes de digitar com hesitação.

[Aconteceu alguma coisa?]

Ela ficou ali, parada na chuva, olhando para a tela do celular enquanto as gotas escorriam pela sua mão. Mas Jefferson não respondeu. Talvez ele estivesse realmente ocupado. Tentando afastar a preocupação crescente, Camila suspirou e decidiu que o melhor seria voltar para casa.

— Espere aí. — Uma voz feminina a chamou, interrompendo seus pensamentos.

Camila se virou devagar, sentindo o peso da água em suas roupas. Viu duas mulheres se aproximando, ambas vestidas de forma elegante, com um ar de superioridade que parecia pesar mais que a própria tempestade.

A mais alta delas lançou um olhar de cima a baixo em Camila, antes de perguntar com a voz cheia de arrogância:

— Você é a Camila, né?

A expressão de Camila endureceu, seus olhos se estreitaram por um breve instante antes de responder, mantendo a voz firme e controlada:

— E você, quem é?

— Quem eu sou não importa. — A mulher retrucou, inclinando-se um pouco para frente, como se desafiasse Camila a reagir. — O que importa é que a Juju está de volta. Então, faça o favor de desaparecer da vida de Jefferson.

Os olhos de Camila se arregalaram, e por um momento, ela sentiu o chão sumir sob seus pés. Juju? Há quanto tempo ela não ouvia esse nome? Tantos anos que quase havia apagado essa sombra do passado. Ela sentiu o coração apertar, batendo dolorosamente em seu peito.

O leve tremor de suas mãos não passou despercebido pela outra mulher, que agora sorria com malícia.

— Está surpresa? — A mulher provocou, inclinando a cabeça de lado, como se estivesse saboreando a reação de Camila. — Não me diga que esses dois anos como falsa Sra. Almeida te fizeram pensar que essa posição era realmente sua?

Camila mordeu o lábio com força. Seu rosto, que já estava pálido por causa da chuva, ficou ainda mais desbotado. Ela apertou o guarda-chuva até os nós dos dedos ficarem brancos, enquanto lutava para manter a postura.

— Olha só, ela tá mesmo achando que tem alguma chance contra a Juju. — A segunda mulher comentou com desprezo, revirando os olhos.

— Com que chances? Ela? — A outra respondeu, soltando uma risada cruel.

Sem dizer mais nada, Camila se virou abruptamente, sentindo o coração pesado como chumbo. Ela se afastou das mulheres, ignorando os insultos que se perderam no som da chuva batendo no asfalto.

Ao chegar à mansão da família Almeida, o mordomo que abriu a porta quase deu um salto para trás ao ver a figura encharcada que estava diante dele. Mas ao reconhecer Camila, sua expressão mudou para puro espanto.

— Senhora! — Exclamou ele, preocupado. — Como você se molhou assim? Entre logo!

Camila estava tão congelada que mal sentia os membros. Assim que entrou, uma das empregadas se apressou a cobri-la com uma toalha grossa, enquanto outras tentavam secar seu cabelo. Em questão de segundos, ela estava cercada por rostos preocupados, mãos ansiosas e vozes abafadas.

— Alguém prepare um banho quente para a senhora! — Gritou o mordomo. — E façam um chá de gengibre, rápido!

A movimentação das empregadas estava tão concentrada em Camila que ninguém notou o som de um carro entrando na propriedade. Pouco depois, uma figura alta e imponente apareceu na entrada da mansão.

Foi só quando uma voz gélida ecoou pela sala que todos se deram conta de sua presença.

— O que aconteceu?

Ao ouvir aquela voz, Camila, que estava sentada no sofá, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela fechou os olhos por um segundo, como se quisesse se proteger da realidade. Ele não deveria estar ali. Ele deveria estar com a Juju, não deveria?

— Senhor, a senhora se molhou na chuva. — Explicou o mordomo, com cautela, percebendo o olhar severo de Jefferson.

— Na chuva? — Jefferson repetiu, sua voz baixa e cheia de reprovação. Ele se aproximou com passos firmes.

Quando ele finalmente se aproximou o suficiente para ver o estado de Camila, suas sobrancelhas se uniram em um gesto de irritação contida.

Camila estava um desastre. Seu cabelo estava grudado ao rosto pálido, e seus lábios, normalmente cheios de vida, estavam tão pálidos quanto o resto de sua pele. Ela parecia uma sombra de si mesma, uma figura frágil à beira do colapso.

— O que você fez com você mesma? — Jefferson perguntou, sua voz carregada de frustração e raiva mal contida.

Camila controlou suas emoções com dificuldade, sentindo o nó na garganta apertar cada vez mais. Ela forçou um sorriso fraco, que não alcançou seus olhos, e respondeu com a voz suave e hesitante:

— Meu celular ficou sem bateria e no caminho de volta encontrei uma criança sem guarda-chuva.

A expressão de Jefferson endureceu ainda mais, seus olhos escurecendo com uma raiva gelada.

— Você perdeu a cabeça? — Ele sibilou, inclinando-se levemente em sua direção. — Deu seu guarda-chuva para uma criança e ficou na chuva? Você já é adulta, Camila! Acha que vou te elogiar por isso?

Os empregados ao redor seguraram o fôlego, trocando olhares apreensivos, mas sem coragem de interromper a cena.

Camila abaixou o olhar, as lágrimas já ameaçando escorrer pelos cantos dos olhos. Ela mordeu o interior da bochecha, tentando desesperadamente se manter firme. Mas a sensação de ser uma intrusa na própria casa, de ser tão facilmente descartável, era esmagadora.

Ela não disse nada, lutando contra as lágrimas que agora turvavam sua visão. Apenas quando Jefferson se aproximou e a pegou no colo, a primeira lágrima quente rolou por sua bochecha, caindo em sua mão.
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