Quando o Amor Machuca
Quando o Amor Machuca
Por: Maya Castro
Capítulo 0001
Santa Sul, Hospital São José.

— Parabéns, você está grávida e o bebê está saudável. — Disse o médico com um sorriso caloroso.

Camila Carvalho segurou o relatório do teste de gravidez com firmeza, como se o papel fosse desaparecer a qualquer momento. Grávida? Ela piscou algumas vezes, tentando processar a notícia, sentindo o coração bater mais rápido. Uma mistura de surpresa e uma alegria tímida começou a brotar dentro dela, mas junto vinha uma leve incredulidade.

— Sim, e precisará vir para revisões regulares. E o pai da criança? Pode chamá-lo para que eu possa dar algumas orientações. — Continuou o médico, com gentileza.

As palavras do médico a trouxeram de volta à realidade com um baque. Ela deu um sorriso sem graça, os olhos fugindo para as janelas do consultório, onde uma chuva fina começava a cair.

— Meu marido... Ele não pôde vir hoje. — Respondeu Camila, tentando esconder o desconforto com um sorriso que não alcançou os olhos.

O médico franziu o cenho, o tom de voz um pouco mais sério.

— Isso não pode acontecer. Por mais ocupado que esteja, ele deveria estar ao lado da esposa e do filho.

Ao sair do hospital, Camila foi recebida por uma chuva fina que molhava o chão da calçada. Ela parou por um instante, ainda na entrada, olhando para as nuvens escuras no céu, e colocou instintivamente a mão sobre o abdômen. Sentiu uma onda de emoção que a fez sorrir, um sorriso verdadeiro, cheio de carinho. Ali dentro, uma nova vida começava a crescer, o filho dela e de Jefferson Almeida.

Seu celular vibrou de repente, interrompendo seus pensamentos. Ela pegou o aparelho, secando rapidamente uma gota de chuva que caíra na tela. Era uma mensagem de Jefferson.

[Está chovendo. Traga um guarda-chuva para este endereço.]

Camila franziu a testa ao conferir o endereço: Clube XX. Estranhou, pois Jefferson havia mencionado que estaria em uma reunião de negócios naquele dia. Por que estaria em um clube? Mesmo assim, Camila não pensou duas vezes antes de pedir ao motorista da família Almeida para levá-la até o local.

— Pode voltar, Paulo. — Disse ela ao motorista, quando chegaram ao clube.

— Senhora, não quer que eu espere você? — Perguntou Paulo, sempre atento, olhando pelo retrovisor.

Camila ficou em silêncio por um momento, considerando a oferta. Finalmente, balançou a cabeça.

— Não precisa, vou voltar para casa com meu marido.

Com a decisão tomada, fazia sentido esperar por Jefferson para voltarem juntos. Paulo assentiu e partiu rapidamente, deixando-a sozinha em frente ao clube.

A chuva que antes era apenas um chuvisco agora caía em torrentes. Camila abriu o guarda-chuva e, apesar da proteção, o vento frio e úmido ainda conseguia arrepiar sua pele. Caminhou até a entrada do clube, o coração acelerado. O lugar exalava luxo e sofisticação, mas, ao tentar entrar, foi barrada na porta por um segurança imponente.

— Desculpe, senhorita, preciso ver o seu cartão de sócia. — Disse ele, a voz firme, mas educada.

Camila hesitou, sentindo um nó se formar em sua garganta. Ela não era sócia, e agora se via em uma situação embaraçosa. Decidiu sair dali para enviar uma mensagem a Jefferson.

[Cheguei. Quanto tempo mais você vai demorar? Estou te esperando aqui embaixo.]

Ela guardou o celular e ficou de pé, sob a marquise, observando a chuva intensa enquanto seu pensamento voltava ao relatório do teste de gravidez. Talvez fosse melhor contar a novidade assim que ele saísse. Ou quem sabe esperar pelo aniversário dele e fazer uma surpresa? Ela se sentia dividida entre a alegria da descoberta e a estranheza da situação em que se encontrava.

O que Camila não sabia era que estava sendo observada, e pior, ridicularizada, pelas pessoas que estavam no andar de cima.

Um grupo de pessoas se reunia junto à janela, olhando com desprezo para a figura delicada que estava lá embaixo, sozinha na chuva.

— Jef, olha só, a sua esposa de fachada está mesmo desempenhando bem o papel. Pediu para ela trazer um guarda-chuva e ela veio mesmo. Será que ela acha que você vai se molhar sem guarda-chuva? — Comentou um deles, com um sorriso de escárnio.

— Deve estar tão apaixonada que perdeu completamente o bom senso. — Zombou outro, rindo, como se aquilo fosse a maior piada do mundo.

— Besteira. — Uma voz grave e preguiçosa soou do canto do salão, silenciando os risos.

O homem que havia falado era alto, de pernas longas e postura imponente. Seus olhos eram ligeiramente puxados, mas extremamente cativantes, transmitindo uma frieza que parecia congelar o ambiente. Vestia um terno cinza sob medida que realçava sua pele clara, e seus movimentos eram lentos, quase calculados. Ele levantou a mão levemente, revelando um relógio de pulso sofisticado e luxuoso.

— Devolva. — Disse Jefferson, o tom seco, mas com uma autoridade que não admitia discussão.

O amigo que havia feito a brincadeira forçou um sorriso amarelo e, meio sem jeito, devolveu o celular a ele.

— Que pena, o brinquedo voltou cedo para o dono? — Provocou o amigo, tentando aliviar o clima, mas o sorriso de Jefferson era apenas um leve curvar dos lábios, sem nenhum traço de diversão.

— Olha só, se a Juju não estivesse aqui, você nem teria tido a chance de pegar o celular dele. — Brincou o outro, rindo para a jovem sentada ao lado de Jefferson.

A garota, Júlia Souza, estava vestida com um vestido branco, delicado, que contrastava com sua pele morena. Ela tinha uma expressão gentil, quase inocente, mas seus olhos brilhavam com astúcia. Ao ouvir a provocação, ela sorriu suavemente.

— Deixem disso. — Disse ela, como se tentasse acalmar a situação. — Vocês sabem que não deveriam pegar o celular do Jef para fazer essas brincadeiras, e agora ainda me envolvem nisso.

Os amigos ao redor riram, lançando olhares cúmplices para Jefferson e Júlia, enquanto as provocações continuavam.

— Quem não sabe que no coração do Jef, a Juju é a mais importante?

— Exatamente. Pergunte ao Jefferson e ele dirá a mesma coisa, não é, Jefferson?

Ouvindo isso, Júlia não pôde deixar de olhar para Jefferson, que sorriu de canto, sem negar as insinuações.

O grupo explodiu em gargalhadas, satisfeito com a falta de resposta, enquanto continuava a brincar.

— Já dissemos antes, para o Jef, ninguém é mais importante que a Juju!
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