Chegando a bela residência onde vive Linda Villani, logo noto a presença de segurança por toda a parte, como na mansão em Província di Roma, o lugar é imenso. Fabian abre a porta do carro para mim, enquanto Linda sai pela outra porta falando com alguém ao celular. Fabian Schiavo é minha escolta pessoal, e pela maneira que vem se comportando desde que saímos da Itália, Michael deve tê-lo ameaçado de morte por ter me jogado no banco do carro enquanto deixávamos o convento. O homem está me tratando como se eu fosse feita de cristal, abrindo portas, cuidando até mesmo se subo ou desço alguma escada, e apesar de ter achado divertido nas primeiras vezes, está começando a me irritar.
Linda me trata com muita gentileza, apesar de não confiar nem mesmo em minha sombra depois de tudo, me sinto bem na presença dela. Ela sorri calorosamente enquanto entramos na casa, passando por um pequeno hall e indo em seguinte para uma sala confortável de onde posso ver outros ambientes. Em um deles uma garotinha vestida em seu pijama de unicórnio nota nossa presença e em seguida corre para minha anfitriã.
– Mamãe! – diz ela, genuinamente feliz em ver Linda, que a pega no colo quase chorando – você voltou!
– Eu não disse a você que seria rápido? – ela olhava para a menina como se não a visse a semanas – Senti tanto a sua falta, minha princesa!
– Eu também – ela abraçou a mãe com força, beijando seu rosto em seguida – trouxe presentes?
Aprecio a conversa delas, como Linda me disse, Morgan é esperta e fala o tempo todo, um raio de sol! Então a menina se vira para mim, e me olha como se estivesse decidindo se gosta ou não da minha presença.
– Quem é ela, mamãe?
– Essa moça bonita é Giulia, uma amiga da mamãe – disse Linda encorajando a menina a chegar mais perto de mim – ela ficará uns dias conosco.
– Olá, Morgan – me abaixo para ficar da mesma altura dela, e ela sorri – sua mãe me mostrou fotos suas, mas você é ainda mais linda pessoalmente!
– Obrigada! – ela diz, e olha para Linda – Podemos ficar com ela?
– Morgan! – Linda a repreende, mas eu acabo rindo da pergunta – desculpa, Giulia!
– Ela é linda, mamãe, e você e a vovó sempre dizem que tio Michael precisa de uma namorada – Morgan fala, e sinto que meus rosto fica vermelho.
– Seu tio Michael, hum... – Linda tenta mudar de assunto – querida, o que quer pedir para o jantar?
– Qualquer coisa? – a menina perguntou sorrindo – Pizza!
– Ótimo! – ela concorda – Você vai escolhendo os sabores com a Tina – ela indicou a babá da menina que estava perto – enquanto eu acomodo Giulia no quarto de hóspedes!
Depois de prometer a menina que não demoraria, subimos para o andar superior, enquanto Linda me fala sobre aquela casa ter sido ocupada por seu irmão antes de se tornar capo, e que o quarto dele seria o meu nos próximos dias.
– Hum, ele não vai se incomodar com isso?
– Não se preocupe, ele é um irmão desnaturado, quase não vem aqui – ela ri – e essa não é mais a casa dele. Sabe, eu me mudei para cá por insistência dele, depois que Freddy morreu – ela havia me contado sobre a morte do marido durante a viagem – Michael ainda morava aqui.
– Vocês parecem se dar muito bem – digo, enquanto entramos no quarto, tons mais escuros predominam.
– Sim – ela fala, enquanto abre a porta do closet e indica a do banheiro – pode ficar à vontade – tanto ela quanto eu ouvimos a voz de Morgan pelo corredor, procurando pela mãe.
– Linda, eu não quero atrapalhar, posso me virar por aqui – disse, pois a menina precisa da mãe – vou tomar uma ducha e desço em seguida.
Depois que ela sai, fecho a porta, respiro profundamente e pela primeira vez no dia sinto meu corpo relaxando, meus ombros doem, meus pés estão me matando nesse salto, e silêncio e ao menos alguns minutos sem notar que alguém está me vigiando é tudo o que eu mais desejo! Tiro os saltos, e uma sensação de alívio percorre meus pés, tornozelos e panturrilhas, não eram tão altos quanto os que Linda havia sugerido que eu deveria usar, mas para mim eram altos o suficiente para considerá-los uma tortura.
Vou até o closet e reparo que há algumas peças de roupas lá, poucas, mas que devem servir até que como disse Linda, fossemos autorizadas a sair de casa. A anfitriã está animada para me levar as compras, e eu não tenho dúvidas que fará disso um evento. Além das minhas roupas, reparo que alguns ternos, sapatos, acessórios masculinos ocupam uma pequena parte do closet enquanto estou me despindo e paro imediatamente. Aquele quarto todo parecia ter a presença de Michael Villani, como se ele estivesse bem aqui, me olhando com aqueles olhos impiedosos. Termino de me despir no banheiro amplo e claro, ansiosa por uma boa ducha, enquanto os acontecimentos desde que fui levada pelos Villani. Foi tudo tão rápido que chego a me perguntar se é real, ou se é apenas um sonho ruim do qual não consigo acordar, mas sou trazida a realidade quando sinto que minha mão ainda dói depois do tapa em Michael. Respiro fundo, sentindo meus olhos lacrimejando ao lembrar da maneira grosseira como ele falou de minha mãe. Pensar que as palavras dele era exatamente o que as pessoas falam a respeito de Donatella aperta meu coração, e mais ainda o fato de que naquele momento ele e meu tio devem estar decidindo meu futuro e me negociando.
Não foi por isso que minha mãe fugiu, afinal? Para poder viver sua própria vida, sem que a máfia decidisse por ela, e aqui estou eu, prestes a vivenciar tudo do que ela havia fugido a vida inteira. Gostaria de falar com meu tio, ele é um homem poderoso e temido, tanto ou mais que Michael Villani, e minha mãe sempre confiou nele, não quero acreditar que ele me entregará a um casamento arranjado com um homem como aquele.
Quando volto para o quarto, não sinto fome, mas a vida com Donatella ensinou-me que quando estamos em desvantagem, criar problemas não é uma boa estratégia, e estou certa de que tenho tempo para pensar em uma forma de escapar daquele acordo. Coloco um vestido simples e um tênis branco, e logo, desço para o jantar.
Morgan é uma garotinha adorável, e faz questão de se sentar ao meu lado, contando-me sobre a escola, suas bonecas com quem ela pretende organizar um chá no dia seguinte, para o qual eu e Linda seremos convidadas. A risada da menina é contagiante e sua companhia me faz esquecer por um momento do real motivo de estar em sua casa. Depois do jantar, Linda deixa que a filha assista ao desenho que ela tanto gosta por mais alguns minutos enquanto me oferece uma taça de espumante.
– Não contarei a ninguém – ela diz, piscando para mim e servindo-me uma taça.
A bebida é suave e falamos sobre Joe Cavalieri, meu tio. Linda aparentemente não tem queixas a seu respeito, e me revela que no dia seguinte ele virá, em companhia de Michael para me ver. Fico feliz com a notícia, mas o fato de que Michael também virá frustra meus planos de conversar a sós com meu tio, e tentar convencê-lo a não aceitar aquele arranjo. Eu preciso de tempo, para pensar em uma forma de escapar daquela casa, e da vigilância constante que me foi imposta.
Logo, Morgan dorme no colo da mãe que sobe para colocá-la na cama enquanto eu permaneço ainda por um tempo, bebendo o que Linda disse ser chamado pelo irmão de "bebida para mulheres". Não posso evitar um revirar do olhos, assim como já havia percebido que as roupas escolhidas para mim, eram para agradá-lo, e que parecia que não importava a opinião alheia, a dele sempre permanecia.
Volto para o quarto sonolenta, o que é bom, pois ao menos posso ignorar a sensação de que aquele quarto me parece uma extensão do controle de Michael Villani. Tomo um analgésico pois a dor de cabeça constante que estou sentindo desde cedo parece ter ficado mais forte, e logo vou para a cama.
Estou no quarto escovando meus cabelos, pensando que é hora de cortá-los um pouco, tentando não sofrer por antecipação já que logo meu tio deve chegar a casa de Linda. A última vez que o vi, foi quando ele enviou-me de volta a Itália, eu não queria ficar, queria voltar para o lugar onde havia vivido com minha mãe nos últimos meses de sua vida. Dizem que ela morreu de tristeza, ela nunca mais foi a mesma pessoa depois da morte de meu pai, e eu tinha a impressão que iria pelo mesmo caminho. Meu tio fez se espalhar os boatos de lugares onde eu poderia estar, e até mesmo alguns de que eu havia morrido. E durante dois anos eu vivi praticamente reclusa no Convento de Santa Lucia, ocasionalmente saía para o vilarejo com a Madre e algumas irmãs, e sempre me senti protegida por elas. Meu tia enviava dinheiro, para minhas despesas, e como forma de gratidão ao Convento, as vezes, nos falávamos por telefone, as vezes eu recebia cartas de Nikolai, mas meu contato com o mundo fora das antigas pare
Com o passar dos dias, não só de assuntos relacionados a Giulia Cavalieri necessitam de minha atenção. Por motivos que todos sabemos, os russos parecem estar querendo vingança pelos homens perdidos na Itália e por termos colaborado com os Cavalieri, tomando deles dois fornecedores de droga em Chicago. Estamos não somente em maior número, mas melhor organizados, e além de tudo, desde que não interfiram nos negócios os civis estão seguros em nossa vizinhança. Não damos motivos para a polícia, nem eles fazem questão de investigar quando é muito mais favorável fingir que não veem uma infração aqui, outra ali. Muito diferente dos russos, cujo diplomacia é inexistente.Nossos inimigos em comum estão recuando, mas eu não me engano, desde que os boatos de que estavam enviando homens de prestígio internacional, entre eles seu executor, Nikolai Dotroiov. Desconfiava-se que ele estava em Nova Iorque à alguns dias e que sua missão é recuperar não só seus domínios e recursos, como levar com ele Gi
Quando Linda me avisou que eu acompanharia Michael a casa do consiglieri, estranhei aquele convite inesperado. Estou a dias aqui, e por mais gentil que seja minha futura cunhada, e por maior que seja a casa, me sinto mais prisioneira aqui do que quando estava no convento. Me olho no espelho do closet de Linda, que parece analisar se o vestido que estou usando agradaria Michael, e eu odeio isso. Cada vez que o vejo, é sempre em vestidos justos, e não gosto de pensar que o próprio Villani esteja achando que estou me insinuando para ele. O vestido da vez é nude, um decote insinuante e apesar de estar um pouco acima dos joelhos, é o tipo de roupa que certamente faz Michael Villani olhar com interesse.Logo que soube que ele me aguardava, tratei de ir ao seu encontro, e o vi sobre um dos joelhos sorrindo para Morgan enquanto a menina contava animada sobre algo que havia acontecido na escola. Então, quando ele levantou-se e olhou diretamente para mim, não pude deixar de notar como estava el
Enquanto me dirijo a casa de Linda, penso em tudo que me foi relatado na reunião da qual acabei de sair, havíamos perdido bons homens em um conflito na noite em que levei Giulia para jantar, e por isso adiamos a saída dela novamente para que fossemos meticulosos quanto a segurança dela. Os objetos pessoais de Giulia haviam sido enviados, e evidentemente passaram por mim antes de qualquer um, e mesmo correndo o risco que isso se tornasse motivo de brigas futuramente, não acho que seja um bom momento para devolver a ela. Talvez eu esteja cruzando um limite e por isso não esteja feliz em ver que entre fotos de Donatella e Andrey Ivenchev, caixinhas de música, documentos e roupas pertencentes a ela, eu encontrei cartas, as quais ela provavelmente respondeu. E o remetente é Nikolai Dotroiev.Não li as cartas. Seja qual for seu conteúdo, não me interessa, mas vi as datas, e a última era bem recente, ainda estava fechada, porque quando foi entregue no convento, Giulia já não estava mais lá.
Enquanto aguardo a chegada de minha família a casa de Linda, tento me distrair, mas é praticamente impossível, por que Michael Villani tem feito um esforço mínimo para entrar na minha mente, e está conseguindo! Estou com aquela sensação incomoda, de que cada vez que ele me toca, mais lhe pertenço, e não posso e não vou sucumbir ao charme dele, não importa o quanto ele tente. E não tem sido fácil, como quando ele encostou os lábios nos meus, certo de que eu deixaria me envolver, e a maneira que ele sempre dá um jeito de colocar suas mãos em mim, como toda propriedade que acha que tem. Sinto que Michael tem feito isso com frequência, como um lembrete de que sou dele, e se o odeio por isso, não posso negar que me sinto atraída por ele. A voz, o perfume, a maneira pervertida que me olha, e encontrá-lo trocando de roupa não foi nada ruim de se ver.Respiro fundo, ele deve voltar para o jantar, e de qualquer forma, tenho que me habituar a presença dele, pelo menos até deixar os Villani, os
Depois do jantar na noite passada, não demorei a me recolher, estava com um pouco de dor de cabeça, e demorei a dormir, mesmo me sentindo exausta. Linda me deu um comprimido, mas não perguntou nada, aliás, se tem algo que eu aprecio na irmã de Michael, é a qualidade de perceber o momento certo para falar, sobre qualquer que fosse o assunto. Acho que seria muito bom se eu aprendesse com ela, pois precisava falar com Villani sobre a questão do beijo. Em hipótese nenhuma eu gostaria que isso acontecesse na frente dos convidados, talvez para ele não fosse nada demais, mas seria meu primeiro beijo, e eu sinto arrepios só de pensar que teria uma plateia observando.Tenho certeza que ele vai achar que estou dando muita importância e que me preocupo sem motivos, mas a ideia é convencê-lo a fazer isso logo, tipo, hoje mesmo. E fazê-lo entender o quanto pode ser constrangedor, quem sabe ele até reconsidere, e me dê um beijo respeitoso e rápido. Suspiro, desanimada, pensando que ele muito provav
Durante o almoço a conversa foi mais leve. Falamos sobre a sugestão de Sylvia sobre irmos para Hamptons, na propriedade da família dias antes da cerimônia de casamento, porém Michael fala que provavelmente deve fazer uma viagem a Vegas por aqueles dias, mas acha que podemos ir nos dias que se seguirão.Eu a convido para acompanhar as próximas provas do vestido de noiva, e pela primeira vez vejo um sorriso genuíno nos lábios da mãe de Michael. Ela agradece, e diz que ficaria muito feliz. Percebo que ela não me odeia, mas que está passando por cima de décadas de sentimentos que eu posso apenas imaginar, mas que de fato jamais entenderei. Em nenhum momento o nome de minha mãe é citado, mas tenho a impressão de que Donatella a assombra, e que ela teme que eu possa fazer o mesmo, e deixar Michael no altar.Quando ele vai para o escritório atender o consiglieri, eu fico sozinha com Sylvia e por um momento espero algum tipo de desfeita da parte dela, que se aproxima de mim.– Como estão as c
Michael não atende. O que me faz pensar que talvez seja melhor mesmo, afinal o que eu diria a ele? De novo, a sensação de que ele vai rir, e não vai dar importância. Me levanto, determinada a não pensar mais no assunto quando e vejo que ele está ligando de volta, e atendo depois de alguns longos segundos incerta de que deveria.– Giulia – ouço a voz de Michael – o que houve?– Ah, sim, hum... não houve nada – perfeito, como se eu fosse ligar para Michael em algum momento por nada.– Desculpe-me não atende-la, estava em reunião – tenho uma impressão nítida de ter ouvido alguém grunhir de dor, e o som foi abafado logo em seguida – o que queria?– Não sei como dizer isso, sério, vai parecer ridículo – respiro fundo e me sento na cama – não tem um jeito disso não soar estranho, então, Michael, precisamos nos beijar.Silêncio do outro lado, e quase posso vê-lo abafando um riso descontraído enquanto tenta manter a compostura antes de me responder qualquer coisa.– Isso é uma sugestão, uma o