Giulia

Durante o almoço a conversa foi mais leve. Falamos sobre a sugestão de Sylvia sobre irmos para Hamptons, na propriedade da família dias antes da cerimônia de casamento, porém Michael fala que provavelmente deve fazer uma viagem a Vegas por aqueles dias, mas acha que podemos ir nos dias que se seguirão.

Eu a convido para acompanhar as próximas provas do vestido de noiva, e pela primeira vez vejo um sorriso genuíno nos lábios da mãe de Michael. Ela agradece, e diz que ficaria muito feliz. Percebo que ela não me odeia, mas que está passando por cima de décadas de sentimentos que eu posso apenas imaginar, mas que de fato jamais entenderei. Em nenhum momento o nome de minha mãe é citado, mas tenho a impressão de que Donatella a assombra, e que ela teme que eu possa fazer o mesmo, e deixar Michael no altar.

Quando ele vai para o escritório atender o consiglieri, eu fico sozinha com Sylvia e por um momento espero algum tipo de desfeita da parte dela, que se aproxima de mim.

– Como estão as coisas com Michael?

– Acho que ainda não passamos tempo o suficiente juntos – digo, na verdade já imaginava que ela tocaria no assunto, afinal ela deve saber muito bem o filho que tem.

– Hum – ela me olha como se não acreditasse em minhas palavras – então acho que me enganei a respeito de vocês – Sylvia deixa escapar um meio sorriso – achei que estariam mais íntimos quando os vi chegando.

– Posso saber o que levou a senhora a pensar isso? – pergunte, curiosa, afinal quando chegamos, Michael estava beirando à irritação.

– Michael é extremamente discreto quando está interessado em alguma mulher, geralmente você o vê impassível diante de tentativas de sedução, e falo isso com propriedade, já que presenciei garotas se atirando ou tentando se atirar em seus braços mais vezes do que gostaria – ela fala calmamente, não acho que seja para me causar ciúme, provavelmente é só uma alerta, que realmente não é necessário, não sou cega, Michael Villani não é o tipo de homem que se pode ignorar.

– Então ele está sendo muito discreto mesmo – ela ri, eu também, mas de desespero, já que ainda não tínhamos tempo de conversar para nos odiarmos com mais propriedade.

– Não quero que ache que estou julgando, por favor, não é minha intenção – ela aceita o chá oferecido pela copeira, que havia me servido também – mas, não pude deixar de notar que ele encostou ou tocou em você desde que chegou, mais do que meu marido em seis meses desde que me conheceu, até nosso casamento.

Sinto meu rosto aquecido, me sentido tola por achar que somente eu noto o quanto Michael faz isso, as vezes acho que nem ele percebe, e talvez por estar tão confortável naquele ambiente, sentiu-se mais à vontade para ficar próximo. Senti seus dedos passarem pelos meus ombros algumas vezes enquanto Sylvia me mostrava seu ateliê e não posso dizer que fiquei incomodada.

– Espero não tê-la ofendido, eu acho que não percebi a maioria das vezes – ela acena com a mão discretamente, e eu bebo mais um pouco do chá.

– Ah, não, na verdade, se tem alguém torcendo para que esse acordo os aproxime, sou eu – ela balança a cabeça – e Linda, Val, e mais importante, Morgan!

Não posso deixar de pensar que estou gostando mais de Linda e Valerie a cada dia, e Morgan já tem meu coração, é uma garotinha doce e tão amável, que quase penso que não me incomodaria em ser realmente sua tia. É claro que elas tentam me fazer ver em Michael um excelente partido, sempre dando um jeito de falar sobre o quanto ele é protetor, respeitado, temido, sem falar que se Villani tivesse um fã clube, elas seriam as fundadoras!

– Talvez devesse encorajá-lo a vê-la com mais frequência – a franqueza dela me pegou de surpresa – você é muito bonita, Giulia, e nem mesmo Michael é imune a isso – ela deve ter notado que sua insinuação me deixou tímida, eu não tenho ideia do que pode encorajar Michael, e não tenho a mínima vontade de descobrir, então ela continua – sabe, um acordo de casamento não precisa ser algo ruim.

– Nunca imaginei que me casaria nestas condições.

– Nem eu – ela dá de ombros – tive vantagens no meu casamento, claro, e vejo muitas no seu, se souber lidar com a situação.

– Com todo respeito, Sra. Villani, não acho que seu filho se deixa conduzir por alguém – ela ergueu a sobrancelha direita, talvez tenha sido minha vez de pegá-la de surpresa.

– Deixe-me te contar um segredo sobre os homens, sobre os melhores, é claro. Todos são conduzidos por uma mulher, seja a mãe, a esposa, ou a amante – Sylvia me olha por cima da xícara, de um jeito astuto, de quem tem certeza do que está falando.

Não nos demoramos muito mais depois do chá, e Michael saiu do carro apenas para cumprimentar brevemente minhas primas, antes de entrar no veículo tentando não parecer apressado depois de uma ligação de Chris. Aliás, esse também foi o impedimento para que eu falasse sobre o beijo, um deles na verdade, já que o flagrei me olhando como um predador novamente. Acho que não sei o que esperar de Michael se ele tentar algo, posso não ter nenhuma experiência com homens, mas ele me parece intenso, como se estivesse apenas esperando uma chance de me tomar para ele. Por outro lado, sei que ele não pode fazer isso, afinal serei sua esposa, então é obrigação dele esperar pela noite de núpcias, o que de certa forma é algo a meu favor.

As garotas trazem presentes para Morgan, que fica encantada quando elas se propõem a participar de seu chá de bonecas, quando ela voltar da aula de dança. Nos sentamos com Linda no espaço com vista para a piscina, e elas comentam que meu tio parecia bem animado depois da noite passada, e que parecia a elas que se ainda havia diferença entre eles, não era nada que os impedisse de manter um bom relacionamento .

Então, a conversa se volta para o dia seguinte, para a noite em que Michael pediria oficialmente a minha mão. Enquanto Linda mostra a elas amostras de tudo relacionado ao noivado e ao casamento, a certeza de que algo daria errado se eu não falasse com Villani naquele momento volta a me incomodar, pedi licença, e entrei novamente em casa, indo para o quarto logo em seguida em busca do meu celular. Eu tenho o número de Michael Villani na agenda, claro, mas nunca havia ligado para ele, enquanto ensaio mentalmente o que direi, me ocorre que lhe darei a ideia de estar desesperada para beijá-lo. Respiro fundo, me perguntando se não é exatamente isso, mesmo sabendo que não posso mais adiar, e em seguida ligo para Michael.

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