Devo ter atrasado Michael, que acordou meio no susto, e lembrou que teria que ir ao clube, o ouvi dizendo que eu deveria dormir mais um pouco, antes de ir para o banho. Meio sonolenta ainda senti o perfume dele no quarto, antes de fechar meus olhos. Acordo uma hora mais tarde, e sei que não posso me demorar pois logo Mike deve estar de volta, e então iremos para o jantar na casa de Joe. Levanto, tomo um banho demorado, enquanto penso em como esse jantar promete emoções para as quais não sei se as maiores interessadas estão prontas. Logo depois, enquanto começo a me vestir, enquanto decido que vestido usar, me sinto ansiosa, inclusive tenho a impressão que não voltaremos tão cedo da casa de meu tio. Algo me diz que Diana não aceitará bem a escolha de Michael.Não é como eu já não estivesse esperando olhares me acusando de tê-la colocado nessa situação, eu só gostaria de poder ajudar Diana, mesmo sabendo que ela possivelmente não aceitaria. Escolho um bonito vestido vermelho escuro, e e
Michael me estendeu a mão para que eu ficasse ao seu lado, e propôs um brinde enquanto Diana e Bosco ainda recebiam os cumprimento dos convidados e taças de champagne eram servidas a todos. Eu pude ver minha tia tomando seu lugar ao lado de Joe, sua expressão era de preocupação, mas vi seu olhar acusador quando me olhou de canto. Diana parece estar apenas assistindo a tudo, talvez esperando que alguém lhe diga que nada do que está acontecendo é real.– A Bosco e Diana! – diz meu marido, que sorri para a noiva, fazia tempo que eu não via aquele jeito cruel de sorrir.Taças se ergueram a minha prima e seu noivo, e depois de alguma conversa descontraída, é servido o jantar. Bosco parece um pouco mais tranquilo do que Diana, sentada ao lado dele, que come praticamente em silêncio a não ser pelas vezes em que alguém cita seu nome, tentando mostrar a ela como será boa sua vida como esposa do executor, como ele é um dos homens mais respeitados da máfia siciliana, e inclusive como poderemos p
Dizem que tudo em nossa vida está prestes a mudar é quando vivemos momentos inesquecíveis, e então, o mundo fica em silêncio por um segundo que parece uma eternidade. Quando acordei hoje, antes até mesmo que Michael, era exatamente essa a minha sensação, que algo estava para acontecer. Eu não poderia imaginar o que aconteceria, eu apenas confiei que tudo acabaria bem, de algum jeito. Hoje é esse dia, onde tudo está prestes a ruir ou a atingir um novo patamar, só depende um movimento.Olhei para Michael, adormecido ao meu lado enquanto pensava se havia algo que eu não faria por ele, definitivamente não há. E sei que ele se sente da mesma forma, mesmo que ele não diga, suas ações dizem mais do que se ele se declarasse todos os dias, e eu o amo ainda mais por isso.Olho no relógio, quase oito da manhã, e ao pegar o celular vejo mensagens no grupo, onde estão Sylvia, Linda e Val. Linda pergunta se estamos acordadas, Val sobre onde vamos tomar café da manhã, e Sylvia diz que o que resolve
Sempre fui ligado a família, mas tenho que admitir que Giulia consegue fazer com que essas ocasiões tornem-se ainda melhores, e a maneira com que todos a receberam faz com que eu me sinta grato por isso. Giulia acordou antes dessa vez, e enquanto a vejo colocar o jeans justo e incrivelmente sexy, penso o quanto Villanis devem demorar para subir para o café da manhã. A ideia é ficar longe de Cavalieris, pelo menos até a noite, e passar um dia tranquilo em família. Giulia calça botas e em seguida vem me abraçar, enquanto me diz que precisa de um café, e eu concordo enquanto escutamos a voz Morgan e logo depois a de Linda, dizendo a ela para não gritar.Para ser sincero, não acho que ela esteja bem. Giulia parece distraída, e percebo sua inquietação, mesmo agora, enquanto ela e Linda conversam enquanto vamos para a mesa. E ainda tive o desprazer de ouvir uma conversa entre ela e Diana, que me deixou puto. De minha parte estamos indo para Nova York amanhã mesmo, e quando falo sobre isso,
Não tenho a menor noção do que deixei para trás ao entrar na ambulância enquanto Giulia recebe os primeiros socorros. Parece que meus pensamentos estão presos em um loop onde cada vez mais quero ver novamente que eu o matei. Ouço a socorrista apreensiva dizendo que Giulia perdeu muito sangue, e que só saberão com certeza no hospital, mas dependendo do local onde a bala se alojou, pode ser um grande risco operá-la. Sinto dores pelo corpo de tão tenso que estou, aquele tiro não era para ela, Nikolai sabia disso e teve o fim que merecia.Sigo com ela pelos corredores, um grupo de enfermeiras assume seu atendimento, a enfermeira chefe tenta localizar o médico, e ouço a voz de Joe logo atrás de mim, dizendo para quem ela deve ligar logo a seguir, ela confirma que o tal Dr. Mancini está no hospital. Joe mete uma carteirada dizendo a ela que diga a ele que Joe Cavalieri pede gentilmente para que ele atenda Giulia imediatamente. Vejo a maca sendo levada pelas enfermeiras depois que uma delas
Abro meus olhos, é como se eu tivesse emergido de um longo mergulho. Estou deitada, há acessos em meus braços, uma bolsa de medicação pingando lentamente e alguém segurando minha mão. Michael está sentado ao lado da cama, e no momento que passo meu polegar pelo seu indicador ele olha para mim. Sua expressão é de alívio e ele se levanta devagar e chega mais perto de mim. Vê-lo é como relembrar o que provavelmente me trouxe até aqui, e é assustador como me lembro exatamente de tudo. A bala zunindo e me queimando, o olhar de Nikolai ao perceber que acertou o tiro e errou o alvo, e que antes de absolutamente nada, tudo que eu vi foi Mike, inclinando-se para mim.Eu toco seu rosto e percebo sua aflição se esvaindo, Michael beija minha mão, e aos poucos sinto um ligeiro desconforto na região abdominal, então ele me conta que milagrosamente nenhum órgão vital foi atingido, mas que devido ao meu estado passei por alguns procedimentos delicados.– Não era assim que eu queria que você soubesse
Acordo sobressaltada, um barulho alto e ensurdecedor faz meu coração disparar, porque sei do que se trata. Um tiro. Olho para o relógio na mesa de cabeceira antiga ao lado da minha cama, são três da manhã, e a súbita urgência em sair dali me deixa aflita. No escuro, ouço vozes se alterando, e mesmo sabendo ser impossível ouvir aquela distância, tento acompanhar a movimentação dentro. Eu preciso sair daqui, ou, pelo menos, me esconder.Quando abro a porta, vejo a Irmã Angela se aproximando, ela coloca o dedo em riste sobre os lábios e aponta para o roupão, simples porém confortável sobre o baú aos pés da minha cama. Em seguida, com urgência faz sinal para que eu a siga. Eu rezava todas as noites para que eles não me encontrassem, para que me esquecessem, mas a verdade é que em nosso mundo, praticamente tudo se passa de um para outro. O dinheiro, as propriedades, os problemas, o ódio, as promessas quebradas. E eu sou um fruto de uma promessa quebrada.Quando deixei Nova York, dois anos
Não demorou para que eu fosse encontrada, e tenho que confessar que de dentro daquele armário, tremendo e tentando manter minha respiração controlada a fim de passar despercebida, não houve um momento em que achei que eles não me encontrariam. Ouvia minha mãe aos sussurros, ao logo dos anos em que tivemos que deixar tudo para trás, e mudar as pressas, as vezes sem destino, os Villani não paravam até que conseguirem seu objetivo. Quando eu era criança eu não entendia, mas quando o fundo falso do armário foi identificado, e a porta violentamente aberta a minha frente, pela primeira vez desde sua morte, eu senti medo.– Signorina Cavaliere – disse o homem a minha frente – tem que vir comigo.Para onde mais eu iria afinal? Não muito longe dali eu ouvia vozes, fora do convento mais tiros e mesmo que eu me recusasse, mesmo que eu protestasse, esperneasse, eu não sabia o que estava acontecendo. Se eu respondesse que não iria a lugar algum, ele poderia me jogar sobre seus ombros com facilidad