Não demorou para que eu fosse encontrada, e tenho que confessar que de dentro daquele armário, tremendo e tentando manter minha respiração controlada a fim de passar despercebida, não houve um momento em que achei que eles não me encontrariam. Ouvia minha mãe aos sussurros, ao logo dos anos em que tivemos que deixar tudo para trás, e mudar as pressas, as vezes sem destino, os Villani não paravam até que conseguirem seu objetivo. Quando eu era criança eu não entendia, mas quando o fundo falso do armário foi identificado, e a porta violentamente aberta a minha frente, pela primeira vez desde sua morte, eu senti medo.
– Signorina Cavaliere – disse o homem a minha frente – tem que vir comigo.
Para onde mais eu iria afinal? Não muito longe dali eu ouvia vozes, fora do convento mais tiros e mesmo que eu me recusasse, mesmo que eu protestasse, esperneasse, eu não sabia o que estava acontecendo. Se eu respondesse que não iria a lugar algum, ele poderia me jogar sobre seus ombros com facilidade, e levar-me para onde quisesse. Ou poderia pegar a arma que eu o vi colocando no coldre antes de dizer qualquer coisa quando me viu, e me acertar. A única certeza que eu tinha é que ele não iria me matar. Se essa fosse sua missão, ele já a teria cumprido.
– Signorina, per favore – ele estendeu a mão, enquanto outro homem entrava na cela, guardando o celular no bolso – precisamos ser rápidos.
– Levi, os russos – este parecia de mal humor, como se ali fosse o último lugar onde gostaria de estar – alguém estava nos seguindo, estão vindo às dezenas!
O homem que agora eu sei que se chama Levi, olha apreensivo em minha direção:
– Terá que vir comigo, ou cairá nas mãos deles, se eles não matarem todos antes!
– A Madre... – eu consegui falar – as irmãs, o que fizeram a elas?
– Estão todas bem – o outro homem disse ríspido – se se preocupa com elas, temos que sair daqui agora!
– Eu prometo que nada acontecerá a signorina – Levi insistiu, apontando a porta.
Senti a mão de Levi me guiando pelo corredor, indo para os fundos da construção antiga, meus pés descalços sobre o chão gelado e o ar da noite invadindo meus sentidos assim que a porta se abriu. Tiros foram ouvidos novamente, fazendo meu coração acelerar, e então me voltei rapidamente para o prédio, não era assim que eu deveria deixar o lugar que me acolheu por anos, depois da morte de minha mãe, senti um aperto em meu braço e o outro homem me arrastando para o carro, ao qual Levi dirigiria, me xingando em bom italiano!
– Entra, logo – ele me empurrou no assento de couro e em seguida afastou-se, indo de volta para a noite, enquanto Levi colocava o carro em movimento.
Ele acelerou, e eu vi homens falando em seus celulares, ordenando que deveriam manter os russos ocupados nas proximidades, e que a segurança em Província di Roma deveria dobrar, ao fundo a Madre e algumas freiras em frente a porta principal, olhavam em direção ao carro, ergui a mão para acenar, mas sabia que elas não conseguiriam ver, e foi então que ouvi Levi falar com alguém no viva voz.
– Estou a caminho, chefe.
– Estamos enviando reforços – disse a voz do outro lado da linha, que me fez cair na real, se Levi havia o chamado de chefe, era ele, o próprio Michael Villani falando – bom trabalho, Levi.
Em seguida, ele desligou. Não pude deixar de pensar em como era o tal Villani, pois apesar de saber exatamente o motivo de ser levada para ele, tentei ignorar sua existência até aquele momento. O maldito Villani, que havia mandado invadir o convento, atormentando a todas, com homens por todo lugar, vasculhando o local que era de paz e tranquilidade com sua presença inadequada lá! Senti um tremor percorrer meu corpo, de raiva e indignação, era por isso que minha mãe havia fugido, aquele não era um mundo justo para uma mulher. Depois disso respiro fundo, e começo a ficar com medo real do que pode me acontecer, não posso chorar, Roma fica às poucas horas dali, e agora sei que ele está me esperando.
Só quero manter o mínimo de dignidade, mas o fato é que desde a hora que acordei entendo que o mínimo controle que ainda tinha sobre minha vida e decisões foi deixado para trás, no pequeno quarto que eu ocupava, de onde gostava de ver a paisagem campestre da janela, e acordar com o canto dos pássaros. Tudo havia ficado para trás, não havia trazido nada comigo. Objetos pessoais, documentos, as fotos com meus pais, as cartas de Nikolai. Diante das circunstâncias me pergunto agora se não deveria ter levado a sério quando Nik disse que deveria fugir com ele, sabia que se tivesse aceitado, ele daria um jeito, mas voltaria a mesma vida que tivera com a mãe durante anos, e não queria fugir para sempre.
Pensava se em Chicago, meu tio já estava sabendo o que havia acontecido. Joe Cavalieri, o irmão mais velho de minha mãe, que vinha por anos cobrindo rastros e providenciando recursos para nos manter longe das vistas da máfia, principalmente da siciliana, bem representada pelo nome Villani em Nova Iorque. A situação era preocupante, o conflito entre Villanis e Cavalieris já durava décadas, e eu aprendi muito cedo, que não precisava ter matado alguém para ter sangue em minhas mãos.
– Logo chegaremos a residência Villani, signorina – ouvi a voz de Levi, calma, e percebi que eu me olhava pelo espelho – sei que deve estar com medo, mas amanhã pela manhã voltará ao seu país.
– Foi o seu "chefe" quem decidiu isso, ou Joe Cavalieri?
– Foi o Sr. Villani, pensando no que seria melhor para você – ele voltou os olhos para a estrada, pouco movimentada a sua frente.
– Ele não tem ideia do que fez – falei encerrando o assunto, com a impressão que eu e o Sr. Villani não iriamos nos dar bem.
Se havia silêncio dentro do carro, minha cabeça parecia estar prestes a explodir. Não conseguia pensar em algo, sem lembrar de outra situação importante, ou conversa anterior, mensagem, carta ou telefonema, e eu precisava pelo menos saber como me comportar, o que dizer, já que logo estaria frente a frente com um dos homens mais perigosos da máfia. Minha mente fervilhava com inúmeras possibilidades do que poderia acontecer quando encontrasse Michael Villani, e apesar de durante todo aquele tempo procurar saber o mínimo possível a seu respeito, e dos seus "negócios de família", sempre que ouvia seu nome, as palavras impulsivo, implacável, cruel sempre o acompanhava.
– Chegamos – ouvi Levi, e olhei para grandes portões a frente do carro, a medida que nos aproximávamos. Ele baixou o vidro por um instante, na intenção de apressar o homem na guarita, e os que estavam perto dos portões, que foram rapidamente abertos.
Passamos rapidamente entrando em um caminho que levava a frente de uma bela mansão, pouco iluminada, mas muito elegante. Levi estacionou em frente a entrada principal, e me pediu um instante. Observei homens em lugares estratégicos, pensando que Michael Villani teve um imenso trabalho para que eu chegasse até ele, e logo Levi abriu a porta do carro para que eu também saísse do veículo. Ele apontou a porta, que abriu-se logo que chegamos perto. Um hall silencioso e muito bem decorado com seu piso bicolor clássico, e iluminação indireta, que levava a duas escadas curvando-se até o andar superior. A nossa frente, um grande salão, igualmente bem decorado e depois portas duplas de madeira fechadas, e como fomos naquela direção, logo tive o palpite que deveria ser algo como uma biblioteca ou escritório.
Quando Levi afastou as portas, que correram silenciosas vi um ambiente essencialmente masculino, alguns homens cercavam a mesa que estava ao fundo, e quando eles se retiraram pude ver a figura do homem a minha frente. Ele olhou para mim, deu uma baforada em seu charuto, colocando-o de lado sobre o cinzeiro em seguida. Olhou-me por um tempo, como se considerasse se deveria me dirigir a palavra, com seus olhos azuis impiedosos, até levantar-se e vir em minha direção. Michael Villani era muito diferente do que eu imaginava. O tipo atlético, sem exageros, os cabelos negros e a barba cerrada, ele realmente sabia causar uma boa primeira impressão, no meu caso, nem tão boa assim apesar de admitir que era de fato muito bonito. Vestindo roupas bem cortadas, a camisa branca com as mangas dobradas revelavam braços fortes, a calça e o colete ajustava-se perfeitamente a um corpo malhado. O rosto seria digno de capas de revista, o queixo quadrado, lábios bem desenhados, e um nariz perfeito. Nada a ver com o homem de beleza inexistente que eu havia criado em minha mente todo aquele tempo!
– Srta. Giulia Cavalieri – a voz dele soou baixa e propositalmente inexpressiva, Michael se chegou mais perto de mim, como se estivesse querendo ter uma visão melhor, e saber se havia algo mais além de pés descalços, um pudico traje de dormir e um simples roupão – devo dizer que estou surpreso.
Claro que estava! Perto dele, eu deveria parecer desleixada e bem, não que costumasse me vestir como as mulheres que ele estava habituado a conviver, mas certamente estaria mais apresentável.
– Eu sinto muito – disse, ele não desviava seu olhar e estava começando a me deixar preocupada – mas, não tive tempo de me arrumar, já que fui acordada a tiros, levada as pressas por Levi, e arrastada para um carro por aquele outro!
– Arrastada? – seu olhar estreitou-se na direção de Levi, querendo saber do que se tratava.
– Fabian, chefe – Levi respondeu imediatamente.
– Ele a arrastou para o carro?
– Paciência nunca foi o forte dele, senhor – ele pigarreou, e continuou – eu devo dizer que a signorina estava abalada, ela não teve culpa.
– Diga a Fabian para me procurar pela manhã – senti um calafrio, o tom de voz dele foi levemente incisivo, e ameaçador.
– Sim, senhor.
Então ele voltou sua atenção para mim novamente, mas eu não conseguia parar de pensar em como ele reagiria com Fabian. Em um reflexo me encolhi, ao perceber a mão direita de Michael alcançando uma mecha do meu cabelo, afastando-a do meu rosto.
– É mais bonita do que sua mãe.
– Conheceu minha mãe? – ele parecia muito certo do que dizia.
– Não pessoalmente – então ele apontou algo em cima da mesa atrás dele e pude ver que havia uma foto dela lá – as mulheres de sua família – ele fez uma pausa, como se estivesse lembrando de algo, depois continuou – eu ouvi dizer, que atraem vários admiradores.
Não respondo, com receio do rumo que aquela conversa poderia tomar, então ouço o barulho de saltos vindo em nossa direção, até entrar no cômodo e parar a alguns passos de onde estou. Por algum motivo, não acho uma boa ideia olhar para trás, como se esse simples movimento fosse me fazer perder algo importante a respeito do porque estávamos todos ali. Como ele não se dirigiu a mulher recém-chegada, permaneci em silêncio.
– Quantos anos tem, Giulia?
– Dezessete – falei, e vi um breve revirar de olhos do homem a minha frente – faço dezoito algumas semanas.
– Sabe porque está aqui?
– Porque um Villani foi rejeitado por minha mãe – eu cuspo as palavras, já estava farta daquela rixa e ressentimento.
– Porque Villanis e Cavalieris tem disputado cada beco de Nova Iorque e Chicago desde que a sua mãe rejeitou o meu pai – a voz dele era baixa, e ele avançou lentamente parando a centímetros de mim – cada clube, cada ponto, carregamento roubado, jogo ilegal, sempre há um Villani apontando a arma para um Cavalieri. Não foi só um acordo de casamento desfeito, mas provavelmente sua mãe não contou a história toda.
– Michael – ouço a voz da mulher, uma nota de inquietação predominando – não deveriam falar sobre isso agora.
– Minha mãe não amava o seu pai – saio em defesa dela novamente – ela nunca teve a opção de recusar aquele acordo. E seu pai superou, a prova é que aqui estamos, os filhos de Donatella e Erico, frente a frente.
Ele aproxima-se mais me segurando pela nuca, o cheiro do seu perfume, charuto e uísque são uma mistura curiosamente agradável, os dedos envolvendo-me como se estivessem se acomodando entre minha pele e cabelos, ouço sua voz baixa em meu ouvido:
– Uma puta, que traiu os seus, sem se importar com o enfrentamento, que começou lá mesmo na igreja – a pressão dos dedos dele ficou mais forte – e continuou no local onde seria a recepção. E se aproveitando da situação, homens do seu tio, Tony, nos roubaram, mataram soldados leais, arrastando a minha famiglia para a mesma lama onde Donatella chafurdava.
Dou um passo para trás quando, e é tarde demais quando percebo o estalo do tapa que desferi no rosto do Villani insolente que odiava minha família, os olhos dele pareciam cintilar de ódio, cruéis.
– Porque me trouxe aqui se odeia tanto os Cavalieri?
– Porque ao contrário da sua mãe, eu mantenho minha palavra – ele falou, sem alterar seu tom – seu tio Joe Cavaliere agora é o capo, e tanto ele quanto meu pai queriam acabar com essa rixa. Então, meses depois da morte da sua mãe, eles concordaram que a melhor maneira de dar o primeiro passo, é a união entre nossas famílias.
– Meu tio não pode ter concordado com isso!
– Partiremos amanhã para os Estados Unidos, e assim que chegarmos lá tenho uma reunião com ele – então ele respirou fundo, então olhou por cima do meu ombro – leve-a.
Já é tarde, e enquanto sirvo-me de mais uma dose de uísque penso na idiotice que havia feito ao prometer ao meu pai em seu leito de morte, algo de que eu certamente me arrependeria para o resto de minha vida. Era claro, tanto para os Villani, quanto para os Cavalieri que aquela desavença já havia durado tempo demais, e que talvez esse acordo funcionasse, e se as famílias não pudessem deixar no passado tudo o que havia acontecido, pelo menos que o embate cessasse, o que poderia gerar até mesmo alguma colaboração entre todos os envolvidos.Ela é jovem demais. E insolente demais. Encarou-me como se estivesse acima do bem e do mal, e não vamos nos entender se me contrariar somente porque acha que está certa. Sei que Giulia deve agir assim por inúmeros motivos, toda a vida nas mãos de Donatella, que não pensava em nada a não ser em si mesma, guiando-a por uma infância e adolescencia conturbada, sempre fugindo, escondendo-se. Porém, era a oportunidade que ela teria de viver em segurança, co
Chegando a bela residência onde vive Linda Villani, logo noto a presença de segurança por toda a parte, como na mansão em Província di Roma, o lugar é imenso. Fabian abre a porta do carro para mim, enquanto Linda sai pela outra porta falando com alguém ao celular. Fabian Schiavo é minha escolta pessoal, e pela maneira que vem se comportando desde que saímos da Itália, Michael deve tê-lo ameaçado de morte por ter me jogado no banco do carro enquanto deixávamos o convento. O homem está me tratando como se eu fosse feita de cristal, abrindo portas, cuidando até mesmo se subo ou desço alguma escada, e apesar de ter achado divertido nas primeiras vezes, está começando a me irritar.Linda me trata com muita gentileza, apesar de não confiar nem mesmo em minha sombra depois de tudo, me sinto bem na presença dela. Ela sorri calorosamente enquanto entramos na casa, passando por um pequeno hall e indo em seguinte para uma sala confortável de onde posso ver outros ambientes. Em um deles uma garot
Estou no quarto escovando meus cabelos, pensando que é hora de cortá-los um pouco, tentando não sofrer por antecipação já que logo meu tio deve chegar a casa de Linda. A última vez que o vi, foi quando ele enviou-me de volta a Itália, eu não queria ficar, queria voltar para o lugar onde havia vivido com minha mãe nos últimos meses de sua vida. Dizem que ela morreu de tristeza, ela nunca mais foi a mesma pessoa depois da morte de meu pai, e eu tinha a impressão que iria pelo mesmo caminho. Meu tio fez se espalhar os boatos de lugares onde eu poderia estar, e até mesmo alguns de que eu havia morrido. E durante dois anos eu vivi praticamente reclusa no Convento de Santa Lucia, ocasionalmente saía para o vilarejo com a Madre e algumas irmãs, e sempre me senti protegida por elas. Meu tia enviava dinheiro, para minhas despesas, e como forma de gratidão ao Convento, as vezes, nos falávamos por telefone, as vezes eu recebia cartas de Nikolai, mas meu contato com o mundo fora das antigas pare
Com o passar dos dias, não só de assuntos relacionados a Giulia Cavalieri necessitam de minha atenção. Por motivos que todos sabemos, os russos parecem estar querendo vingança pelos homens perdidos na Itália e por termos colaborado com os Cavalieri, tomando deles dois fornecedores de droga em Chicago. Estamos não somente em maior número, mas melhor organizados, e além de tudo, desde que não interfiram nos negócios os civis estão seguros em nossa vizinhança. Não damos motivos para a polícia, nem eles fazem questão de investigar quando é muito mais favorável fingir que não veem uma infração aqui, outra ali. Muito diferente dos russos, cujo diplomacia é inexistente.Nossos inimigos em comum estão recuando, mas eu não me engano, desde que os boatos de que estavam enviando homens de prestígio internacional, entre eles seu executor, Nikolai Dotroiov. Desconfiava-se que ele estava em Nova Iorque à alguns dias e que sua missão é recuperar não só seus domínios e recursos, como levar com ele Gi
Quando Linda me avisou que eu acompanharia Michael a casa do consiglieri, estranhei aquele convite inesperado. Estou a dias aqui, e por mais gentil que seja minha futura cunhada, e por maior que seja a casa, me sinto mais prisioneira aqui do que quando estava no convento. Me olho no espelho do closet de Linda, que parece analisar se o vestido que estou usando agradaria Michael, e eu odeio isso. Cada vez que o vejo, é sempre em vestidos justos, e não gosto de pensar que o próprio Villani esteja achando que estou me insinuando para ele. O vestido da vez é nude, um decote insinuante e apesar de estar um pouco acima dos joelhos, é o tipo de roupa que certamente faz Michael Villani olhar com interesse.Logo que soube que ele me aguardava, tratei de ir ao seu encontro, e o vi sobre um dos joelhos sorrindo para Morgan enquanto a menina contava animada sobre algo que havia acontecido na escola. Então, quando ele levantou-se e olhou diretamente para mim, não pude deixar de notar como estava el
Enquanto me dirijo a casa de Linda, penso em tudo que me foi relatado na reunião da qual acabei de sair, havíamos perdido bons homens em um conflito na noite em que levei Giulia para jantar, e por isso adiamos a saída dela novamente para que fossemos meticulosos quanto a segurança dela. Os objetos pessoais de Giulia haviam sido enviados, e evidentemente passaram por mim antes de qualquer um, e mesmo correndo o risco que isso se tornasse motivo de brigas futuramente, não acho que seja um bom momento para devolver a ela. Talvez eu esteja cruzando um limite e por isso não esteja feliz em ver que entre fotos de Donatella e Andrey Ivenchev, caixinhas de música, documentos e roupas pertencentes a ela, eu encontrei cartas, as quais ela provavelmente respondeu. E o remetente é Nikolai Dotroiev.Não li as cartas. Seja qual for seu conteúdo, não me interessa, mas vi as datas, e a última era bem recente, ainda estava fechada, porque quando foi entregue no convento, Giulia já não estava mais lá.
Enquanto aguardo a chegada de minha família a casa de Linda, tento me distrair, mas é praticamente impossível, por que Michael Villani tem feito um esforço mínimo para entrar na minha mente, e está conseguindo! Estou com aquela sensação incomoda, de que cada vez que ele me toca, mais lhe pertenço, e não posso e não vou sucumbir ao charme dele, não importa o quanto ele tente. E não tem sido fácil, como quando ele encostou os lábios nos meus, certo de que eu deixaria me envolver, e a maneira que ele sempre dá um jeito de colocar suas mãos em mim, como toda propriedade que acha que tem. Sinto que Michael tem feito isso com frequência, como um lembrete de que sou dele, e se o odeio por isso, não posso negar que me sinto atraída por ele. A voz, o perfume, a maneira pervertida que me olha, e encontrá-lo trocando de roupa não foi nada ruim de se ver.Respiro fundo, ele deve voltar para o jantar, e de qualquer forma, tenho que me habituar a presença dele, pelo menos até deixar os Villani, os
Depois do jantar na noite passada, não demorei a me recolher, estava com um pouco de dor de cabeça, e demorei a dormir, mesmo me sentindo exausta. Linda me deu um comprimido, mas não perguntou nada, aliás, se tem algo que eu aprecio na irmã de Michael, é a qualidade de perceber o momento certo para falar, sobre qualquer que fosse o assunto. Acho que seria muito bom se eu aprendesse com ela, pois precisava falar com Villani sobre a questão do beijo. Em hipótese nenhuma eu gostaria que isso acontecesse na frente dos convidados, talvez para ele não fosse nada demais, mas seria meu primeiro beijo, e eu sinto arrepios só de pensar que teria uma plateia observando.Tenho certeza que ele vai achar que estou dando muita importância e que me preocupo sem motivos, mas a ideia é convencê-lo a fazer isso logo, tipo, hoje mesmo. E fazê-lo entender o quanto pode ser constrangedor, quem sabe ele até reconsidere, e me dê um beijo respeitoso e rápido. Suspiro, desanimada, pensando que ele muito provav