Michael

Olho para o relógio na tela do celular, ainda é cedo, muito cedo para quem voltou duas da manhã da boate, para onde Chris havia me chamado para tratar de assuntos com os quais eu não queria lidar. Meu consiglieri quer agradar as garotas Cavalieri, e esteve tentando de todo jeito me convencer que se diminuíssemos a lotação, e existisse mais seguranças dentro e fora da boate, esperando que eu queira fazer essa gentileza a Giulia, Diana e Alessa.

Estou quase certo que Chris está querendo uma chance para impressionar Diana, e não tenho nada a ver com isso, se ele quer uma garota insolente e mimada, problema é dele. Só espero que ele veja no que está se metendo antes de acenar com alguma promessa à Joe, pois ele ficaria particularmente ofendido se voltasse atrás. A rejeição de dois Villani poderia estremecer a aliança, e francamente, Diana não vale o risco.

A ideia de levar as meninas a boate não me agrada, para mim é exposição desnecessária, e tem o fato de que terei que ficar de olho em Giulia, e tudo o que eu gostaria nesse momento exato é manter uma distância segura dela. Mal estou me reconhecendo, não consigo manter minhas mãos longe dela. É irresistível. E quanto mais sinto sua pele suave e seu corpo próximo ao meu, mais a quero para mim. Não seria o ideal fodê-la antes do casamento, mas estou no meu limite. E beijar Giulia foi a pior decisão que tomei desde que a vi pela primeira vez! Ela me deixa sem limite.

São exatamente cinco da manhã, e eu preciso dormir. Terei um dia longo, e uma noite que tanto pode ser perfeita, como um completo desastre. Espero que Giulia tenha o bom senso de não demonstrar em público sua insatisfação, não quando Joe nos propuser um empreendimento milionário em Chicago, que me daria meios de finalmente expandir os negócios. Isso seria bom para ela também, já que poderia me acompanhar e ver sua família com mais frequência. Assim claro, que eu mando Dotroiev de volta para sua terra natal, vivo, ou apenas uma parte dele.

Depois do aviso que mandamos a ele, não o temos mais em nosso radar, mas estou certo que Nikolai só aguarda uma chance para agir, o que não pretendo lhe dar. Respiro fundo e tento relaxar, tento evitar lembrar de algumas coisas que tentei ignorar por anos, e que só tive noção do peso que tinha quando fiz aquela promessa idiota a Erico. Ele amou Donatella até seu último suspiro. Bastardo! Acima de mim e de Linda, sem ter dado uma única chance a minha mãe. Eu vivi os anos seguintes como se fosse demorar eras para ter que cumprir o maldito acordo, chegando mesmo a esquecer da existência de Giulia. Na manhã em que embarquei para a Itália, foi o momento em que realmente se tornou real, e não importa o quanto eu tente me manter distante, a presença dela é cada vez mais constante. Antes de partir, o marido de Val me desejou uma boa viagem, e me disse algo que apenas me fez rir. Ele disse que se Giulia tivesse herdado apenas a beleza de Donatella, seria motivo suficiente para inflamar o conflito com os russos, mas que se a personalidade também fosse como a da mãe, ela poderia ser um problema.

Ainda não sei quem é Giulia Cavaliere, mas resolvo meus problemas, nem que tenha que parti-los em mil pedaços antes que se tornem maiores. Para o bem de todos, ela se enquadraria, e eu só acionei minha paciência, curta, eu admito, um desejo, sem dúvidas. Em honra a alguém que eu de fato nunca conheci.

Acordo com a claridade invadindo meu quarto, uma puta dor de cabeça assim que tento abrir os olhos, a voz de Chris parece provocar estalos em meus tímpanos e eu só gostaria que ele parasse de falar por um instante.

– Porra, Michael – ele se aproxima – já passa do meio dia, estão todos procurando por você!

– A porra do almoço – minha cabeça dói, uma pontada que me atira ao travesseiro novamente.

Noto que Chris se afasta em direção ao banheiro, e logo sai do quarto voltando com água e um comprimido: – Vou avisar que o encontrei, você dificulta as coisas quando diz que não quer ser incomodado, sabe – Chris parece preocupado – poderia avisar ao menos ao trouxa do seu consiglieri, cazzo!

– Passei a noite quase toda em claro – respiro fundo – me acorde daqui a meia hora, até lá o remédio deve fazer efeito.

Não posso dizer que dormi, apenas fechei meus olhos e tentei relaxar, e antes que Chris voltasse, a dor já havia diminuído. Abro todas as duchas do chuveiro, no intuito de ficar desperto, e me sinto melhor quando saio do banheiro em busca de roupas. Devo uma satisfação à Joe, e a todos os Cavalieri com os quais eu deveria ter almoçado, mas não é minha intenção fazer isso imediatamente, sei que Chris deve ter dado alguma desculpa que justifique.

– Imaginei que você tinha desligado – Chris disse enquanto estávamos para a sala, ele havia pedido o delivery, e enquanto tento comer algo, ele bebeu um refrigerante – você bebeu literalmente a noite toda. Nem tenho certeza se lembra da nossa conversa.

– Você querendo levar as moças à boate – olho de canto para Chris – aquela Diana não é de Deus, espero que não se arrependa...

– Hum, não quero nada com Diana – ele sentiu incomodado – mas, a irmã é muito bonita.

– Ele vai querer casar a mais velha antes – disse, depois de saborear o peixe – na verdade, acho que ele quer fazer isso o mais rápido possível.

– Acho que depois do seu casamento, talvez seja mais fácil convencê-lo – Chris disse, pensativo.

– Enquanto isso, não recomendo que mostre suas intenções, inclusive, nem sei se ela já tem idade para se casar. Me deixe cuidar disso, sim?

– Você? – ele ri – Não está administrando nem sua relação com Giulia, primo, não sei se é uma boa ideia.

– Se você não se importa, tive o suficiente de Giulia ontem, e até a noite não desejo pensar ou falar sobre ela – falo, provocando um arquear de sobrancelha de Chris.

– Imagino que teve mesmo – ele ainda soa sarcástico – saiu logo depois que ela ligou ontem.

Ia responder Chris quando vejo o marido de Valerie entrando na sala, trazendo a bebê Olivia com ele. A menina está cada dia mais próxima com Val e Marcus Conti é a definição de pai dedicado e amoroso.

– Conti! – eu o saúdo – estava falando de você ontem!

– Chefe – ele, se aproxima enquanto entrega Olivia para Chris que é só gracejos e sorrisos para a sobrinha – estive com seu amigo, Vicenzo Ferreti, soube que ele estará na recepção hoje.

– Devo retribuir a visita nos próximos dias, vou à Las Vegas assistir a uma luta de boxe dessas que ele tem patrocinado – explico, bebendo água, o gosto de bebida ainda encalacrado na boca. Devo levar Giulia comigo, se tudo correr bem.

– É um belo show o que ele tem feito lá, chefe – Conti acena positivamente – ele pensa em expandir futuramente.

– Esporte não é o nosso ramo – Chris fala despreocupado – mas podemos ajudá-lo com o que precisar.

– Senhores, se puderem me atualizar sobre o almoço – digo enquanto me levanto e em seguida vamos para meu escritório, vejo Chris entregar o bebê para o babá, e logo depois fechar a porta.

– Conversa corriqueira, convites para irmos para alguma ocasião em Chicago – Chris enviou-se de frete para minha mesa, e logo gerouu um cigarro – imaginei que você teria motivos para estar indisponível, então só disse que estava resolvendo algo de última hora.

– No final das contas o que importa a todos, é que você espera a noite – Conti senta-se ao lado de Chris – está certo do que está fazendo?

– Marcus... – Chris olha para o cunhado de canto – todos sabemos que você não gosta desse acordo, mas já está tudo tratado.

– A partir de hoje você tem um mês para mudar de ideia – Marcus fala tranquilo, mas sei bem que para ele, essa união é um erro – o senhor ao menos leu as cartas?

Olhei para Marcus deixando claro que não queria me indispor justo hoje, quando oficializaria o pedido de casamento. Eu sei que ele, de nós três, talvez tenha sido o mais afetado pela aliança desfeita décadas atrás. Marcus era um garoto na época, e perdeu seu irmão mais velho, o avô e uma prima enquanto sua família tentou deixar a igreja, quando a primeira arma foi sacada, e tudo saiu do controle. Os anos se passaram, mas eu sabia, suas lembranças daquele dia ainda estavam vívidas em sua memória.

– Deve haver uma maneira de manter a paz sem ter que ter um vínculo como casamento com uma Cavalieri – Conti insistiu.

– Já falamos sobre isso, Marcus – Chris voltou-se para ele – não pretendemos que você seja responsável por Giulia ou tenha que lidar pessoalmente com os Cavalieri.

– Tudo bem – ele acenou positivamente com a cabeça – me desculpe, chefe, só estou preocupado que esse acordo possa nos levar a outro grande conflito. O senhor sabe que pode contar comigo.

– Obrigado, amici, mas tenho tudo sob controle – respondo, mesmo ciente que Giulia tem me tirado o sossego.

Bebemos um pouco, e logo Chris e Marcus se vão. Não tenho intenção de sair antes do meu compromisso da noite, e já que minha mãe fez questão desde o início que a recepção se realizasse na sua cobertura, para evitar atender suas ligações. Ela certamente quer me lembrar que tenho que chegar antes dos convidados, e me sugerir que seja especialmente atencioso com Giulia, e todo o Cavalieri com quem esbarrar.

Linda também já me ligou pelo menos uma dezena de vezes, por teimosia mesmo, ela bem sabe que não a atenderei, e tenho certeza que ela está bem ocupada, e não aparecerá a minha porta, então relaxo, mais uma dose de uísque enquanto leio as notícias, tentando escapar de meus pensamentos que voltam para Giulia inesperadamente, como uma maldição!

No início da noite, quando chego ao condomínio onde vive minha mãe, é impossível não notar a cobertura iluminada, como quando meu pai chamava a família para jantares animados, regados a muitas bebidas e boa comida. Eram momentos em que parecíamos esquecer de onde viemos, e como vivemos. Era somente uma grande família italiana reunida, e, sem dúvida, algumas de minhas melhores lembranças estiveram conectadas a essas ocasiões. Confiro se trago comigo o anel que escolhi para Giulia, antes de sair do carro, e então vou em direção ao elevador, e mesmo depois de final desastroso de nosso último encontro, me pergunto se o beijo correspondeu as expectativas dela. Eu devo ser um filho da puta mesmo, depois de tê-la deixei a um passo de chorar, meu único pensamento é como foi prazeroso provar os lábios de Giulia. Saio do elevador para o hall sentindo um breve arrepio de estudante, ansioso por outro encontro furtivo com ela. E quando entro na sala principal, imediatamente eu a vejo.

Giulia está prestando atenção às palavras do tio, e perto dela está minha mãe, Charlotte, e Linda. Ela usa um vestido justo, um tom escuro de vermelho, com um discreto decote e as costas nuas. Uma fenda deixa parte de sua perna a vista, e seus cabelos estão presos, permitindo uma visão elegante e sexy de seu pescoço, colo, e braços. Ela é tão bonita e sensual que não tenho noção de quanto tempo fico parado olhando feito um idiota, até seu olhar encontrar o meu. Me aproximo, tentando prestar atenção aos demais, ao que falam, os comentários bem-humorados, paro bem ao lado dela, meus dedos formigam quando a encostam de leve em sua mão, e leva-la o mais casualmente possível aos lábios. Giulia sorri timidamente e ao contrário do que pensei, não soltou minha mão.

– Está muito bonita – sussurrou, para que só ela ouça, o perfume dela me distrai.

– Obrigada – ela responde, e sinto um leve estremecimento dela, enquanto nos afastamos alguns passos dos demais – se puder evitar... o que conversamos ontem.

– Pensei que tivesse aprendido com a lição de ontem – digo e vejo suspirar como se soubesse de minhas intenções, enquanto peço licença e vou fazer companhia a Joe.

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