Heloisa Moura
Não sei como tudo começou, o que sei é que um belo dia acordei e comecei a olhar Vittorio Bianchi de uma forma diferente, ele para mim não era mais o tio Vittorio, era o homem com quem eu queria dar meu primeiro beijo.E daí que ele é mais velho.
E daí que ele é amigo do meu pai.
E daí que ele me vê como uma criança.
Só quero um beijo, isso não é pedir demais.
Minha mãe entra no meu quarto sem bater, como de costume, segurando um vestido longo de um azul profundo, quase real.
— Feliz aniversário, minha princesa! — Ela sorri, os olhos brilhando com orgulho. Retribuo o sorriso, tentando conter minha ansiedade. Hoje é o meu dia, e de todos os presentes, apenas um me importa. Vittorio. Minha mãe me ajuda a vestir o vestido, ajeita meus cabelos em um penteado sofisticado e aplica uma maquiagem leve, realçando minha juventude. Durante todo o processo, minha mente está longe, imaginando o momento em que ele chegará. O momento em que dançaremos juntos. Quando desço para o salão da festa, sou recebida com aplausos e exclamações de admiração. A casa está deslumbrante, iluminada por lustres dourados e decorada com arranjos de flores brancas. Mas nada disso importa. Meus olhos o procuram. E então, eu o vejo. Vittorio está ali, conversando com meu pai, elegante em seu terno escuro. Seu sorriso despreocupado se dissolve ao encontrar meu olhar. Meu coração dispara. Ele está ainda mais bonito do que me lembrava. A música muda. A valsa começa. E ele se aproxima.— Heloisa — diz, oferecendo a mão. — Vamos dançar?
Assinto, sem conseguir esconder minha felicidade. Minhas mãos tremem quando as depósito sobre as dele. Seu toque é quente, firme, e quando ele me conduz para o centro do salão, sinto como se estivéssemos sozinhos no mundo.
Seus olhos encontram os meus enquanto giramos pelo chão de mármore. Meu coração b**e descompassado, e por um instante, ele parece hesitante, como se soubesse o que estou pensando. E então, a música termina. O encantamento se desfaz. Respiro fundo. É agora ou nunca. — Vittorio — sussurro. — Posso escolher meu presente? Ele sorri, passando a mão pelos meus cabelos de forma carinhosa. — O que quiser, princesa. Meu coração aperta. Segurei sua mão e o puxei levemente para perto de mim. — Me encontre no jardim, perto da piscina. Ele parece surpreso, mas concorda com um leve aceno de cabeça. Meus passos são apressados enquanto me dirijo para lá, o coração batendo contra as costelas. O ar da noite está fresco, e a água da piscina reflete o brilho das luzes do jardim. Espero. E então ele chega. Vittorio está mais sério agora, os olhos analisando meu rosto como se tentasse entender o que estou prestes a fazer. Não hesito. — Quero que seja você, Vittorio — digo, com a coragem de quem não tem nada a perder. — Meu primeiro beijo. Ele congela. Por um momento, o silêncio entre nós é quase insuportável. Mas então, devagar, ele levanta a mão e toca meu rosto, o polegar deslizando sobre minha pele quente. — Heloisa… — murmura, hesitante. — Tem certeza? Mas não recua. Então ele se inclina e seus lábios encontram os meus. O beijo é suave, terno, mas também repleto de algo que não consigo definir. Meus olhos se fecham, e por um instante, tudo parece perfeito. Mas quando me afasto, ele já não está ali. Fico sozinha, com o sabor do seu beijo nos meus lábios e o vazio da sua ausência apertando meu peito. Meu coração ainda b**e descontrolado. Meus dedos tocam os lábios, tentando guardar aquela sensação, o calor suave do beijo que esperei tanto. Mas a realidade me acerta em cheio. Ele foi embora. Sem uma palavra, sem um olhar.Dou um passo para trás, depois outro, tentando entender o que acabou de acontecer. Será que ele se arrependeu? Será que percebeu o que fez e decidiu fugir antes que fosse tarde demais?
Vittorio me beijou. Ele não me afastou, não disse que era errado. Ele me quis, mesmo que por um instante.
Mordo o lábio, sentindo um misto de frustração e dor. Voltar para a festa agora parece impossível. Sei que meu pai vai procurar por mim, que minha mãe vai querer saber onde estive, mas não consigo me mover.
— Droga, Vittorio — sussurro.
Talvez eu tenha sido ingênua ao achar que ele me veria da mesma forma que eu o vejo. Mas eu não sou mais uma criança. E vou provar isso para ele.
Desde aquela noite, algo mudou dentro de mim. Antes, Vittorio era apenas um desejo distante, um sonho adolescente. Agora, ele é uma obsessão.
Eu o vejo evitar meu olhar sempre que vem à nossa casa. Ele não fica mais sozinho comigo. Está sempre ocupado, sempre de saída. Mas não pode fugir para sempre.
No jantar de família do domingo, sento à mesa de frente para ele. Visto um vestido vermelho justo, um pouco ousado para o gosto da minha mãe, mas eu não me importo. Quero que ele me veja. Quero que se lembre de como me beijou.
Enquanto eles conversavam, eu prestava atenção nele. Vittorio mantém a postura séria, o olhar baixo enquanto meu pai fala sobre negócios. Mas quando eu cruzo as pernas lentamente, vejo seu maxilar se contrair.
Sorrio de lado,Vittorio ergue os olhos para mim e, por um segundo, vejo algo ali, algo quente, algo perigoso. Mas então ele desvia. De novo,a raiva ferve dentro de mim.
Quando a sobremesa é servida, decidi testar até onde posso ir. Me levanto e finjo esbarrar na cadeira ao lado dele. Me apoio em seu ombro, sentindo a tensão sobre ele.
— Desculpe, Vittorio — sussurro perto de seu ouvido.
Ele se afasta sutilmente, mas não sem antes segurar meu braço de leve.
— Heloísa… — sua voz é um aviso.
Mas eu apenas sorrio e sussurro:
— Você não pode fugir para sempre. Temos que conversar
Me afasto antes que ele possa responder, sentindo meu coração disparar. Sei que estou brincando com fogo. Mas já estou queimada, E agora, quero que ele se queime também.
Vittorio BianchiNão sei o que se passa na cabeça dessa garota, só sei que ela está a brincar com fogo, vejo meus amigos indo para sala enquanto os empregados estão retirando a mesa, e pelo canto do olho vejo a Heloisa indo em direção aos fundos da casa.Minhas pernas tomam vida própria seguindo-a, desde quando ela se tornou essa menina-mulher, tão cheia de si?— Vittorio? — Ela me vê e me xingo por dentro, pois estou me tornando um idiota olhando-a assim.— Heloise, você precisa esquecer o que aconteceu entre nós. Não faz sentido...— Não fuja, tio, sei o que você sentiu o mesmo que eu, quando me beijou.— Heloisa, isso foi um erro. Um grande erro. — Minha voz sai firme, mas por dentro estou em ruínas.Ela avança um passo, me encurralando contra meus próprios princípios. Seus olhos brilham de teimosia e algo mais perigoso — uma convicção que me assusta.— Se foi um erro, por que está tão abalado? — Sua voz é um sussurro desafiador, e eu quase amaldiçoo o efeito que isso tem sobre mi
Vittorio BianchiNos tempos atuais...Eu não passava um único dia sem lembrar dela. Ainda assim, tentava me distrair a cada noite com uma mulher diferente, buscando, de todas as formas, arrancar aquela menina dos meus pensamentos. Já havia procurado por ela em todas as redes sociais, mas era como um fantasma, sem qualquer rastro digital.Meus devaneios foram interrompidos pelo toque do celular. Ao olhar para o visor, vi o nome de Hugo brilhar na tela.— Hugo, a que devo a honra dessa ligação? — disse, com ironia, pois fazia meses que não falava com ele.— Estou te ligando para fazer um convite — respondeu ele. — A Heloisa conseguiu terminar o curso de sommelier e passou com mérito, sendo a primeira da turma. Estou muito orgulhoso da minha menina.Ao ouvir o nome dela, senti todo o meu corpo reagir de maneira estranha. Um aperto no peito, um frio cortante na espinha, um desejo incontrolável de saber mais.— Desculpe, meu amigo, mas não poderei ir. A colheita das uvas está começando e e
Vittorio BianchiFico olhando para o vazio, como ele pode falar algo assim e agir nesta naturalidade, não posso ficar no mesmo ambiente que a Heloisa, não sei como ela está, hoje já é uma mulher, só de lembrar daquele beijo em seu aniversário meu membro dá sinais.Como vou permanecer debaixo do mesmo teto que ela e não pirar de vez?Eu passo as mãos pelos cabelos, tentando afastar os pensamentos que insistem em me assombrar. Hugo saiu do quarto como se tivesse soltado uma bomba e simplesmente seguido em frente, sem se importar com o estrago que deixou para trás. Mas o pior ainda está por vir.Não preciso esperar muito. A porta se abre novamente, e então, ela entra.Heloisa. Mais linda do que eu lembrava, tento me ajeitar na cama para que minha ereção não fique visível.Meu peito aperta ao vê-la depois de tantos anos. A garota que peguei no colo cresceu, se transformou em uma mulher que não deveria estar neste quarto, não me olhando assim, com aqueles olhos grandes e curiosos que parec
Heloisa Moura Assumir a vinícola não era um problema para mim. Eu entendia de safras, fermentação e a delicadeza do envelhecimento de um bom vinho. O que realmente tornava essa experiência um desafio era outra coisa.Ou melhor, outra pessoa, Vittorio.Desde que vim para a Itália, ele se manteve à distância, como se minha presença o incomodasse mais do que as próprias dores do acidente. Mas eu sabia que, por trás daquela frieza, havia algo mais.— Ele já tomou os remédios? — perguntei a Matteo, que é um filho de um dos funcionários mais antigos do Vittorio, enquanto verificava a colheita das uvas.— Tomou, sim, mas com muito custo — ele riu. — Ele não gosta de admitir que precisa de ajuda.Revirei os olhos, já esperando aquela resposta.— Vou falar com ele. Obrigada, Matteo.Saí do campo e caminhei até a casa principal. Vittorio estava em repouso forçado, mas sabia que ele odiava essa situação.Bati na porta e entrei sem esperar resposta. Ele estava sentado na beira da cama, com a cam
Vittorio Bianchi Heloísa saiu do banheiro sem olhar para trás, e eu fiquei parado ali, com a toalha enrolada na cintura, sentindo o corpo inteiro tenso.Ela me desafiava de uma forma que nenhuma outra mulher já tinha feito. Não era com palavras afiadas ou provocações vazias, mas com a verdade crua do que sentia.Ela me queria, e droga, eu também a queria.Encostei as mãos na pia, fitando meu reflexo no espelho. O corte na testa, as olheiras fundas, a expressão exausta… Eu parecia um homem à beira do colapso.E talvez estivesse.Passei a toalha nos cabelos molhados e saí do banheiro. Vesti uma calça de moletom com dificuldade, meu corpo inteiro protestando contra qualquer movimento. Mas a dor física não era nada comparada à outra.Eu deveria me afastar.Mas, quando desci para tomar um pouco de água na cozinha, dei de cara com ela na sala de estar, analisando alguns papéis da vinícola. Seu cabelo estava preso em um coque bagunçado, uma taça de vinho de lado, caneta entre os dedos enqua
Heloisa Moura O ar da vinícola era sempre carregado com aquele aroma adocicado de uvas maduras e madeira envelhecida. Eu já tinha me acostumado com isso, assim como tinha me acostumado com Vittorio e sua mania insuportável de me afastar sempre que as coisas ficavam intensas.Mas hoje... hoje eu estava cansada desse jogo.Me sentei na varanda com alguns relatórios da safra e logo Matteo apareceu. Ele era do tipo que conversava fácil, cheio de histórias sobre o cultivo, o processo de vinificação entre outros. E eu gostava de ouvir.E, claro, eu sentia o olhar de Vittorio queimando em mim a cada risada que escapava dos meus lábios.— Então, vocês fazem a colheita sempre de madrugada? — perguntei, interessada.Matteo sorriu, se encostando no batente da varanda.— Sim. O frescor preserva melhor o sabor das uvas. — Ele fez uma pausa e me olhou com curiosidade. — Você tem jeito de quem gostaria de ver de perto.— Eu adoraria — respondi, sincera.Foi quando senti a presença de Vittorio ante
Vittorio BianchiCinco anos antes…Minha vida está ligada a família Moura desde que me entendo por gente, meus pais e os pais do Hugo eram amigos e fomos criados como irmãos já que não os temos. Embora seja cinco anos mais novo que o Hugo, temos uma ligação forte e após a morte dos nossos pais, ficamos ainda mais próximos. Ele se apaixonou pela Ava e se casaram, trazendo ao mundo a pequena Heloísa, ela é linda, não desgruda um minuto sequer de mim, hoje é seu aniversário de 15 anos e dentre tantos garotos da sua idade ela pediu que eu fosse o príncipe a dançar a valsa com ela. Fiquei feliz por essa escolha dela, mas não imaginaria que ter aquela garota em meus braços me faria tão bem.A música começa suavemente, e eu estendo a mão para ela. Heloísa sorri, seus olhos brilhando sob as luzes do salão. Sua mão pequena e delicada se encaixa na minha, e eu a puxo suavemente para mais perto, dando início à valsa.Nossos passos são sincronizados, como se tivéssemos feito isso mil vezes ant