Heloísa Moura Quando minha mãe me ligou sugerindo um jantar em família, confesso que fiquei apreensiva. Ainda estava processando minha última conversa com meu pai, e apesar de sentir que havíamos dado um passo à frente, eu não sabia exatamente como as coisas ficariam entre nós. Vittorio, como sempre, me acalmou. — Vai ser bom, Heloísa. Seu pai está tentando, e sua mãe também quer essa reconciliação. E, no fundo, acho que você também. Ele estava certo. Parte de mim queria acreditar que aquele jantar seria um recomeço de verdade. Quando chegamos à casa da minha mãe, fomos recebidos com sorrisos e uma mesa lindamente arrumada. O clima estava leve, diferente das outras vezes em que reuniões familiares terminavam com portas batendo ou silêncios constrangedores. Meu pai, que até pouco tempo atrás evitava até olhar para Vittorio, parecia mais relaxado. Ainda mantinha seu ar de superioridade, mas havia algo diferente em seu olhar quando observava o homem que escolhi para compartil
Hugo Moura As horas se passavam e ninguém vinha trazer notícias da minha filha. Até que as portas se abrem e o médico que a atendeu disse que a Ava e eu podíamos entrar, quando entrei no quarto e vi o Vittorio segurando aquele bebê fui levado há vinte anos atrás. Quando vivi esta cena quando ele pegou Heloísa em seus braços pela primeira vez. Uma sensação de desconforto me atinge, entretanto, não posso ser injusto — o Vittorio ama a Heloísa de verdade. Eu vejo isso agora, mais do que nunca. Está no modo como ele segura aquele bebê. Nos olhos marejados, no cuidado atento, na respiração que ele prende como se qualquer movimento brusco pudesse ser demais para aquele ser tão pequeno e precioso. É o mesmo olhar de vinte anos atrás, mas agora mais maduro, mais consciente do valor da vida que carrega nos braços. Vittorio ergue os olhos e me encara. Há algo ali… um tipo de respeito silencioso. Ele se aproxima devagar, e quando para na minha frente, estende o bebê com delicadeza. —
Arthur Bernard Nunca pensei que um dia minha vida daria uma guinada tão abrupta. Estava sentado na sala, sozinho, com a cabeça a mil, quando o interfone tocou. Atendi sem muito interesse, mas as palavras do porteiro me fizeram gelar. — Senhor Arthur… há uma mulher aqui da assistência social. Ela está com um bebê. Disse que é importante. Senti o corpo gelar. Algo dentro de mim dizia que aquilo não era apenas uma coincidência. Desci apressado, coração acelerado e mãos trêmulas. Assim que vi a assistente social, já soube. — O senhor é Arthur Bernard? — ela perguntou, segurando uma criança enrolada num cobertor azul. — Sou eu… o que está acontecendo? — A mãe da criança… Liliane. Ela deixou uma carta no hospital e nomeou o senhor como responsável legal. Depois… desapareceu. O mundo pareceu parar. Meus pés fincaram no chão como se eu estivesse preso ali. Um bebê. Um bebê que eu sabia… era meu. Não precisava de exame nenhum. Liliane havia dito uma vez, entre lágrimas e promessas queb
Vittorio BianchiCinco anos antes…Minha vida está ligada a família Moura desde que me entendo por gente, meus pais e os pais do Hugo eram amigos e fomos criados como irmãos já que não os temos. Embora seja cinco anos mais novo que o Hugo, temos uma ligação forte e após a morte dos nossos pais, ficamos ainda mais próximos. Ele se apaixonou pela Ava e se casaram, trazendo ao mundo a pequena Heloísa, ela é linda, não desgruda um minuto sequer de mim, hoje é seu aniversário de 15 anos e dentre tantos garotos da sua idade ela pediu que eu fosse o príncipe a dançar a valsa com ela. Fiquei feliz por essa escolha dela, mas não imaginaria que ter aquela garota em meus braços me faria tão bem.A música começa suavemente, e eu estendo a mão para ela. Heloísa sorri, seus olhos brilhando sob as luzes do salão. Sua mão pequena e delicada se encaixa na minha, e eu a puxo suavemente para mais perto, dando início à valsa.Nossos passos são sincronizados, como se tivéssemos feito isso mil vezes ant
Heloisa Moura Não sei como tudo começou, o que sei é que um belo dia acordei e comecei a olhar Vittorio Bianchi de uma forma diferente, ele para mim não era mais o tio Vittorio, era o homem com quem eu queria dar meu primeiro beijo.E daí que ele é mais velho.E daí que ele é amigo do meu pai.E daí que ele me vê como uma criança. Só quero um beijo, isso não é pedir demais.Minha mãe entra no meu quarto sem bater, como de costume, segurando um vestido longo de um azul profundo, quase real.— Feliz aniversário, minha princesa! — Ela sorri, os olhos brilhando com orgulho.Retribuo o sorriso, tentando conter minha ansiedade. Hoje é o meu dia, e de todos os presentes, apenas um me importa. Vittorio.Minha mãe me ajuda a vestir o vestido, ajeita meus cabelos em um penteado sofisticado e aplica uma maquiagem leve, realçando minha juventude. Durante todo o processo, minha mente está longe, imaginando o momento em que ele chegará. O momento em que dançaremos juntos.Quando desço para o salã
Vittorio BianchiNão sei o que se passa na cabeça dessa garota, só sei que ela está a brincar com fogo, vejo meus amigos indo para sala enquanto os empregados estão retirando a mesa, e pelo canto do olho vejo a Heloisa indo em direção aos fundos da casa.Minhas pernas tomam vida própria seguindo-a, desde quando ela se tornou essa menina-mulher, tão cheia de si?— Vittorio? — Ela me vê e me xingo por dentro, pois estou me tornando um idiota olhando-a assim.— Heloise, você precisa esquecer o que aconteceu entre nós. Não faz sentido...— Não fuja, tio, sei o que você sentiu o mesmo que eu, quando me beijou.— Heloisa, isso foi um erro. Um grande erro. — Minha voz sai firme, mas por dentro estou em ruínas.Ela avança um passo, me encurralando contra meus próprios princípios. Seus olhos brilham de teimosia e algo mais perigoso — uma convicção que me assusta.— Se foi um erro, por que está tão abalado? — Sua voz é um sussurro desafiador, e eu quase amaldiçoo o efeito que isso tem sobre mi
Vittorio BianchiNos tempos atuais...Eu não passava um único dia sem lembrar dela. Ainda assim, tentava me distrair a cada noite com uma mulher diferente, buscando, de todas as formas, arrancar aquela menina dos meus pensamentos. Já havia procurado por ela em todas as redes sociais, mas era como um fantasma, sem qualquer rastro digital.Meus devaneios foram interrompidos pelo toque do celular. Ao olhar para o visor, vi o nome de Hugo brilhar na tela.— Hugo, a que devo a honra dessa ligação? — disse, com ironia, pois fazia meses que não falava com ele.— Estou te ligando para fazer um convite — respondeu ele. — A Heloisa conseguiu terminar o curso de sommelier e passou com mérito, sendo a primeira da turma. Estou muito orgulhoso da minha menina.Ao ouvir o nome dela, senti todo o meu corpo reagir de maneira estranha. Um aperto no peito, um frio cortante na espinha, um desejo incontrolável de saber mais.— Desculpe, meu amigo, mas não poderei ir. A colheita das uvas está começando e e
Vittorio BianchiFico olhando para o vazio, como ele pode falar algo assim e agir nesta naturalidade, não posso ficar no mesmo ambiente que a Heloisa, não sei como ela está, hoje já é uma mulher, só de lembrar daquele beijo em seu aniversário meu membro dá sinais.Como vou permanecer debaixo do mesmo teto que ela e não pirar de vez?Eu passo as mãos pelos cabelos, tentando afastar os pensamentos que insistem em me assombrar. Hugo saiu do quarto como se tivesse soltado uma bomba e simplesmente seguido em frente, sem se importar com o estrago que deixou para trás. Mas o pior ainda está por vir.Não preciso esperar muito. A porta se abre novamente, e então, ela entra.Heloisa. Mais linda do que eu lembrava, tento me ajeitar na cama para que minha ereção não fique visível.Meu peito aperta ao vê-la depois de tantos anos. A garota que peguei no colo cresceu, se transformou em uma mulher que não deveria estar neste quarto, não me olhando assim, com aqueles olhos grandes e curiosos que parec