Capitulo 04

Vittorio Bianchi

Nos tempos atuais...

Eu não passava um único dia sem lembrar dela. Ainda assim, tentava me distrair a cada noite com uma mulher diferente, buscando, de todas as formas, arrancar aquela menina dos meus pensamentos. Já havia procurado por ela em todas as redes sociais, mas era como um fantasma, sem qualquer rastro digital.

Meus devaneios foram interrompidos pelo toque do celular. Ao olhar para o visor, vi o nome de Hugo brilhar na tela.

— Hugo, a que devo a honra dessa ligação? — disse, com ironia, pois fazia meses que não falava com ele.

— Estou te ligando para fazer um convite — respondeu ele. — A Heloisa conseguiu terminar o curso de sommelier e passou com mérito, sendo a primeira da turma. Estou muito orgulhoso da minha menina.

Ao ouvir o nome dela, senti todo o meu corpo reagir de maneira estranha. Um aperto no peito, um frio cortante na espinha, um desejo incontrolável de saber mais.

— Desculpe, meu amigo, mas não poderei ir. A colheita das uvas está começando e estamos testando um novo espumante. Ele terá uma mistura de uvas verdes e rosê, deixando seu sabor especial e único.

— Meu amigo, tenho um imenso orgulho de ouvir você falar sobre vinhos. Já sei de onde a Helô herdou essa paixão.

Engoli em seco. Não gostava de comparações.

— Não me compare à Heloisa — respondi, tentando manter um tom leve. — Sei que ela pode ter herdado isso de você. Aliás, faz tempo que não a vejo em nenhuma das suas fotos nas redes sociais. O que aconteceu? Você a proíbe de tirar fotos? — perguntei, em um tom divertido, mas, por dentro, o que eu realmente queria saber era porque ela estava se escondendo.

— Não, Vittorio, não proíbo a Heloisa de fazer nada, nem incentivo suas decisões. Minha filha é muito reservada e, de um tempo para cá, se dedicou apenas aos estudos.

Antes que pudesse me controlar, a pergunta escapou dos meus lábios.

— Ela está namorando?

O silêncio do outro lado da linha fez meu coração acelerar. Quando finalmente veio a resposta, foi como um soco no estômago.

— Tem um rapaz que tem se aproximado bastante dela. Acredito que seja namorado dela, já que não se desgrudam.

Uma onda de raiva e frustração tomou conta de mim. Apertei o celular com força, sentindo um nó na garganta. Inventei uma desculpa qualquer e desliguei a chamada rapidamente. Meu peito ardia, e minha mente repetia, incansavelmente, as palavras de Hugo: "Tem um rapaz que não desgruda dela".

Descontrolado, caminhei decidido até o bar de casa e servi-me de uma dose generosa de uísque. A bebida queimava minha garganta, mas não era suficiente para apagar as imagens que minha mente insistia em criar: Heloisa nos braços de outro homem. Continuei bebendo, cada vez mais, até que a tontura começasse a tomar conta dos meus sentidos.

Tomado pelo turbilhão de emoções, saí da casa e segui em direção ao estábulo. Lá estava Ébano, meu cavalo puro-sangue, um animal de temperamento forte que não permitia que ninguém além de mim o montasse. Aproximei-me dele, sentindo sua respiração pesada, tentando encontrar em meu companheiro fiel à calma que me faltava naquele momento.

— Como faço para esquecê-la em Ébano?

Soltei ele de sua guia e coloquei a sela para cavalgar um pouco. Cavalgar sempre me acalma, precisava acalmar minhas emoções, precisava colocar minha cabeça em ordem.

Minha cabeça latejava quando abri os olhos. A luz branca e intensa do hospital me cegou momentaneamente, fazendo-me fechar as pálpebras novamente. O cheiro forte de desinfestante invadiu minhas narinas, misturado ao som ritmado dos aparelhos que monitoravam meus sinais vitais.

Tentei me mover, mas um incômodo no lado esquerdo do meu corpo me fez soltar um gemido baixo. Minha mente ainda estava nebulosa, mas logo os flashes voltaram com força. Ébano disparando, o vento gelado contra meu rosto, o descontrole, a queda... e depois, o vazio.

— Que droga... — murmurei, passando a mão pelo rosto.

Foi então que ouvi um pigarro discreto ao meu lado. Virei lentamente a cabeça e encontrei Hugo me encarando, os braços cruzados e uma expressão entre a preocupação e o divertimento.

— Sempre soube que você era impulsivo, mas isso foi um exagero até para você, Vittorio — disse ele, com um meio sorriso. — Está tentando se matar?

Bufei, desviando o olhar para o teto branco.

— Não estou com humor para sermões, Hugo.

Ele suspirou e arrastou uma cadeira para se sentar ao lado da minha cama.

— Não vim dar sermão. Só queria ver com meus próprios olhos que você ainda está inteiro.

Soltei uma risada sem humor.

— Meio inteiro, talvez.

— O médico disse que você deu sorte. Um braço quebrado, algumas costelas fraturadas e um belo corte na testa. Poderia ter sido pior.

Passei a mão pela testa e senti os curativos. Não me lembrava de ter me machucado ali, mas, honestamente, não era como se eu tivesse tempo para processar tudo antes de apagar.

— E Ébano? — perguntei, subitamente preocupado.

— Está bem. Correu até o estábulo sozinho. Foi assim que os funcionários souberam que algo estava errado e foram te procurar. E quando te encontraram neste estado ligaram para mim.

Assenti lentamente, relaxando um pouco ao saber que meu cavalo estava bem.

Hugo me observava atentamente, como se esperasse que eu dissesse algo mais. Quando me mantive em silêncio, ele suspirou novamente, inclinando-se para frente.

— Você tem ideia de como me assustou, Vittorio? Poderia ter morrido. E tudo isso porque...? O que tem acontecido com você desde que decidiu vir para Itália? — Ele me encarou, esperando que eu completasse a frase.

A resposta estava na ponta da língua, mas engoli as palavras. Como eu poderia dizer em voz alta que a causa de tudo aquilo era Heloisa? Que a simples ideia de vê-la nos braços de outro homem me desestabilizou a ponto de me fazer perder completamente o controle?

— Só precisava de um pouco de ar — menti. — Me conectar com a natureza.

Hugo arqueou uma sobrancelha, claramente não convencido. Mas, para minha sorte, ele não insistiu.

— Você precisa descansar — disse ele, levantando-se. — O médico quer que fique em observação por mais um dia, para garantir que não teve nenhuma concussão grave. Você passou dois dias desacordado.

— Ótimo — murmurei, fechando os olhos, tentando me desligar de tudo. Mas minha mente não colaborava. Porque, mesmo ali, ferido e exausto, minha mente continuava sendo assombrada pelo nome dela. Heloisa. 

— Preciso te falar, que a Ava e eu, estamos voltando amanhã para Nova Iorque, mas a Helô, vai ficar até você está fora de perigo, já que ela entende vinhos, ninguém melhor para cuidar da vinícola neste momento. — Ele j**a a bomba e sai como se nada tivesse acontecido.

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