Vittorio Bianchi
Fico olhando para o vazio, como ele pode falar algo assim e agir nesta naturalidade, não posso ficar no mesmo ambiente que a Heloisa, não sei como ela está, hoje já é uma mulher, só de lembrar daquele beijo em seu aniversário meu membro dá sinais.
Como vou permanecer debaixo do mesmo teto que ela e não pirar de vez?
Eu passo as mãos pelos cabelos, tentando afastar os pensamentos que insistem em me assombrar. Hugo saiu do quarto como se tivesse soltado uma bomba e simplesmente seguido em frente, sem se importar com o estrago que deixou para trás. Mas o pior ainda está por vir.
Não preciso esperar muito. A porta se abre novamente, e então, ela entra.
Heloisa. Mais linda do que eu lembrava, tento me ajeitar na cama para que minha ereção não fique visível.
Meu peito aperta ao vê-la depois de tantos anos. A garota que peguei no colo cresceu, se transformou em uma mulher que não deveria estar neste quarto, não me olhando assim, com aqueles olhos grandes e curiosos que parecem querer desvendar algo em mim. Mas é impossível. Eu mesmo não entendo o que está acontecendo comigo.
Minha garganta seca quando percebo os detalhes que antes eram apenas promessas. Os cabelos longos e sedosos, a pele clara, os lábios que me trazem memórias que eu deveria enterrar. A memória de um beijo inocente, mas que queimou minha alma de um jeito que não deveria.
Ava entra logo atrás dela, sua presença trazendo um pouco de sobriedade à situação. Minha salvação. Forço um sorriso e tento parecer relaxado, como se meu coração não estivesse acelerado dentro do peito.
— Vittorio! — Ava exclama, se aproximando e tocando meu rosto com carinho materno. — Como você está, meu querido? Ficamos tão preocupadas... Foi um grande susto.
Minha atenção se desvia por um segundo, e eu aproveito para respirar fundo. Respondo algo vago, algo que faça sentido, mas que não me exponha. Não posso me expor. Não posso me permitir.
Mas então, os olhos de Heloisa me encontram de novo, e eu sinto tudo ruir. Ela me olha como se estivesse vendo além do que eu mostro, como se pudesse sentir o caos dentro de mim. Eu me forço a segurar sua atenção por tempo suficiente para recuperar o controle, mas é um erro. Porque quanto mais a olho, mais me perco.
Ela não deveria estar aqui. Não assim. Não tão perto.
— Foi um susto, mas eu estou bem. — Minha voz sai um pouco rouca, e eu torço para que não percebam. — Logo estarei bem novamente.
Ava sorri, aliviada, e senta-se na poltrona ao lado da cama, mas Heloisa permanece de pé, hesitante. Como se quisesse dizer algo. Como se precisasse me testar. Me sondar, esperando que eu dê algum sinal.
Eu engulo em seco.
— Fico feliz que esteja bem — ela diz, finalmente. Sua voz está mais madura, mais firme do que eu me lembrava, mas ainda tem aquele toque suave que me faz querer fechar os olhos e apenas ouvir.
Preciso parar. Agora.
Respiro fundo e afasto os lençóis, forçando-me a parecer mais confortável do que estou. E me forço a perguntar:
— E você? — pergunto, tentando jogar o foco para longe de mim. — Como tem passado, Heloisa?
O som de seu nome em meus lábios me traz paz. Seus olhos brilham por um momento, e então, ela sorri de leve.
— Bem... muita coisa mudou desde a última vez que nos vimos, tio. Mas acho que dá para dizer que estou bem. Vou ficar uns dias até você se recuperar.
Ava interrompe antes que qualquer silêncio constrangedor se instale.
— O importante é que todos estamos aqui agora. E você, Vittorio, precisa descansar. Mas saiba que embora volte amanhã para Nova Iorque, a Helô vai ficar aqui para te ajudar se precisar de qualquer coisa.
Eu aceno, tentando me concentrar na presença de Ava e ignorar a força que Heloisa tem sobre mim.
Ela não deveria estar aqui. Mas está.
E eu não faço ideia de como vou sobreviver a isso.
Não posso simplesmente falar que não a quero aqui.
Antes que eu consiga formular uma resposta, a porta do quarto se abre mais uma vez e o médico de plantão entra, segurando a prancheta com minha alta.
— Sr. Bianchi, tenho boas notícias. Está liberado para ir para casa. Apenas siga as recomendações médicas e evite esforços desnecessários nos próximos dias.
Assinto, sentindo um alívio por finalmente sair dali, mas, ao mesmo tempo, uma tensão nova se instala. Heloisa, sem hesitar, se aproxima e estende a mão para me ajudar a me levantar.
— Vamos, tio. — Ela sussurra próximo ao meu ouvido, sua voz carregada de um tom provocador. — Vai ser interessante cuidar de você, sabendo que há cinco anos o senhor fugiu de mim.
Meu corpo inteiro enrijece ao ouvir suas palavras, e meu coração dispara. Eu deveria dizer algo, negar, interromper isso antes que fique ainda mais fora de controle. Mas tudo o que faço é encarar aqueles olhos que me desafiam.
Ela sabe.
E agora, não há mais para onde fugir.
O ar no quarto parece ter diminuído. Meu corpo se recusa a se mover, a aceitar a verdade que se desenha diante de mim. Heloisa não só se lembra, mas carrega essa lembrança como um trunfo, um segredo sussurrado entre nós dois, uma promessa quebrada que insiste em nos assombrar.
Meu olhar se prende ao dela, e por um momento sou incapaz de desviar. Os anos a tornaram mais forte, mas audaciosa. Não há vestígios da menina que eu costumava proteger, apenas uma mulher que conhece seu poder e não hesita em usá-lo contra mim.
— Eu não fugi de você, Heloisa. — Minha voz sai mais baixa do que eu pretendia, quase um sussurro. Mas ela escuta. Eu sei que escuta.
Ela inclina a cabeça de lado, um pequeno sorriso brincando em seus lábios, mas há algo mais profundo em seus olhos, algo que me diz que essa conversa está longe de terminar. No entanto, não é agora que terei que enfrentá-la. Não com Ava no quarto. Não com o médico ainda nos observando, esperando que eu me levante da m*****a cama.
— Precisa de ajuda? — Pergunta o médico.
Nego com a cabeça. Engulo em seco e aceito a mão da Heloisa, sentindo o calor da sua pele contra a minha. O toque me queima, uma lembrança viva do que aconteceu cinco anos atrás. Do que nunca deveria ter acontecido.
Me levanto devagar, sentindo o peso do olhar dela sobre mim, me estudando, me testando. Heloisa sempre teve esse dom de me ler, de enxergar além do que eu queria mostrar. E agora, seu olhar diz que ela sabe exatamente o efeito que tem sobre mim.
— Vou providenciar um carro para nos levar de volta — Ava anuncia, alheia à tensão entre nós. — Helô, me ajuda com os papéis da alta?
Ela hesita por um segundo antes de soltar minha mão, como se fizesse questão de prolongar o contato. Quando se afasta, sinto um frio estranho tomar o lugar onde seu calor estava.
— Claro — ela responde, mas antes de sair, seus olhos voltam a encontrar os meus. E naquele instante, vejo algo mais do que provocação. Vejo a lembrança de tudo que deixei para trás. E a promessa de que, desta vez, ela não vai me deixar fugir.
O problema é que eu não sei se ainda quero fugir.
Heloisa Moura Assumir a vinícola não era um problema para mim. Eu entendia de safras, fermentação e a delicadeza do envelhecimento de um bom vinho. O que realmente tornava essa experiência um desafio era outra coisa.Ou melhor, outra pessoa, Vittorio.Desde que vim para a Itália, ele se manteve à distância, como se minha presença o incomodasse mais do que as próprias dores do acidente. Mas eu sabia que, por trás daquela frieza, havia algo mais.— Ele já tomou os remédios? — perguntei a Matteo, que é um filho de um dos funcionários mais antigos do Vittorio, enquanto verificava a colheita das uvas.— Tomou, sim, mas com muito custo — ele riu. — Ele não gosta de admitir que precisa de ajuda.Revirei os olhos, já esperando aquela resposta.— Vou falar com ele. Obrigada, Matteo.Saí do campo e caminhei até a casa principal. Vittorio estava em repouso forçado, mas sabia que ele odiava essa situação.Bati na porta e entrei sem esperar resposta. Ele estava sentado na beira da cama, com a cam
Vittorio Bianchi Heloísa saiu do banheiro sem olhar para trás, e eu fiquei parado ali, com a toalha enrolada na cintura, sentindo o corpo inteiro tenso.Ela me desafiava de uma forma que nenhuma outra mulher já tinha feito. Não era com palavras afiadas ou provocações vazias, mas com a verdade crua do que sentia.Ela me queria, e droga, eu também a queria.Encostei as mãos na pia, fitando meu reflexo no espelho. O corte na testa, as olheiras fundas, a expressão exausta… Eu parecia um homem à beira do colapso.E talvez estivesse.Passei a toalha nos cabelos molhados e saí do banheiro. Vesti uma calça de moletom com dificuldade, meu corpo inteiro protestando contra qualquer movimento. Mas a dor física não era nada comparada à outra.Eu deveria me afastar.Mas, quando desci para tomar um pouco de água na cozinha, dei de cara com ela na sala de estar, analisando alguns papéis da vinícola. Seu cabelo estava preso em um coque bagunçado, uma taça de vinho de lado, caneta entre os dedos enqua
Heloisa Moura O ar da vinícola era sempre carregado com aquele aroma adocicado de uvas maduras e madeira envelhecida. Eu já tinha me acostumado com isso, assim como tinha me acostumado com Vittorio e sua mania insuportável de me afastar sempre que as coisas ficavam intensas.Mas hoje... hoje eu estava cansada desse jogo.Me sentei na varanda com alguns relatórios da safra e logo Matteo apareceu. Ele era do tipo que conversava fácil, cheio de histórias sobre o cultivo, o processo de vinificação entre outros. E eu gostava de ouvir.E, claro, eu sentia o olhar de Vittorio queimando em mim a cada risada que escapava dos meus lábios.— Então, vocês fazem a colheita sempre de madrugada? — perguntei, interessada.Matteo sorriu, se encostando no batente da varanda.— Sim. O frescor preserva melhor o sabor das uvas. — Ele fez uma pausa e me olhou com curiosidade. — Você tem jeito de quem gostaria de ver de perto.— Eu adoraria — respondi, sincera.Foi quando senti a presença de Vittorio ante
Vittorio BianchiCinco anos antes…Minha vida está ligada a família Moura desde que me entendo por gente, meus pais e os pais do Hugo eram amigos e fomos criados como irmãos já que não os temos. Embora seja cinco anos mais novo que o Hugo, temos uma ligação forte e após a morte dos nossos pais, ficamos ainda mais próximos. Ele se apaixonou pela Ava e se casaram, trazendo ao mundo a pequena Heloísa, ela é linda, não desgruda um minuto sequer de mim, hoje é seu aniversário de 15 anos e dentre tantos garotos da sua idade ela pediu que eu fosse o príncipe a dançar a valsa com ela. Fiquei feliz por essa escolha dela, mas não imaginaria que ter aquela garota em meus braços me faria tão bem.A música começa suavemente, e eu estendo a mão para ela. Heloísa sorri, seus olhos brilhando sob as luzes do salão. Sua mão pequena e delicada se encaixa na minha, e eu a puxo suavemente para mais perto, dando início à valsa.Nossos passos são sincronizados, como se tivéssemos feito isso mil vezes ant
Heloisa Moura Não sei como tudo começou, o que sei é que um belo dia acordei e comecei a olhar Vittorio Bianchi de uma forma diferente, ele para mim não era mais o tio Vittorio, era o homem com quem eu queria dar meu primeiro beijo.E daí que ele é mais velho.E daí que ele é amigo do meu pai.E daí que ele me vê como uma criança. Só quero um beijo, isso não é pedir demais.Minha mãe entra no meu quarto sem bater, como de costume, segurando um vestido longo de um azul profundo, quase real.— Feliz aniversário, minha princesa! — Ela sorri, os olhos brilhando com orgulho.Retribuo o sorriso, tentando conter minha ansiedade. Hoje é o meu dia, e de todos os presentes, apenas um me importa. Vittorio.Minha mãe me ajuda a vestir o vestido, ajeita meus cabelos em um penteado sofisticado e aplica uma maquiagem leve, realçando minha juventude. Durante todo o processo, minha mente está longe, imaginando o momento em que ele chegará. O momento em que dançaremos juntos.Quando desço para o salã
Vittorio BianchiNão sei o que se passa na cabeça dessa garota, só sei que ela está a brincar com fogo, vejo meus amigos indo para sala enquanto os empregados estão retirando a mesa, e pelo canto do olho vejo a Heloisa indo em direção aos fundos da casa.Minhas pernas tomam vida própria seguindo-a, desde quando ela se tornou essa menina-mulher, tão cheia de si?— Vittorio? — Ela me vê e me xingo por dentro, pois estou me tornando um idiota olhando-a assim.— Heloise, você precisa esquecer o que aconteceu entre nós. Não faz sentido...— Não fuja, tio, sei o que você sentiu o mesmo que eu, quando me beijou.— Heloisa, isso foi um erro. Um grande erro. — Minha voz sai firme, mas por dentro estou em ruínas.Ela avança um passo, me encurralando contra meus próprios princípios. Seus olhos brilham de teimosia e algo mais perigoso — uma convicção que me assusta.— Se foi um erro, por que está tão abalado? — Sua voz é um sussurro desafiador, e eu quase amaldiçoo o efeito que isso tem sobre mi
Vittorio BianchiNos tempos atuais...Eu não passava um único dia sem lembrar dela. Ainda assim, tentava me distrair a cada noite com uma mulher diferente, buscando, de todas as formas, arrancar aquela menina dos meus pensamentos. Já havia procurado por ela em todas as redes sociais, mas era como um fantasma, sem qualquer rastro digital.Meus devaneios foram interrompidos pelo toque do celular. Ao olhar para o visor, vi o nome de Hugo brilhar na tela.— Hugo, a que devo a honra dessa ligação? — disse, com ironia, pois fazia meses que não falava com ele.— Estou te ligando para fazer um convite — respondeu ele. — A Heloisa conseguiu terminar o curso de sommelier e passou com mérito, sendo a primeira da turma. Estou muito orgulhoso da minha menina.Ao ouvir o nome dela, senti todo o meu corpo reagir de maneira estranha. Um aperto no peito, um frio cortante na espinha, um desejo incontrolável de saber mais.— Desculpe, meu amigo, mas não poderei ir. A colheita das uvas está começando e e