Capitulo 05

Vittorio Bianchi

Fico olhando para o vazio, como ele pode falar algo assim e agir nesta naturalidade, não posso ficar no mesmo ambiente que a Heloisa, não sei como ela está, hoje já é uma mulher, só de lembrar daquele beijo em seu aniversário meu membro dá sinais.

Como vou permanecer debaixo do mesmo teto que ela e não pirar de vez?

Eu passo as mãos pelos cabelos, tentando afastar os pensamentos que insistem em me assombrar. Hugo saiu do quarto como se tivesse soltado uma bomba e simplesmente seguido em frente, sem se importar com o estrago que deixou para trás. Mas o pior ainda está por vir.

Não preciso esperar muito. A porta se abre novamente, e então, ela entra.

Heloisa. Mais linda do que eu lembrava, tento me ajeitar na cama para que minha ereção não fique visível.

Meu peito aperta ao vê-la depois de tantos anos. A garota que peguei no colo cresceu, se transformou em uma mulher que não deveria estar neste quarto, não me olhando assim, com aqueles olhos grandes e curiosos que parecem querer desvendar algo em mim. Mas é impossível. Eu mesmo não entendo o que está acontecendo comigo.

Minha garganta seca quando percebo os detalhes que antes eram apenas promessas. Os cabelos longos e sedosos, a pele clara, os lábios que me trazem memórias que eu deveria enterrar. A memória de um beijo inocente, mas que queimou minha alma de um jeito que não deveria.

Ava entra logo atrás dela, sua presença trazendo um pouco de sobriedade à situação. Minha salvação. Forço um sorriso e tento parecer relaxado, como se meu coração não estivesse acelerado dentro do peito.

— Vittorio! — Ava exclama, se aproximando e tocando meu rosto com carinho materno. — Como você está, meu querido? Ficamos tão preocupadas... Foi um grande susto.

Minha atenção se desvia por um segundo, e eu aproveito para respirar fundo. Respondo algo vago, algo que faça sentido, mas que não me exponha. Não posso me expor. Não posso me permitir.

Mas então, os olhos de Heloisa me encontram de novo, e eu sinto tudo ruir. Ela me olha como se estivesse vendo além do que eu mostro, como se pudesse sentir o caos dentro de mim. Eu me forço a segurar sua atenção por tempo suficiente para recuperar o controle, mas é um erro. Porque quanto mais a olho, mais me perco.

Ela não deveria estar aqui. Não assim. Não tão perto.

— Foi um susto, mas eu estou bem. — Minha voz sai um pouco rouca, e eu torço para que não percebam. — Logo estarei bem novamente.

Ava sorri, aliviada, e senta-se na poltrona ao lado da cama, mas Heloisa permanece de pé, hesitante. Como se quisesse dizer algo. Como se precisasse me testar. Me sondar, esperando que eu dê algum sinal.

Eu engulo em seco.

— Fico feliz que esteja bem — ela diz, finalmente. Sua voz está mais madura, mais firme do que eu me lembrava, mas ainda tem aquele toque suave que me faz querer fechar os olhos e apenas ouvir.

Preciso parar. Agora.

Respiro fundo e afasto os lençóis, forçando-me a parecer mais confortável do que estou. E me forço a perguntar:

— E você? — pergunto, tentando jogar o foco para longe de mim. — Como tem passado, Heloisa?

O som de seu nome em meus lábios me traz paz. Seus olhos brilham por um momento, e então, ela sorri de leve.

— Bem... muita coisa mudou desde a última vez que nos vimos, tio. Mas acho que dá para dizer que estou bem. Vou ficar uns dias até você se recuperar.

Ava interrompe antes que qualquer silêncio constrangedor se instale.

— O importante é que todos estamos aqui agora. E você, Vittorio, precisa descansar. Mas saiba que embora volte amanhã para Nova Iorque, a Helô vai ficar aqui para te ajudar se precisar de qualquer coisa.

Eu aceno, tentando me concentrar na presença de Ava e ignorar a força que Heloisa tem sobre mim.

Ela não deveria estar aqui. Mas está.

E eu não faço ideia de como vou sobreviver a isso.

Não posso simplesmente falar que não a quero aqui.

Antes que eu consiga formular uma resposta, a porta do quarto se abre mais uma vez e o médico de plantão entra, segurando a prancheta com minha alta.

— Sr. Bianchi, tenho boas notícias. Está liberado para ir para casa. Apenas siga as recomendações médicas e evite esforços desnecessários nos próximos dias.

Assinto, sentindo um alívio por finalmente sair dali, mas, ao mesmo tempo, uma tensão nova se instala. Heloisa, sem hesitar, se aproxima e estende a mão para me ajudar a me levantar.

— Vamos, tio. — Ela sussurra próximo ao meu ouvido, sua voz carregada de um tom provocador. — Vai ser interessante cuidar de você, sabendo que há cinco anos o senhor fugiu de mim.

Meu corpo inteiro enrijece ao ouvir suas palavras, e meu coração dispara. Eu deveria dizer algo, negar, interromper isso antes que fique ainda mais fora de controle. Mas tudo o que faço é encarar aqueles olhos que me desafiam.

Ela sabe.

E agora, não há mais para onde fugir.

O ar no quarto parece ter diminuído. Meu corpo se recusa a se mover, a aceitar a verdade que se desenha diante de mim. Heloisa não só se lembra, mas carrega essa lembrança como um trunfo, um segredo sussurrado entre nós dois, uma promessa quebrada que insiste em nos assombrar.

Meu olhar se prende ao dela, e por um momento sou incapaz de desviar. Os anos a tornaram mais forte, mas audaciosa. Não há vestígios da menina que eu costumava proteger, apenas uma mulher que conhece seu poder e não hesita em usá-lo contra mim.

— Eu não fugi de você, Heloisa. — Minha voz sai mais baixa do que eu pretendia, quase um sussurro. Mas ela escuta. Eu sei que escuta.

Ela inclina a cabeça de lado, um pequeno sorriso brincando em seus lábios, mas há algo mais profundo em seus olhos, algo que me diz que essa conversa está longe de terminar. No entanto, não é agora que terei que enfrentá-la. Não com Ava no quarto. Não com o médico ainda nos observando, esperando que eu me levante da m*****a cama.

— Precisa de ajuda? — Pergunta o médico.

Nego com a cabeça. Engulo em seco e aceito a mão da Heloisa, sentindo o calor da sua pele contra a minha. O toque me queima, uma lembrança viva do que aconteceu cinco anos atrás. Do que nunca deveria ter acontecido.

Me levanto devagar, sentindo o peso do olhar dela sobre mim, me estudando, me testando. Heloisa sempre teve esse dom de me ler, de enxergar além do que eu queria mostrar. E agora, seu olhar diz que ela sabe exatamente o efeito que tem sobre mim.

— Vou providenciar um carro para nos levar de volta — Ava anuncia, alheia à tensão entre nós. — Helô, me ajuda com os papéis da alta?

Ela hesita por um segundo antes de soltar minha mão, como se fizesse questão de prolongar o contato. Quando se afasta, sinto um frio estranho tomar o lugar onde seu calor estava.

— Claro — ela responde, mas antes de sair, seus olhos voltam a encontrar os meus. E naquele instante, vejo algo mais do que provocação. Vejo a lembrança de tudo que deixei para trás. E a promessa de que, desta vez, ela não vai me deixar fugir.

O problema é que eu não sei se ainda quero fugir.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App