Fechei a conta da dona Sandra, me despedi com um sorriso e volte sempre e aproveitei para encerrar outras contas no local. O tempo foi passando rápido e logo o Meyer e dona Giovanna foram embora e minha mãe voltou para o expediente. Eu fui almoçar ás quatro da tarde, mas estava me sentindo muito bem por ver minha mãe parada conversando como uma adolescente empolgada.
Já eram nove e meia quando finalmente conseguimos encerrar o expediente e se despedir do último cliente, aproveitando o feche do sorriso que minha mãe deu o dia todo, pedi que ela fosse descansar que eu mesma terminaria de limpar e fecharia o restaurante. Ela relutou, mas acabou cedendo. Eu estava carregando todo o lixo até o tonel quando notei uma movimentação ao lado de fora da porta dos fundos da suposta casa noturna. Aquele beco estava movimentado pela primeira vez. Nenhum dos lados do beco tinha saída, apenas uma grade do lado do meu restaurante que ficava sempre de cadeado e só era aberto por nós quando os garis vinham buscar o lixo.
— Jasmim. — Mario me achou do lado de fora. — Posso falar com você um minutinho?
— O que você ainda tá fazendo aqui? É hora de ir pra casa, descansar. — Falei sorrindo.
— Eu sei, eu sei. — Ele sorriu.
— O que houve? Precisa de alguma coisa? — Falei o encarando se aproximar.
— Queria conversar contigo. Esse final de semana, no sábado é minha folga. Você sabe. — Ele falou sem jeito. — Eu pensei, sei lá, se a gente não poderia fazer alguma coisa junto.
— Mario... — Falei desviando o olhar. — Não vai rolar.
— Ah Jasmim, é só uma saída. — Ele falou colocando a mão no bolso.
— Você sabe. — Falei pausando para encarar os riquinhos que haviam saído da porta do fundo. Ele. O Meyer e mais dois homens vistoriando o beco. Ele me encarou por alguns segundos.
— O que eu sei? — Mario falou se aproximando um pouco mais.
— Sabe que não vai rolar. — Falei dando um passo pra trás agora voltando minha atenção pra ele.
— Por quê? — Ele me encarou.
— Porque não, Mario. Peço desculpas mais uma vez se acabou soando algo com aquele beijo. Mas eu estava bêbada.
— Eu sei, eu sei, Jass. — Ele falou assentindo. — Eu só estou te chamando pra sair e não pra me beijar de novo. Somos amigos. — Ele falou revirando os olhos.
— Mesmo? Você só quer minha amizade? — Perguntei arqueando uma das sobrancelhas.
— Eu quero o que você quiser me oferecer. Você só está disposta a oferecer amizade, então não tenho muita escolha quando não quero te perder. — Ele deu de ombros. — Sem falar que as meninas também vão. Meu amigo vai dar uma festa, vai ser legal.
— Tá, ta. — Falei sorrindo. — Prometo que vou pensar. Agora me deixe terminar aqui e vá pra casa, não pagamos adicional ou hora extra. — Falei gesticulando pra que ele fosse embora.
— Quer ajuda? — Ele perguntou apontando pros lixos.
— Não. Desvio de função. — Falei fazendo careta.
— Besta. — Ele riu.
— Vai logo menino, vai ficar tarde e tua baixada é perigosa. — Falei.
— Tá, até amanhã. — Ele falou. Virou-se e foi embora.
Notei que os caras conversavam alguma coisa com o Meyer, eles falavam em outra língua então não dava para entender muita coisa. Apertei play em minha música e continuei jogando meu lixo fora. Como era resto de comida, eu fazia questão de sempre separar os sacos para no final da noite saber o que colocaria para os cachorros que sempre vinham buscar do outro lado da grade. Verifiquei o saco e deixei por último. Quando terminei de jogar tudo, peguei o saco me aproximando da grade.
— Psi.Psi.Psi. — Fui chamando os gatinhos daquela região e também os cachorros. Os caras que estavam conversando pararam pra me encarar por um momento e voltaram a falar algo entre si. Eles precisavam se esforçar mais para me fazer ter medo de algum ali, e o Meyer estava na roda então continuei o que estava fazendo. Logo os bichinhos foram aparecendo com seus rabinhos abanando, passei o saco pela grade e abri jogando o resto de comida no chão em dois pontos diferentes para que todos pudessem comer. Me levantei e fiquei um pouco olhando aquela cena, depois me virei para voltar pra dentro. Meyer me encarava de soslaio e eu percebi. Continuei meu caminho e logo entrei.
Fechei o restaurante e aumentei meu fone de ouvido no máximo ao som de Hit do Ano – Jorge & Mateus – e segui meu caminho imaginando meu filme de romance. Estava tão entretida que nem vi quando um carro preto parou diante de mim. Eu já estava analisando minhas possibilidades de fuga quando vi o vidro de trás abaixar me revelando alguém conhecido.
— Quer uma carona? — Meyer falou me encarando quando parei retirando um dos fones.
— Você quase me matou de susto. — Falei. — Sabe que são apenas dez minutos, né? — Falei.
— Sei. Mas dez minutos pra quem trabalhou duro o dia todo pode ser muito. — Ele deu de ombros.
— Obrigada pela iniciativa. Mas eu gosto de caminhar, ajuda a pensar na vida. — Eu disse sorrindo.
— Entendi. Posso andar com você? — Ele perguntou me encarando.
— Sério? — Falei arqueando uma das sobrancelhas.
— Sério. — Ele disse agora abrindo a porta do carro.
— Tudo bem. — Dei de ombros.
— Lass mich wissen, dass ich einem Jasmim folge. — Ele falou para o motorista.
A porta do carona se abriu e um segurança desceu do carro. Ele suspirou.
— Es ist nicht erforderlich. — Ele falou na direção do segurança.
— wisse, dass ich verpflichtet bin, dich zu begleiten. — O segurança respondeu o encarando. Eu daria tudo para entender a conversa.
— Zehn Schritte entfernt. Privatsphäre. — Meyer falou apontando para o chão. — Ok. Vamos. — Ele falou me encarando.
— Ok. — Falei.
— O que você está escutando? — Ele apontou para o meu fone.
— Ah. Quer escutar? — Tirei do bolso o outro fone e o ofereci.
— Obrigado. — Ele aceitou e colocou no ouvido.
Para o meu azar eu estava escutando Arranhão de Henrique Juliano. Ele colocou as mãos nos bolsos e seguimos andando calados. Na verdade, ELE seguiu calado porque é impossível ouvir essa musica e não cantar.
Alguns momentos eu o flagrei me olhando de canto com um sorrisinho quase imperceptível, aquilo me fez sorrir. Quando chegamos em frente á minha casa ele retirou o fone que estava usando e me entregou.
— Bom, muito obrigada por me acompanhar até aqui. — Falei pegando o fone em sua mão.
— Eu quem agradeço pela companhia. — Ele falou olhando agora além de mim e voltando a me encarar. — Raramente consigo fazer algo que não seja dentro daquele carro.
— Hum, sempre que quiser pode me usar como desculpa. — Eu sorri. — Para caminhar, claro. — Falei desviando o olhar. Me usar? Oi?
— Ok então. — Ele sorriu. Um sorriso gentil. Educado. Atraente. MEU DEUS. — Mach's gut!
— Vou acabar fazendo aula de alemão uma hora dessas. — Resmunguei brincando.
— A gente se vê. — Ele riu, um riso rouco e gostoso de ouvir. Assenti. Ele se virou pronto para atravessar a rua. — Seria uma boa idéia, se precisar de um professor... — Ele se virou novamente sorrindo e voltou a caminhar para sua casa.
Levei alguns segundos para me recompor e entrei em casa. UAU. UAU. UAU. Eu precisava respirar, ele havia levado todo ar dos meus pulmões com aquele último sorriso.
— Demorou! — Dona Marília gritou da cozinha. — Eu já estava ficando preocupada.
— A senhora e seus dramas. — Revirei os olhos como se ela pudesse me ver.
— Estava conversando com o Meyer? — Minha mãe falou agora aparecendo em meu campo de visão.
— Quantos olhos a Senhora têm? — Eu falei não conseguindo esconder o sorriso.
— Hum. Eu conheço essa cara. — Minha mãe abriu um sorriso mais largo que o meu! — Lindo ele né? Gentil, educado. Um príncipe perfeito. — Ela cantarolou a última frase.
— Não, dona Marília. Não comece! — Falei agora indo diretamente para o meu quarto.
— Eu estou mentindo? — Ela parou na porta do meu quarto e perguntou. — Vai dizer que você também não notou essa beleza gringa na casa vizinha? Tão perto! E aqueles olhos que carregam um oceano inteiro de perfeição? — Ela falou a última frase dramaticamente
Aquilo me fez rir, eu amava o jeito como minha mãe me tratava, ela era sempre minha melhor amiga. Talvez a distância nos fizesse se reconhecermos mais como amigas do que como mãe e filha.
— Não, não vi. — Gritei indo para o banheiro. Sorri quando finalmente fechei a porta ficando comigo mesma. QUE BELEZA GRINGA. QUE OLHOS. PUTA MERDA!
Faltavam cinco minutos para as nove quando o Mario buzinou na frente da minha casa. Peguei meu sapatenis de sempre e coloquei nos pés, eu estava com uma calça cintura alta e um cropped decotado. Meus cabelos estavam soltos e em meu pescoço havia um colar dourado com pingente de uma borboleta contrastando com minha primeira tattoo feita aos quatorze anos, uma borboleta erguendo vôo, porque era assim que eu me sentia, pronta para voar em busca dos meus sonhos. Dessa vez um batom vinho ressaltava em meus lábios combinando com a cor do meu cropped, roxo sempre fora a minha cor favorita. Em meus olhos um delineado gatinho contrastava com o preto misterioso da minha Iris. Uma piscadela para o espelho e eu estava pronta. Disse a mim mesma que era apenas uma saída. Eu e o Mario éramos melhores amigos há anos, desde que eu começara a trabalhar no restaurante, saiamos em grupo ou sozinho muitas vezes... Mas da última vez há alguns meses atrás, eu bebi demais e o beijei para tirar um carinha do
Quando deu três da manhã decidi que realmente já era hora de ir pra casa. Para não incomodar eu pedi um Uber e o Mario me acompanhou até o lado de fora. Compartilhei a rota com o Mario, é uma segurança já que o Uber é homem e sabemos que a taxa de estupro e feminicidio só aumenta a cada dia. Coloquei meu fone no máximo, sentei atrás do banco do motorista e fiquei imersa em meu mundo até chegar à frente da minha casa.— Muito obrigada, seu João. — Falei para o motorista que eu já sabia o nome, ele tinha sido total simpático e escutado minhas reclamações da noite, e ainda cantamos juntos uns forrós doidos. Desci e fui até a janela da frente. Abri a bolsa e tirei meu cartão de débito. — No débito. — Ele assentiu, eu paguei e esperei o carro dar a ré e ir embora. Notei a casa vizinha a minha frente. Tirei meus sapatos os pegando na mão agora, meus pés estavam doloridos. Suspirei. O álcool estava fazendo bastante efeito agora. Parei por alguns segundos e me virei para a minha casa. Um pou
JASMIM:Acordei já eram quase meio dia com minha mãe batendo na porta do meu quarto.— Hum... — Resmunguei colocando a cabeça debaixo do travesseiro. Eu estava com uma enxaqueca infeliz.— Jasmim! — Minha mãe bateu mais uma vez.— Hummm... — Respondi agora tirando o travesseiro e me virando de barriga pra cima.— Posso entrar? — Ela perguntou do outro lado da porta.— Pode mãe, pode. — Falei visivelmente de mal humor.Ela entrou, sentou na cama com um sorrisinho e me encarou.— Mãe... — Resmunguei.— Você precisa levantar. — Minha mãe falou com um sorrisinho.— Por quê? Hoje é domingo! — Falei colocando o travesseiro no rosto novamente.— Por isso mesmo. Vamos almoçar com a Giovanna. — Ela falou agora tirando a almofada do meu rosto.— NÃO. Não mesmo. — Abri os olhos e a encarei. Virei-me para o outro lado.— Filha. — Minha mãe falou. Ela estava prestes a fazer cena e eu sabia disso. — Você vai fazer desfeita pra mulher que te carregou no colo? — Dona Marília, uma chantagista nata.—
— Bastante perigosa! — Ele disse desviando o olhar com um sorriso de canto. — Quando quiser se sentar neste jardim novamente é só bater na porta. — Ele falou.— Ah. Ok. Não se preocupe, não vou mais invadir sua propriedade. — Falei agora o olhando de soslaio com um sorriso de canto.— Eu também sou bastante perigoso, Senhora Jasmim... — Ele falou baixando o olhar por alguns segundos.— Ah é mesmo? — Falei fingindo estar pensativa. — Quais seus dotes?— Punir criminosas que invadem propriedades. Neste caso especifico, punir criminosas que invadem a minha propriedade. — Ele falou virando a cabeça e me encarando diretamente.— Uau. — Sussurrei arqueando uma das sobrancelhas por alguns segundos. Aquilo foi um golpe. — Que medo! — Falei num tom baixo, mas audível.Ele virou para o outro lado e riu voltando a me encarar.— Então você gosta de tirar fotos? — Perguntou aleatoriamente.— E você gosta de desenhar... — Não foi uma pergunta e sim uma afirmação.— Por que você acha isso? — Ele me
Eram nove da noite quando começamos a fechar o restaurante. Eu fiquei para fechar tudo e quando estava jogando o lixo no tonel dos fundos vi a movimentação da casa noturna ao lado. Ele estava em pé ao lado de fora, apoiado na porta com um terno importado de luxo com um cigarro na mão direita e um copo de uísque na mão esquerda. Estava sozinho. A cabeça encostada na parede virada para a lua, olhos fechados... Ele respirava fundo, respiração pesada. Sem me notar ele deu uma tragada em seu cigarro, e abriu a boca soltando a fumaça logo em seguida. Ele estava extremamente sexy naquela posição. Por um momento eu me perguntei se aquilo era uma miragem e desejei estar com minha câmera. Mas sentindo que estava sendo observado ele abriu os olhos e me encarou. Eu me virei no reflexo e continuei jogando meu lixo fora. Notei quando ele se aproximou e encostou-se à parede ao lado do tonel me encarando descaradamente agora enquanto continuava bebendo do seu uísque e fumando do seu cigarro. Eu parei
Não dava para ver, mas ele falou alguma coisa, se afastou do carro e andou em minha direção. Meu coração pareceu parar, como sempre que ele estava por perto. Não era possível. O que ele estava fazendo? Um dos seguranças ficou ao lado do carro, enquanto três de seus seguranças o seguiu. Ele estava igualmente impecável como mais cedo. Ele chegou a uma distância considerável a quatro passos e eu pude sentir o rosto dos meus amigos queimando em cima de mim pela fofoca.— O que faz aqui? — Ele balançou a cabeça como se não acreditasse e colocou as mãos no bolso. Eu queria me enfiar num buraco, ou embaixo de suas roupas.— Esperando na fila como todo mundo para conhecer a nova casa noturna. — Cruzei os braços e levantei o queixo. Ele estava se achando demais.— Eu lhe avisei mais cedo. — Ele desviou o olhar ignorando os olhares próximos sobre nós.— Não houve resposta concreta. Então eu vim tirar minhas próprias conclusões. — Dei de ombros.Ele bufou, passou as mãos pelos cabelos e me encar
O tempo passou sem que percebêssemos, e logo a casa noturna animou mais quando começou a tocar musicas brasileiras mixadas como DJ Pedro Sampaio! Era uma da manhã quando começou a tocar aquecimento do Pedro Sampaio. Eu não gosto do funk, mas alguns me deixam animadíssima principalmente quando tem álcool no meio. Tudo no ambiente era voltado para lhe fazer extasiar. As batidas pensadas para bombear em seu corpo. Eu amei aquele lugar com todas as minhas forças, e pela primeira vez eu dancei numa festa com minhas amigas me sentindo completamente segura e sem receio do assedio, porque eu sabia que nenhum cara seria capaz de encarar a cara do segurança de escolta no lounge. Sem falar que o Meyer estava de olho e o fato de eu ter entrado com o dono, estar no lounge dele, eu sabia que era dele porque tinha o nome MEYER estampado, acredito que fazia os caras nem pensarem em encostar. Eu perdi as contas do quanto rebolei e me requebrei até não senti mais meus pés sobre as botas. Às três da man
— Ok. — Falei assentindo. —Vou indo então. — Suspirei.— Ok. A gente se vê por ai, Jasmim. — Ele falou colocando as mãos no bolso.— Puta que pariu. — Falei sentindo meu corpo formigar ao ouvi-lo falar meu nome.— Que? — Ele me encarou. Não sabia se sua expressão era confusa ou divertida.— Quando você fala meu nome. — Suspirei. — Você não tem idéia da puta sensação que me causa, Meyer. — Eu nem percebi que estava falando aquilo em voz alta.— Ah é? — Ele estreitou ainda mais os olhos.— Puta merda. — Falei agora passando a mão nos cabelos que haviam se soltado desde o inicio da trajetória, eu deveria estar parecendo uma leoa. — Boa noite. — Fiz uma careta.— Boa noite, Jasmim. — Ele sorriu enfatizando a última frase.Eu me aproximei automaticamente, foi como um imã me atraindo. Nossos rostos ficaram próximos demais, seus lábios a centímetros do meu.— Não se provoca uma garota bêbada, Meyer. — Enfatizei seu nome.— Por quê? — Ele sussurrou encarando meus lábios. Eu podia sentir o des