Tudo seguiu o mais normal possível, pela parte da manhã o movimento foi bastante tranqüilo então arrumamos tudo. Infelizmente a Mari acabou tendo que ir para casa porque não estava muito bem e eu fiquei como ajudante de cozinha. Preparei os temperos pra corte vendo que hoje eu almoçaria tarde. Estávamos a todo vapor quando os pedidos começaram a chegar. Minha mãe continuou fazendo a comida e eu terminei o tempero e fui montar os pratos para o Mario levar quando ele veio meio atordoado.
— Dona Marília. É... Estão chamando a Senhora lá fora! — Mario falou sem jeito. Medo de ser despedido, talvez!
— O que houve, menino? — Minha mãe perguntou confusa.
— Eu não sei. Só pediram pra ver a dona do lugar. — Ele deu de ombros, também confuso.
— Se assuste não, meu filho. Mexa aqui que eu vou lá. — Ela falou apontando pra a panela do cozido.
Continuei montando os pratos imaginando ser mais um ou uma cliente dramática questionando alguma coisa. Coisa normal quando se trata de restaurantes.
— Filha, vem aqui. — Minha mãe entrou cinco minutos depois me chamando.
— Que foi, minha mãe? — Falei confusa.
— Só venha logo aqui, menina. — Ela falou fazendo gesto pra que eu a acompanhasse e saiu.
Eu a segui confusa. Quando cheguei ao salão, a vontade foi de querer voltar para dentro da cozinha. Imagine só: Eu estava com o vestido de recepcionista, com um avental por cima, toca num cabelo que quase não cabe dentro da toca, e toda desgrenhada. Na mesa estava Meyer e a mãe dele.
— Essa é aquela pequena sapeca? — A moça - acho que Giovanna - logo se levantou sorridente. — Mein Goott! Você está tão linda.
— Ah, obrigada. — Abri um sorriso gentil.
— Te carreguei no colo, você e o Meyer eram melhores amigos. Tu vivia fugindo pra minha casa. — Ela abriu um sorriso largo.
— Ah... — Falei sem jeito.
— Nós estamos imensamente felizes de ver vocês novamente. — Minha mãe falou. — Vamos marcar algo lá em casa.
— Deixe disso, eu te devo um jantar. Vamos jantar lá em casa hoje! — Dona Giovanna falou encarando minha mãe.
Eu fiquei ali de guarda, Meyer estava me encarando e eu senti que poderia realmente ficar mais vermelha do que já estava.
— Hoje? — Minha mãe falou pensativa. — Menina... — Não escutei o que minha mãe falou porque a Sol estava resolvendo alguma coisa na mesa próxima da nossa e eu parei pra prestar atenção.
— Por que não se senta e almoça conosco.? — Dona Giovanna disse.
— Ah, não posso. — Minha mãe falou pesarosa.
— ...Não Senhor, peço mil desculpas... — Sol dizia.
— Claro que pode. — Encarei minha mãe. — Mãe, é seu horário de almoço. Retire a touca e sente-se para almoçar. Eu tomo conta de tudo.
— Não, filha... — Minha mãe falou ainda pensativa.
— Não é um pedido, dona Marília. — A encarei. Minha mãe vivia enterrada no restaurante e era horário de almoço, custava nada. — Me dê aqui seu avental e sua touca. Vamos.
— Vamos Marília, escute sua filha. — Giovanna abriu um sorriso largo.
— Tá, ta bom. — Minha mãe falou sorridente. Tirou a toca e o avental e me entregou.
— ...Sim, Senhora. Eu realmente não prestei atenção... — Sol falou na mesa ainda próxima.
— Com sua licença... — Falei para dona Giovanna. — Foi um prazer te conhecer, novamente.
— Sim, claro. — Ela sorriu pra mim e assentiu permitindo que eu saísse.
Fui até o canto, tirei a touca e o avental, guardei rapidamente e voltei para a mesa em que Sol estava com problema.
— Posso ajudar em alguma coisa? — Perguntei me aproximando.
— A garçonete trouxe o pedido errado. Eu pedi que não colocasse pimenta e ela adicionou pimenta. — A mulher falou furiosa.
—Sim, realmente foi culpa minha. — Sol falou agora me encarando..
— Ah não, eu quem peço desculpas, Senhora. Ela assumiu um posto que não era dela por alguns segundos e vejo que isso gerou um impacto negativo para ambas as partes. Te peço mil perdões. Me passe o pedido. — Pedi a Sol a cadernetinha e dei uma olhadinha. — Pronto. Eu mesma irei até a cozinha e pedirei que refaçam este pedido e trarei uma sobremesa especial por conta da casa. Sei que não irá reparar o dano, mas é o mínimo. — Abri meu sorriso carismático de cliente sempre tem razão.
— Ah sim, muito obrigada. Sei que acontece, é normal. — A cliente falou com um sorriso no rosto. — Irei aguardar.
— Ok. Iremos só recolher este pedido e trazer outro em no máximo dez minutos. Muito obrigada pela compreensão. — Falei.
Sol recolheu o pedido e voltamos para a cozinha. Mario até que estava dando conta do recado do lado de dentro.
— Cadê dona Marília? — Ele perguntou.
— No horário de almoço. — Falei encarando o relógio. — Falando nisso, pode ir almoçar.
— Tem certeza? — Ele me encarou.
— Claro, eu dou conta.
Ele assentiu, tirou o avental e foi. Eu fui até o lado de fora e chamei a Sol.
— Você monta os pratos e eu vou atender, quando o Mario voltar pode ir almoçar. — Falei pra ela em tom baixo e discreto. — Toma cuidado com a pimenta ta. — Falei rindo.
— Ok. — Ela assentiu. — Mas ela pediu com pimenta. — Resmungou.
— Eu sei. Ignora. — Falei rindo.
Ela riu e entrou na cozinha. Eu saí. Fui até a mesa onde minha mãe estava sentada com o Meyer e a Giovanna. Ela parecia estar se divertindo, me deu gosto de vê-la assim.
— Desculpe-me pela intromissão. — Falei ao chegar perto da mesa com o caderninho. — Já decidiram o que vão pedir?
— Ah, vou deixar que a recomendação venha da parte da chefe. — Dona Giovanna falou encarando minha mãe.
— Ah, como eu poderia lhe recomendar? Não posso! Fico envergonhada. — Minha mãe falou sorridente.
— Então deixe-me ajudá-la, dona Marília. A gente está com o prato do dia que é um cozido espetacular feito agorinha por uma chefe espetacular! — Falei abrindo um sorriso amistoso.
— Uau. Faz tanto tempo que eu não como um cozido, ótimo, vou querer! — Ela falou empolgada.
— E a Senhorita? — Encarei minha mãe.
— Eu não acredito que você está me atendendo. — Minha mãe falou fazendo uma careta.
— Ué, mas o maior prazer que os filhos têm no mundo é um dia poder servir aos pais. É o meu maior prazer, Dona Marília. — Falei abrindo um sorriso amoroso.
— Tá bom, vou querer o mesmo. — Ela falou sorrindo pra mim. Minha mãe tem o sorriso mais lindo que eu já vi na vida. É o sorriso de uma mãe feliz.
— E para você? — Encarei Meyer que tirou sua atenção de algo do outro lado do restaurante e me encarou.
— Ah não, eu não costumo almoçar. Só vim mesmo para acompanhar minha Senhora. — Ele falou umedecendo os lábios. — Mas obrigado.
— Você bebe? — Perguntei o encarando.
— Hum... Sim, sim. — Ele deu uma olhada no cardápio novamente.
— O que é isso? — Ele apontou para algo no cardápio, eu me aproximei para ver o que era. Próxima até demais.
— Sangria. — Falei o encarando, me afastei ajeitando a postura.
— Sangria... É bom? — Ele perguntou.
— Eu amo. — Falei sorrindo. — Tem que experimentar nem que seja uma vez na vida. A bebida contém uma mistura de vinhos com algumas frutas. É um sabor excêntrico e único.
— Vou querer. — Ele assentiu.
— Ok. Anotado. — Falei anotando o pedido. — Já volto.
Andei um pouco entre as mesas cumprimentando clientes rotineiros, verificando se estava tudo certinho e voltei para a cozinha. Peguei os pratos já montados para entrega e voltei para o lado de fora. Fui entregando um a um, sorrindo carismaticamente e desejando boa refeição. Amo o sorriso de satisfação dos clientes. Amo os elogios e reconhecimento. Minha mãe sempre trabalhou duro no restaurante e saber que os clientes reconhecem nosso esforço me deixa muito satisfeita com o meu trabalho. Fui indo e voltando da cozinha para o salão algumas vezes com pratos e outras com o caderninho pronta para servir ou atender. Vi que o Meyer me encarava algumas vezes e eu não consegui desviar o olhar. Ele era bastante enigmático, nas vezes em que notei seu sorriso para a conversa das duas mulheres empolgadas era sempre educado, mas sua expressão estava sempre fechada, misteriosa, isso me deixava com mais vontade de descobrir o que tanto ele queria esconder. E como diz nosso filosofo Matheuzinho: O golpe ta ai, cai quem quer! E que golpe viu. Peguei os pratos montados de minha mãe e de Giovanna e levei até a mesa.
— Aqui está. Já trago sua bebida. Vocês, belas damas, querem beber algo? — Perguntei.
— Água com gás com limão e gelo. — Minha mãe falou.
— Vou querer o mesmo. — Dona Giovanna apoiou.
— É para já. — Falei sorrindo.
Fui até a cozinha preparar a bebida juntamente com o Mario. Agora era a vez da Sol almoçar. Terminei e voltei para o salão com os três copos na bandeja.
— Aqui está. Sintam-se á vontade para me chamar, caso precisem de mais alguma coisa. — Falei colocando os copos na mesa.
— Obrigado. — Meyer falou.
— Não deixe de me dizer o que achou. — Falei sorrindo. — Espero que goste!
—Ok. — Ele assentiu
— Jasmim! — Dona Sandra me chamou na outra mesa. Cliente da casa.
— Com sua licença. — Assenti e me retirei.
Fechei a conta da dona Sandra, me despedi com um sorriso e volte sempre e aproveitei para encerrar outras contas no local. O tempo foi passando rápido e logo o Meyer e dona Giovanna foram embora e minha mãe voltou para o expediente. Eu fui almoçar ás quatro da tarde, mas estava me sentindo muito bem por ver minha mãe parada conversando como uma adolescente empolgada.Já eram nove e meia quando finalmente conseguimos encerrar o expediente e se despedir do último cliente, aproveitando o feche do sorriso que minha mãe deu o dia todo, pedi que ela fosse descansar que eu mesma terminaria de limpar e fecharia o restaurante. Ela relutou, mas acabou cedendo. Eu estava carregando todo o lixo até o tonel quando notei uma movimentação ao lado de fora da porta dos fundos da suposta casa noturna. Aquele beco estava movimentado pela primeira vez. Nenhum dos lados do beco tinha saída, apenas uma grade do lado do meu restaurante que ficava sempre de cadeado e só era aberto por nós quando os garis vi
Faltavam cinco minutos para as nove quando o Mario buzinou na frente da minha casa. Peguei meu sapatenis de sempre e coloquei nos pés, eu estava com uma calça cintura alta e um cropped decotado. Meus cabelos estavam soltos e em meu pescoço havia um colar dourado com pingente de uma borboleta contrastando com minha primeira tattoo feita aos quatorze anos, uma borboleta erguendo vôo, porque era assim que eu me sentia, pronta para voar em busca dos meus sonhos. Dessa vez um batom vinho ressaltava em meus lábios combinando com a cor do meu cropped, roxo sempre fora a minha cor favorita. Em meus olhos um delineado gatinho contrastava com o preto misterioso da minha Iris. Uma piscadela para o espelho e eu estava pronta. Disse a mim mesma que era apenas uma saída. Eu e o Mario éramos melhores amigos há anos, desde que eu começara a trabalhar no restaurante, saiamos em grupo ou sozinho muitas vezes... Mas da última vez há alguns meses atrás, eu bebi demais e o beijei para tirar um carinha do
Quando deu três da manhã decidi que realmente já era hora de ir pra casa. Para não incomodar eu pedi um Uber e o Mario me acompanhou até o lado de fora. Compartilhei a rota com o Mario, é uma segurança já que o Uber é homem e sabemos que a taxa de estupro e feminicidio só aumenta a cada dia. Coloquei meu fone no máximo, sentei atrás do banco do motorista e fiquei imersa em meu mundo até chegar à frente da minha casa.— Muito obrigada, seu João. — Falei para o motorista que eu já sabia o nome, ele tinha sido total simpático e escutado minhas reclamações da noite, e ainda cantamos juntos uns forrós doidos. Desci e fui até a janela da frente. Abri a bolsa e tirei meu cartão de débito. — No débito. — Ele assentiu, eu paguei e esperei o carro dar a ré e ir embora. Notei a casa vizinha a minha frente. Tirei meus sapatos os pegando na mão agora, meus pés estavam doloridos. Suspirei. O álcool estava fazendo bastante efeito agora. Parei por alguns segundos e me virei para a minha casa. Um pou
JASMIM:Acordei já eram quase meio dia com minha mãe batendo na porta do meu quarto.— Hum... — Resmunguei colocando a cabeça debaixo do travesseiro. Eu estava com uma enxaqueca infeliz.— Jasmim! — Minha mãe bateu mais uma vez.— Hummm... — Respondi agora tirando o travesseiro e me virando de barriga pra cima.— Posso entrar? — Ela perguntou do outro lado da porta.— Pode mãe, pode. — Falei visivelmente de mal humor.Ela entrou, sentou na cama com um sorrisinho e me encarou.— Mãe... — Resmunguei.— Você precisa levantar. — Minha mãe falou com um sorrisinho.— Por quê? Hoje é domingo! — Falei colocando o travesseiro no rosto novamente.— Por isso mesmo. Vamos almoçar com a Giovanna. — Ela falou agora tirando a almofada do meu rosto.— NÃO. Não mesmo. — Abri os olhos e a encarei. Virei-me para o outro lado.— Filha. — Minha mãe falou. Ela estava prestes a fazer cena e eu sabia disso. — Você vai fazer desfeita pra mulher que te carregou no colo? — Dona Marília, uma chantagista nata.—
— Bastante perigosa! — Ele disse desviando o olhar com um sorriso de canto. — Quando quiser se sentar neste jardim novamente é só bater na porta. — Ele falou.— Ah. Ok. Não se preocupe, não vou mais invadir sua propriedade. — Falei agora o olhando de soslaio com um sorriso de canto.— Eu também sou bastante perigoso, Senhora Jasmim... — Ele falou baixando o olhar por alguns segundos.— Ah é mesmo? — Falei fingindo estar pensativa. — Quais seus dotes?— Punir criminosas que invadem propriedades. Neste caso especifico, punir criminosas que invadem a minha propriedade. — Ele falou virando a cabeça e me encarando diretamente.— Uau. — Sussurrei arqueando uma das sobrancelhas por alguns segundos. Aquilo foi um golpe. — Que medo! — Falei num tom baixo, mas audível.Ele virou para o outro lado e riu voltando a me encarar.— Então você gosta de tirar fotos? — Perguntou aleatoriamente.— E você gosta de desenhar... — Não foi uma pergunta e sim uma afirmação.— Por que você acha isso? — Ele me
Eram nove da noite quando começamos a fechar o restaurante. Eu fiquei para fechar tudo e quando estava jogando o lixo no tonel dos fundos vi a movimentação da casa noturna ao lado. Ele estava em pé ao lado de fora, apoiado na porta com um terno importado de luxo com um cigarro na mão direita e um copo de uísque na mão esquerda. Estava sozinho. A cabeça encostada na parede virada para a lua, olhos fechados... Ele respirava fundo, respiração pesada. Sem me notar ele deu uma tragada em seu cigarro, e abriu a boca soltando a fumaça logo em seguida. Ele estava extremamente sexy naquela posição. Por um momento eu me perguntei se aquilo era uma miragem e desejei estar com minha câmera. Mas sentindo que estava sendo observado ele abriu os olhos e me encarou. Eu me virei no reflexo e continuei jogando meu lixo fora. Notei quando ele se aproximou e encostou-se à parede ao lado do tonel me encarando descaradamente agora enquanto continuava bebendo do seu uísque e fumando do seu cigarro. Eu parei
Não dava para ver, mas ele falou alguma coisa, se afastou do carro e andou em minha direção. Meu coração pareceu parar, como sempre que ele estava por perto. Não era possível. O que ele estava fazendo? Um dos seguranças ficou ao lado do carro, enquanto três de seus seguranças o seguiu. Ele estava igualmente impecável como mais cedo. Ele chegou a uma distância considerável a quatro passos e eu pude sentir o rosto dos meus amigos queimando em cima de mim pela fofoca.— O que faz aqui? — Ele balançou a cabeça como se não acreditasse e colocou as mãos no bolso. Eu queria me enfiar num buraco, ou embaixo de suas roupas.— Esperando na fila como todo mundo para conhecer a nova casa noturna. — Cruzei os braços e levantei o queixo. Ele estava se achando demais.— Eu lhe avisei mais cedo. — Ele desviou o olhar ignorando os olhares próximos sobre nós.— Não houve resposta concreta. Então eu vim tirar minhas próprias conclusões. — Dei de ombros.Ele bufou, passou as mãos pelos cabelos e me encar
O tempo passou sem que percebêssemos, e logo a casa noturna animou mais quando começou a tocar musicas brasileiras mixadas como DJ Pedro Sampaio! Era uma da manhã quando começou a tocar aquecimento do Pedro Sampaio. Eu não gosto do funk, mas alguns me deixam animadíssima principalmente quando tem álcool no meio. Tudo no ambiente era voltado para lhe fazer extasiar. As batidas pensadas para bombear em seu corpo. Eu amei aquele lugar com todas as minhas forças, e pela primeira vez eu dancei numa festa com minhas amigas me sentindo completamente segura e sem receio do assedio, porque eu sabia que nenhum cara seria capaz de encarar a cara do segurança de escolta no lounge. Sem falar que o Meyer estava de olho e o fato de eu ter entrado com o dono, estar no lounge dele, eu sabia que era dele porque tinha o nome MEYER estampado, acredito que fazia os caras nem pensarem em encostar. Eu perdi as contas do quanto rebolei e me requebrei até não senti mais meus pés sobre as botas. Às três da man