Capítulo 05

Tudo seguiu o mais normal possível, pela parte da manhã o movimento foi bastante tranqüilo então arrumamos tudo. Infelizmente a Mari acabou tendo que ir para casa porque não estava muito bem e eu fiquei como ajudante de cozinha. Preparei os temperos pra corte vendo que hoje eu almoçaria tarde. Estávamos a todo vapor quando os pedidos começaram a chegar. Minha mãe continuou fazendo a comida e eu terminei o tempero e fui montar os pratos para o Mario levar quando ele veio meio atordoado.

— Dona Marília. É... Estão chamando a Senhora lá fora! — Mario falou sem jeito. Medo de ser despedido, talvez!

— O que houve, menino? — Minha mãe perguntou confusa.

— Eu não sei. Só pediram pra ver a dona do lugar. — Ele deu de ombros, também confuso.

— Se assuste não, meu filho. Mexa aqui que eu vou lá. — Ela falou apontando pra a panela do cozido.

Continuei montando os pratos imaginando ser mais um ou uma cliente dramática questionando alguma coisa. Coisa normal quando se trata de restaurantes.

— Filha, vem aqui. — Minha mãe entrou cinco minutos depois me chamando.

— Que foi, minha mãe? — Falei confusa.

— Só venha logo aqui, menina. — Ela falou fazendo gesto pra que eu a acompanhasse e saiu.

                Eu a segui confusa. Quando cheguei ao salão, a vontade foi de querer voltar para dentro da cozinha. Imagine só: Eu estava com o vestido de recepcionista, com um avental por cima, toca num cabelo que quase não cabe dentro da toca, e toda desgrenhada. Na mesa estava Meyer e a mãe dele.

— Essa é aquela pequena sapeca? — A moça - acho que Giovanna - logo se levantou sorridente. — Mein Goott! Você está tão linda.

— Ah, obrigada. — Abri um sorriso gentil.

— Te carreguei no colo, você e o Meyer eram melhores amigos. Tu vivia fugindo pra minha casa. — Ela abriu um sorriso largo.

— Ah... — Falei sem jeito.

— Nós estamos imensamente felizes de ver vocês novamente. — Minha mãe falou. — Vamos marcar algo lá em casa.

— Deixe disso, eu te devo um jantar. Vamos jantar lá em casa hoje! — Dona Giovanna falou encarando minha mãe.

Eu fiquei ali de guarda, Meyer estava me encarando e eu senti que poderia realmente ficar mais vermelha do que já estava.

— Hoje? — Minha mãe falou pensativa. — Menina... — Não escutei o que minha mãe falou porque a Sol estava resolvendo alguma coisa na mesa próxima da nossa e eu parei pra prestar atenção.

— Por que não se senta e almoça conosco.? — Dona Giovanna disse.

— Ah, não posso. — Minha mãe falou pesarosa.

—  ...Não Senhor, peço mil desculpas... — Sol dizia.

— Claro que pode. — Encarei minha mãe. — Mãe, é seu horário de almoço. Retire a touca e sente-se para almoçar. Eu tomo conta de tudo.

— Não, filha... — Minha mãe falou ainda pensativa.

— Não é um pedido, dona Marília. — A encarei. Minha mãe vivia enterrada no restaurante e era horário de almoço, custava nada. — Me dê aqui seu avental e sua touca. Vamos.

— Vamos Marília, escute sua filha. — Giovanna abriu um sorriso largo.

— Tá, ta bom. — Minha mãe falou sorridente. Tirou a toca e o avental e me entregou.

— ...Sim, Senhora. Eu realmente não prestei atenção... — Sol falou na mesa ainda próxima.

— Com sua licença... — Falei para dona Giovanna. — Foi um prazer te conhecer, novamente.

— Sim, claro. — Ela sorriu pra mim e assentiu permitindo que eu saísse.

Fui até o canto, tirei a touca e o avental, guardei rapidamente e voltei para a mesa em que Sol estava com problema.

— Posso ajudar em alguma coisa? — Perguntei me aproximando.

— A garçonete trouxe o pedido errado. Eu pedi que não colocasse pimenta e ela adicionou pimenta. — A mulher falou furiosa.

—Sim, realmente foi culpa minha. — Sol falou agora me encarando..

— Ah não, eu quem peço desculpas, Senhora. Ela assumiu um posto que não era dela por alguns segundos e vejo que isso gerou um impacto negativo para ambas as partes. Te peço mil perdões. Me passe o pedido. — Pedi a Sol a cadernetinha e dei uma olhadinha. — Pronto. Eu mesma irei até a cozinha e pedirei que refaçam este pedido e trarei uma sobremesa especial por conta da casa. Sei que não irá reparar o dano, mas é o mínimo. — Abri meu sorriso carismático de cliente sempre tem razão.

— Ah sim, muito obrigada. Sei que acontece, é normal. — A cliente falou com um sorriso no rosto. — Irei aguardar.

— Ok. Iremos só recolher este pedido e trazer outro em no máximo dez minutos. Muito obrigada pela compreensão. — Falei.

Sol recolheu o pedido e voltamos para a cozinha. Mario até que estava dando conta do recado do lado de dentro.

— Cadê dona Marília? — Ele perguntou.

— No horário de almoço. — Falei encarando o relógio. — Falando nisso, pode ir almoçar.

— Tem certeza? — Ele me encarou.

— Claro, eu dou conta.

Ele assentiu, tirou o avental e foi. Eu fui até o lado de fora e chamei a Sol.

— Você monta os pratos e eu vou atender, quando o Mario voltar pode ir almoçar. — Falei pra ela em tom baixo e discreto. — Toma cuidado com a pimenta ta. — Falei rindo.

— Ok. — Ela assentiu. — Mas ela pediu com pimenta. — Resmungou.

— Eu sei. Ignora. — Falei rindo.

Ela riu e entrou na cozinha. Eu saí. Fui até a mesa onde minha mãe estava sentada com o Meyer e a Giovanna. Ela parecia estar se divertindo, me deu gosto de vê-la assim.

— Desculpe-me pela intromissão. — Falei ao chegar perto da mesa com o caderninho. — Já decidiram o que vão pedir?

— Ah, vou deixar que a recomendação venha da parte da chefe. — Dona Giovanna falou encarando minha mãe.

— Ah, como eu poderia lhe recomendar? Não posso! Fico envergonhada. — Minha mãe falou sorridente.

— Então deixe-me ajudá-la, dona Marília. A gente está com o prato do dia que é um cozido espetacular feito agorinha por uma chefe espetacular! — Falei abrindo um sorriso amistoso.

— Uau. Faz tanto tempo que eu não como um cozido, ótimo, vou querer! — Ela falou empolgada.

— E a Senhorita? — Encarei minha mãe.

— Eu não acredito que você está me atendendo. — Minha mãe falou fazendo uma careta.

— Ué, mas o maior prazer que os filhos têm no mundo é um dia poder servir aos pais. É o meu maior prazer, Dona Marília. — Falei abrindo um sorriso amoroso.

— Tá bom, vou querer o mesmo. — Ela falou sorrindo pra mim. Minha mãe tem o sorriso mais lindo que eu já vi na vida. É o sorriso de uma mãe feliz.

— E para você? — Encarei Meyer que tirou sua atenção de algo do outro lado do restaurante e me encarou.

— Ah não, eu não costumo almoçar. Só vim mesmo para acompanhar minha Senhora. — Ele falou umedecendo os lábios. — Mas obrigado.

— Você bebe? — Perguntei o encarando.

— Hum... Sim, sim. — Ele deu uma olhada no cardápio novamente.

— O que é isso? — Ele apontou para algo no cardápio, eu me aproximei para ver o que era. Próxima até demais.

— Sangria. — Falei o encarando, me afastei ajeitando a postura.

— Sangria... É bom? — Ele perguntou.

— Eu amo. — Falei sorrindo. — Tem que experimentar nem que seja uma vez na vida. A bebida contém uma mistura de vinhos com algumas frutas. É um sabor excêntrico e único.

— Vou querer. — Ele assentiu.

— Ok. Anotado. — Falei anotando o pedido. — Já volto.

Andei um pouco entre as mesas cumprimentando clientes rotineiros, verificando se estava tudo certinho e voltei para a cozinha. Peguei os pratos já montados para entrega e voltei para o lado de fora. Fui entregando um a um, sorrindo carismaticamente e desejando boa refeição. Amo o sorriso de satisfação dos clientes. Amo os elogios e reconhecimento. Minha mãe sempre trabalhou duro no restaurante e saber que os clientes reconhecem nosso esforço me deixa muito satisfeita com o meu trabalho. Fui indo e voltando da cozinha para o salão algumas vezes com pratos e outras com o caderninho pronta para servir ou atender. Vi que o Meyer me encarava algumas vezes e eu não consegui desviar o olhar. Ele era bastante enigmático, nas vezes em que notei seu sorriso para a conversa das duas mulheres empolgadas era sempre educado, mas sua expressão estava sempre fechada, misteriosa, isso me deixava com mais vontade de descobrir o que tanto ele queria esconder. E como diz nosso filosofo Matheuzinho: O golpe ta ai, cai quem quer! E que golpe viu. Peguei os pratos montados de minha mãe e de Giovanna e levei até a mesa.

— Aqui está. Já trago sua bebida. Vocês, belas damas, querem beber algo? — Perguntei.

— Água com gás com limão e gelo. — Minha mãe falou.

— Vou querer o mesmo. — Dona Giovanna apoiou.

— É para já. — Falei sorrindo.

Fui até a cozinha preparar a bebida juntamente com o Mario. Agora era a vez da Sol almoçar. Terminei e voltei para o salão com os três copos na bandeja.

— Aqui está. Sintam-se á vontade para me chamar, caso precisem de mais alguma coisa. — Falei colocando os copos na mesa.

— Obrigado. — Meyer falou.

— Não deixe de me dizer o que achou. — Falei sorrindo. — Espero que goste!

—Ok. — Ele assentiu

— Jasmim! — Dona Sandra me chamou na outra mesa. Cliente da casa.

— Com sua licença. — Assenti e me retirei.

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